Eu, a Bíblia e os livros

A leitura da Bíblia e livros cristãos faz parte da minha vida desde 1979, quando me converti. No inicio de 1980 recebi um pacote com uns 50 livretos do Christopher Walker, e os lia compulsivamente. Na época, trabalhava no centro do Rio, e tinha os 25 min de ida e volta nas barcas para esta leitura. Em casa, dividia meu tempo em 50% para estudos do vestibular (que passei na 1ª tentativa para a UFRuRJ) e 50% para ler a Bíblia ou algum livro cristão. Minha cabeça se tornou uma biblioteca ambulante.

Continuei neste ritmo frenético de leitura por muitos anos. Algumas vezes, consegui ler quatro vezes a Bíblia toda em um ano (basta ler 13 ou 14 capítulos ao dia). O duro foi descobrir que obter informações sobre Deus não é a mesma coisa que conhecê-lo e ser transformado por ele. Apenas consegui me tornar um chato literário, que tinha resposta teórica para todas as questões. Numa segunda fase, decidi abandonar os livros teológicos, passando a ler apenas os de testemunho. Fiz um curso de leitura e conseguia ler quase 2000 palavras por minuto. Certa vez eu li “Surpreendido pelo poder do Espírito”, de Jack Deere, em 90 minutos. E continuei lendo bastante …

Algo simples e interessante aconteceu numa reunião em 2008 do conselho editorial da revista Impacto. Um dos assuntos marcantes nestas reuniões são os livros que lemos, e dois membros do conselho liam muito mais que eu. Quando um livro era citado por alguém, eles diziam: “já li todos os livros deste autor!” E isto se repetia para cada citação de livros. Certa vez, um desses vorazes leitores disse que, além de ler todos os livros publicados de um autor, já havia lido até um manuscrito, que conseguiu com alguém da editora. Este comentário foi a punhalada fatal que eu precisava. Na mesma hora fiz a oração silenciosa que mudou completamente o curso de minha vida:

– “Senhor, gostaria de ler como eles …”

E imediatamente fui visitado pela poderosa voz audível e suave de Deus em meu interior, que vem de encontro a todo pensamento, semelhante a bater de frente com um imenso caminhão Scania:

– “se você praticasse apenas 1% de tudo que já leu, tua vida seria uma revolução”.

Levei algum tempo para me recuperar da pancada que levei desta contraditória voz de Deus: poderosa e suave, silenciosa e audível, que paralisa para nos fazer andar. Mudei completamente meu ritmo de leitura. Em relação aos livros, leio apenas o que possa trazer algum tipo de benefício em relação ao propósito de Deus em minha vida. Aprendi que um livro pode ser ótimo para uma pessoa e não fazer o menor sentido para outra. Como os temas são muito variados (finanças, testemunho, escatologia, criação de filhos, oração, Israel, etc, etc), precisei fazer uma triagem rigorosa naquilo que ia ler, para fugir da corrida por informações. E para tudo o que lia, dedicava um tempo em meditação, procurando entrar na mesma corrente do Espírito Santo que inspirou o autor. Caso uma experiência sobrenatural fosse relatada, também passei a questionar isto com Deus, buscando experimentar a mesma coisa. Às vezes, descobrimos que uma história contada não é verídica.

A Bíblia passou a ser lida entre dois e três anos, fazendo o que os chineses chamam de orar-lendo a palavra. Se deixarmos de lado todos os pré-conhecimentos que recebemos da religião cristã e lermos a Bíblia com a mente simples de um filho que aprende com o Pai, vamos ter dificuldades em avançar em algumas passagens muito conhecidas:

Em Genesis 28, Jacó diz que “casa de Deus” tem os céus abertos, uma escada que liga os céus com a terra, anjos subindo e descendo, e Deus presente. Se somos a casa de Deus, isto não deveria estar acontecendo?

Jesus fala dos sinais que seguirão aos que crerem, e quando os discípulos saíssem a pregar o evangelho, ele confirmaria a palavra deles com sinais de prodígios (Mc 16). Alguns teólogos, por não conseguirem explicar isto, preferiram dizer que esta passagem não existe nos principais manuscritos. E nós, o que vamos dizer?

Em Pentecostes (Atos 2:1-4), o Espírito Santo deu a cada crente uma lingua de fogo, apenas uma unção para cada participante daquela reunião e, em seguinte, eles revolucionaram o mundo da época. Hoje vemos muitas pessoas buscando unção dobrada e nada importante acontece. Por que será?

Tiago (5:13-18), falando de enfermidades e perdão dos pecados, disse que deveríamos chamar os presbíteros para orar, mas logo em seguida, orienta que orássemos uns pelos outros. Diz que a oração de um justo tem muita eficácia. Ele argumenta que Elias era um homem semelhante a qualquer um de nós, sujeito às mesmas paixões, e quando orou, ficou três anos sem chover. Depois disto, orou novamente, e choveu. E por que quando oramos ninguém é curado?

Isaias (cap 53) cita que 4 benefícios nos foram proporcionados por Jesus na cruz: o perdão dos nossos pecados, a quebra de todas iniqüidades, nos trouxe a paz e curou todas as nossas enfermidades. Por que a igreja, em geral, só quer o perdão dos pecados, abandonando os outros benefícios? Se não temos cura física, não temos vitória sobre a iniqüidade, não temos paz, será que os pecados foram perdoados?

E sobre os apóstolos atuais? São verdadeiros apóstolos, separados pelo Espírito Santo (At 13:2)? São aqueles que se autodenominaram apóstolos mas não são (Ap 2:2)? Ou são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo (2 Co 11:13)? Quais as características de um verdadeiro apóstolo?

São apenas seis citações, mas se formos buscar esclarecimentos com Deus para cada parábola de Jesus, cada salmo, cada profecia, com um coração aberto, responsivo à sua voz, jamais seremos os mesmos!