Por: Elmer G. Klassen
Um vento suave soprava numa janela e saía pela outra, sem contudo ser o suficiente para nos refrescar sem usar os leques de papelão que o Velório Bergen fornecia de graça, nesta igreja rural construída por nossos ancestrais, e onde estávamos agora sentados, nos abanando e espantando moscas. Depois de cantarmos alguns hinos, esperávamos ouvir um sermão preparado na noite anterior por um fazendeiro vizinho. A hora da adoração chegara. Todo domingo de manhã todos nós nos encontrávamos nas nossas igrejas para adorar a Deus. Esperávamos nos encontrar com o Deus santo na igreja mesmo sem música e sem pregadores famosos.
Era difícil tomar tempo para ser santo durante os meses do verão. Podíamos olhar pela janela e ver os campos de trigo maduro e esperando pela colheita, e lá estávamos nós cantando:
Tira tempo para ser santo,
Fala sempre com o teu Senhor
Permanece sempre Nele,
E alimenta-te com a Sua Palavra.
Faze amigos entre os filhos de Deus;
Ajuda aqueles que estão fracos;
Nunca esquecendo-te em situação alguma
De buscar Suas bênçãos.
Os domingos eram separados para adorar o nosso Deus vitorioso com os nossos vizinhos. Um fazendeiro poderia preferir adorar a Deus enquanto estivesse atrás do volante de um trator John Deere modelo D, indo para cá e para lá ao longo dos campos durante a colheita, e cantando em voz bem alta as suas músicas evangélicas favoritas, mas havíamos aprendido a tirar tempo uma vez por semana para adorar a Deus junto com os outros.
Estar na igreja ao invés de trabalhar nos campos poderia nos custar parte da colheita, mas as nossas vidas eram abençoadas porque tirávamos tempo para sermos santos adorando junto com os nossos irmãos ao nosso Criador e Provedor.
Algo deste espírito de adorar a Deus num lugar definido com outras pessoas já se perdeu. Ao invés de tirar tempo para sermos santos, estamos ouvindo as necessidades dos outros nas estações de rádio cristãs. Ao invés de falar frequentemente com o Senhor, estamos falando com freqüência uns com os outros a respeito do que os outros cristãos estão fazendo. Ao invés de nos alimentarmos com a Sua Palavra, estamos nos alimentando com livros que nos contam a respeito das nossas feridas. Ao invés de fazermos mais amizades entre os filhos de Deus, estamos fazendo amizades com o mundo. Ao invés de ajudarmos aqueles que estão fracos, estamos nos queixando a respeito dos ricos e invejando o seu dinheiro. Ao invés de não nos esquecermos em situação alguma de buscar as bênçãos de Deus, não temos nos esquecido de comparecer a seminários onde se aprende a levantar fundos para pagar as nossas contas.
Todas estas coisas podem ser necessárias, mas não são adoração a Deus. Elas focam a nossa atenção no homem e nas falhas do homem. Quando ou onde iremos adorar a Deus? Onde Deus pode ser encontrado na terra? Quando é que nós adoramos a Deus em espírito e verdade?
Leva tempo para encontrarmos o Senhor em espírito e em verdade. Nós adoramos aquilo que ocupa o nosso tempo, e com muito mais freqüência do que queremos admitir, adoramos aquilo que o homem faz para Deus mais do que ao próprio Deus.
Aquilo que fazemos no nosso tempo de lazer, aquilo que fazemos quando temos um dinheiro extra, mostra-nos onde está o nosso coração. Warren W. Wiesbe escreve no seu livro Verdadeira Adoração: “Aquilo que uma pessoa adora é um bom sinal do que realmente tem valor para ela… Atualmente há tanta ênfase no conhecimento da Bíblia que corremos o risco de ignorar, ou mesmo de combater, a experiência espiritual pessoal… Tanto aquilo que somos, como o que fazemos, são determinados por aquilo que adoramos.”
Jack Deere escreve: “Levei muito tempo para entender que conhecer a Bíblia não é a mesma coisa que conhecer a Deus; amar a Bíblia não é a mesma coisa que amar a Deus; e ler a Bíblia não é a mesma coisa que ouvir a Deus. Os fariseus conheciam a Bíblia, amavam a Bíblia, liam a Bíblia, mas não conheciam, não amavam, não ouviam a Deus.”
Se não devemos adorar o nosso conhecimento da Bíblia, nem adorar os nossos trabalhos feitos para Deus, nem adorar a nossa família no culto familiar, nem adorar as pessoas talentosas da nossa igreja – onde é que podemos encontrar o Deus que devemos adorar? Por que é que adorar a Deus é um mistério?
Os adoradores do Deus verdadeiro não adoram o que vêem ou o que sabem. Quando Jesus foi confrontado pela mulher samaritana no poço, sobre onde se deveria adorar, Ele deu a seguinte resposta: A hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém. Samaritanos naquela época adoravam quem-sabe-o-quê e os judeus adoravam o que tinham aprendido. Verdadeiros adoradores, disse Jesus para ela, adoram a Deus em espírito e em verdade. Mas quando ou onde adoramos em espírito e verdade? Onde é que encontramos o Deus que devemos adorar?
Quando Deus deu a Moisés os Dez Mandamentos, Ele disse que em primeiro lugar e com prioridade devemos adorar um só Deus, e que não devemos nos curvar diante de nada que tenhamos feito Dele. Não devemos adorar as estátuas que tenhamos feito de Deus nem as estátuas ou retratos que tenhamos feito dos Cristãos. Estátuas e retratos podem muito bem servir para nos lembrar de acontecimentos passados. São bons lembretes, mas para evitar que adorássemos os lembretes, Deus nos deu uma estátua para nos lembrarmos Dele que não foi feita por mãos humanas. (A palavra para estátua em alemão é “Denkmal” que pode ser traduzida por “algo que nos fará lembrar.”) Deus não somente nos deixou a sua “estátua” para nos lembrarmos Dele, mas também com instruções específicas sobre como adorar a Deus em espírito e verdade.
Adorar à maneira de Deus é uma defesa contra a adoração de cristãos famosos, membros da família ou até de nós mesmos. Deus nos deu uma maneira de adorar que não permite a auto-adoração ou uma licença para o “eu” dirigir as coisas a partir do nosso interior. A auto-adoração leva ao auto-amor (egoísmo) e o auto-amor leva à adoração de Satanás.
Muita coisa é dita pelos cristãos hoje que honra o ego e honra a vitória de Satanás neles. Fala-se e escreve-se demais a respeito da vinda do Anti-cristo e oferece-se muitas desculpas para os cristãos não conseguirem viver vidas vitoriosas e alcançarem libertação do poder do pecado – mas na verdade, nada mais é do que a falta de adorar a Deus em espírito e em verdade.
A falta de adoração a Deus é muito evidente nos testemunhos que ouvimos dos cristãos. As suas preocupações com o ego e com os seus desejos não satisfazem nem honram a Deus. “Deleita-te no Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração” parece ser uma promessa perdida em muitas das nossas sessões de aconselhamento. Quando é que nós nos deleitamos no Senhor? Como é que nós nos deleitamos no Senhor? Deus nos deu instruções sobre como podemos fazer exatamente isso.
A menos que nos deleitemos no Senhor à maneira de Deus, não podemos esperar que os cristãos se tornem vencedores. Enquanto não pudermos dar testemunho de que somos vencedores, nós não temos muito motivo para testemunhar. Se nossas reuniões de testemunho não honram a Deus pela libertação do pecado, nós perdemos de vista o porquê do Evangelho nos ter sido dado. Muitos cristãos ainda precisam aprender a adorar um Deus vitorioso.
O apóstolo Paulo tinha os seus problemas com os cristãos em Corinto. Ele não prometia salvação para aqueles que continuassem em pecado. Ele os exortou a se prepararem para adorar a Deus, examinando-se a si mesmos para verificar se estavam na fé. Ele advertia que Jesus Cristo não estaria neles se falhassem no teste de crer na obra completa de Jesus na cruz. Eles deveriam buscar a perfeição, ter um só pensamento, viver em paz uns com os outros e com Deus.
Para resolver os problemas deles, Paulo não os encaminhou para um conselheiro bem treinado, mas os instruiu a se reunirem como igreja todos os domingos para comerem pão e beberem vinho juntos para se lembrarem da morte de Cristo na cruz por eles e da Sua ressurreição vitoriosa sobre o sepulcro para lhes dar a vitória. Deveriam participar da Comunhão, observar a Ceia do Senhor com regularidade. Negligenciar esta prática, Paulo lhes ensinou, é a razão porque muitos cristãos são fracos e doentes e “alguns já dormem.”
Tomar a Ceia do Senhor é muito mais do que ir à igreja no domingo de manhã e comer um pouco de pão e beber um gole de vinho com outros cristãos declarando com isto que somos membros de uma igreja. Tirar tempo para ser santo antigamente significava tomar tempo no sábado à noite não somente para estudar a lição da Escola Dominical, mas utilizar a linha telefônica comunitária para acertar algumas coisas com os vizinhos, mesmo que se ouvisse um ruído indicando que outras pessoas poderiam estar ouvindo aquilo que estávamos dizendo em preparação para a Ceia do Senhor da manhã de domingo. Talvez esta preparação para o culto de domingo de manhã fosse a razão pela qual nunca tivéssemos visto um policial e pensássemos que advogados e juizes existiam só para os impiedosos.
Tem de haver uma preparação para a adoração se quisermos adorar a Deus em espírito e verdade. Foi assim que o apóstolo Paulo disse aos cristãos de Corinto que deviam se preparar. “Qualquer que comer este pão e beber o cálice do Senhor indignamente será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”(1 Coríntios 11.27-32).
Onde adoramos a Deus em espírito e em verdade? Quando é que nos deleitamos no Senhor? Nós adoramos em espírito e em verdade e nos deleitamos no Senhor quando nos encontramos na presença de Deus depois de nos termos preparado para esse evento. Deus é adorado em espírito e verdade quando os cristãos abandonam a amargura e a inveja, têm paz com Deus e são um em espírito com aqueles que adoram o mesmo Deus. Adorar a Deus é declarar corporativamente que Jesus Cristo é o nosso Senhor vitorioso. É para isto que existem os domingos. As noites de sábado são boas para acertar as coisas em preparação para adorar a Deus em espírito e em verdade.
A negligência na observância exata da Ceia do Senhor tem levado muitos evangélicos para os psicólogos. Isto acaba tornando-se muito caro e desastroso em muitos casos. Muitos evangélicos são fracos e doentes porque não levaram em conta a correta observância da mesa do Senhor.
Nesta edição publicamos mensagens de homens de diferentes denominações, não para provocar controvérsias, mas porque estamos determinados a enfocar a adoração, junto com outros cristãos, do verdadeiro Deus pessoal que é o nosso único objetivo. Deus não nos dará um avivamento a menos que aceitemos outros crentes no Senhor Jesus Cristo como nossos irmãos e irmãs em Cristo! Nós estamos trazendo juízo sobre nós mesmos quando participamos da Comunhão e comparecemos à mesa do Senhor rejeitando outros irmãos crentes no nosso Deus.
Todos os artigos que publicamos têm o propósito de dirigir a nossa atenção para a vitória do cristão sobre o pecado, e para a liberdade, alegria e esperança que temos em Deus aqui e agora, nesta terra, pela fé Nele.