Andrew Murray
“Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22.32).
“… vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25).
Todo crescimento na vida espiritual está relacionado com uma percepção mais clara daquilo que Jesus significa para nós. Quanto mais eu compreendo que Cristo deve ser tudo para mim e em mim, e que de fato tudo que está em Cristo foi designado para mim, mais eu aprendo a viver a verdadeira vida de fé, que consiste em morrer para mim mesmo e viver totalmente em Cristo. A vida cristã deixa de ser o fútil esforço para viver corretamente, e passa a ser descansar em Cristo e encontrar força nele como nossa vida, para batalhar e conquistar a vitória da fé.
Isso se aplica especialmente à vida de oração. À medida que ela, também, se coloca somente debaixo da lei da fé e é vista à luz da plenitude e perfeição que há em Jesus, a oração não precisa mais ser motivo de esforço ou ansiedade. Pode ser, pelo contrário, uma experiência constante daquilo que Cristo fará por nós e em nós, uma participação da vida de Jesus que, assim na terra como no céu, sempre ascende ao Pai como uma oração. Sendo assim, começamos a orar não apenas confiando nos méritos de Jesus ou na intercessão que torna nossas pobres e limitadas súplicas aceitáveis a Deus, mas firmados naquela união íntima e estreita que permite que ele ore em nós e nós nele.
Participação com Cristo na intercessão
Todo o significado e a obra da salvação estão contidos no próprio Cristo. Ele deu a si mesmo por nós e vive em nós. Porque ele ora, nós oramos também. Quando os discípulos viram Jesus orar, pediram que os fizesse participar de tudo o que ele conhecia na oração. Do mesmo modo, ao vê-lo como intercessor no trono, nosso desejo é participar, juntamente com ele, de sua vida de oração.
Portanto, não participamos somente dos benefícios de sua obra de salvação, mas da própria obra. Afinal, somos seu Corpo. O Corpo e os membros são um só. A cabeça não pode dizer aos pés: “Não preciso de vocês” (1 Co 12.21). Fazemos parte com Jesus de tudo o que ele é e tudo o que ele tem. “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado” (Jo 17.22). Somos participantes de sua vida, sua justiça, sua obra. Também, participamos com ele de sua intercessão; não é uma obra que ele realiza sem nós.
Nossa fé na intercessão de Jesus não deve ser apenas no sentido de que ele ora no nosso lugar quando não oramos ou não conseguimos orar. Como autor da nossa vida e da nossa fé, ele nos leva a orar em uníssono consigo mesmo. Nossa oração deve ser uma obra de fé neste sentido também. Como sabemos que Jesus transmite toda sua vida a nós, não é difícil aceitar que ele possa soprar em nós aquela vida e atitude de oração que pertence somente a ele.
Para muitos cristãos, um novo dia na vida espiritual começa quando recebem a revelação de Cristo como sua vida total e verdadeira, o fiador capaz de garanti-los diante de Deus e de mantê-los fiéis e obedientes até o fim. É a partir desse momento que começam a viver, de fato, uma vida de fé. A descoberta de que Cristo é o provedor da nossa vida de oração não é menos revolucionária. Ele é o centro e a personificação de toda oração, que só pode ser comunicada pelo Espírito Santo a nós.
“Vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). Como Cabeça do Corpo, como o líder do novo e vivo caminho, que ele abriu como autor e consumador da nossa fé, ele provê tudo para seus redimidos, comunicando-lhes a própria vida. Ele cuida da vida de oração de cada um de nós, incluindo-nos em sua natureza celestial, implantando e mantendo seu espírito de oração em nós.
“Eu, porém, roguei por ti”, não para tornar sua fé desnecessária, mas “para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22.32). Nossa fé e nossa oração são fundamentadas na fé e na oração dele. A única condição é “se permanecerdes em mim”, naquele que é o intercessor que vive para sempre, e se orarmos com ele e nele. Assim, “pedireis o que quiserdes, e vos será feito”.
Intercessão pela salvação de outros
O conceito de nossa comunhão com a intercessão de Jesus nos faz lembrar do que ele nos ensinou em mais de uma ocasião – como todas essas maravilhosas promessas de oração têm como alvo e motivação a glória de Deus na manifestação do seu Reino e na salvação dos pecadores. Enquanto orarmos somente por nós mesmos, as promessas da última noite de Jesus com seus discípulos antes da cruz terão de permanecer como livro lacrado para nós. Essas promessas foram dadas aos ramos da videira que produzem fruto e aos discípulos que foram enviados ao mundo, assim como o Pai enviou o Filho, para viver em favor daqueles que perecem. As promessas foram dadas para os servos fiéis e amigos íntimos que assumiriam a obra que o Mestre lhes deixou, que se tornariam, à semelhança de seu Senhor, como o grão de trigo, perdendo sua vida para multiplicá-la muitas vezes mais.
Que cada um de nós descubra qual é a obra e quais as pessoas que nos foram confiadas e pelas quais devemos orar especificamente. Que nossa intercessão por elas se torne nossa vida de comunhão com Deus. Descobriremos, assim, que não só se cumprirão as promessas do poder de Deus na oração, mas, muito mais importante, ao permanecermos em Cristo e ele em nós, seremos participantes da própria alegria dele de abençoar e salvar vidas.
Ó maravilhosa intercessão de nosso bendito Senhor Jesus, não só porque garantiu nossa aceitação e perdão pelo Pai, mas também porque nela nos tornamos parceiros e cooperadores atuantes. Agora, entendemos melhor o que é orar em nome de Jesus e por que tal ação possui tanto poder. Em seu nome, em seu Espírito, incluídos em sua própria vida, em perfeita união com ele! Ó maravilhosa, sempre operante e perfeitamente eficaz intercessão do homem Jesus Cristo! Quando seremos de fato totalmente imersos nele, a fim de podermos sempre orar como parte da sua intercessão?
Bendito Senhor, em humilde adoração, eu me prostro diante de ti mais uma vez. Tua obra completa de redenção se tornou agora uma vida de oração. Tu estás completamente ocupado em manter e comunicar aquilo que compraste com teu sangue por meio da oração. Tu vives sempre para interceder por nós. Porque permanecemos em ti, o acesso direto ao Pai está sempre aberto. Podemos viver uma vida de oração incessante, e a resposta para cada oração é garantida.
Bendito Senhor, tu convidaste teu povo para cooperar contigo numa vida de oração. Tu uniste a ti mesmo com teu povo e fizeste que eles, como teu Corpo, participassem contigo nesse ministério de intercessão que é o único meio de encher o mundo com o fruto da tua redenção e com a glória do Pai. Com mais liberdade do que nunca, eu venho a ti, meu Senhor, e te suplico a ensinar-me a orar. Tua vida é oração e a tua vida é minha; portanto, ensina-me a orar em ti e como tu.
Ó meu Senhor, faze-me saber, especialmente, como prometeste a teus discípulos, que tu estás no Pai, e eu em ti, e tu em mim. Que o poder de união do Espírito Santo faça com que toda minha vida seja um permanecer em ti e na tua intercessão, para que minha intercessão seja um eco da tua. Assim, o Pai me ouvirá, pois estarei em ti e tu em mim. Senhor Jesus, que tua mente esteja completamente em mim, e minha vida completamente em ti. Assim, estarei preparado para ser o canal pelo qual a intercessão derramará abundantemente tua bênção no mundo. Amém!
Extraído e condensado de Com Cristo na Escola de Oração, de Andrew Murray, Editora dos Clássicos.