O que é…
1. Estar consciente da ofensa de alguém, e perdoar-lhe sem tentar negar, encobrir, desculpar ou fugir do fato ocorrido.
2. Fazer uma escolha para não guardar registros das ofensas contra nós (1 Co 13.5). Muitos casais guardam memória daquilo que o outro cônjuge fez há vários anos e o levantam cada vez que há uma nova discussão. Perdão não é ignorar, nem necessariamente esquecer, no sentido literal de não ter mais memória. É a escolha de não guardar a lista, de não usar os erros passados para incriminar o outro, nem em palavras, nem nos pensamentos ou coração. Perdão total não é um sentimento – pelo menos no princípio –, é uma decisão da vontade. É a escolha de rasgar nossa lista de ofensas que guardamos contra outra pessoa. É arrancar a raiz da amargura, antes mesmo que chegue a fixar-se no nosso coração. É um estilo de vida, uma atitude que precisa ser tomada conscientemente, dia após dia.
3. Não usar qualquer tratamento negativo para castigar o ofensor. Perdão total é doloroso. Custa caro abrir mão de toda espécie de vingança (fazer a pessoa pagar por ignorá-la, não conversar com ela, desprezá-la ou tratá-la mal). Causa-nos revolta pensar que a pessoa vai ficar isenta, que não sofrerá nada em conseqüência do mal que praticou, que ninguém ao menos saberá o que ela fez. Porém, quando reconhecemos plenamente o que a pessoa fez e aceitamos de coração que ela seja abençoada sem pagar nada pelo erro, atravessamos a fronteira para a esfera sobrenatural, para sermos semelhantes a Jesus.
4. Não contar a ofensa da pessoa aos outros. A única exceção a essa regra é quando você precisa procurar ajuda de alguém para superar sua ferida. Neste caso, é preciso procurar uma pessoa responsável que realmente tenha perspectiva bíblica para conduzi-lo ao perdão total, não um colega ou amigo que só reforçará ainda mais seus sentimentos de vítima injustiçada. Contar os erros de outra pessoa é uma forma de castigá-la. Precisamos lembrar que nossos próprios erros foram perdoados por Cristo na cruz e que quando os pecados são cobertos pelo sangue de Jesus, (1) ficamos isentos de qualquer castigo da parte de Deus e (2) ninguém mais ficará sabendo a respeito deles. Como, então, posso sair contando os pecados de outra pessoa, se Deus não me tratou assim?
5. Uma condição interior. Perdão total jamais poderá ser uma mera confissão ou declaração de palavras, sem uma verdadeira mudança de atitude interior. É por isso que perdão não depende de correspondência da outra parte, diferentemente do que ocorre com reconciliação. Quando há perdão total, independe da reação da outra pessoa. Não preciso ficar naquele jogo de definir quem deveria tomar a iniciativa. Não importa quem errou mais, quem teria a maior responsabilidade ou se você nem acha que errou. Perdão total é unilateral – se resulta em reconciliação, ótimo, pois esse é o desejo final de Deus. Porém, se não resultar em reconciliação, da mesma forma você fica livre de amargura, e o ofensor também se livrará de ser condenado por você. Mesmo que não seja restaurado o relacionamento, seu coração não terá mais rancor ou amargura. Estar livre no coração traz confiança no nosso relacionamento com Deus (1 Jo 3.21).
O que não é…
1. Aprovar o que o ofensor praticou. Deus nunca aprovou o pecado dos homens. Ele odeia o pecado. Expulsou Adão e Eva do Jardim, mas antes lhes preparou vestimentas de peles. No Novo Testamento, Jesus perdoou à mulher adúltera, mas não aprovou o que havia feito. “Deixe a sua vida de pecado”, ele lhe ordenou (Jo 8.11).
2. Negar que houve ofensa. Tentar reprimir ou apagar a memória não traz cura e quase sempre causa conseqüências negativas. É uma forma de fugir da realidade. Perdão total só pode ser oferecido depois que se encara o fato de frente e reconhece o que aconteceu. Paulo afirma que o amor “não se ressente do mal” (1 Co 13.5, Edição Revista e Atualizada), que “não guarda rancor” (NVI) ou, ainda, que “não guarda registro de ofensas” (tradução literal da NVI em inglês). Isso, porém, não significa que é preciso fechar os olhos diante da ofensa; apesar de reconhecer e confrontar o erro, o amor não o leva em conta, não guarda uma lista com as mágoas ou pontos negativos da outra pessoa.
3. Desculpar o que o ofensor fez. No deserto, o povo de Israel passou dos limites até da longanimidade de Deus, em Números 14. Deus falou com Moisés que queria destruir toda a nação e começar tudo de novo. Quando Moisés intercedeu em favor do povo, ele não apresentou nenhuma desculpa ou justificativa pelo erro deles; apenas apelou para a misericórdia divina (Nm 14.19).
4. Isentar o ofensor das conseqüências do seu erro. Podemos perdoar um criminoso por seu ato contra nós ou contra uma pessoa próxima a nós; mesmo assim, devemos denunciá-lo à justiça ou testemunhar contra ele, se for necessário.
5. Reconciliar-se com o ofensor. Perdão abre o caminho e visa obter reconciliação, mas não é a mesma coisa. Uma pessoa prejudicada pode perdoar a um ofensor mesmo sem ser reconciliada com ele. O perdão depende somente de um lado; a reconciliação, de ambas as partes envolvidas.
Extraído e adaptado do livro “Total Forgiveness” (Perdão Total), R. T. Kendall, Charisma House, 2002.