Por: Dennis Kinlaw
O versículo mais lembrado em relação ao avivamento provavelmente seja 2 Crônicas 7.14: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra”.
Meu Povo
Observe, em primeiro lugar, a quem estas palavras foram dirigidas: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome…” Nós, cristãos, somos as pessoas que temos o nome de Cristo sobre nós. Essa não é uma palavra dirigida para o mundo. É para o povo de Deus, para aqueles que se identificam com o seu nome. Precisa haver uma consonância entre o nome que trazemos e o que somos. Se não houver essa consonância, o mundo não terá como descobrir o caminho para fora de suas próprias trevas.
Humilhar-se
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar…” A palavra no hebraico usada aqui para humilhar-se significa contrair-se, pegar algo que é grande e abaixá-lo, reduzir o seu tamanho. Não é uma palavra comum. É usada para descrever a águia que, planando lá no alto, resolve dobrar suas asas e voltar à realidade da terra, aqui embaixo.
Eu gostaria de tirar uma lição dessa figura. Humilhar-se é desinflar a si mesmo. Precisamos chegar a um ponto de realismo sobre o que é necessário para que Deus mostre a sua mão. Posso estar inchado com vaidade, achando que sou responsável pela obra de Deus ou que sou capaz de produzir alguma coisa. As Escrituras mostram claramente que nunca somos causa; somos meras ocasiões para que a obra de Deus aconteça.
É muito fácil começarmos a pensar que somos causa e assumir uma parte do crédito. Quando fazemos isso, Deus começa a se afastar, pois ao deixarmos a impressão que somos capazes sozinhos, estamos enganando os outros. Só existe uma esperança para o coração humano, e essa vem do próprio Deus em Cristo Jesus.
Portanto, a idéia de humilhar-se é desinflar a si mesmo ao ponto de saber muito bem que nossa única esperança está em Deus: se ele não agir, tudo será em vão, tudo será inútil.
Orar
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar…” Verifiquei a palavra no hebraico usada aqui para orar. Não é a palavra que significa adorar, que implica inclinar-se diante do Senhor. Significa basicamente “interpor-se”. Pode ser traduzida como “interceder”, mas nem sempre tem este sentido. É interessante que tanto o verbo “humilhar-se” como “orar” são verbos reflexivos no hebraico. São ações que voltam ao próprio sujeito: as pessoas vão humilhar a si mesmas e vão orar, ou seja, vão se interpor entre o Deus que pode responder e o povo que precisa de Deus.
Mas o que significa interpor-se dessa forma? Significa que o problema da outra pessoa torna-se o seu. Você se compromete com o problema dela. Você o assume. Tenho ficado cada vez mais cativado com o modo com que o Velho Testamento usa a palavra “carregar”. O que aconteceu na cruz foi que Jesus carregou os nossos pecados. Ele carregou a nossa maldade e as nossas transgressões. Ele se interpôs e tomou os nossos problemas como se fossem os seus.
Da mesma forma, devemos nos interpor também: tomando a perdição, a enfermidade – ou qualquer outra carga que esteja sobre os outros – e carregando-a diante de Deus até que ele comece a agir para solucioná-la.
Orar, neste sentido, é mais do que seguir uma lista de pedidos. É assumir o problema de alguém como se fosse o meu, de tal forma que me preocupo com ele mais do que comigo mesmo. Estou pronto para tomar o seu lugar, por assim dizer, a fim de que ele seja redimido.
E me buscar e se converter dos seus maus caminhos
“Se o meu povo … se humilhar, e orar, e me buscar…” O que devemos buscar? Não a bênção de Deus. Nem mesmo devemos buscar avivamento. Devemos buscar a Deus e a sua face, porque é dele que precisamos.
“…e se converter dos seus maus caminhos”. Fiquei um tanto surpreso quando pesquisei o significado dessas palavras no hebraico. Embora haja uma outra palavra bem forte para o pecado, que faz contraste com a justiça, essa não foi a palavra empregada aqui. Foi usada uma palavra que significa algo ofensivo, desagradável, algo que incomoda o relacionamento. Ele está se referindo aqui aos caminhos que entristecem o Senhor e que são ofensivos a ele.
Para uma pessoa ser usada por Deus e ter a unção que vem da intimidade, ela precisa ser mais do que uma pessoa meramente moral. É claro que não pode ser imoral, mas terá de ir além da moralidade. É necessário ter aquele relacionamento pessoal com Deus que lhe permite dizer: “Não gosto disso, portanto quero que você o abandone e que acerte a sua vida nessa área”. Talvez você diga: “Mas todo o mundo está fazendo. Os outros cristãos não se incomodam nem um pouco com isso”. E o Senhor lhe responderá: “Eu sei. Isso é problema deles. No seu caso, é um problema meu. Não o quero na sua vida!”
Tive o privilégio de ser casado durante 59 anos com uma mulher extraordinária. Ela me ensinou muito mais do que eu ensinei para ela. Era uma mulher de oração. Por causa do meu ministério, eu viajava muito. Às vezes, ficava semanas ou até meses fora de casa. Quando eu chegava em casa, ela estava me esperando. Sabe qual era a primeira coisa que eu fazia? Antes de perguntar como ela estava, eu olhava para o seu rosto, porque ali eu via em que pé estava o nosso relacionamento.
Num relacionamento de intimidade, as expressões na face podem ser muito reveladoras. Quando havia uma expressão perturbada no rosto dela, não era porque eu havia quebrado um dos dez mandamentos. Não era por falta de fidelidade da minha parte. Havia algo no nosso relacionamento que não lhe agradava e com o qual eu precisava tratar se quisesse restaurar aquilo que me era precioso.
Não Entristeçais o Espírito
Tenho conhecido pessoas consagradas durante os anos, pessoas que tinham a unção que vem de um relacionamento pessoal e íntimo com Jesus. O texto de Efésios 4.30 (Não entristeçais o Espírito) era uma realidade em suas vidas. As pessoas que mais me marcaram foram aquelas que encontrei, muitas vezes, nos lugares mais inesperados, e que não queriam nada em suas vidas que pudesse desagradar ao Senhor. E viviam suficientemente próximos a ele para saberem quando havia algo que o entristecia.
Às vezes, depois de ministrar, Deus nos diz algo mais ou menos assim: “Havia um pouco demais de você mesmo ali, não havia?” E você diz: “Senhor, perdoa-me”.
Quando olho para o passado, dou graças a Deus por certas pessoas que tiveram a coragem de me dizer a verdade. Havia uma senhora viúva que me disse certa vez, de forma bem direta: “Dennis, quando você é muito habilidoso é mais difícil ver Jesus!”
Quando eu era um jovem evangelista, recém-formado do seminário, cheio de zelo, eu achava que minha reputação dependia da minha eficácia nas pregações. Certa noite, depois da mensagem, o pastor me disse: “Dennis, havia mais de você do que do Espírito Santo naquele apelo, você não acha?” Eu sabia que tinha razão. Dou graças a Deus por ele ter dito isso para mim, porque quando injetamos a carne nas coisas de Deus, nós as contaminamos e dificultamos a operação do Espírito.
Não estou me referindo a grandes pecados. Estou falando das coisas que afetam um relacionamento aberto com o Espírito Santo, que permite que ele nos dê a sua unção e que nos use como canais limpos.
Com efeito, Deus está dizendo nesta passagem de 2 Crônicas 7.14: “Busque a minha face e livre-se das coisas que me ofendem e desagradam”. Se assim fizermos, ele promete que vai ouvir e perdoar e que vai curar a nossa terra. Não há nada que nossa nação mais precise hoje do que a cura – a cura de Deus. Não há sentido algum em criticar ou reclamar das pessoas que aparecem nas notícias. O lugar em que devemos começar é exatamente aqui, aqui onde nós estamos como seu povo. Quando ele começa a agir conosco, o fato maravilhoso é que isso afeta muitas outras pessoas, pessoas que estão interligadas conosco nas nossas redes de influência.
Havia um certo bispo idoso na Igreja Metodista no início do século XX. Era um ex-ferroviário, sem formação acadêmica. Enquanto pastoreava no estado do Texas (EUA), durante muito tempo não se passava um domingo sequer sem que alguém se convertesse. Alguém lhe perguntou qual era o seu segredo. Ele respondeu: “Tenho sessenta homens que se reúnem antes do culto de domingo. Oram até aquecerem os seus corações. Depois se espalham no auditório. Eles têm um princípio de ninguém se sentar perto de outro integrante do grupo no culto. Assim todos estarão sentados perto de outras pessoas. Qualquer pecador ou cristão frio que ficar perto de um deles acaba se descongelando e derretendo, de tal forma que antes do final do culto já foi alcançado.”
Será que não é essa a esperança para nossas sociedades atuais? Deus nos visitará quando nessas pequenas redes de relacionamento tivermos uma chama ardendo de tal forma que as pessoas ao nosso redor serão afetadas. Precisamos começar.
Algo lhe Aconteceu!
Um dia eu estava com um amigo de outra parte do país e ele me contou a sua história, que ilustra perfeitamente o que estou querendo mostrar.
Depois de sua conversão ainda como adolescente, recebeu um chamado de Deus e entrou no ministério. Logo experimentou sucesso na igreja onde estava atuando. Com vinte e nove anos de idade, tinha cinco pessoas na sua equipe e sentia muito bem com o que estava fazendo. Aos poucos, porém, foi percebendo um grande vazio em sua vida. Chegou ao ponto de pensar: “Se não tem mais nada além disso, não vale a pena”.
Certa noite, entrou no seu escritório, trancou a porta e apagou as luzes. Prostrou-se no chão e começou a orar.
“Dennis”, ele me contou, “tive uma experiência muito incomum. É difícil descrever. Era como se eu fosse uma maleta e Deus me pegasse e me virasse para baixo e começasse a me sacudir. Enquanto me sacudia, fiquei horrorizado com o que saía do interior. Ele sacudiu e sacudiu e continuou sacudindo até que pensei que nunca mais iria parar. Finalmente, parou e virou a maleta para cima outra vez. Então, em toda sua glória, ele veio e encheu a ‘maleta’ com sua presença. Pode não ter acontecido fisicamente, mas eu poderia jurar que a sala ficou toda iluminada. E senti-me totalmente transformado. ‘Purificai-vos, os que levais os utensílios do Senhor’ (Is 52.11). Senti que fui purificado e estava limpo.”
Ele resolveu não contar sua experiência para ninguém. Poucos dias depois, numa reunião de equipe, terminaram de tratar dos assuntos do dia, porém ninguém quis se mexer. Todo o mundo ficou quieto, olhando para ele. “Aí vem coisa”, pensou meu amigo. Um deles se levantou e disse: “Pastor, estivemos comentando um com o outro e temos uma pergunta a lhe fazer, mas é uma pergunta pessoal. Achamos que algo lhe aconteceu e estamos gostando. Não sabemos se gostaria de falar a respeito ou não, mas se puder, para nós seria de grande valor”. Assim, ele compartilhou com o grupo como o Espírito Santo viera, purificando seu coração e enchendo-o com sua presença.
A mesma coisa se repetiu pouco depois numa reunião de diáconos. Estes também queriam saber o que acontecera para mudar a sua vida. Sem falar nada, viram uma grande diferença e isso os despertou.Um relacionamento totalmente novo foi estabelecido com Deus e, conseqüentemente, com o povo.
Vamos dar ao Espírito Santo uma chance para falar. Vamos olhar para ele, para o seu rosto, e perguntar: “Existe alguma coisa em mim que te entristece? Será que podemos falar sobre isso, só eu e o Senhor? Há alguma coisa em mim que impede, que entristece a ti? Se houver, é melhor que tratemos com isso agora.” Vamos dar a ele uma chance de nos purificar.
Dennis Kinlaw é o fundador da “Francis Asbury Society”, sediada em Kentucky, nos EUA. Participou de um avivamento na Faculdade Teológica de Asbury em 1970, da qual era presidente na época. Mais informações sobre o seu ministério no site: www.francisasburysociety.com/kinlaw.htm. Este artigo foi adaptado de uma mensagem dada na Conferência “Heart Cry for Revival” (Clamor de Coração por Avivamento), em abril de 2004, na Carolina do Norte, EUA.