25 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

O Pecado De Jeroboão

Por Maurício Bronzatto

O Grande Conflito dos Últimos Dias: Amor X Medo

Jesus avisou seus discípulos em Mateus 24 que a multiplicação da iniqüidade, assumindo nos últimos dias uma proporção assustadora, levaria a um esfriamento quase que generalizado do amor (v.12). Isto, por sua vez, levaria o medo a ganhar contornos inimagináveis, já que o amor é o único elemento capaz de afugentar o medo (1 Jo 4.18). Os homens desmaiarão de terror e pela expectativa dos males que lhes sobrevirão (Lc 21.26). Todos aqueles que não tiverem o selo de Deus sobre a fronte, ou seja, que não amarem a Deus com o seu entendimento, que não crerem na verdade, viverão debaixo de um clima asfixiante ao respirarem no ar um “ardente desejo de morrer” (Ap 9.4,6).

Podemos esperar tempos muito difíceis. O desespero estará na ordem do dia, sobretudo porque “o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo o engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2.9-10).

Onde estará a igreja quando tudo isso estiver acontecendo?

Bem, cremos que uma igreja arraigada e alicerçada em amor (Ef 3.17), e que conhece o amor de Cristo que excede todo entendimento (Ef 3.19) estará operando intensamente na terra. Sim, seguindo a verdade em amor, crescerá em tudo naquele que é o cabeça, Cristo (Ef 4.15), e gerará um ambiente totalmente diferente: onde estiver essa igreja, o medo estará ausente.

Duas vontades distintas, de maneira acentuada, estabelecerão a diferença (hoje muito confusa) entre o que serve a Deus e o que não o serve (Ml 3.18): tendo rejeitado o amor, o injusto continuará fazendo injustiça e se sujando cada vez mais; o justo, porém, optando por andar em amor, ainda que debaixo de condições externas desfavoráveis, progredirá na prática da justiça e da santificação providenciadas por Deus (Ap 22.11).

Vemos claramente essa realidade no livro de Joel. A “hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra” (Ap 3.10) – e que fará o sol se converter em trevas (olhe novamente as trevas do medo aqui) e a lua em sangue (Jl 2:31) – coexistirá com uma tremenda visitação do poder de Deus e do derramamento do Espírito que virá sobre a igreja para prepará-la para o dia do Senhor.

Do medo para a religiosidade

Ainda não vemos na igreja esta realidade, em que o ambiente de medo tenha sido substituído pelo ambiente de amor e confiança. É triste verificar como muitos dentro da “igreja” continuam mantendo uma relação com Deus baseada no medo. Tentam esconder-se de catástrofes, enfermidades, da pobreza, do inferno. Semelhantemente ao que faziam os moradores da terra de Sinar, estão edificando uma casa (um falso edifício), baseada no medo e não no amor. A construção tem aparência de algo que vai dar no céu (como a torre que apontava para cima), mas a motivação é incredulidade: medo de um novo dilúvio e a satisfação de projetos egoísticos (tornar o nome célebre – Gn 11.1-9).

Onde há projetos egoísticos, o amor está ausente e o medo cresce. Muitos apenas mudaram de ambiente. Antes viviam oprimidos pelas trevas do pecado; agora correram para se esconder debaixo de regras e doutrinas eclesiásticas, e também para saciarem seus desejos por realização pessoal. Saíram do medo para continuar no medo.

O medo, na melhor das hipóteses, mergulha as pessoas na religiosidade, tornando-as débeis, tímidas e covardes, incapazes de viverem de modo significativo as implicações da sua fé.

Davi e Jeroboão

Temos em Davi o exemplo de um homem para quem o medo não dava ordens. Mesmo nos momentos de grave crise, ele ousou não duvidar de sua identidade e de sua relação com Deus. Esta confiança o fez vencer muitos inimigos internos e externos. Deus testemunhou ter achado um servo segundo o seu coração e lhe fez uma promessa e uma aliança de construir para Davi uma casa e de estabelecer para sempre o trono do seu reino (2 Sm 7.11-13).

Uma geração mais tarde, uma proposta semelhante foi feita a Jeroboão, a quem foram entregues dez tribos, depois que o reino unificado foi rasgado da mão de Salomão (1 Rs 11.30-32): “Se ouvires tudo o que eu te ordenar, e andares nos meus caminhos, e fizeres o que é reto perante mim, guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como fez Davi, meu servo, eu serei contigo, e te edificarei uma casa estável, como edifiquei a Davi, e te darei Israel” (1 Rs 11.38). A promessa a Jeroboão era idêntica àquela feita a Davi, logo o coração de Jeroboão também deveria corresponder ao do homem segundo o coração de Deus.

Quando separou o reino, Deus tinha em vista uma divisão política. A aliança para os reinos do norte e do sul, no entanto, ainda permanecia a mesma. A fidelidade à casa de Deus (ao templo), ao sacerdócio, à espiritualidade das festas e sacrifícios seguia inalterada. Mas Jeroboão não se dispôs a andar na trilha do amor. Ficou com medo.

“Disse Jeroboão consigo: Agora, tomará o reino para a casa de Davi. Se este povo subir para fazer sacrifícios na Casa do Senhor, em Jerusalém, o coração dele se tornará a seu senhor, Roboão, rei de Judá. Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito! Pôs um em Betel e o outro, em Dã. E isso se tornou pecado, pois que o povo ia até Dã, cada um para adorar o bezerro” (1 Rs 12.27-30).

Jeroboão poderia muito bem ter seguido os passos de Davi, mas não foi isso o que aconteceu, e o livro dos Reis ganha, a partir de então, um refrão que passa a sintetizar o governo dos reis do Norte: “…não se apartou dos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, que fez pecar a Israel”. As implicações desse refrão foram diretamente responsáveis pela queda de Samaria, a capital do reino do Norte, diante dos Assírios, em 722 a.C.

Resultados do medo

Temos no rei Jeroboão um exemplo clássico de como o medo nos empurra para fora dos caminhos de Deus. E pior: faz com que muitos ao nosso redor sigam as nossas pegadas e também se desviem dos propósitos divinos. Deus escolhera Jerusalém como lugar da sua autoridade, um centro de convergência (unidade) para a nação. Era para lá que as orações, as ofertas, enfim todo o culto deveria ser direcionado. Desviar o povo de Jerusalém era errar grosseiramente o alvo, e ir na direção contrária ao lugar da habitação de Deus (1 Rs 8.27-53).

Jeroboão criou a sua própria religião. Além dos dois bezerros de ouro de Dã e Betel, constituiu sacerdotes que não eram dos filhos de Levi; criou uma festa estranha no oitavo mês, no 15.º dia, a fim de concorrer com a festa dos Tabernáculos que ocorria um mês antes em Jerusalém; queimou ele mesmo incenso ao Senhor; enfim, a seu bel-prazer, desviou o reino de seguir a lei do Senhor e de adorá-lo conforme suas prescrições.

Jeroboão preferiu dar ouvidos às evidências externas e não confiou na palavra do Deus de Davi. Temeu a concorrência de Jerusalém e, assim, lançou alicerces pecaminosos que, anos mais tarde, precipitariam Israel no cativeiro. As cercas que Jeroboão construiu afastaram o seu reino do verdadeiro Deus e entregaram Israel às abominações dos povos ao redor. Os reis que se sucediam não conseguiam se desviar dos pecados de Jeroboão. Deus lhe teria construído uma casa estável e confirmado o seu reino. Mas o medo e a satisfação de projetos egoísticos o levaram para as margens da promessa de Deus.

É isso o que acontece quando deixamos que o medo sufoque a voz de Deus em nossas vidas. Não avançamos para as águas profundas e muito menos permitimos que outros sob nossa liderança o façam. O medo ofusca a visão das promessas de Deus e nos faz privilegiar os interesses próprios e imediatos em detrimento da vontade de Deus.

Um medo antigo de cara nova

A mesma tragédia se verifica em muitos segmentos da igreja em nossos dias. É chocante o que vou dizer, mas é verdadeiro: há muitos bezerros de ouro erigidos para segurar as pessoas nas igrejas. Alguns até começam sinceramente, pensando defender as ovelhas das heresias e dos lobos, e acabam inventando uma vasta programação para entreter os membros. É, sem dúvida, uma atitude baseada no medo, não no amor.

O medo de perder para outros enxerga inimigos em todos os lados. Como conseqüência, a unidade nunca esteve tão ameaçada. As estruturas que se criaram são tão dispendiosas que o cuidado com a evasão de ovelhas compromete seriamente a sua manutenção.

Não devemos temer “perder” as ovelhas quando as apascentamos para Deus, porque quando não o fazemos para Deus, mesmo que elas não se desgarrem, serão como o irmão mais velho do filho pródigo: estarão em casa e nunca se sentirão filhos. Jeroboão criou empregados do culto, profissionais da liturgia, mas não adoradores verdadeiros, filhos amados em quem o Pai se comprazia.

Que contraste encontramos quando olhamos para o pai da parábola do filho pródigo! O pai estava seguro do amor que devotou ao filho a vida toda. O amor do pai foi sempre uma âncora que nunca pôde desconectar o filho do lar, ainda quando este andava por países distantes. O amor imprime marcas duradouras. É por isso que, estranhamente, o pai, mesmo dilacerado por dentro, deixou o filho partir. Ele não pôs cercas, não ficou com medo dos concorrentes. Sabia do amor com que criara o filho.

Os bezerros de ouro, as festas estranhas e os pseudo-sacerdotes são sempre os maiores obstáculos aos planos de Deus. Chegam mesmo a “proteger” as pessoas do novo que vem de Deus. E diga-se de passagem: bezerros de ouro podem variar de objetos concretos de idolatria a, quem sabe, sermões pouco exigentes para não “escandalizar” os ouvintes.

É com tristeza que assistimos aos erros de Jeroboão atualizando-se na igreja ao longo da história. Há muita doutrina de homens impedindo o cumprimento das promessas de Deus na igreja. Dessa forma, Deus não pode construir uma casa estável. Quase ninguém está questionando os velhos padrões. Para que rever a teologia? Melhor deixar tudo como está. A mudança provoca “desinstalação”, desequilíbrio, faz as pessoas pensarem, desafia-as a ouvirem diretamente de Deus. Dá medo voltar para o genuíno!

Medo de perder o lugar para Deus

O grande pecado de Jeroboão, anterior aos bezerros e motivador deles, foi o medo de dar a Deus o devido lugar em sua vida. Foi o medo de sair do trono e figurar apenas como um agente da misericórdia divina. Foi o medo de perder o controle sobre a fé das pessoas e, como conseqüência, perder o poder de manipulação do culto, que gera subserviência nas pessoas. Foi o medo de deixar de ser deus para o povo e dar licença para que Deus, de fato, reinasse. Vestidinho de roupagens modernas, o pecado de Jeroboão continua a produzir idolatria em série, gente alienada, presa fácil para Satanás, matéria-prima para a Babilônia religiosa.

Os Jeroboões precisarão prestar contas da sua administração. É tempo de mudar, investir os talentos e parar de escondê-los. Quem ama, cuida e investe, mas nunca se esquece que aquele que está sob seus cuidados pertence, antes de tudo, ao reino de Deus. Quem teme, cava trincheiras, sepulta, e acaba com o vigor das ovelhas, vedando-lhes qualquer possibilidade de enxergarem a luz profética. O medo vai sempre enxergar ameaça, mesmo que o “concorrente” seja Deus e o seu reino.

Maurício Bronzatto reside em Mogi-Mirim – SP e é um dos coordenadores de uma comunhão de grupos espalhados por várias cidades e estados no Brasil.

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Uma resposta

  1. Não é verdade que a pessoa deixa do pecado, para simplesmente viver debaixo de regras e doutrinas por causa de medo.
    Pois o Espírito Santo é quem convence do pecado, e quando o Espírito Santo converte uma pessoa Ele faz a obra completa.
    Mas os satanistas insistem em afirmar que os cristãos servem a Deus e seus preceitos e sua lei maravilhosa por medo; pois eles não crêem no unigênito Filho de Deus, nem na sua santa doutrina.

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