Por: Jesus C. Ourives
“As Batidas do Coração do Mestre”
No evangelho de João, na cena da Ceia Pascal, lemos que o “discípulo a quem Jesus amava” recostou a sua cabeça no peito de Jesus. Certamente, naquela ocasião, João ouviu as batidas do coração do Mestre.
Ouvir as batidas do coração do Mestre é o tema central do último livro de Brennan Manning lançado em português pela Editora Mundo Cristão (O Obstinado Amor de Deus). Este é o quinto livro de Manning editado pela MC, embora seja o sétimo dele já lançado no Brasil. Esta expressão, “as batidas do coração do Mestre”, é uma espécie de bordão do autor no decorrer de todo o livro.
Algumas pessoas mais exigentes podem achar que Manning se repete nos seus livros. É claro que em cada um deles há referências aos demais, e todos os que nós já vimos em português nos remetem a uma temática única, embora em abordagens diferentes. O seu tema central é sempre o mesmo: Deus é Paizinho (Abba), e nós, cristãos que o aceitamos, somos seus filhos amados. A figura do Pai da parábola do Filho Pródigo é exatamente a imagem que Manning nos apresenta de Deus – um pai amoroso, que dá liberdade ao seu filho, deixa-o partir, mas fica sempre esperando a sua volta. E quando a volta acontece, o Pai é todo amor, todo ternura, sem nada condenar nem exigir do seu filho, e se alegra tanto a ponto de mandar providenciar uma festa.
Em O Evangelho Maltrapilho, Brennan ressalta o fato de que Jesus é amigo de publicanos e pecadores. Na expressão de um internauta brasileiro, o Evangelho Maltrapilho mostra que o céu estará pleno de “madalenas prostitutas”, “pedros negadores”, “mateus publicanos”, “ladrões da cruz ao lado” e “paulos guarda-objetos de apedrejadores de estêvãos”.
No livro O Impostor Que Vive em Mim, Brennan Manning nos convida a abandonar a nossa “persona”, a nossa máscara para que assumamos a nossa real posição de pecadores filhos de Deus. Somos convidados a abandonar o papel de atores para então vivermos a nossa vida verdadeira.
Em A Assinatura de Jesus, o leitor é conduzido a uma jornada de fé na aceitação do seu chamado divino, seja para o que for. E nesse caso, a cruz não é somente um símbolo; é a própria assinatura de Jesus.
Já no Convite à Loucura, Brennan Manning mostra com clareza que ser cristão verdadeiramente é contracultura, é estar na contramão do resto do mundo.
Em O Obstinado Amor de Deus, Manning reforça a sua tese de que o mais importante na vida do cristão é “ouvir as batidas do coração do Mestre”. Há inúmeros convites para uma vida em que o “Abba” que Jesus nos apresentou seja para cada um de nós como o verdadeiro pai da parábola do Filho Pródigo. Isso significa uma vida de simplicidade, de autonegação. A experiência que João teve ao sentir as batidas do coração do Mestre levou-o a muito mais conhecer Jesus do que simplesmente saber quem ele é. E isso o colocou na posição de melhor conhecer a si mesmo. Brennan diz que se perguntássemos a João qual a sua identidade, ele não responderia “sou apóstolo”, ou “sou evangelista”, ou sou “autor do Apocalipse”, ele simplesmente diria: “sou aquele discípulo a quem Jesus ama”.
No título que a Editora Mundo Cristão escolheu para a edição em português está o adjetivo obstinado, que quer dizer persistente, pertinaz, que não desiste.
Realmente nosso Abba não desiste de nós – o seu amor nos envolve totalmente e sempre.
Os outros dois livros de Manning publicados em português são Acima de Tudo (Above All), pela Naós, um poema em cima das palavras da música de Paul Baloche, que Michael W. Smith popularizou, e A Sabedoria da Ternura, editado pela Editora Palavra, que é mais um reforço à tese de Manning sobre o amor incansável e infalível que nos é oferecido graciosamente por Abba.
Ler Brennan Manning é ficar ao lado de gente como Philip Yancey, Michael W. Smith, Eugene Peterson e muitos outros, e conhecer um autor que se encaixa muito bem dentro da categoria de C. S. Lewis e Henri Nouwen.