“Se pensa que existe algo bom em você, é melhor se segurar pois Deus vai te liquidar e expor a verdade de quão mau você realmente é”. Amém, a multidão ovacionava. “Ele não vai compartilhar sua glória com nenhum outro”. Prega!, grita uma voz na multidão. ‘Deus é Deus, e o mais rápido que você compreenda isto, melhor pra você. Se precisar tirar um de teus filhos para conseguir tua atenção, ele fará isso”. É verdade, grita outra voz. Esta imagem da velha igreja ficou cauterizada em minha mente, juntamente com o cheiro, o vitral, os bancos de madeira, tudo gravado em minha psique.
Eu odiava ir à casa de Deus, e minha mãe sempre me mandava ficar calado, mesmo quando eu não estivesse fazendo barulho algum. Este Deus não era alguém que eu queria ter amizade. Mas infelizmente eu tinha que amá-lo, a fim de ir para o céu. Mas eu tentava fazer com que Deus pensasse que eu gostava dele, e até lhe dava valor. E o inferno seria tão ruim mesmo? Era realmente quente, como diziam? Mas se Deus quisesse que realmente saber se eu o amava, por que não criou 2 paraísos e visse se eu escolheria ficar no que ele estivesse? Mas era óbvio pra mim que Deus precisava de uma completa transformação de sua personalidade se ele realmente quisesse pessoas que tivessem prazer de estar com ele.
Pra fazer minha mãe feliz, fiz a oração do pecador com 7 anos e me batizei com 8. E muitos garotos fizeram o mesmo. O pastor me perguntou se eu amava a Deus, e sem hesitação eu respondi “Jesus!” e todo o auditório se alegrou. Disseram-me que eu seria uma nova pessoa após aquele batismo, mas eu me sentia o mesmo. A pergunta, “Você ama a Deus?” ficava assombrando minha cabeça, e minha resposta era “não”. Realmente eu não gostava dele, e fazia tudo aquilo para não ir para o inferno. Ficava admirado pelas inúmeras vezes que ouvi os adultos dizendo que amavam a Deus, mas o que tinha nele para ser amado? Ele nunca estava satisfeito, queria toda a glória, gostava de nos rebaixar, matava nossos filhos, queria todo nosso dinheiro e nos lançaria no fogo. O que tinha nele para ser amado?
Eu pensava que Deus era bipolar e tinha problemas com alcoolismo. Numa semana o pregador nos dizia chorando: “vocês não sabem o quanto Deus os ama?” Na outra semana já dizia: “ninguém vai escapar da ira de Deus!” Deus precisava ser internado em uma clinica ou havia algo terrivelmente errado com nosso entendimento sobre ele.
Fiz tudo o que me ensinaram para conhecer a Deus: a oração do pecador, passei por todos os obstáculos, segui as regras, mas mantinha um sentimento de que faltava alguma coisa, que estava sempre um passo atrás. Com 25 anos eu era o cristão perfeito. Lia minha Bíblia diariamente por horas, gastei incontáveis horas em oração, clamando por ele, fui fielmente a todos os cultos, gastei milhares de dólares em ofertas e estudei teologia. Eventualmente era contratado como pastor de alguma megaigreja. Preguei em conferencias, igrejas, seminários, em todo lugar. Eu era realmente bom na pregação do evangelho, mas apesar disto tudo, estava vazio e infeliz. Um mês após me tornar pastor, eu tive minha própria conferencia em Phoenix, Arizona.
Perdendo minha religião
O auditório enchia com pessoas de todas as partes do país, fazendo inscrição, pegando crachás e a programação. Eu aguardava atrás das cortinas, onde organizava meus pensamentos, assistia o povo, e orava. Muitas vezes adorava, só para passar o tempo.
Observando o povo, percebi uma mistura de expectativa com falta de esperança e desapontamento. Talvez 10% de expectativa e 90% de desapontamento. O desapontamento era mais profundo que o assento desconfortável e o barato crachá. Era algo que eu conhecia bem, pois via toda manhã, em mim mesmo, quando olhava o espelho. A aparência era de que aderiram a uma religião que não funcionava. Estavam ali para ver o que estava errado. Que parte estava faltando, ou o que não conseguiram interpretar no manual? Se eles tivessem sorte, poderiam encontrar a peça misteriosa, que conectaria tudo, mas a historia mostrou que esta conferencia não foi muito diferente das outras que participaram. Este maravilhoso povo estava sentado ali, com seus crachás e programação das atividades, com as mãos levantadas, demonstrando fidelidade, cristãos positivos. No coração, contudo, assistiam ceticamente mais um infomercial cristão que não atenderia aos seus apelos exagerados.
O que menos eles precisavam era de outro sermão com promessas vazias e formulas rápidas. Eles já tentaram tudo o que ouviram e estavam vazios. Entraram no mundo religioso da auto-aversão e, em vez de questionarem o sistema, assumiram a culpa pela decadência. Após a adoração, fiz uma pergunta que marcou o fim de meu ministério e criou uma bagunça em muitas vidas: Quantos aqui tem medo do arrebatamento? A segunda pergunta foi: Quantos se sentem miseráveis na maior parte de sua vida cristã? Meu coração quase parou quando a maioria levantou a mão, pois era um grupo de pastores, diáconos, e pessoas ativas na igreja. Todo cristão presente admitiu que tinha medo da volta de Jesus e uma vida cristã miserável, confirmando minhas suspeitas de infância sobre a religião na qual cresci.
A conferência caminhou para uma serie de questões que nos fariam sentir pagãos se as expressássemos em voz alta. Nossa conclusão naqueles dias foi:
Estamos enganados sobre Deus.
Quem e como ele é, o que quer, o que espera de nós, seu propósito, seus desejos e, principalmente, seu amor por nós. O fato assustador é que o verdadeiro coração de Deus é desconhecido pelas pessoas que dizem que o conhecem melhor. Percorremos ponto por ponto de nossa teologia enviesada e descobrimos que tudo o que falávamos anteriormente não acrescentava nada e não poderia ser verdadeiro, pois era contraditório em cada ponto. Não foi um momento de alegria e nos sentíamos como tolos, como uma mulher quando descobre que seu marido a estava traindo por anos, com sua melhor amiga.
Suponho que cada cristão faça sua parte em viver mantendo mentiras encobertas. Mentimos aos outros e para nós mesmos a cerca de nossa fé, vitória e sentimentos. Aprendemos o dialeto da religião, seguimos as regras e guardamos nossos questionamentos para nós mesmos, pois questionar pode parecer rebelião. Temos um estoque de respostas, como “você precisa entregar isso a Deus”, “você precisa estar na Palavra”, “precisa ter mais tempo de oração”. São respostas para fazer calar a pessoa quando somos confrontados em questões para as quais não temos a solução.
Estamos enganados sobre Deus.
Não estou dizendo que os lideres de nossas igrejas se reúnem secretamente planejando essas mentiras para sufocar nossa espiritualidade. Estou dizendo que, ao longo dos anos, nos desviamos da verdade e engolimos mentiras. Vamos citar apenas a Segunda Vinda de Cristo, sobre a qual milhares de autores e pregadores tentam predizer o tempo. Digo que Jesus não voltará tão cedo, pois ele vem para uma noiva alegre, ao som de trombetas, e não para uma escondida no armário em absoluto terror sobre sua vinda. O dia que deveria ser o mais maravilhoso para nós é justamente o que a maior parte dos cristãos tem medo.
Estamos enganados sobre Deus.
Posso ouvir seis sermões seguidos na TV, e cada um em contradição ao outro. Um evangelista vem em nossa igreja e prega um sermão dizendo que Deus jamais vai nos abandonar, mas 60 segundos depois insinua que ele pode fazer isso. Ouvimos ensinamentos sobre as promessas de Deus e que seus dons são gratuitos, seguidos por uma lista de coisas que precisamos fazer para obtê-los. Existem perto de 30 ou 40 mil denominações cristãs, e cada uma em contradição com a outra, de alguma forma. Por causa disto, alguém poderia dizer que é quase impossível conhecer a Deus a partir do que é ensinado nas igrejas. As promessas e testemunhos de nossa religião parecem com aqueles contos de nossas avós que a cada geração vai ficando um pouco mais embelezado e exagerado que não tem qualquer semelhança com a verdade, e falam de um Deus que nunca existiu. Acredito que estamos no primeiro momento da historia onde as pessoas que estão fora da igreja demonstram mais sinais de conhecer a Deus do que as que estão dentro.
Relacionamento com Deus nesta geração é totalmente compreendido como leitura da Bíblia. Trocamos Deus pela Bíblia e se não a lermos exaustivamente e não a compreendermos, nos sentimos perdidos, não espirituais e a milhas de distância de Deus. O coração de Deus é entristecido por seus filhos não conhecerem quem ele é. Não fica irado e nem vingativo, mas simplesmente triste. Imagine alguém pensar que te conhece melhor que qualquer outra pessoa no mundo e nem mesmo sabe seu nome. É isto o que ele sente por esta geração.
Estamos enganados sobre Deus.
Ouvi que a definição de insanidade é quando a pessoa faz a mesma coisa repetidamente esperando obter resultados diferentes. Mentimos sobre os resultados e mesmo assim achamos que alguma coisa vai acontecer em seguida. As coisas que cremos e pregamos ao mundo não funcionam e continuamos agindo e falando como se fossem verdade. Dizimamos os 10% e, quando vem a recessão, falimos como qualquer pessoa sem religião. Dizemos que “a família que ora unida permanece unida” e as pesquisas apontam que a taxa de divórcio nas igrejas é maior que no resto do mundo. Dizemos que temos poder, paz, alegria, entendimento espiritual, mas existe um grande numero de pessoas nas igrejas que tomam remédios para depressão, ansiedade, e uma série de problemas emocionais e de comportamento.
Meu desejo não é trazer condenação, mas liberdade ao corpo de Cristo. A resposta não está em orar por poder ou fogo dos céus, mas simplesmente pela verdade. Este livro é uma busca pela verdade, que não pode contradizer a si mesma, e nem confundir nosso entendimento de Deus, mas revelar quem ele é, na simplicidade. Imagino que se um pregador trouxer uma nova e profunda verdade sobre Deus, que você ainda não tenha considerado em seu coração, isto provavelmente não seja verdade, pois Jesus disse que a verdade foi revelada aos pequeninos e escondida dos sábios e entendidos. Nossa geração perdeu isto totalmente. Infelizmente muitas pessoas preferem os pensamentos profundos e imaginações extravagantes do que algo simples e óbvio sobre Deus. A verdade pode desapontar a estas pessoas, da mesma forma que Jesus parecia superficial e frustrou aos fariseus de sua época.
Meu objetivo não é te impressionar com algo profundo, mas fazer você rir bem alto enquanto lê este livro pensando: “está certo, como eu poderia perder isto?” Da mesma forma como você se sente quando revira a casa inteira à procura de um lápis e ele estava o tempo todo diante de seus olhos.
Naquela conferencia descobrimos que as coisas que falávamos sobre Deus não acrescentavam nada, e nossa percepção sobre ele foi completamente distorcida pela nossa educação religiosa, e alguma coisa precisava acontecer, mas o que?
Tradução livre e resumida do Cap 1 de Misunderstood God – The lies religion tells about God, de Darin Hufford
Respostas de 6
Ezequiel, tem muito tempo que venho com essas inquietações e os mesmos sentimentos que vc teve. essa leitura foi reveladora e eu quero aprender a caminhar com alegria e inteireza de coração,Preciso aprender o novo de Deus. Confesso que eu necessito aprender a conhecer a Deus.Ainda nesses dias achei que poderia ser punida por Deus pois tive crise de paternidade na vida secular e na vida espiritual e Deus sabe a minha angustia. Quero que me diga como m obter esse livro.[Tem que ser em português] Abraços de sua irmã ,Elisa
Sei mto pouco sobre Deus, defino Deus como amor ,pq quem cria peixes, lindos oceanos, cães com olhinhos brilhosos pq viram seu dono,céu bem azul numa manhã fria de inverno , vento fresco em fim de tarde, onda do mar que vai e vem …quem cria tudo isso só pode amar mto, pq vc é o que vc faz, então esse Deus é amor….
Mas qdo vejo Cristinas indo embora, mesmo com uma palavra de cura, com uma fé enorme… com uma fé que move montanhas e tumores, descubro que esse Deus que ama Ele é incompreensível, no sentido assim : eu não entendo Deus , não entendo os seus caminhos não entendo o seu coração…
Mas uma coisa eu sei, guarde Deus na sua mente e vc o perderá , guarde Deus no seu coração e Ele permanecerá…e eu nesse planeta terra não quero viver sem ele…Pq o amor é mais forte mais forte que a morte…
Lindo seu comentário Eloise, estou amando esse livro! E creio nisso também, fomos enganados por nossos próprios conceitos religiosos sobre Deus. Ele é amor! É nossa essência, é essa paz indescritível que sentimos ao estarmos com quem amamos porque Ele é o elo.
Vitor, obrigado por teus comentários. Vale a pena ler o livro, e demais artigos dos Free Believers, um grupo do qual o autor participa.
Quero ver se consigo traduzir e resumir todos os capitulos deste livro maravilhoso; já estou na metade do 2o capitulo….
Elisa e Elô, o livro é bom e diferente do que normalmente vemos por ai; me passem a impressão de voces.