Por: Ezequiel Netto
Introdução
Pouco mais de 1600 anos após sua criação, o ser humano se afastou tanto dos projetos de Deus, seu Criador, e deu tanto lugar ao pecado que a ira divina foi derramada sobre a Terra de forma nunca mais vista ou experimentada. Essa explosão da ira de Deus, manifestada através do dilúvio, não atingiu apenas a humanidade, mas causou transformações irreversíveis sobre todo o nosso planeta. Essa grande catástrofe universal foi considerada de tamanha importância pelo escritor do livro de Gênesis que lhe dedicou mais espaço do que para o relato da criação.
Resumidamente, a Bíblia nos diz o seguinte sobre o período do dilúvio:
• A humanidade havia-se corrompido em extremo, e foi-lhe dado um prazo de 120 anos para arrependimento (6.3-7);
• Noé entrou na arca 7 dias antes de começar a chover (7.4,10);
• Choveu sobre a Terra durante 40 dias (7.12);
• Os seres vivos que foram preservados ficaram na arca durante 1 ano e 10 dias (5 meses flutuando e 7 meses na montanha) (7.11; 8.14).
No meio cristão ainda paira uma grande dúvida, não em relação à existência do dilúvio, mas se ele foi realmente universal ou apenas regional. Segundo o Manual Bíblico Vida Nova, aqueles que defendem a idéia de um dilúvio regional usam como argumentos o fato de não existir na Terra uma quantidade de água necessária para cobrir as montanhas mais altas (seria necessário um volume oito vezes maior que o total de água disponível no planeta), os problemas práticos para abrigar e alimentar tantos animais durante um ano, a destruição de toda a vida vegetal submersa em água salgada por um ano, e ainda a idéia de que para destruir a raça humana era necessária apenas uma inundação nas áreas habitadas naquele tempo.
Quem assim pensa não levou em consideração: a duração do dilúvio, já que uma inundação local teria baixado em poucos dias; a distribuição humana que não se restringia a uma área geográfica tão pequena; a geografia e o relevo do planeta antes do dilúvio; e a capacidade ilimitada que Deus tem para agir na história.
Um dilúvio regional já seria bastante destruidor, como observamos recentemente com o Tsunami na Ásia e as histórias de alagamentos que ouvimos todos os dias nos jornais. Já um dilúvio em toda a Terra teria um poder de destruição incomparavelmente maior que o alcance de nossa imaginação. Assim, sem dúvida, os argumentos referentes a um dilúvio universal parecem mais fortes, até mesmo pelo fato de que, se o dilúvio fosse mesmo regional, não seria necessária a construção de uma arca imensa, pois bastava uma migração da família de Noé com os animais selecionados. As palavras dos capítulos 6 a 9 de Gênesis são mais bem interpretadas como um dilúvio em toda a Terra (7.19-23).
Existem tradições sobre um dilúvio de proporção universal comuns a muitos povos espalhados pelo mundo (esse fato só pode ser explicado se todos os povos tivessem uma ascendência comum, Noé e seus filhos). Tradições de um dilúvio catastrófico são encontradas em cerca de 200 culturas antigas – egípcia, grega, hindu, chinesa, inglesa, polinésia, mexicana, peruana, dos aborígines americanos e da Groenlândia (Manual de Halley).
A Extraordinária Fonte de Água
Alguns estudiosos que defendem a idéia de um dilúvio apenas regional alegam que não existia água suficiente na Terra para cobrir os mais altos montes, apesar de a Bíblia afirmar que foram cobertos em 15 côvados (7 metros e meio). Mas qual seria a origem de tanta água?
No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. (Gn 7.11,12).
Esse trecho usa duas expressões muito interessantes sobre a origem das águas do dilúvio:
• romperam-se todas as fontes do grande abismo;
• as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra.
A abertura das comportas dos céus fez com que toda a água que estava acima da atmosfera (Gn 1.6-7), formando um grande dossel de vapor (assunto abordado no artigo anterior sobre o efeito estufa), descesse sobre a Terra durante quarenta dias. Alguns estudiosos acreditam que nesse período chuvoso a Terra tenha sido também bombardeada por uma chuva de muitos meteoros.
Toda a água que se encontrava abaixo da superfície da Terra veio para cima, ao “romperem-se todas as fontes do grande abismo”. Antes do dilúvio, havia um bloco único continental também conhecido como Pangéia. Este sofreu imensas rachaduras, sendo destruído pelas chuvas torrenciais e pelas águas subterrâneas que afloravam sobre a Terra. Essa água, acompanhada de grande quantidade de lama, causou a morte de todos os animais, plantas e seres humanos que não estavam protegidos na arca de Noé.
Separação dos Continentes
Esse fato também explica a origem dos fósseis já encontrados, pois a grande maioria desses fósseis foi produzida em rochas sedimentares (processo pelo qual substâncias minerais ou rochosas, ou substâncias de origem orgânica, depositam-se em ambiente aquoso). Esse fenômeno fez também com que os continentes fossem se separando durante o período do dilúvio, encontrando-se atualmente em processo de acomodação. Há considerável evidência de que os continentes se moveram, separando-se. Pode não ter ocorrido que todo o movimento das placas dos continentes fosse completado durante o dilúvio; e movimentos significativos das placas podem ter continuado por algum tempo após o dilúvio.
De qualquer forma, as causas desse movimento não são bem compreendidas. Não se sabe se um movimento rápido das placas pode ter sido facilitado pelas “águas sob a terra” ou o rompimento das “fontes do abismo”, mas vale a pena considerar essa possibilidade. Atualmente, elas se movem muito lentamente, mas poderiam se mover mais rápido se houvesse condições apropriadas. No tempo presente, o monte Everest tem 2 m a mais do que tinha quando medido em 1954 pelos geólogos, devido a esse constante movimento das placas tectônicas.
Atualmente existem duas teorias com o objetivo de explicar o afastamento continental e a deformação da crosta terrestre com a formação das montanhas e outros acidentes geográficos (platôs, bacias oceânicas). Uma delas fala de um lento afastamento continental a partir de forças internas que atuam sobre eles (teoria das placas tectônicas) e a outra defende um afastamento rápido dos continentes, considerando que os mesmos “boiavam” e foram deslizando sobre as águas subterrâneas (teoria da deriva continental).
Embora a Bíblia não ofereça qualquer explicação sobre isso, podemos concluir que o fato do dilúvio tende a favorecer mais a última idéia de um afastamento rápido e cataclísmico, sendo que atualmente esse afastamento ainda continua, mas de forma muito lenta (pois estamos no período de acomodação dessas placas), o que origina os terremotos, maremotos e erupções vulcânicas atuais. Observando essas tragédias atuais causadas por tais fenômenos da natureza, o que não poderíamos imaginar sobre as conseqüências de um movimento rápido dessas placas, durante o dilúvio…?
Existe uma hipótese que diz que os dinossauros morreram com a queda de um grande meteoro na Terra, a qual é ensinada nas escolas como um fato já estabelecido. Costumamos repeti-la sem ao menos pensar no fato de que o meteoro matou animais tão grandes e resistentes como dinossauros, mas deixou vivas outras espécies animais bem mais sensíveis e frágeis. Por outro lado, o dilúvio explica bem a grande mortandade desses animais, pois devido ao tamanho de algumas espécies, seria necessária uma grande quantidade de material e, também, um tempo curto para sedimentá-los.
As águas que desceram do céu e, também, as que vieram do subsolo foram suficientes para cobrir em 15 côvados as montanhas mais altas por dois motivos: 1) a superfície terrestre era bem mais plana naquele período; e 2) as montanhas atuais foram formadas por compressão ou sobreposição da crosta terrestre, na época em que as placas continentais estacionaram e todo esse material foi-se projetando para cima.
Já ouvi alguns estudiosos afirmarem que os continentes se separaram quando houve a divisão da Terra nos dias de Pelegue (Gn 10.25). A idéia que esse texto nos dá é que o território estava sendo dividido entre eles e não que as placas continentais estavam-se separando. Um fato que contribui para essa idéia é que as diferenças entre os animais terrestres da América do Sul e da África são tão grandes que parece pouco provável que esses continentes estivessem ligados após o dilúvio.
Em Que nos Basear?
A Bíblia relata os acontecimentos de forma bastante resumida (2.000 anos de história são relatados do cap 2 ao cap 12 de Gênesis), e seu objetivo não é comprovar cientificamente os fatos, mas traçar a história da humanidade para que possamos compreender melhor a questão do pecado e como o homem deveria proceder para se aproximar novamente de seu Criador. Mas como podemos perceber neste artigo, a história bíblica não está em desacordo com as descobertas científicas, nem com as leis da natureza. Existe sim uma divergência muito grande com algumas hipóteses e teorias (como a da evolução das espécies), que até hoje não puderam ser comprovadas cientificamente, mas que são divulgadas na televisão, nas revistas e nas escolas como um fato concreto e indiscutível. Muitos cientistas atuais ainda insistem em desenvolver suas pesquisas e raciocínios partindo de um princípio de que Deus não existe e que a Bíblia é um exemplo de alienação do verdadeiro conhecimento moderno. Muitas teorias vêm e vão, outras são bastante difundidas e logo caem em desuso, mas a Palavra de Deus permanece para sempre. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl 111.10). Milhões de dólares são gastos em pesquisas para se descobrir o que já estava escrito na Bíblia há mais de 3 mil anos. Mas esse é um assunto para os próximos artigos…
Outras passagens bíblicas acerca do dilúvio: Gn 10.1,32; 11.10; Sl 29.10; 104.6-9; Is 54.9; Mt 24.38-39; Lc 17.26-27; Hb 11.7; I Pe 3.20; 2 Pe 2.5;3.3-7
Fontes de pesquisa:
www.degeo.ufop.br/geobr/artigos/artigos_completos/volume3/celino.pdf
www.scb.org.br
http://www.revistacriacionista.com.br
http://www.universocriacionista.com.br
http://www.antesdelfin.com
Onde tudo começou? Uma pequena introdução ao Criacionismo – material produzido pelo prof. Adauto Lourenço
Manual Bíblico Vida Nova
Manual Bíblico de Halley
CR-Rom História da Vida (www.cpb.com.br)
Respostas de 12
Olá! Minha dúvida é a seguinte: se nessa época em que “a terra foi repartida” (ou dividida, em outras traduções), só houve uma demarcação e distribuição de povos entre as terras, e os continentes já estavam separados quando as águas do dilúvio baixaram, como os animais fizeram para repopular toda a Terra novamente?
Penso que quando acabou o dilúvio, pangéia estava apenas começando a se separar, dando tempo o suficiente para que animais e seres humanos pudessem se espalhar pela Terra. Daí então, vem o acontecimento de GN 10;25 que acaba de separar a terra em vários continentes, separando também cada pequeno povo e grupos de animais que já estavam em seus cantos. Eu acredito que essa passagem nos mostra essa repartição da Terra em continentes.
Bem observado 😉
Eh bem provável , estou de acordo !
Concordo que poderia ter essa divisão geográfica e por mais forte que seja a natureza eu não acho que tenha acontecido essa divisão de forma tão rápida, talvez mais rápido do que hoje. Tendo isso em vista, posso imaginar que houve um tempo para que novos povos e espécies de animais pudessem se desenvolver e se dirigir para os lugares que aqui estamos e ao longo do tempo ficaram cada vez mais longe como tem acontecido.
tens razão!
Notável e muito esclarecedor , em tempos em que a evangélicos acreditando na teoria da evolução mais que nas Sagradas Escrituras .
A explicação foi excelente vou indicar ela no meu Blog.
O incrível é existirem crentes que acreditam em dinossauros na Arca de Noé e que depois do Dilúvio os continentes ainda passaram por um processo de separação.
Esplêndido e esclarecedor, texto bem fundamentado e bem dentro da nossa realidade humana, sem sensacionalismo e com muita base arqueológica e geográfica, capaz de nos fazer entender a teoria bíblica, refletir e comparar com teoria científica.
Desculpe Andreia, mas como geógrafo posso afirmar que a suposta separação dos continentes apenas após o dilúvio (ou seja de 5 mil anos para cá, mais ou menos) não tem nenhuma base científica. Isso porque um afastamento tão repentino abalaria o planeta de tal forma que extinguiria a vida no planeta. Explicando de uma forma simples só para você ter uma ideia, atualmente o Serviço Geológico dos Estados Unidos estima que ocorram 17 terremotos de grande magnitude por ano, grande parte deles por conta da movimentação de placas tectônicas – que é o que permite que blocos continentais se movam. A velocidade atual do afastamento da placa sul-americana da africana, por exemplo, é de 10 cm em média por ano, o que remonta a data em que os dois continentes estiveram juntos para 230 milhões de anos atrás. Se reduzíssemos esse período de afastamento para 5 mil anos, consequentemente o número de grandes terremotos (aqueles que trazem grandes estragos) aumentaria na mesma proporção, ou seja 46 mil vezes a mais que hoje, e provavelmente alguns desses terremotos teriam magnitudes inimagináveis para nós. Seria como viver em cima de uma gelatina em meio a um vendaval. Mesmo que sobrasse alguém para contar história, certamente não deixaria de relatar tanta tremedeira.
Portanto, como cristão que também sou, penso ser mais plausível considerar que o dilúvio tenha sido universal apenas na perspectiva de quem viveu o fato, ou seja Noé teve a impressão de a água inundou o mundo inteiro e para ele, bem como para os hebreus antigos, não importava saber mais do que isso. No entanto, ao que tudo indica o dilúvio foi apenas regional.
Mesmo porque como os outros continentes seriam povoados, tanto por animais quanto por pessoas? Pois a arca aportou em um lugar específico e as grandes navegações só começaram tempos depois. É uma parte bem complexa, mas a palavra de Deus é um mistério
Você pensou racionalmente e teve embasamento. Só com fé mesmo pra acreditar em coisas impossíveis da bíblia, se for racionalizar o que há escrito você deixa de acreditar.
Everton, entendo que vc está analisando de uma perspectiva de um geólogo, numa perspectiva natural, no entanto Deus tem o controle de todo universo, pois Ele, Deus, tudo criou. O texto bíblico diz o seguinte:
No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. (Gn 7.11,12). Observe que o texto bíblico diz que romperam-se TODAS as fontes do grande abismo. Se imaginarmos que os abismos se romperam quando a arca já estava sobre as águas, o rompimento acelerado dos abismos apenas deu passagem à maiores quantidades de água de modo que as águas foram subindo mais rapidamente enquanto os continentes se separavam. Se todas as fontes do grande abismo se romperam, com certeza o dilúvio foi universal, pois tendo em vista que sob a terra existem os lençóis freáticos, suponho que o afastamento dos continentes foi o rompimento dessas fontes permitindo a passagem da agua submersa para a superfície da terra.
Acredito que toda as aguas do grande abismo somadas a da chuva foi suficiente para cobrir toda a terra.
Mas se quando as águas do dilúvio baixaram a terra já estava dividida, como alguns animais e os seres humanos foram parar nos outros continentes?
Se Deus fez com que os animais entrassem juntos na arca, poderia também, fazer com que aves de grande porte passassem de um continente para outro e até mesmo carregassem outros animais, tendo em vista, a separação dos continentes terem sido recente e logo haver pouca distância em alguns pontos.
Podendo também, ter pontos de divisões continentais, que ficaram “pertos” tipo, 2 ou três continentes…