Por: Horatius Bonar
“Estai, pois, firmes” (Ef 6.14).
“Sede sóbrios e vigilantes” (1 Pe 5.8).
“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus” (2 Tm 2.1).
“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos” (1 Co 16.13).
O apóstolo Paulo dirige-se a nós como a soldados: “Tome posição, resista firme, não fuja, seja corajoso, mantenha o que já conquistou. Ele nos trata também como mestres e testemunhas: “Fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus”. O apóstolo Pedro exorta-nos como sentinelas: “Vigie, não abaixe a guarda sequer um minuto, não cochile”.
Queremos chamar atenção, especialmente, à última das quatro passagens acima, porém interligando-a com as diversas exortações contidas nas outras. Veremos que uma dá suporte à outra e que todas nos convocam a uma vida de coragem, vigilância, audácia e força perseverante. Nada de moleza, preguiça ou covardia; que não haja atitude de guardar a espada, retroceder no dia da batalha ou recuar devido ao calor ou peso do dia.
Sede vigilantes
O servo observa atentamente as palavras do Mestre: “Sede vigilantes”, pois são palavras usadas especialmente por ele. Das 21 vezes em que elas aparecem no Novo Testamento, 12 se encontram nos Evangelhos. O Senhor percebeu que a Igreja necessitaria dessa palavra como seu lema e regra de vida. Nossa tendência é abaixar a guarda e adormecer; por isso, somos exortados a vigiar.
Precisamos vigiar contra perigos tanto de dentro quanto de fora. Temos que vigiar constantemente. Uma hora de desatenção pode gerar um mal incalculável para nós mesmos e para os outros. Se o piloto de um navio adormecesse no leme, ou o zelador no farol do porto, ou o maquinista no trem, quais seriam as consequências?
Devemos vigiar:
1. quanto a nós mesmos, nossa incredulidade, carnalidade, indolência, egoísmo, cobiça, mau humor, vaidade e mundanismo;
2. quanto ao mundo, seus erros, loucuras, satisfações, celebrações, tentações, pecados explícitos, companhias fúteis;
3. quanto a Satanás, suas armadilhas, ilusões, argumentos, dardos inflamados.
Contra tudo isso, deve haver vigilância vigorosa, honesta, corajosa, incessante e intransigente. Nenhuma trégua com os inimigos de Cristo, nenhuma amizade com a semente da serpente, nenhuma aliança com este mundo perverso.
Permanecei firmes na fé
A palavra aqui é simplesmente permanecer, manter sua posição, com ênfase na fé, nas coisas em que acreditamos com mais firmeza. A exortação parte da premissa de que já estamos na fé; e conclama-nos a abraçar as verdades que recebemos por intermédio dela. Não é sobre a quantidade ou qualidade de nossa própria fé que o apóstolo está falando, mas sobre a excelência, a plenitude, a veracidade e a suficiência das verdades em que cremos. Pois é delas, e não dos nossos próprios atos de fé, que podemos extrair toda a paz, a força e a santidade às quais somos chamados pelo Evangelho.
Essa permanência ou posição não é estabelecida na ignorância, mas no conhecimento. É inteligente e razoável. Não é uma obstinação, ou um apego extravagante às próprias ideias. É uma fidelidade de mente aberta e coração amplo àquilo que foi revelado e comprovado como sendo verdade da parte de Deus. Permaneça firme nestes dias quando muitos estão caindo, tropeçando ou afastando-se da base. Permaneça firme; mas certifique-se de que é na fé, a antiga fé apostólica.
Fortalecei-vos
A palavra fortalecer denota vigor e poder, seja de alma ou de corpo. É a palavra usada a respeito de João e, depois, de Jesus: “O menino crescia e se fortalecia em espírito” (Lc 1.80; 2.40). Devemos ser fortes em todos os sentidos e de todas as formas; forte na mente, forte na vontade, forte no propósito, forte na fé. É o contrário de ser fraco, tímido, covarde, sem convicções, indeciso, vacilante. Quem se tornou forte em Deus não teme enfrentar o perigo, a dificuldade, o trabalho árduo, a perda ou a vergonha. “Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo Jesus” (2 Tm 2.3).
Um verdadeiro servo de Deus não é covarde, nem age como mero soldado figurante no desfile cívico; ele está sempre pronto para a guerra e não desiste no dia da batalha. A força cristã é a verdadeira força. O vigor cristão é uma das qualidades que glorifica a Deus em nós. A bravura cristã torna-nos herdeiros e seguidores dos santos primitivos, daqueles que foram mártires, reformadores e pactuantes (ou covenanters*). Enquanto os homens nos ridicularizam como defensores de uma “teologia sem fibra”, devemos mostrar-lhes o que é força de verdade: suportar dificuldades e sofrimentos e não temer inimigo algum.
O velho inimigo ainda reúne seus exércitos para lutar contra os santos de Deus; ele continua lançando seus dardos inflamados, a artilharia do inferno. Ele nos desafia para o conflito. E temos de lutar, vigiar e trabalhar; nossas espadas desembainhadas, nossos corpos revestidos inteiramente pela armadura, nosso rosto de frente para o adversário. Nenhum pensamento de fuga covarde. Nenhum desejo de fazer um acordo ou de ceder para o inimigo.
Em frente! Combata o bom combate da fé. O Capitão logo estará aqui; e sua aparição no campo de batalha será o final da disputa, o sinal de vitória. Em seguida, vem a recompensa do vencedor, a coroa de triunfo do guerreiro, a canção da batalha vitoriosa, a entrada do exército com bandeiras através dos portões da cidade.
Extraído de Light and Truth: The Lesser Epistles (Luz e verdade: as epístolas menores), de Horatius Bonar.
* Covenanters (pactuantes). Os partidários do movimento presbiteriano escocês do século 17, de oposição à interferência da coroa britânica na igreja; foram duramente perseguidos e mortos por sua oposição corajosa ao lado da verdade.