Por Gordon Dalbey e Mike Genung
Que esperança podemos ter para alguma mudança no quadro dramático da situação da família e do homem hoje (descrita no artigo A Doença dos Homens)? Existe “bálsamo em Gileade? ou não há lá médico?” (Jr 8.22).
Temos, sim, uma grande promessa na Palavra de Deus. De fato, exatamente no ponto em que as Escrituras mudaram o foco dos mandamentos e da lei de Moisés para a obra de Jesus, Deus mostrou que pretende curar a grande enfermidade da humanidade:
“Eis que eu vos enviará o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; ele convertera o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição” (Ml 45,6).
Esse texto de Malaquias contém as últimas palavras da Velha Aliança. De modo significativo, a promessa ali afirmada – e a advertência também – formam uma espécie de portal de entrada para a Nova Aliança, um limiar para a vinda do Messias. A implicação é que a desintegração de relacionamentos entre pais e filhos neste mundo reflete a quebra de contato entre a humanidade e Deus. É por isso que a restauração do relacionamento com o Pai constitui na realidade, o foco principal do poder redentor de Deus neste mundo. Jesus veio para revelar o Pai e para reconciliar com ele a humanidade (Jo 14.8-13). E em nenhum lugar a necessidade por essa reconciliação é mais profundamente sentida do que na falta que o homem sente de um pai.
Nenhuma dor fere o coração do homem mais profundamente do que o abandono emocional e/ou físico do pai. Para os homens, a ferida do pai é uma maldição mortal.
É por essa razão que a visão escatológica de Deus enfoca tão claramente a cura dessa dor – como se vê no texto de Malaquias. E é por isso, também, que o inimigo de Deus usa todos os recursos do inferno para nos fazer negar não só a existência da ferida do pai em si, mas a própria paternidade de Deus.
A advertência da profecia é tão forte quanto a promessa: até que homens sem paternidade recebam a bênção da filiação em Cristo (Rm 8.15,16), continuarão transmitindo uma maldição à Terra.
O Primeiro Passo
A palavra “integridade” vem de uma raiz que significa inteiro, como em números inteiros. O homem que se esconde e tenta encobrir sua ferida interior não é um homem de integridade. É apenas metade de um homem. Ele pode conhecer a verdade da Palavra de Deus, mas não a graça do coração do Pai.
O primeiro passo, então, para a cura é reconhecer sua verdadeira condição e a causa correspondente. De nada adiantará fazer parte de movimentos ou cursos para homens se esses tão-somente estabelecerem novas regras ou padrões mais elevados de comportamento. Essa geralmente é só mais uma maneira de esconder nossas feridas por trás de uma fachada religiosa que valoriza desempenho.
Infelizmente, a maior parte do ensinamento cristão para os homens hoje simplesmente nos mostra o que devemos fazer, as terríveis conseqüências se não o fizermos e, talvez, os maravilhosos benefícios se conseguirmos atingir o padrão. São exortações do tipo “dez princípios de hombridade santa” ou os “cinco padrões de masculinidade bíblica”. É mais fácil enfocar a prática do bem do que ser autêntico.
É o tipo de ensinamento básico da Velha Aliança, que ordena obediência e motiva os homens através da vergonha do castigo (1 Jo 4.18). A Nova Aliança, por outro lado, chama para a confiança e motiva os homens através de prometer a filiação (Gal. 4.6,7).
O homem que foge de sua ferida mortal e da necessidade do Salvador sempre acabará se tornando escravo da vergonha de não ter alcançado o padrão desejado. Sentindo abandono e frustração, procurará sua identidade no trabalho e, muitas vezes, nas mulheres, seja na mãe, na esposa ou em algum relacionamento superficial. Ficará vulnerável a uma porção de falsificações mundanas e até religiosas, que prometem calar a voz da vergonha e torná-lo, afinal, um “verdadeiro homem”.
Já a hombridade da Nova Aliança requer que enfrentemos os duros fatos de que não somos capazes de fazer o que Deus ordena e exige que clamemos a ele por livramento. Precisamos aprender a levar a nossa vergonha à cruz e não a encobri-la com tentativas de bom desempenho.
O caminho para a recuperação da hombridade perdida, então, é por meio da autenticidade, que tem uma grande relação com arrependimento. O que nos salvará não é a nova determinação de fazer “o que é certo”, mas o anseio de conhecer o verdadeiro Pai (Gálatas 5.1-6; Rm 7.18). Só autenticidade pode nos levar a ser homens da Nova Aliança – com a coragem de enfrentar a vergonha de nossa própria impotência e de entregá-la a Jesus para que ele a assuma totalmente.
Se nenhum pai humano é perfeito e todos nós carregamos as feridas que resultam dessa imperfeição, teremos de buscar a verdadeira filiação em Cristo para conhecermos o único Pai perfeito. Isso não é apenas uma questão de palavras ou de teoria. Precisamos aprender a nos relacionar de fato com o Pai, sentir sua aceitação, sua perseverança, sua disciplina e seus tratamentos até encontrarmos seu reconhecimento de que, de fato, algo novo está sendo gerado no nosso interior.
Aprendendo a Perdoar
Enfrentar a ferida inclui dois aspectos: o primeiro, já descrito acima, é reconhecer nossa doença, nossa incapacidade, nossa falta de hombridade. Isso nos leva à cruz, à obra consumada de Cristo, à filiação.
O segundo é entender que, embora a causa tenha sido a humanidade caída de nosso pai natural, ele, por sua vez, também sofreu as conseqüências de ter sido criado por um pai imperfeito, e precisa ser amado e perdoado. É diferente de defender o pai, que, muitas vezes, é uma reação natural do filho, mas pode significar um encobrimento da ferida. Se não enfrentarmos o fato de que realmente houve falhas, não abriremos o caminho para a cura, nem para mudanças em nossas próprias vidas. E o ciclo continuará para a próxima geração.
A promessa de Malaquias é que antes da consumação do dia do Senhor, haverá um ministério que tornará os corações dos pais aos filhos e dos filhos aos pais. Essa restauração pode acontecer em qualquer fase da nossa vida. Nunca é tarde demais para um pai voltar-se para seus filhos, ainda que sejam adultos. Nunca é tarde demais para um filho voltar-se para seu pai, ainda que este seja idoso. E jamais poderemos calcular os efeitos que tal restauração trará – não só para os membros imediatos da família envolvida.
Se virmos, de fato, a causa da doença e a estratégia de Satanás por trás dela, conseguiremos enxergar nosso pai ou nossos filhos não como inimigos, mas como vítimas, e Deus poderá encher nossos corações de verdadeira compaixão e perdão.
Outro aspecto que é importante ressaltar é que, ao enfrentarmos a ferida infligida pelo pai, jamais devemos culpá-lo pelo pecado em que porventura tenhamos caído na tentativa de compensar ou aliviar a dor. Não importa o que nos aconteceu no passado, precisamos assumir 100% da responsabilidade se recorremos à lascívia, se fomos omissos, ou se usamos qualquer outra forma errada de lidar com nossa ferida.
Encontrando Relacionamentos Saudáveis
Fomos feridos no nosso relacionamento com um homem, nosso pai; por isso, será em relacionamentos autênticos com ele ou com outros homens que o processo de cura começará a se processar.
Alguns não têm mais um pai vivo; outros precisarão esperar com fé e perseverança para que o relacionamento com o pai seja curado. Porém, amor masculino puro, não sexual, não é encontrado exclusivamente com o pai. Quando nossos irmãos nos aceitam e nos amam, apesar de nossas falhas, inconscientemente estão respondendo à nossa pergunta (a grande pergunta): “Sim, você tem o que é necessário para ser um homem… você é importante, você tem valor, tem dons que me abençoam, sua amizade é prazerosa para mim”. Através do seu apoio e encorajamento, nossos irmãos transmitem-nos a bênção do amor e da força masculinos.
Davi, que já conhecia o amor e o carinho do relacionamento conjugal, expressou assim a importância de sua amizade com Jônatas: “Excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres” (2 Sm 1.27).
Amor puro de homem para homem não tem as complicações sexuais ou o atrito emocional que surgem das diferenças entre homens e mulheres. Quando um outro irmão me desafia sobre um determinado assunto na minha vida, desde que não o faça com insultos ou intenções cruéis, eu posso recebê-lo sem dificuldades. Os homens compreendem os temores e inseguranças de outros homens, o que permite que abençoem uns aos outros de formas que seriam impossíveis para as mulheres.
Relacionamentos de homem para homem dentro da grande família de Deus podem ser de irmãos (de igual para igual), ou de pai para filho (veja Professores ou Pais Espirituais nesta edição). Além do nosso novo relacionamento com Deus Pai, podemos experimentar relacionamentos saudáveis dentro da igreja e sermos curados na nossa hombridade doentia Acima de tudo, podemos ainda ser pais verdadeiros para nossos filhos naturais e ver o ciclo satânico quebrado nas nossas famílias, e a promessa de Deus a Malaquias começar a ser cumprida antes do grande dia do Senhor.
Extraído e adaptado de:
“The Real Men’s Movement” e “Healing the Father-Wound”, por Gordon Dalbey, que podem ser encontrados no site: www abbafather.com. Gordon Dalbey é pastor, conferencista autor de vários livros em inglês sobre o assunto de Hombridade, como “Healing the Masculine Soul” (“Curando a Alma Masculina”) e “Fight Like a Man” (“Lute Como um Homem”) Foi um dos preletores no primeiro evento dos “Promise Keepers” que foi realizado em um estádio do Colorado, EUA, em 1992.
“Healing Father Wounds”, por Mike Genung, que pode ser encontrado no site: http//www.blazinggrace.org/fatherwounds.htm.
Mike Genung é autor e diretor de um ministério chamado Blazing Grace, no Colorado, EUA.