Por: Roger Ellsworth
Este é o segundo artigo numa série de mensagens sobre Isaías 63 e 64
Ó Senhor, por que nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que te não temamos? Volta, por amor dos teus servos e das tribos da tua herança. Só por breve tempo foi o país possuído pelo teu santo povo; nossos adversários pisaram o teu santuário. Tornamo-nos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste e como os que nunca se chamaram pelo teu nome. Oh! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes tremessem na tua presença, como quando o fogo inflama os gravetos, como quando faz ferver as águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que as nações tremessem da tua presença!” (Isaías 63.17- 64:2)
Isaías intensifica sua súplica nestes versículos. No começo da sua oração, instou com o Senhor para visitar seu povo, porque sentiam falta do seu sorriso, da sua mão sustentadora, e do seu coração compassivo (Is 63.15,16). Agora vai além disso. Seu clamor nestes versículos é: “Precisamos de ti!”
Esta parte da oração de Isaías, então, sinaliza uma mudança dramática no modo de pensar do povo de Israel, o povo que Isaías estava representando nesta oração. Até então pensavam ingenuamente que podiam prosseguir tranqüilos sem Deus; que para todo efeito sua presença era dispensável. Mas Isaías vê no futuro quando estarão sentados no meio dos escombros das suas vidas despedaçadas; e vê que voltarão enfim ao reconhecimento de que ter Deus consigo não é opcional, mas essencial.
Devemos lembrar sempre que Isaías está olhando para o povo de Deus. Este é o fato mais chocante. Pensaríamos que seria preciso enfatizar a necessidade de Deus somente para aqueles que o não conhecem, mas esta passagem é uma prova contundente de que o povo de Deus pode tornar-se perigosamente auto-suficiente. A igreja hoje é diferente em algum aspecto do povo daquela época? Estamos realmente conscientes da nossa inteira incapacidade e da nossa total falta de perspectiva enquanto separados de Deus? Ou estamos dependendo da nossa própria sabedoria e habilidade para lutar contra Satanás e suas forças?
Se não tivermos cuidado, podemos achar que apertar todos os botões certos produzirá resultados espirituais duradouros. Reduzimos a obra da igreja a manobras astutas dentro de possibilidades estatísticas e terminologia psicológica. Estamos fazendo exatamente o que Davi se recusou a fazer: lutar com a armadura de Saul. Podemos ser polidos e instruídos, porém não ter poder. Precisamos reconhecer que Deus pode fazer mais em um minuto com seu poder, do que nós em toda uma vida com nossas “estratégias”. Ah, se pudéssemos ver nossa necessidade de Deus, e ver gerado em nós uma profunda fome por ele!
A passagem acima revela duas grandes razões por que o povo de Deus precisa do seu poder.
1. Para Ter Avivamento
Em nenhuma outra área a tendência de confiar na nossa própria força e sabedoria se mostra mais forte do que neste assunto de buscar avivamento. Durante o século passado, ouvimos que avivamento é algo que podemos mais ou menos criar no momento que o quisermos. É simplesmente uma questão de empregar certas técnicas.
A oração de Isaías revela a tolice total deste conceito. Se fosse possível para o povo de Deus avivar a si próprio, esta oração teria sido totalmente desnecessária. Mas vemos pelo contrário que a condição do povo era tal que somente Deus poderia solucionar.
Primeiro ele confessa a dureza de coração do povo, e ao mesmo tempo mostra duas maneiras em que esta dureza se manifesta (v. 17). Primeiro, o coração duro fica cada vez mais insensível às ordens de Deus, e se distancia delas. Segundo, o coração duro se isola de qualquer sentimento de temor a Deus.
Em outras palavras, quando nosso coração se endurece para com Deus, ficamos desleixados e indiferentes sobre o pecado nas nossas vidas. Tornamo-nos cada vez mais negligentes e descuidados sobre os caminhos de Deus. Deus tem caminhos certos para nós, que são caminhos de alegria e justiça (Is 64.5), mas quando nossos corações se endurecem, nos envolvemos com nossos caminhos e deixamos de nos importar com os caminhos de Deus.
Certa vez, vi um adesivo no pára-choque de um carro que dizia: “Há apatia demais neste país, mas quem se importa?” É exatamente este o problema do coração duro. Sabemos que estamos nos desviando de Deus e dos seus caminhos, mas estamos ficando mais e mais apáticos; simplesmente não nos importamos.
A outra manifestação de um coração duro é não sentir qualquer temor a Deus. Antigamente, os cristãos falavam bastante de temer a Deus, mas hoje as pessoas ficam nervosas quando se fala disso. Sempre que se encontra um texto nas Escrituras que fala de temor a Deus, alguém se apressa em dizer que isto não quer dizer medo de Deus. Não tenho tanta certeza disso. Creio que há bastante motivo de se ter medo de Deus. Deus prometeu disciplinar seus filhos quando caíssem em pecado.
Esta oração de Isaías foi em favor de pessoas que viriam experimentar as amargas dores da disciplina. Elas só orariam com as palavras de Isaías depois que sua terra natal fosse devastada, seu templo e cidade sagrada reduzidos a cinzas, e elas próprias levadas cativas para Babilônia.
Quem não deveria ter medo de tal experiência terrível? Somente um tolo! Se estas pessoas tivessem sentido medo de Deus e do seu castigo, poderiam ter escapado de todo esse sofrimento e dor.
Mas veja a causa da dureza de coração. Isaías diz: “Ó Senhor, por que nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que te não temamos?” De acordo com Isaías, Deus endurecera seus corações! Como isto pode ser! Ou Isaías está simplesmente culpando a Deus pelos pecados do povo?
Aqui vemos algo que não é pregado com freqüência, mas que é verdadeiro. Quando o povo de Deus começa a se desviar pouco a pouco para o caminho do pecado, Deus oferece-lhe por algum tempo oportunidades de arrependimento. Se estas oportunidades forem desprezadas, ele o entrega de forma mais completa aos seus caminhos tortuosos. A primeira manifestação da sua disciplina é no sentido de retirar de nós o desejo de voltar para ele.
A tristeza dos nossos tempos atuais está justamente aqui. Temos ouvido durante anos que se não nos arrependermos dos nossos pecados, Deus enviará juízo sobre nós. Podemos pensar que estamos escapando de tais conseqüências, porque nada de tão mal nos tem acontecido. O que não entendemos é que o juízo de Deus já começou. Nossa própria apatia sobre coisas espirituais é a primeira parte do juízo de Deus sobre nós.
Veja como é fútil dizer que podemos ter avivamento na hora que o quisermos. O problema é que nossos corações estão tão endurecidos que não queremos avivamento. Só Deus pode remover esta dureza. Não existe nenhuma forma de estímulo ou indução que o resolverá; tem de ser o próprio Deus!
Mas o profeta ainda não terminou. Diz ainda que o povo precisa de Deus porque foram pisados (Is 63.18,19). Esta condição aparece de duas formas. Primeiro, por terem sido completamente dominados pelos seus inimigos (v.18), e segundo, porque chegaram ao ponto de serem iguais a pessoas sobre quem Deus nunca governou.
É impossível descer para um ponto mais baixo do que este: dominados por ímpios, e até mesmo se assemelhando aos ímpios que os venceram. Nem é preciso dizer o quanto este quadro se encaixa com nossa situação hoje. Nossos inimigos parecem estar triunfando sobre nós por toda parte. Ensinamentos cristãos são ridicularizados e se tornam alvo de deboche na televisão e no cinema. O respeito cristão pela vida é desafiado de forma monstruosa através do massacre indiscriminado de fetos pelo aborto. E ao invés de resistir a estas coisas, muitos cristãos estão se apressando a encobri-las ou a se acomodar a elas. Com toda certeza, estamos nos parecendo com os ímpios que nos venceram!
Outra vez digo: Precisamos de Deus! Somente Deus pode nos restaurar da nossa condição de povo pisado e vencido pelos inimigos. Somente Deus pode remover nosso opróbrio e nos restaurar para onde deveríamos estar.
Mas precisamos de Deus não só para avivamento; precisamos dele também…
2. Para a Conversão de pecadores
“…para fazeres notório o teu nome aos teus adversários”, Isaías orou. Este é o objetivo da igreja. Queremos ver o nome de Deus revelado àqueles que não o conhecem. Mas fico a pensar se entendemos a complexidade desta tarefa, e como dependemos inteiramente de Deus para realizá-la.
Isaías usa três metáforas para comunicar o que está envolvido em Deus fazer notório o seu nome. Primeiro, ele fala dos montes tremerem, “derreterem” (tradução do termo usado na versão KJV em inglês), ou ainda “escoarem” (Edição Corrigida), diante da presença de Deus. Que símbolo apropriado é a montanha para a vida do pecador! O pecador é uma cordilheira de montanhas disposta em oposição a Deus. Tem em seu coração montanhas de resistência, dureza, obstinação, incredulidade, orgulho e cegueira, que se opõem ao conhecimento de Deus.
Isaías também menciona a frieza da água. Tão frígido é o coração do pecador que qualquer influência espiritual logo é esfriada e exterminada. Ele precisa urgentemente de fogo para derreter o gelo e fazer a água ferver.
Finalmente, Isaías também menciona os gravetos. A idéia aqui é de pequeno galhos, ramos e folhas, todos entrelaçados e emaranhados. É uma figura do coração humano, cheio de ervas daninhas, galhos, e toda espécie de vegetação selvagem, fora de controle. São os espinhos da parábola de Jesus (Mt 13.7,22). Antes que o pecador possa se converter, a Palavra de Deus precisa encontrar boa terra para poder lançar raízes. Enquanto há ervas e espinhos, a Palavra não pode se estabelecer. O mato precisa ser queimado primeiro.
Estas imagens devem reforçar para nós a verdade que pecadores estão na mais temível e deplorável condição imaginável, e ao mesmo tempo a verdade correspondente de que pecadores não são facilmente ganhos para o Senhor. Podemos nos armar com toda espécie de técnica evangelística, argumento sagaz, e propaganda cativante a respeito dos programas de entretenimento que estamos promovendo na igreja; mas ainda não seremos capazes de vencer a dureza, a frieza, e o emaranhado que há no coração do pecador. Podemos organizar teatros e seminários, podemos conversar animada-mente sobre como estamos entusiasmados com nossa igreja, e de como ficamos mais vibrantes depois que nos tornamos cristãos – e mesmo assim o pecador ficará olhando sem entender nada, ou irá embora achando graça.
Só há uma coisa que pode derreter a montanha, ferver a água, e consumir o mato entrelaçado do coração do pecador – e isso é o fogo de Deus! O poder de Deus é o que precisamos! Estou convencido de que a igreja não poderá realmente evangelizar enquanto não se colocar de joelhos para buscar o poder que convence, o poder que converte, e que vem de Deus!
A igreja, então, tem duas grandes necessidades. Precisa de avivamento para si mesma, e de conversão para aqueles que não conhecem a Deus. Ela é completamente incapaz de realizar estas coisas por si mesma. Que todos nós que fazemos parte da igreja, e que ansiamos por ver avivamento e conversões, nos coloquemos de joelhos para orar junto com Isaías: “Desce, Senhor. Precisamos de ti!”
Respostas de 2
Estamos no mesmo “barco” que Isaías se encontrava quando fez tal declaração ao Senhor, aqui na cidade em que viemos, Caxambu/MG, por ordem do Senhor para que, juntos com a Igreja, promover reuniões de adoração e intercessão por avivamento.
Quanto mais divulgamos, convidamos, a resposta tem sido negativa !
É como se ouvissemos: “está tudo bem conosco, não é necessário preocupar-se com isso”!
Vejo que não há muita diferença entre o tempo de Isaias e o tempo de hoje. O homem é o mesmo, o pecado é o mesmo e nós precisamos de Deus e de avivamento.. Há falta sim de um avivamento genuíno.