22 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Como Sei Que Deus Responde à Oração – Parte II

Por: Rosalind Goforth

Jonathan e Rosalind Goforth foram missionários canadenses na China de 1888 a 1934. Durante esse período, tiveram onze filhos (cinco dos quais morreram como bebês ou muito novinhos), passaram por perseguições e dificuldades, e testemunharam grandes moveres do Espírito de Deus, trazendo convicção, arrependimento e conversões. Esta é a segunda de uma série de relatos extraídos de um livro escrito por Rosalind.

A história da abertura do nosso campo de trabalho em Changte, na China, foi tão interligada por respostas à oração que se eu contasse fatos isolados, quebraria a corrente dos acontecimentos.

Um Campo Prometido por Deus

Poucos meses após nossa chegada à China, um missionário mais velho e experiente bondosamente se ofereceu para levar meu marido, Jonathan, e seu colega, que acabara de chegar na China, por uma viagem de reconhecimento, a fim de poderem ver o campo por si mesmos.

Viajando a pé em direção ao sul, atravessaram, certo dia bem cedo, a fronteira da província de Honan. Enquanto Jonathan andava ao lado do carro de boi, ele sentiu de orar para que o Senhor lhe desse aquela região como seu campo de trabalho. Logo veio a convicção que seu pedido fora concedido. Abrindo seu devocional diário, descobriu que a passagem para aquele dia era Isaías 55.10-13. Como promessa preciosa para aquele campo, vieram as palavras:

Porque assim como descem a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem e a façam brotar… assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei.

Durante seis anos, entretanto, nossa fé foi duramente testada. De todos os lugares, Changte parecia ser o lugar mais determinado a impedir os missionários de chegar perto. E havia outros obstáculos. Um presbitério havia sido formado depois que outros missionários se ajuntaram a nós e todos os assuntos precisavam ser julgados por aquele conselho. Dois novos postos já haviam sido abertos, onde havia mais facilidade de se estabelecer uma base, e todos os esforços eram necessários para fortalecer aquelas iniciativas. Assim, por seis anos a porta para Changte permaneceu totalmente fechada. Mesmo assim, em momento algum, Jonathan perdeu de vista a promessa que Deus lhe fizera, nem deixou de acreditar nela.

Vez após vez, quando Jonathan e seu colega visitaram a cidade, eram ameaçados e atacados, e o povo demonstrava extrema hostilidade. Finalmente, porém, chegou o dia em que a permissão do presbitério, pela qual havíamos orado por tanto tempo, foi concedida. No dia seguinte, Jonathan já estava a caminho de Changte para adquirir uma propriedade para levantar a sede da missão.

Muitas vezes depois disso, ele teve oportunidade de relatar como orou durante toda aquela viagem para que o Senhor abrisse o coração do povo e o tornasse disposto a oferecer-lhe a propriedade mais adequada para o trabalho ali. Dentro de três dias depois da sua chegada ao local, já tinham lhe oferecido 35 propriedades, e dentre essas ele escolheu exatamente aquela que escolhera algum tempo antes como o lugar mais ideal para a missão.

Assim, o Senhor começou a quebrar em pedaços os portões de ferro que nos haviam impedido, por tanto tempo, de entrar na nossa terra prometida.

Um ano depois, fui ajuntar-me, com nossos três filhos pequenos, ao meu marido no campo. Ficou combinado que nosso colega tomaria conta do evangelismo externo, enquanto nós estivéssemos abrindo a obra no posto principal.

Suprindo Nossas Necessidades: Um Assistente Masculino

Para compreender como Deus supriu nossas necessidades, é preciso primeiro explicar que necessidades eram essas. Decidimos, desde o início, que ninguém seria recusado na nossa porta. Jonathan recebia os homens na sala da frente, enquanto as mulheres e crianças entravam na parte mais interior da casa. Durante as primeiras semanas e meses, literalmente centenas e milhares de pessoas se aglomeravam para nos ver. Dia após dia, éramos sitiados. Até na hora das refeições, nossas janelas ficavam cheias de rostos nos observando.

As perguntas que estavam sempre diante de nós naqueles dias eram: como aproveitar ao máximo essa maravilhosa oportunidade, que nunca mais voltaria depois de passado o período de curiosidade inicial; como ganhar a amizade desse povo que demonstrava em centenas de maneiras seu ódio e desconfiança de nós; e como alcançar seus corações com nossa maravilhosa mensagem do amor do Salvador.

Procurávamos fazer, dia após dia, o melhor que podíamos com a força que nos era dada. Desde cedo até o escurecer, às vezes por nove ou dez horas por dia, a tensão de receber e pregar para essas multidões continuava. Meu marido tinha que supervisionar os trabalhadores, comprar materiais para construção e atender às centenas de coisas necessárias para estabelecer o posto missionário. Além de tudo isso, ainda tinha que receber e pregar às multidões que vinham.

Não havia nenhum evangelista nativo para ajudar, pois o Sr. Wang (cuja história está na Parte I desta série) estava emprestado a um outro missionário naquela época. Eu tinha meus três filhos pequenos para cuidar, sem qualquer ajuda de babá ou empregada doméstica, e sem uma assistente nativa para ensinar a Bíblia ao povo. Quando eu estava exausta demais para falar com o pátio cheio de mulheres, eu chamava meu marido que, embora cansado também, passava a falar no meu lugar. Depois descansávamos um pouco e cantávamos um hino.

Assim os dias passavam. Mas logo entendemos que precisávamos de ajuda, pois do contrário nós dois entraríamos em estafa total.

Um dia, Jonathan veio a mim com sua Bíblia aberta na promessa: “E o meu Deus… há de suprir em Cristo Jesus cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.19). Então ele me perguntou: “Nós realmente acreditamos nisso? Se acreditamos, então Deus pode e realmente há de suprir-nos com uma pessoa para ajudar-nos a pregar às multidões que vêm, se pedirmos com fé”.

Ele orou de forma muito específica por um homem que o ajudasse na pregação. Com minha mente obscurecida pela dúvida, pensei que fosse como pedir por chuva com um céu totalmente limpo. No entanto, ainda enquanto ele orava, Deus estava agindo sobre alguém para enviá-lo a nós. Um dia ou dois depois, apareceu na missão um ex-viciado em ópio, Wang Fu-Lin, cuja conversão também foi relatada na Parte I (não confundir com Wang Feng-ao, mencionado acima).

Ninguém poderia ter parecido menos com a resposta às nossas orações do que aquele homem. Extremamente emaciado devido aos longos anos fumando ópio, atribulado por uma tosse que três anos mais tarde acabaria levando-o à morte, usando roupas tão sujas que somente um mendigo usaria, era realmente um quadro digno de dó. Entretanto, o Senhor não vê como vê o homem.

Depois de consultarmos juntos, Jonathan resolveu experimentá-lo por alguns dias, acreditando que ele poderia pelo menos dar testemunho do poder de Deus para salvar do ópio. Logo estava vestido com roupas chinesas do meu marido; e dentro de pouco tempo depois da sua chegada, ele estava sentado na capela dos homens, dirigindo o trabalho, tão transformado que quase não daria para reconhecê-lo.

Desde o primeiro dia do seu ministério em Changte, não houve dúvida na mente de quem quer que o ouvisse que, de fato, ele tinha sido enviado por nosso bondoso Deus, pois estava agraciado de forma notável com a unção e o poder do Espírito Santo. Seus dons como pregador estavam todos consagrados para uma finalidade – ganhar almas para Jesus Cristo. Ele parecia estar consciente de que lhe restava pouco tempo de vida e, assim, falava como um homem próximo da morte a outros homens que também estavam a um passo da eternidade. Não era de se admirar, portanto, que, desde o princípio do seu ministério na capela, muitos homens foram ganhos para Jesus. Deus o poupou para ajudar-nos a lançar o alicerce da igreja em Changte, antes de chamá-lo para cima.

Suprindo Nossas Necessidades: Uma Assistente Feminina

Assim a necessidade de Jonathan foi solucionada pela vinda do Sr. Wang Fu-Lin, mas não a minha. A forma notável pela qual Deus o enviara, entretanto, deu-me coragem e fé para confiar em Deus para me dar uma assistente também. Quem conhece um pouco sobre a obra missionária na China [naquela época – 1894-1900], sabe que é muito mais difícil achar mulheres do que homens para pregar o evangelho. Mesmo quando se acha uma mulher que tem condições de pregar, muitas vezes ela não está livre de responsabilidades para fazer esse trabalho. Contudo, eu estava começando a aprender que Deus é limitado somente pelo lado humano, e que ele está sempre disposto a dar além do que pedimos, se as condições humanas delineadas tão claramente na sua Palavra forem satisfeitas.

Pouco tempo depois que comecei a pedir ao meu Pai celestial especificamente por uma assistente de pregação, um dos missionários voltou de uma viagem e suas primeiras palavras ao chegar foram: “Bem, Sra. Goforth, acho que temos uma assistente de pregação já preparada para você!”.

Em seguida, ele nos contou como uma viúva e seu filho, que moravam numa vila nas montanhas, haviam recebido o evangelho por meio da pregação de um novo convertido de um dos nossos outros postos missionários. Esse homem pertencera antes à mesma seita religiosa da viúva e seu filho. Quando encontrou Cristo, ele logo se lembrou dos seus amigos e foi lá para a região montanhosa para falar com eles. A Sra. Chang recebeu o evangelho com alegria. Ela era uma pregadora na seita pagã à qual pertencia e, assim, já tinha a fluência e a prática em falar com audiências tão necessárias para pregar o evangelho.
O caminho logo se abriu para que ela viesse a Changte, onde se tornou minha constante companheira e valiosa assistente na obra com as mulheres durante aqueles primeiros anos. Ela foi também uma testemunha fiel ao Senhor, pois em 1900 foi pendurada pelos polegares por se recusar a negar seu Salvador. Serviu fielmente como pregadora do evangelho até a sua morte em 1903.

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