Por: Ezequiel Netto
O Código da Vinci já saiu de moda. O livro do momento é Deus, um Delírio (The God Delusion), de Richard Dawkins. Parece que a imprensa internacional nunca viveu um período tão triunfalista quanto este. “Em Deus, um Delírio, a debilidade intelectual da crença religiosa é desnudada sem piedade, assim como os crimes cometidos em nome dela” (The Times). “Este livro é um apelo declarado para que não nos acovardemos mais” (The Guardian). “Richard Dawkins é nosso ateu mais brilhante” (The Spectator).
Segundo o próprio Dawkins, se o livro funcionar do modo como ele pretende, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o terminarem. Ele retrata a religião da pior maneira possível e tenta mostrar que é ela a origem de toda a maldade existente no mundo (associando-a com o Talibã, os ataques suicidas, as Cruzadas, os evangélicos extorquindo dinheiro de seus fiéis). Diz também que os ateus precisam “sair do armário”, proclamando o orgulho ateu, assim como fizeram os corajosos homossexuais. Combate toda forma de ensino religioso às crianças, argumentando que as pessoas ficam aprisionadas em uma religião, geralmente a dos pais, ao serem vítimas de uma doutrinação infantil (por outro lado, quer que as crianças aprendam somente a teoria da evolução, não como a teoria razoável e bem-fundamentada que é, mas como um fato absoluto e indiscutível). De acordo com a tese do livro, a saída para a humanidade está no ateísmo e no fim de todas as religiões. O autor foi recentemente alardeado (por meio de uma pesquisa feita pela revista inglesa Prospect) como um dos três principais intelectuais do mundo (junto com Umberto Eco e Noam Chomsky).
Mas o livro também tem atraído muitas críticas e decepções. Três livros já foram escritos até o momento contestando suas idéias, os quais Richard Dawkins chama de parasitas em seu website. A Editora Mundo Cristão apresenta uma contestação evangélica, intitulada O Delírio de Dawkins, escrita por Alister McGrath (da Universidade de Oxford) e sua esposa Joanna McGrath. Outrora ateu, Alister doutorou-se em biofísica molecular antes de tornar-se teólogo. Com seu profundo conhecimento científico e acadêmico, está numa posição muito boa para avaliar as teses de seu colega de Oxford. Chegou à conclusão de que os argumentos de Dawkins são absolutamente inconsistentes, além de exalarem uma intolerância desmedida.
De acordo com o cientista renomado Francis Collins, um dos responsáveis pelo mapeamento do DNA humano em 2001 e diretor do Projeto Genoma, “Alister McGrath analisa as conclusões do livro “Deus, um Delírio” e desmantela o argumento de que a ciência deve levar ao ateísmo. McGrath demonstra como Richard Dawkins abandonou sua usual racionalidade para abraçar o amargo e dogmático manifesto do ateísmo fundamentalista”.
O Delírio de Dawkins mostra que há muita especulação pseudocientífica associada a críticas culturais mais amplas sobre a religião. O livro de Dawkins é, em geral, pouco mais que um ajuntamento de falsas afirmações convenientemente exageradas para alcançar o impacto máximo de manipular e influenciar a opinião pública. Alister McGrath supõe que seu livro seja lido principalmente por cristãos desejosos de saber o que dizer a seus amigos que leram Deus, um delírio, os quais estarão se questionando se os cristãos são de fato tão pervertidos, degenerados e irracionais como o livro os descreve. Espera, também, que entre os leitores possam existir ateus cuja mente ainda não esteja totalmente fechada.
Ateísmo
Existe um grande número de pessoas sem religião, divididas basicamente em três grupos: os não-praticantes, que acreditam em Deus, expressam uma fé, mas não costumam freqüentar uma igreja; os agnósticos, que só admitem os conhecimentos adquiridos pela razão e evitam qualquer conclusão que não possa ser demonstrada cientificamente; e os ateus, que não acreditam em Deus e negam qualquer forma de divindade.
Em 1882, o filósofo Friedrich Nietzsche (1844–1900), expressando o crescimento do ateísmo, declarou: “Deus está morto!” Nos anos 1960, com a proclamação da Nova Era, diziam que a religião estava desaparecendo. Mas se o fim das religiões já era previsto há muitos anos, por que seria necessário escrever mais um livro deste tipo?
O ateísmo vem crescendo a cada ano em todo o mundo. A Europa, que já foi o berço do cristianismo para a humanidade, hoje caminha rumo à escuridão da fé. Nos últimos 100 anos, o ateísmo cresceu de aproximadamente 1,7 milhão para cerca de 130 milhões de pessoas. Só entre os britânicos, 44% das pessoas declararam não acreditar em Deus. O escritor Richard Miniter (correspondente do jornal inglês The London Sunday Times em Bruxelas, na Bélgica) declarou: “Quando você diz aos europeus que vai à igreja aos domingos, as pessoas o olham como se fosse uma peça de museu. Lá, apenas 5% da população freqüenta cultos regularmente e, deste percentual, 3% são negros”.
No Brasil, o número de ateus está crescendo também. Até os anos 70, eles representavam menos de 1% da população. Nos anos 90, 5,1% se declaravam dessa forma. Atualmente, chegam a 7,3%, de acordo com o IBGE.
Contudo, só o fato de Richard Dawkins ter escrito um livro de mais de quinhentas páginas, combatendo toda idéia de religião (especialmente o cristianismo), é em si mesmo altamente significativo. O que chama a atenção em Dawkins é o surgimento de uma nova expressão no panorama religioso do país: o ateu militante. Ele não é apenas um não-religioso, mas um ANTI-RELIGIOSO. A sociedade vibra com suas idéias, sem dar o menor valor para a importância deste fato: os nazistas eram anti-semitas, os skinheads são anti-homossexuais e antinegros. E esse ódio a um grupo específico de pessoas tem gerado as maiores atrocidades cometidas pelo ser humano. Agredir a uma pessoa é um ato repugnante em qualquer cultura. Mas, se essa pessoa faz parte do grupo que fica depois do nosso prefixo anti-, ela é do Mal, precisa ser exterminada.
À semelhança dos religiosos, eles organizam encontros, participam de grupos de discussão na Internet e até fundaram uma ONG, a Sociedade Terra Redonda. O objetivo não é outro senão conclamar as pessoas sem fé religiosa a assumir o próprio ateísmo e ridicularizar todo tipo de expressão mística ou religiosa. Apesar de todo esse esforço, Nietzsche morreu, juntamente com muitos grupos ateístas. Mas Deus está mais vivo do que nunca.
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O Pianista Cósmico
(Por Michelson Borges, citando a revista Diálogo Universitário 5, de 1993)
Imagine uma família de camundongos que tenha vivido toda sua vida em um grande piano. A eles, no mundo de seu piano, vinha a música do instrumento, enchendo todos os lugares escuros com som e harmonia. No início, os camundongos ficavam impressionados. Extraíam conforto e admiração do pensamento de que havia Alguém que produzia tal música, embora invisível a eles. Gostavam de pensar no Grande Pianista que não podiam ver.
Então, um dia, um destemido camundongo resolveu subir na parte superior do piano e retornou cheio de idéias. Ele havia descoberto como a música era produzida. As cordas eram o segredo – cordas firmemente esticadas com tamanhos graduados, as quais tremiam e vibravam. Eles deviam agora fazer uma revisão de suas velhas crenças; ninguém, a não ser os mais conservadores, poderia mais crer no Pianista Invisível.
Mais tarde, outro explorador conduziu a explicação mais adiante. Martelos eram agora o segredo, um número de martelos dançando e saltando sobre as cordas. Essa era uma teoria um pouco mais complicada, mas tudo demonstrava que eles viviam em um mundo puramente mecânico e matemático. O Pianista Invisível passou a ser considerado um mito.
Mas o Pianista continuava a tocar.
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Para mais informações, acesse os seguintes sites:
http://www.odeliriodedawkins.com.br
http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=74&materia=837:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u322666.shtml:
http://www2.uol.com.br/debate/1380/cadd/cadernod02.htm
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/08/dawkins_um_deli.html :
http://malprg.blogs.com/francoatirador/2007/08/o-evangelho-seg.html:
http://www.submarino.com.br
http://www.siciliano.com.br