21 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Qual Será a Igreja Eterna?

Vivemos num mundo em que todas as coisas são passageiras. Reinados, impérios, cidades, instituições antigas, famílias, tudo está sujeito à mudança e à corrupção. Prevalece uma lei univer­sal: em todas as coisas criadas há uma tendência à decadência.

Há algo de triste e de deprimente em tudo isso. O que o homem lucra com todos os seus esforços? Será que não há nada que se mantenha de pé? Não há nada que perdure? Não há nada acerca do qual podemos dizer: isso vai durar para sempre?

Nosso Senhor Jesus Cristo fala de algo que deverá continuar, que não irá passar. Há algo criado por Deus que é uma exceção àquela lei universal. Há algo que não perecerá e não passará e este algo é a construção fundada so­bre a rocha – a Igreja do Senhor Jesus Cristo. Ele declara, com suas próprias palavras: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Há cinco coisas nestas palavras que merecem nossa atenção:

  1. Uma construção: “Minha Igreja.”
  2. Um fundador: “Eu construirei a minha Igreja.”
  3. Um fundamento: “Sobre esta pedra.”
  4. Riscos implícitos: “As portas do inferno.”
  5. Uma segurança: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

1. Uma construção: o Senhor Jesus Cristo fala da “Minha Igreja.”

Nós nos perguntamos qual é esta Igreja? Existem poucas perguntas mais importantes do que esta. Devido à falta de seridade com que o assunto tem sido tratado, os erros que têm in­festado a Igreja e o mundonão são poucos, nem pequenos.

A Igreja da qual falamos não é uma construção material. Não é um templo feito por mãos humanas, feito de ma­deira, tijolos, pedras ou mármore. É um grupo de homens e mulheres. Não é uma igreja visível e particular, na terra. Não é a igreja oriental ou a oci­dental. Não é a igreja protestante, muito menos a igreja romana. A Igreja é aquela que quase não aparece aos olhos dos homens, mas que tem gran­de importância aos olhos de Deus.

A Igreja é feita de todos os crentes verdadeiros em Jesus Cristo. Ela com­preende todos os que se arrepende­ram dos seus pecados e se ache­garam a Cristo, pela fé, e foram feitos novas criaturas n’ele. Ela compreende todos os eleitos de Cristo, todos os que receberam a graça de Deus, todos os que foram remidos pelo sangue de Cristo, todos os que vestiram a justiça de Cristo, todos os que nasceram de novo e estão sendo santificados pelo Espírito de Cristo. Todos estes, de todas as nações, povos e línguas compõem o corpo de Cristo. Este é o rebanho de Cristo. Esta é a noiva. Esta é a esposa do Cordeiro. Esta é a “santa igreja católica” do credo dos apóstolos. Esta é a Igreja construída sobre a pedra.

Os membros desta Igreja náo ado­ram Deus da mesma maneira, nem têm todos a mesma forma de governo.

Porém, todos o adoram com um só co­ração. Todos eles são guiados por um só Espírito. São todos verdadeira­mente santos. Todos podem dizer: “Aleluia,” e todos podem responder: “Amém.”

Esta é aquela Igreja da qual todas as igrejas visíveis da terra são servas. Todas elas servem aos interesses da única Igreja verdadeira. Elas são an­daimes, por trás dos quais a grande construção está sendo feita. Etas são ascascas, embaixo das quais o miolo vivo cresce. Elas têm várias formas de utilidade. A melhor e a mais valiosa forma é o treinamento dos membros para a Igreja verdadeira de Cristo. Entretanto, nenhuma igreja visível tem o direito de dizer: “Nós somos a única Igreja verdadeira. Nos somos ‘os ho­mens,’ e a sabedoria morrerá conos­co.” Nenhuma igreja visível deve ter jamais coragem de dizer: “Nós durare­mos para sempre. As portas do inferno não prevalecerão contra nós.”

Esta é aquela Igreja à qual perten­cem as preciosas promessas do Se­nhor de preservação, continuidade, proteção e glória final. Diz Hooker: “C que quer que leiamos nas Escrituras a respeito do amor eterno e da graça salvadora de Deus para com as suas igrejas, refere-se unicamente à esta Igreja, a qual chamamos, de maneira apropriada de corpo místico de Cris­to.” Pequena e menosprezada, como a Igreja verdadeira deve ser neste mun­do, ela é preciosa e digna de honra aos olhos de Deus. O templo de Sa lomão em toda a sua glória era mes quinho e desprezível em comparação com aquela Igreja que está construída sobre a pedra.

2. Um fundador: o Senhor Jesus Cristo declara: “Eu construirei a minha igreja.”

A Igreja verdadeira de Cristo é cari­nhosamente cuidada pelas três pes­soas da Trinidade. No que tange à redenção, sem dúvida nenhuma, Deus Pai escolhe e Deus Espírito santifica todos os membros do corpo de Cristo. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, três pessoas e um só Deus, cooperam para a salvação de todas as almas. Isto é verdade, e não devemos nos esquecer nunca. Entretanto, há um outro ponto peculiar: o socorro para a Igreja vem do Senhor Jesus Cristo. Ele é o Redentor e o Salvador, único e sublime. Desta forma, ele quer dizer, no texto: “Eu construirei; a tarefa de construir é minha tarefa especial.”

3. Um fundamento: o Senhor Jesus Cristo diz: “Sobre esta pedra construirei a minha igreja.”

O que o Senhor Jesus Cristo queria dizer quando ele falou deste funda­mento? Será que ele se referiu ao apóstolo Pedro, com quem estava fa­lando? Certamente que não. Se ele tivesse se referido a Pedro, porque não disse: “Sobre ti eu construirei a minha igreja.” Se ele estivesse se referindo a Pedro, ele teria dito: “Eu construirei a minha Igreja sobre ti,” tão simplesmente como ele disse: “A ti darei as chaves.” Não! Não era a pessoa do apóstolo Pedro, mas a confissão que o apóstolo Pedro havia recém feito. Não era Pedro, o errante, o instável, mas a poderosa verdade que o Pai havia revelado a Pedro. .Era a verdade a respeito do próprio Jesus Cristo que era a pedra. Era o fato de Cristo ser o Mediador e de Cristo ser o Messias. Era a bendita verdade que Jesus era o Salvador prometido, o verdadeiro Fiador, o Intercessor entre Deus e o homem. Esta era a pedra e o fundamento sobre o qual a Igreja de Cristo seria edificada.

Meus irmãos, este fundamento cus­tou um preço muito alto. Foi preciso que o Filho de Deus tomasse a nossa natureza sobre ele, e com esta nature­za vivesse, sofresse e morresse, não por seus próprios pecados, mas pelos nossos. Foi preciso que, com aquela natureza, Cristo fosse para a sepultura e vivesse novamente. Foi preciso que, com aquela natureza, Cristo subisse aos céus para assentar-se à direita de Deus, trazendo redenção eterna para todo o seu povo. Nenhum outro funda­mento além deste poderia ter levado o peso daquela Igreja de que Cristo fala. Nenhum outro fundamento poderia ter suprido as necessidades de um mundo de pecadores.

Uma vez obtido o fundamento, ele é muito forte. Ele pode suportar o peso do pecado do mundo intiero. Ele car­rega sobre si o peso dos pecados de todos os crentes que se alicerçam ne­le. Pecados de pensamento, pecados da imaginação, pecados do coração, pecados da mente, pecados que todos vêem e pecados que ninguém vê, pe­cados contra Deus e pecados contra o homem, pecados de todo o tipo — aquela poderosa pedra pode agüentar o peso de todos esses pecados sem recuar. A posição mediadora de Cristo é um remédio suficiente para todos os pecados de todo o mundo.

Todos os membros da Igreja verda­deira de Cristo fazem parte deste fun­damento. Os crentes são desunidos e não concordam uns com os outros em muitos aspectos. Porém, na questão da base da sua salvação, todos têm uma só mente: eles estão fundamen­tados na pedra. Perguntelhes onde eles buscam sua paz, sua esperança, seu otimismo em relação ao que está por vir. Você verá que tudo flui daquela verdade poderosa — Cristo, o Media­dor entre Deus e o homem, e da posi­ção que ele ocupa — Sacerdote e Fia­dor de pecados.

4. Riscos implícitos: há menção das “Portas do inferno.”

A história da Igreja verdadeira de Cristo sempre foi uma história de lutas e conflitos. Ela tem sido constante­mente assaltada por um inimigo mor­tal, Satanás, o príncipe deste mundo. O diabo odeia a Igreja verdadeira de Cristo com ódio mortal. Ele está sem­pre lançando oposição entre os mem­bros. Ele está sempre incitando os fi­lhos deste mundo a fazerem a vontade dele, ferindo e atormentando o povo de Deus. Já que ele não pode ferir a cabeça, ele tenta ferir o calcanhar. Já que ele não pode impedir que os creik tes sejam salvos, ele tenta vexá-los no caminho. Este inimigo tem subsistido por seis mil anos. Milhões de pagãos têm sido agentes do diabo e têm feito a obra dele, mesmo não estando cons­cientes disso. Os Faraós, os Herodes, os Neros, os Júlios, os Dioclecianos, as sangüíneas Marias — o que eram eles senão instrumentos de Satanás quando perseguiam os discípulos de Jesus Cristo?

Lutar contra as forças do inferno têm sido uma experiência comum a todo o corpo de Cristo. Têm sido sem­pre fogo cerrado, embora este nunca possa consumir-nos. As igrejas visíveis têm o seu tempo de prosperidade e épocas de paz, mas nunca houve um tempo de paz para a Igreja verdadeira. Os conflitos são perpétuos. A luta ainda não terminou.

Lutar contra as forças do inferno têm sido uma experiência individual de cada membro da Igreja. Cada um tem que lutar. O que são as vidas dos san­tos senão récordes de batalhas? O que eram homens como Paulo, Pedro, Tiago, João, Policarpo, Inácio, Agos­tinho, Lutero, Calvino, senão soldados engajados numa luta incessante? As

vezes, eles próprios foram assaltados; outras vezes, suas propriedades. Às vezes, eles foram assaltados por calú­nia e difamação, e outras vezes por perseguições declaradas. Mas de uma maneira ou de outra, o diabo tem in­vestido continuamente contra a Igreja. As “portas do inferno” têm continua­mente atacado o corpo de Cristo.

5. Segurança: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Há uma promessa gloriosa dada pe­lo poderoso “Fundador’: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Aquele que não mente declarou com suas palavras reais que as forças do inferno não prevaleceriam contra ela. Ela deverá continuar a manter-se firme, apesar de todos os ataques. Ela nunca será ultrapassada. Todas as outras coisas criadas pelo homem perecem, mas a Igreja de Cristo não perece. A violência das lutas exteriores, ou a decadência interior prevalecem sobre tudo, mas não sobre o templo que Cristo construiu.

Os impérios têm se levantado e caí­do em rápida sucessão. O Egito, a As­síria, a Babilônia, a Pérsia, Tiro, Car­tago, Roma, Grécia, Veneza — onde estão eles, hoje? Todos foram criações humanas e passaram. Porém, a Igreja de Cristo vive!

As mais grandiosas cidades se tor­naram um amontoado de ruínas. Os enormes muros da Babilônia estão agora debaixo da terra. Os palácios de

Nínive são agora bancos de areia. As centenas de portões de Tebas são apenas História. Tiro é hoje um lugar onde os pescadores lançam as suas redes. Cartago é uma desolação! Mas em todo esse tempo a Igreja verdadei­ra permanece de pé. Os portões do in­ferno não prevalecem contra ela.

As igrejas visíveis antigas em mui­tos casos caíram e pereceram. Onde está a igreja de Éfeso e a de Antio­quia? Onde está a igreja de Alexandria e a de Constantinopla? Onde está a de Corinto, a de Filipos, a de Tessalôni- ca? Onde realmente elas estão? Elas saíram da Palavra de Deus. Elas orgu­lhavam-se dos seus bispos, sínodos, cerimônias, sabedoria e tradições. Elas não se gloriaram na cruz de Cristo. Elas não seguraram com firmeza o Evangelho. Elas não colocaram Jesus na posição devida. Hoje, elas estão entre as coisas que passaram. O seu tempo de glória passou. Contudo, em todo esse tempo, a Igreja verdadeira continuou.

Oprimiram a Igreja num país? Ela escapou para outro. Pisotearam-na e a maltrataram num solo? Ela criou raízes e floresceu noutro. Fogo, espada, prisões, multas, castigos, nunca foram capazes de destruir sua vitalidade. Os que a perseguiram moreram e foram para onde mereceram, mas a Palavra de Deus viveu, cresceu e se multi­plicou. Ela pode parecer fraca aos olhos dos homens, mas a Igreja verda­deira é como uma bigorna. Ela que­brou muitos martelos no passado e talvez irá quebrar muitos mais antes de chegar o fim. Aquele que está envol­vido nela está tovando a menina dos olhos de Deus.

Uma palavra de exortação aos cristãos

Caminhe com orgulho da Igreja í que você pertence. Viva como cidadãc do céu. Deixe sua luz brilhar diantf dos homens, de modo que o mundc possa ganhar com a sua conduta Deixe o mundo saber de quem você i e a quem você serve. Sejam epístola: de Cristo, lidas e conhecidas por todo: os homens; escritas em letras tão cia ras que ninguém possa dizer: “Eu nã< sei se ele é um membro de Cristo ot não.”

Viva corajosamente. Confesse Cris to diante dos homens. Qualquer qu< seja a sua ocupação, confesse Cristi nela. Por que você teria vergonh; dele? Ele não teve vergonha de voo na cruz. Ele está pronto para confesse o seu nome diante do Pai no céu. Pc que você se envergonharia dele? Sej audacioso, bem audacioso. O bom so dado não se envergonha dó seu uni forme. O verdadeiro cristão não dev se envergonhar nunca de Cristo.

Viva alegremente. Viva como ur homem que tem aquela tremenda es perança — a segunda vinda de Jesu Cristo. É para isso que todos nós devemos olhar.

Condensado e adaptado de: “Warnings to the Churches” (Adver­tências às Igrejas) de J. C. Ryle.

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