Por: José Jamê Nobre
Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”. (Pv 4.23)
O Senhor tem me impressionado com o primeiro versículo: “Sobre tudo o que se deve guardar…”.
Tenho pensado que, nesse tempo em que vivo, preciso mais do que nunca guardar meu coração. Sobre, e contra ele, vêm ataques, os mais variados. Percebi que em alguns momentos eu fraquejei e permiti que meu coração fosse atingido por dardos.
Por causa disso, e através da ferida aberta, a vida, a energia, se esvaiu e me vi lutando, sem forças, para me colocar de pé novamente. Não fosse o Senhor que sempre esteve ao meu lado, há muito eu teria morrido.
Tudo porque não protegi o meu coração nos momentos de ataques.
Normalmente, sou uma pessoa que gosta de guardar coisas, isto é, mesmo quando não vou precisar delas, não gosto de jogar nada fora, pois me parece que em algum momento me serão úteis. Livros, cadernos, agendas, parafusos e chaves são alguns dos objetos que gosto de guardar.
O Senhor me falou nesses dias: “Guarda o teu coração!”
Tenho procurado saber de que devo guardar meu coração. Vi que existem coisas que andam perigosamente próximas do meu coração e podem atingi-lo com muita facilidade, pois assediam a todos nós constantemente.
Não sei se é o seu caso, meu caro leitor, mas na dúvida, guarde seu coração dessas coisas.
Guarde o coração da avareza.
Avareza é a incapacidade de dividir, de compartilhar algum bem ou algum dom. É quando se retém algo que serviria para o bem de outrem.
É quando eu guardo algo de valor porque pode ser que me faça falta no futuro. Dependo, de alguma maneira daquilo e, pelo fato de retê-lo, adquiro uma certa confiança e descanso.
Isso é o que se sente pelo dinheiro. Um apego, uma má vontade em me desfazer dele em favor de outra pessoa, pois no futuro imediato ou longínquo posso precisar.
A avareza foi chamada de idolatria também por causa daquilo que os bens produzem em nós em termos de consolo e conforto em relação ao futuro.
O descanso em Deus e a generosidade são o remédio contra a avareza. A Bíblia nos exorta a lançarmos o pão sobre as águas, distribuir à direita e à esquerda, exatamente por não sabermos o que nos sucederá no dia de amanhã.
Que atitude diferente daquilo que vemos hoje!
“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria” (Cl 3.5; veja também Mc 7.22; Lc 12.15; Rm 1.29; 2 Co 9.5; Ef 5.3; 1 Ts 2.5; Hb 13.5; 2 Pe 2.3,14).
Guarde o coração da impureza
Tudo aquilo que não é puro deve ser confessado e abandonado. Podemos estar sujos sem perceber, pois fomos nos sujando aos poucos.
Às vezes vou sair de casa e a Irani, minha querida esposa, diz: “Você deve trocar essa roupa porque está suja!” Eu andei com aquela roupa em diversos lugares e não percebi como se contaminou!
Precisamos nos guardar de toda forma de sujeira. O mundo em que vivemos é sujo. É imundo mesmo. Ao tocar em pessoas e coisas somos impregnados pelo pó e pelas manchas que estão por aí. Somos contagiados em nossa maneira de viver, de reagir, pensar, falar, vestir, comprar, vender.
Somos influenciados, principalmente, através daquilo que ouvimos e vemos. A Bíblia nos diz que a fé vem pelo OUVIR e o OUVIR pela Palavra de Deus.
“Também diz que nossos olhos são a lâmpada do nosso corpo” (Mt 6.22, 23).
Quanta coisa vem a nós pelos olhos!
No livro de Jó, no capítulo 31.1-9 temos em detalhes o caminho para o pecado do adultério. Ele fala de fixar os olhos em uma donzela (olhar e depois continuar olhando), fala de o coração seguir os olhos, depois dos pés seguir o coração, e então andar à espreita, esperando o momento de pecar.
Temos duas portas de entrada que são os olhos e os ouvidos. Dessas portas, o material coletado vai para a mente para ser processado e se não cuidarmos, vai para o coração.
Nesse texto de Jó é assim. As coisas que presenciamos e que ouvimos, permanecem por um tempo na mente. Se tivermos um bom filtro funcionando, elas não chegarão ao coração.
Esse filtro é a nossa consciência, num primeiro momento; depois aquilo que sabemos de Deus (os princípios que recebemos e armazenamos em nosso espírito); e, por fim, a própria voz do Espírito Santo.
Lembremo-nos que somente subirá ao santuário do Senhor aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, e que sem santificação ninguém verá a Deus (Sl 24.3,4; Hb 12.14; Mt 5.8)
“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia” (1Tm 1.5).
Guarde o coração de ressentimento.
Ressentimento é, basicamente, sentir a mesma coisa de novo.
É quando eu passo por uma situação desagradável, ouço ou recebo algo e, ao invés de perdoar ou passar por cima disso como algo insignificante, penso e medito naquilo até que cresce e torna-se um problema enorme dentro de mim. Isto tudo, evidentemente, sem levar a questão diante de Deus, onde rapidamente poderia ser solucionado e esquecido.
Aquele simples pensamento passa a ser uma fonte de mágoa que se transforma em amargura com raízes que geram frutos e contaminam o ambiente e as pessoas ao meu redor. Depois disso, estabelece-se uma fortaleza no meu interior, na qual me isolo e de onde olho desconfiado para todas as pessoas.
Tudo porque não me guardei de sentir de novo, de refletir nos fatos sem a cobertura do Espírito Santo.
O santo remédio para isso é chamado na Bíblia de perdão.
Devo me armar, enquanto estiver vivendo em congregação formada por gente, de um coração perdoador que me fará perdoar antecipadamente as faltas dos irmãos (quando de fato forem faltas, pois muitos problemas na realidade são apenas a minha interpretação das coisas).
Um Coração Puro
Não posso permitir que os meus passos sigam o meu coração contaminado pela mágoa, embriagado pelas riquezas desse mundo, corrompido pela imundície do pecado, enganado pela falsa doutrina, soberbo por aquilo que pensa que sabe, altivo por aquilo que acha que tem.
Preciso trazer o meu coração diante do Pai das luzes e dizer na sua presença: “Senhor, tu sabes que tenho o coração perfeito diante de Ti!”
Preciso guardar meu coração livre e incontaminado diante desse mundo louco e pervertido. Ele não deve ser produtor de invejas, maledicências, homicídios, enganos, fraudes etc. Meu coração precisa ser fonte de vida.
E vai ser! As pessoas que se aproximarem de mim vão receber da vida de Deus que estará jorrando dessa fonte. O que brotar de mim vai saltar para a vida eterna.
Meu coração vai ser uma ferramenta nas mãos do Espírito Santo para que ele sinta compaixão através de mim. Que ele ame por meio da minha vida. Que ele se hospede em mim. Que ele se derrame para as pessoas através de mim como canal limpo e incontaminado, sempre, em todo o tempo.
E vou habitar para sempre na presença do Senhor.
José Jamê Nobre é conferencista, escritor e pastor de uma comunidade em Jundiaí – SP.
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• “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).
• “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição…” (Mc 7.21-23).
• “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração…” (Mt 22.37).
• “Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21).
• “O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.8).
• “Purificando as vossas almas pelo Espírito… amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro” (1Pe 1.22).
• “Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência…” (Hb 10.22).
• “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz… apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12).
• “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Hb 3.12).