Por: Nancy Leigh DeMoss
O pequeno bando de líderes vinha orando fervorosamente por avivamento na sua comunidade – localizada numa aldeia na ilha de Lewis, a maior do arquipélago das Hébridas Exteriores, bem próxima à costa da Escócia. Seu encargo maior era em favor dos jovens da ilha, que estavam totalmente desinteressados em assuntos espirituais e ainda zombavam das coisas de Deus.
Reuniram-se durante dezoito meses, três noites por semana, e orando noite adentro, até as altas horas da madrugada, suplicando a Deus para que os visitasse com um avivamento. Mas nada parecia mudar.
Finalmente, numa certa noite, um jovem diácono levantou-se, abriu a Bíblia e leu do Salmo 24: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração… Este obterá do Senhor a bênção…”
Olhando para as pessoas à sua volta, o jovem disse: “Irmãos, parece-me uma falsidade total ficar orando e esperando dessa forma, se nós mesmos não estivermos relacionados corretamente com Deus”.
Em seguida, aqueles homens ajoelharam-se ali na palha onde estavam e humildemente confessaram seus pecados ao Senhor. Dentro de pouco tempo, Deus começou a derramar seu Espírito num despertamento extraordinário que sacudiu toda aquela ilha.
Pré-requisito Número Um
Antes de um avivamento causar qualquer impacto num lar, numa igreja ou numa nação, é preciso experimentá-lo no nível pessoal, nos corações de homens e mulheres que tiveram um novo encontro com Deus. E o maior obstáculo individual para a experiência de avivamento pessoal é a nossa indisposição de nos humilharmos e de confessarmos nossa desesperada necessidade da misericórdia de Deus.
Nossa geração foi programada para buscar felicidade, realização, sentimentos de satisfação consigo mesmo, auto-imagem positiva, auto-afirmação e cura para sentimentos feridos e psiquês avariadas. Mas Deus não está tão interessado quanto nós nesses objetivos. Ele está mais comprometido em nos tornar santos do que em nos fazer felizes. E só existe um caminho para a santificação – ou para o genuíno avivamento – que é o da humilhação e do quebrantamento.
As Escrituras mostram claramente que este é o pré-requisito número um para encontrar Deus através do avivamento: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
“Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido” (Sl 34.18).
Muitas vezes pensamos em avivamento como um tempo de grande alegria, bênçãos, plenitude e celebração. E assim será quando alcançarmos a plenitude. Mas o problema é que queremos um Pentecostes sem dor, sem custo… um avivamento “de risos”. Esquecemos que os caminhos de Deus não são os nossos e que o único jeito de subir é descer.
Peterus Octavianus, homem grandemente usado por Deus no avivamento de 1973 em Bornéu, lembra-nos que “avivamentos não começam alegremente, com todo o mundo numa boa, mas com corações quebrantados e contritos”.
Você e eu jamais encontraremos Deus em avivamento se não o encontrarmos antes no quebrantamento. A primeira impressão da palavra “quebrantamento” é que não é algo desejável, um alvo para se buscar. Afinal de contas, parece tão negativo! Podemos sentir até medo da idéia. Talvez porque tenhamos uma interpretação errônea do que seja quebrantamento. Nossa visão do quebrantamento pode ser totalmente diferente da idéia de Deus.
O Que é Quebrantamento?
Quebrantamento não significa, como pensam alguns, semblante triste, sombrio, abatido – alguém que nunca ri nem dá um sorriso. Não significa introspecção mórbida. Nem pode ser entendido como a mesma coisa que profundas experiências emocionais. É possível derramar rios de lágrimas sem experimentar um momento de quebrantamento. Além disso, quebrantar-se não é o mesmo que ficar profundamente ferido por algum acontecimento trágico. Uma pessoa pode ter passado por grandes sofrimentos e tragédias e nunca ter sido quebrantada.
Quebrantamento não é sentimento; pelo contrário, é uma escolha, um ato da vontade. Não é, em princípio, uma experiência única ou uma crise (embora possa haver momentos de crise no processo de quebrantamento), porém é um estilo de vida contínuo, progressivo.
Quebrantamento é uma atitude de permanente concordância com Deus sobre as verdadeiras condições de meu coração e minha vida, da forma como ele os vê. É um estilo de vida de rendição incondicional e absoluta de minha vontade à vontade de Deus – uma atitude do coração que responde “Sim, Senhor!” a tudo que Deus diz. Quebrantar-se significa despedaçar a vontade própria, de forma que a vida e o Espírito do Senhor Jesus sejam liberados através de mim. Quebrantamento é minha resposta de humildade e obediência à convicção da Palavra e do Espírito de Deus. E como a convicção que vem de Deus é contínua, o quebrantamento precisa ser contínuo também.
O verdadeiro quebrantamento tem uma dimensão vertical e outra horizontal; a primeira se manifesta na disposição de se viver de “céu aberto” diante de Deus; e a segunda em se viver “sem muralhas” entre si e seus semelhantes. Em síntese, é não ter reservas ou barreiras nem com Deus nem com o próximo.
As Escrituras nos dão numerosos exemplos de pessoas quebrantadas. O interessante é que esses exemplos são freqüentemente apresentados em contraste com pessoas não quebrantadas. Em cada situação, tanto a pessoa quebrantada como a não quebrantada haviam pecado. A diferença não estava tanto na natureza ou magnitude do pecado, mas na resposta que deram quando foram confrontadas com o pecado.
Por exemplo, temos o contraste de dois reis em seus tronos. Um deles, movido pela paixão, cometeu adultério com a mulher do seu vizinho, e depois tramou a morte do marido. Mesmo assim, quando a história de sua vida foi narrada, este homem foi chamado “um homem segundo o coração de Deus”. Já o pecado do seu antecessor foi relativamente insignificante – ele foi culpado apenas de não haver obedecido integralmente. No entanto, isso lhe custou o reino, a vida e a família. Qual foi a diferença?
Ao ser confrontado com seu pecado, o rei Saul defendeu-se, justificou-se e desculpou-se, jogou a culpa em outros e tentou encobrir tanto o pecado como suas conseqüências. Em suma, sua resposta revelou um coração orgulhoso, não quebrantado. Já o rei Davi, ao ser confrontado com seu pecado, mostrou-se disposto a reconhecer seu erro, a responsabilizar-se pessoalmente por seu mau procedimento e a arrepender-se de seu pecado. Sua resposta foi a de um homem humilde, quebrantado. E este é o coração que Deus honra.
Como podemos saber se nosso coração é soberbo ou quebrantado?
Os soberbos concentram-se nas faltas alheias, têm um espírito crítico e denunciador. Olham para os pecados dos demais com um microscópio, e para seus próprios pecados com um telescópio. Em contraste, os quebrantados sentem-se inundados com a consciência de suas próprias necessidades espirituais. Assim sendo, têm todos os outros como melhores do que si mesmos.
Os soberbos têm de provar que estão com a razão, enquanto os quebrantados estão dispostos a abrir mão do direito de ter razão.
Os soberbos protegem seu tempo, seus direitos e sua reputação. Já os quebrantados abrem mão de tudo isso.
Os soberbos querem ser servidos e ter sucesso. Os quebrantados desejam servir aos outros e colaborar para que eles tenham sucesso.
Os soberbos querem ser reconhecidos e estimados. Ficam chateados quando outros são promovidos e eles não. Os quebrantados têm consciência de sua própria insignificância e se comovem com o fato de Deus vir a usá-los por menor que seja a função; ao mesmo tempo, alegram-se quando Deus levanta outros.
Os soberbos são rápidos em culpar os outros por seus problemas. Tornam-se inabordáveis ou defensivos quando criticados. Os quebrantados reconhecem logo quando estão errados, e recebem as críticas com espírito de humildade e de quem quer aprender.
Os soberbos magoam-se facilmente, enquanto os quebrantados logo perdoam e esquecem.
Os soberbos esperam que os outros os procurem para pedir perdão quando há algum mal-entendido ou conflito no relacionamento. Os quebrantados tomam a iniciativa de reconciliar-se quando há conflito; correm para a cruz e procuram chegar primeiro, independentemente de quem foi mais errado.
Os soberbos comparam-se às outras pessoas e acham que estão certos. Pensam que não têm nada de que se arrepender. Já os quebrantados comparam-se com a santidade de Deus, sentem profunda necessidade de misericórdia e sabem que precisam a todo instante de um coração arrependido.
Os soberbos acham que não são eles que precisam de avivamento – mas têm certeza que os outros precisam! Os quebrantados sentem constantemente sua necessidade de um novo encontro com Deus.
Por que alguém desejaria o quebrantamento? Não seria o mesmo que se candidatar a uma cirurgia ou a alguma forma de sofrimento? A Palavra de Deus ensina que o quebrantamento traz a bem-aventurança. Jesus diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito” – ou seja, os “quebrantados”, aqueles que reconhecem que são espiritualmente falidos e empobrecidos.
Que bênçãos decorrem do quebrantamento?
Vimos que Deus aproxima-se dos quebrantados; ele exalta os humildes, mas resiste aos soberbos.
Nova vida é liberada através do nosso quebrantamento. Na véspera de sua crucificação, ao partir o pão e o distribuir aos seus discípulos, Jesus declarou: “Este é o meu Corpo, que é partido por vós”. Sua morte na cruz trouxe vida eterna para nós. Então, quando desejamos ser quebrantados, sua vida abundante pode fluir através de nós para outras pessoas.
O quebrantamento aumenta a capacidade de amar e adorar. A “mulher pecadora”, que ungiu os pés do Senhor com suas lágrimas e com o ungüento precioso, era uma mulher quebrantada. Por isso mesmo, ela derramou seu amor e adorou ao Senhor Jesus, sem restrições e sem incomodar-se com a opinião dos que a observavam. Alguns de nós não estamos realmente livres para amar e adorar o Senhor Jesus de todo coração. Talvez, por não estarmos quebrantados. Estamos mais preocupados com o que os outros vão pensar e amamos mais nossa reputação do que o objeto de nossa devoção.
O quebrantamento aumenta a capacidade de dar frutos, pois Deus usa os quebrantados.
• Quando a força natural de Jacó foi quebrantada em Peniel, Deus pôde revesti-lo de poder espiritual.
• Quando a rocha em Horebe foi partida pela pancada do cajado de Moisés, saiu água fresca para matar a sede do povo.
• Quando os 300 soldados de Gideão quebraram seus cântaros , as tochas dentro deles brilharam com mais intensidade e Deus concedeu-lhes uma grande vitória.
• Quando os cinco pães daquele garoto foram partidos, multiplicaram-se de forma sobrenatural e foram suficientes para alimentar uma multidão.
• Quando o frasco de alabastro de Maria foi quebrado, o perfume liberado encheu toda a casa.
• E quando o corpo de Jesus foi quebrado no Calvário, a vida eterna foi liberada para a salvação do mundo.
• Finalmente, o fruto do quebrantamento mostra-se no avivamento – a liberação do Espírito de Deus através do nosso quebrantamento pessoal e coletivo. Durante o avivamento do País de Gales, entre 1904 e 1905, a canção que mais se ouvia dos lábios dos corações quebrantados e contritos era “Inclina-me, dobra-me mais baixo, mais e mais baixo, até os pés de Jesus”.
Por onde começamos?
Em primeiro lugar, devemos passar a ver Deus como ele realmente é, pois quanto mais nos achegarmos a Deus, melhor veremos nossas próprias necessidades à luz de sua santidade.
No capítulo 5 de Isaías, o grande profeta anuncia as bem merecidas condenações contra o povo materialista, sensual, hedonista, orgulhoso e imoral de seu tempo. Vez após vez, ele proclama: “Ai daqueles que…” Mas, depois, Isaías encontra-se face a face com a santidade de Deus. E suas palavras não são mais “Ai daqueles “, mas “Ai de mim”! A pessoa quebrantada tem mais consciência da corrupção que há em seu próprio peito do que no coração do seu próximo.
Tendo visto Deus tal como ele é, devemos então clamar por sua misericórdia. Nossa atitude não mais parecerá com a do fariseu, cujas preces revelaram que ele se considerava em ótima forma comparado com os que estavam à sua volta. Ao contrário, estaremos clamando como o publicano: “Oh Deus, tem misericórdia de mim, pecador”.
Depois disso, aprender a reconhecer e a verbalizar nossas necessidades espirituais, primeiro para Deus, é essencial a uma vida de quebrantamento. A pessoa quebrantada não culpará outros – não há quebrantamento quando o dedo acusador continua apontado para o próximo. A atitude de seu coração é: “Não é meu irmão nem minha irmã, mas eu, ó Senhor, que preciso de oração”.
A pessoa quebrantada tem condições de verbalizar suas necessidades para outras pessoas também. Não há quebrantamento onde não há abertura. Quase sem exceção, as maiores vitórias sobre o pecado e as tentações que tenho experimentado ocorreram quando me dispus a humilhar-me e a confessar minhas necessidades a um cristão mais maduro, que podia orar por mim e a quem eu podia prestar contas na minha obediência a Deus.
Finalmente, faça exatamente aquilo que você sabe que Deus quer que faça, embora sua carne esteja puxando na direção oposta!
Em última análise, o quebrantamento é uma questão de entregar o controle da sua vida a Deus, tal como o cavalo domado passa a ser sensível e a responder aos desejos e comandos do cavaleiro.
O coração que se esvaziou de si mesmo, e quebrou sua vontade própria e resistência, é o coração que experimentará o enchimento e o avivamento de nosso glorioso e santo Deus, o qual se humilhou a si mesmo para nos levantar.
Respostas de 13
Fui fortíssimamente impactado após ler este artigo. Senti, e cada vez que o leio sinto Deus falando. Eu o li na época de sua publicação, hoje 16.06.2014 estou lendo novamente e estou mais convicto de sua atualidade, e me sinto constrangido a não somente mudar de atitude com relação a minha vida cristã, como anunciar a outros tais verdades. Que Deus abençõe grandemente este ministério que tem se mostrado uma verdadeira pérola.
Muito obrigado amados por este artigo, me edificou de forma espetacular, que o senhor Jesus vos capacite cada vez mais e mais…
Muito bom…edificante.
Muito bom mesmo esse artigo que me ajudou a entender melhor o que é ser quebrantado de coração.
Nossa, estou impactada este artigo é muito bom e edificante.
Que Deus abençoe porque foi muito bem explicado e que venha muitos mais explicações como essa através de vcs.
Deus abençoe .
Nunca li nada tão profundo, sobre Quebrantamento, porque claro, preciso, detalhado. Não deixa dúvidas em que área da minha vida não estou quebrantada.
Uma pérola.
Obrigada.
Deus te abençoe!!!
Deus seja louvado sempre pela vossa vida.
Amém!
Excelente artigo. Trouxe-me compreensão sobre a questão do quebrantamento. Nos dá condições de fazermos reflexões. Obrigada!
Preciso ser quebrantado, ainda estou muito vivo.
Realmente, sábias palavras. Um texto escrito com tanta simplicidade e de fácil entendimento. Muito obrigado por compartilhar conosco. Que Deus O soberano e majestoso te use SEMPRE.
Louvado seja o Altíssimo pelas vossas vidas.
Este artigo mostrou-me a “máscara” que eu carregava, e o real significado de quebrantamento.