Por: A. W. Tozer
Um grande problema em muitas partes do mundo de hoje consiste em aprender a ler, e em outras, em achar o que ler. Em nosso favorecido Ocidente estamos abarrotados de material impresso, de modo que aqui o problema é de seleção. Temos de decidir o que não ler.
Há quase um século, Emerson assinalou que se fosse possível um homem começar a ler no dia em que nasce e, sem interrupção, ler por setenta anos, no fim desse período ele teria lido apenas os livros equivalentes a um estreito nicho da Biblioteca Britânica. A vida é tão curta, e os livros que nos são acessíveis são tantos que nenhum homem tem possibilidade de conhecer mais do que uma fração de um por cento dos livros publicados.
Mas é preciso dizer que a maioria de nós não é muito seletiva em sua leitura. Muitas vezes, pergunto-me, com espanto, quantos metros quadrados de papel de imprensa passam diante dos olhos do homem civilizado normal no transcurso de um ano. Certamente devem cobrir diversos hectares; e eu receio que nosso leitor comum não obtém colheita muito grande em sua área. O melhor conselho que ouvi sobre esse tópico foi dado por um ministro metodista. Disse ele: “Sempre leia o seu jornal de pé”.
Em nossa leitura séria, provavelmente seremos muito influenciados pela idéia de que o principal valor de um livro consiste em informar; e se estivéssemos falando de compêndios, isso seria verdade, mas quando falamos de livros, não temos em mente compêndios.
O melhor livro não é o que apenas fornece informação, mas o que incentiva o leitor a informar-se. O melhor escritor é o que caminha conosco pelo mundo das idéias, como um guia amigo que anda ao nosso lado através da floresta, mostrando-nos uma centena de maravilhas naturais que, até aquele momento, não tínhamos notado.
Assim, aprendemos com ele a ver por nós mesmos, e, logo, deixamos de ter necessidade do nosso guia. Se ele realizou bem seu trabalho, podemos prosseguir sozinhos sem perder muita coisa ao prosseguir.
O melhor escritor é aquele que chama nossa atenção para pensamentos que estavam bem próximos de nossa mente, esperando que sejam reconhecidos como nossos. Esse homem atua como uma parteira, ao assistir o nascimento de idéias que estavam em gestação desde muito tempo em nossa alma, mas que, sem seu auxilio, talvez nunca tivessem nascido.
Há poucos sentimentos tão satisfatórios como a alegria que vem do ato de reconhecimento quando vemos e intensificamos nossos pensamentos. Todos nós tivemos mestres que procuraram educar-nos suprindo nossa mente de idéias alheias, idéias com as quais não tínhamos nenhuma afinidade espiritual nem intelectual. Tentamos zelosamente integrá-las em nossa filosofia espiritual total, mas sempre sem sucesso.
Em certo sentido muito real, nenhum homem pode ensinar outro; só pode ajudá-lo a ensinar-se a si mesmo. Os fatos podem ser transferidos de uma para outra mente, como acontece com uma cópia de uma fita matriz ou de um gravador de som. A história, a ciência e, até mesmo, a teologia podem ser ensinadas desse modo, mas o resultado é uma espécie altamente artificial de aprendizagem e raramente resulta em algum bom efeito na vida interior do estudante. A contribuição do aprendiz para o processo de aprendizagem é tão importante quanto a contribuição do professor. Se o aprendiz não contribui com nada, os resultados são vãos: na melhor das hipóteses, são apenas a criação artificial de outro mestre que pode repetir o monótono trabalho com outros, e outros, ad infinitum.
O objetivo da educação deve ser a percepção de idéias, e não a estocagem delas. A mente deve ter olhos para ver, e não depósito para estocar fatos. O intelecto humano, mesmo em seu estado decaído, é uma impressionante obra de Deus, mas ficará nas trevas, enquanto não for iluminado pelo Espírito Santo.
Nosso Senhor tem pouca coisa boa a dizer da mente não-iluminada, mas se delicia com a mente que foi renovada e iluminada pela graça. Ele sempre torna glorioso o lugar onde põe seus pés; dificilmente haverá na terra alguma coisa mais bela e maravilhosa do que a mente cheia do Espírito, alerta, anelante e irradiante pela presença de Cristo que nela habita.
Desde que aquilo que lemos penetra, em um sentido real, a alma, é vital que leiamos o que há de melhor, e nada menos que o melhor. Não posso deixar de achar que os cristãos eram melhores, antes de haver tanta escolha do que ler. Hoje, temos de exercer dura disciplina em nossos hábitos de leitura. Todo cristão deve conhecer a Bíblia, ou, pelo menos, passar horas, dias e anos tentando conhecê-la. E sempre deve ler a Bíblia “em meditação”, como diz George Müller.
Extraído de Homem: Habitação de Deus, A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão.