27 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Retornando ao Modelo de Deus para a Família

Por Ezequiel Netto

No princípio, Deus plantou uma semente divina na Terra. Era a família, imagem de Deus no meio de um mundo dominado por Satanás. Como na parábola do joio (Mt 13.24-30,37-40), porém, o inimigo conseguiu semear confusão dentro da própria lavoura de Deus. Essa tem sido a estratégia dele desde a fundação do mundo, o que não é de se admirar, visto que o ser humano, tanto individualmente (Sl 8.2) como em família (Ml 4.6), tem um papel crucial na vitória de Deus sobre o reino das trevas.

O Modelo Original de Deus na Criação

Deus criou o ser humano, Adão e Eva, com diferenças sexuais em todas as esferas como parte de sua estratégia de cumprir seus planos para a humanidade. O homem e a mulher tinham funções complementares nos propósitos de Deus, e cada um tinha qualidades que o outro necessitava.

Existem diferenças psíquicas determinadas pela sexualidade, no modo de o homem e a mulher se relacionarem socialmente, em suas atitudes e também nas disposições naturais. Não existe um sexo que seja mais inteligente que o outro, nem que seja mais capaz, mais digno ou de maior valor que o outro. As diferenças são de ordem psicológica e comportamental, conseqüentemente um sexo é mais adequado para uma determinada atividade do que outro.

O homem, ao tomar atitudes e decisões, tem a característica de separar (compartimentalizar, tratar isoladamente) suas emoções de seu intelecto ou corpo, considerando ou anulando uma dessas partes. Ora ele age apenas emocionalmente, ora apenas racionalmente. A mulher já funciona em unidade de personalidade, entrelaçando seu coração, intelecto e corpo, desenvolvendo suas capacidades de forma mais harmoniosa. Ao tomar uma decisão, julga e reage com base em como isso afetaria todo o seu ser, sendo também mais sensível para situações concretas.

O homem é mais abstrato, visionário e empreendedor, orientando-se para o estabelecimento de metas, gerando decisões sobre o que está mais à frente de seu tempo. O caráter feminino está mais relacionado com o cuidar, o nutrir, o servir, o ajudar as pessoas, crendo que, independentemente de alcançar metas, essas atividades já têm em si o seu valor.

Dessa forma, sem a mulher, o homem dificilmente conseguiria chegar a algum lugar e atingir suas metas. Mas, sem o homem, a mulher tende a se distrair e desviar dos verdadeiros objetivos. “Juntos vamos mais longe”, como diz o Ministério Casados para Sempre.

Só nesta área de funções e contribuições diferenciadas de cada sexo, o inimigo consegue causar grandes estragos na sociedade e família. Quando os papéis de homem e mulher são confundidos ou debilitados, a família vai perdendo a unidade, a ordem e a estabilidade. O sinergismo proporcionado pela união correta do marido e da mulher é substituído por uma competição entre os dois, que passam a disputar entre si, se enfraquecendo e esquecendo que o verdadeiro inimigo não é o cônjuge e, sim, o diabo. Enquanto disputam entre si, o inimigo fica livre para atuar onde quiser.

Influências da Sociedade Tecnológica Sobre a Família

Desde a criação, a raça humana sempre se estruturou em modelos de sociedade familiar, sem grandes alterações ou variações, por milhares de anos, até o século XVII. A estrutura era relacional, tendo a família como unidade social básica. A pessoa era aceita pelo que era, e não pelo que poderia produzir. Quando alguém não tinha aptidão para uma atividade, passava para uma outra, visando conservar o relacionamento. Dessa forma, amava-se a pessoa, que era insubstituível, pois fazia parte de um compromisso que incluía todos os aspectos de sua vida. Tanto o Velho como o Novo Testamento se desenvolveram nesse modelo social.

A partir da revolução industrial, as bases da sociedade mudaram por completo. As metas e os projetos passaram a ser valorizados no lugar do indivíduo. A pessoa passou a ter valor pelo que podia produzir ou contribuir para alcançar as metas. Os relacionamentos agora existem em função do desenvolvimento de determinados projetos e terminam quando a tarefa acaba. Antes, amavam-se as pessoas e usavam-se as coisas. Depois, as coisas passaram a ser amadas e as pessoas, meramente usadas.

A família segue ainda sendo a unidade básica da vida social, mas sua dinâmica é contrária ao modelo tecnológico de vida. Foi fortemente afetada nesse processo e vem tentando, sem sucesso, resistir a esta nova maneira de viver, o que pode ser sentido nos novos hábitos adquiridos ao longo dos anos. Os vínculos de parentesco, amizade com vizinhos, que se ajudavam mutuamente, enfraqueceram-se muito. A maioria das funções que correspondiam à família tradicional hoje é realizada friamente por instituições especializadas.

Os idosos são colocados em asilos; não temos mais tempo e nem afinidade para os almoços que reuniam todos os filhos e netos ao redor dos avós; os negócios, que eram desenvolvidos em ambiente familiar, passam a ser feitos por empresas; os pais passaram o compromisso de ensinar seus filhos a andarem nos caminhos de Deus para as classes de educação religiosa nas igrejas; os padrinhos, que assumiam o papel de pais na falta desses, agora foram substituídos pelos orfanatos; e por aí vai…

Os vínculos entre pais e filhos ficam cada vez mais debilitados. Os pais influenciam cada vez menos a vida dos filhos. A esposa, mais e mais distante das atividades do lar, cumpre um papel menos e menos importante na vida de sua família. Gera menos filhos e, para não ficar muito dependente emocional e financeiramente de seu marido (que pode abandoná-la ou falecer), não tem outra alternativa a não ser preparar-se para se defender sozinha na vida.

Nos relacionamentos, o padrão tecnológico de vida tem causado muitos transtornos sociais, emocionais e psicológicos. Existe uma grande carência de amor e vida comunitária. São comuns as histórias de pessoas curadas emocionalmente por receberem um simples abraço. As pessoas estão cada vez mais solitárias e incompreendidas. Cresce a insegurança pessoal, e os vínculos e compromissos estão menos estáveis, enquanto as amizades são baseadas em gostos pessoais (como preferências musicais, um hobby, um esporte), sendo superficiais e de pouca duração. Há uma crescente falta de disciplina. Hoje existem muitas técnicas e cursos para nos capacitar a desenvolver certas tarefas, mas não para nos ensinar a viver melhor.

O Que Fazer?

Como os escritos do Velho e Novo Testamento consideram um contexto onde a estrutura social é relacional, torna-se impossível contemplar as instruções de Jesus sob o prisma de uma mente tecnológica. O Sermão do Monte e as orientações sobre divórcio, disciplina de filhos ou perdão perdem totalmente o sentido neste novo modelo social. Precisamos compreender que, para a igreja ser autêntica, é imperativo que nossas relações não tenham como base o funcional (evangelismo, louvor, seminários, etc), e que o amor fraternal seja a base para desenvolvermos relacionamentos e qualquer atividade na igreja.

A igreja e as atividades para eclesiásticas de apoio (missões, evangelismo, obras sociais, etc) não podem ser vistas com um olhar empresarial. O lar deve ser o centro de onde surgirão os ministérios, serviços, cuidados e demais atividades. Todo ensinamento deve ser transmitido dentro de uma relação de convivência entre pessoas e famílias. A igreja deve apoiar a família e não competir com ela pela lealdade de seus membros. Famílias bem relacionadas entre si representam a força e proporcionam a coesão da comunidade cristã.

A família é a base da comunidade, e outros grupos devem atuar no sentido de completar e fortalecer a própria família (grupos de homens, de mulheres, de casais, com o objetivo de fortalecer as funções de ambos). Uma igreja é forte se composta por famílias fortes. Por este motivo a família é tão atacada pelo diabo.

Preparados Para a Colheita

Deus plantou nossas famílias na terra como sementes e espera que demos bons frutos, a fim de cumprirmos nosso papel nesta luta contra o reino das trevas. É hora de atentarmos para a qualidade da semente que está em nós, pois isto determinará se o fruto que produziremos será ou não útil para Deus (pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará – Gl 6.7).

Satanás conhece o efeito multiplicador das sementes plantadas (Mt 13.8), e sabe que basta uma pequena semente ruim e, em pouco tempo, ele terá frutos ruins em nosso meio, e também muitas outras sementes para novas semeaduras. Muitas vezes essa pequena semente é um simples pensamento que alimentamos, adubamos, regamos. De forma sutil, o inimigo tem semeado desvios do modelo de Deus, o que pode facilmente nos contaminar e minar toda a eficácia da estratégia divina.

Vamos estar atentos para a obra que Deus deseja fazer nestes dias e permitir que ele nos guie de volta para seu modelo original. Isto pode envolver a necessidade de podar galhos indesejáveis e de arrancar aspectos perniciosos que temos permitido entrar no nosso meio. Que no tempo da colheita final, nossas famílias estejam preparadas para dar o fruto desejável para o Reino de Deus.

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