Sorte ou Soberania?

Recentemente, na minha leitura diária da Bíblia, tenho ficado impressionado com as seguintes explicações para as causas de certos acontecimentos: “pois isto vinha de Deus” ou “isso aconteceu para que se cumprisse o que Deus havia dito”.

Sabemos que Deus não agiu apenas no passado – continua agindo hoje. Como discernir se algo que está acontecendo conosco ou perto de nós é simples resultado de causas naturais ou se a mão divina está por trás das circunstâncias?

Como tudo de importante na vida, isso também não tem resposta certa ou clara, pelo menos para nós, pobres humanos! Com certeza está envolto em mistério! Mas, será que podemos captar algumas dicas preciosas na Palavra?

A mente humana tende a pensar em extremos: Enquanto os ateus pensam que tudo é fruto do acaso, os super-espirituais ou místicos enxergam a mão de Deus em tudo! Enquanto os agnósticos acham que Deus começou tudo e foi embora como um homem que dá corda num despertador (daqueles antigos) e não interfere novamente até o despertador tocar, alguns cristãos zelosos pensam que precisam orar para saber que cor de camisa vestir! Que posição devemos tomar sobre tudo isso? Deus se ocupa dos mínimos detalhes de sua criação ou só interfere em ocasiões extraordinárias?

Penso que a explicação de Francis Schaeffer seja a mais sensata: Deus criou o mundo material com todas suas leis e ciclos de causa e efeito, mas não é um sistema fechado. Em outras palavras, tudo foi criado para funcionar sem a direta interferência divina, mas a qualquer momento e em qualquer mínimo detalhe Deus pode interferir se quiser. Diante dessa explicação, todos, tanto os que acreditam que Deus é o autor direto de tudo, quanto os céticos que duvidam de qualquer ação sobrenatural, estão errados.

A causa de toda a confusão sobre esse assunto é a maneira de agir de Deus. Ele não gosta de agir com estardalhaço e holofotes. Ele gosta de agir sorrateiramente, imperceptivelmente, invisivelmente. Ele adora um bom disfarce! Apesar de ter muitos, o maior de todos foi quando ele veio em forma humana!

Por que ele age assim? Por que ele torna tão difícil para nós discernirmos se um determinado acontecimento foi simplesmente o efeito de uma causa natural ou resultado do toque do seu dedo? Penso que é porque ele quer que o identifiquemos não pela demonstração de sua força, glória, poder ou beleza, mas por sua essência, por ser quem ele é, e por amarmos e buscarmos tanto isso, que conseguimos vê-lo sob qualquer disfarce.

Deixe-me citar alguns exemplos que me saltaram aos olhos esses dias:

• Quando Eli repreendia seus filhos por seus pecados, eles não lhe ouviam ou atendiam. Por que? Nós poderíamos pensar que seria por causa da cegueira natural do homem ímpio ou a rebeldia costumeira de filhos em relação ao pai, mas não é isso que o autor sagrado diz. “Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir” (1 Sm2.25b).

• Quando Roboão não ouviu o conselho dos anciãos e seguiu o conselho ruim dos jovens, poderíamos pensar que isso era por causa de seu coração jovem e presunçoso. Mas o que a Escritura diz? “O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque esta mudança vinha de Deus, para que o Senhor confirmasse a sua palavra…” (2 Cr 10.15).

• “Amazias, porém, não lhe deu ouvidos; pois isto vinha de Deus, para entregá-los na mão dos seus inimigos, porque buscaram os deuses de Edom” (2 Cr 25.20).

• Em outra ocasião, em sentido contrário aos exemplos acima, Deus usou um homem iníquo, Faraó Neco, para alertar Josias contra uma decisão que o levaria à morte e ele não atendeu (2 Cr 35.21,22). Deus queria mudar para o bem uma situação de causa e efeito, mas Josias não discerniu a voz de Deus.

Que Deus nos ajude a discernir sua mão agindo dentro de nós e fora de nós, sem perdermos o bom senso!