Por Pedro Arruda
Através de um organograma, pode-se observar a distribuição dos órgãos de uma organização, verificando-se inclusive a hierarquia entre eles. Semelhantemente, também é possível observar os principais cargos que ela contém. O cargo é um posto inerente à organização, impessoal, e pode existir por tempo indefinido, mesmo sem ser ocupado por um profissional. O cargo poderá ser atribuído até mesmo a profissionais que já se desligaram da organização, a título honorífico, sem jamais comprometer a produção dela, como ocorre com muitos aposentados ou jubilados, que conservam suas patentes e títulos.
Parte do conteúdo de um cargo são as funções previstas a serem executadas pelo profissional que o ocupe. Estas dizem respeito à pessoa, uma vez que seu serviço é indispensável ao funcionamento, bem como à eficiência e à qualidade. A função não pode ficar vaga, pois se não houver quem a execute, não haverá produção; a qualificação do profissional determinará a qualidade do produto, e da sua eficiência dependerá a quantidade da produção.
Cargos na Igreja
A importância dos cargos na igreja é proporcional à sua organização, sendo que com as funções ocorre o inverso. Os cargos ganharam tal relevância que em muitos casos ultrapassaram a própria esfera eclesiástica e atingiram um status social, equiparado aos cargos de outros meios. É conhecida a clássica saudação dos discursos referindo-se às “autoridades, civis, militares e eclesiásticas” e a lista de pronomes de tratamento, próprios para a distinção dessas autoridades eclesiásticas e para a hierarquia que ocupam na igreja organizada.
A evidência da extrapolação em busca de um status social mais amplo se percebe quando as pessoas investidas desses cargos buscam uma projeção na área político-partidária, percorrendo caminhos semelhantes a outros dirigentes classistas que fizeram do meio de origem um trampolim para a pretendida projeção. Como em toda organização, a igreja é detentora dos cargos, os quais, sempre é bom lembrar, não são indispensáveis.
Outra consideração que não podemos omitir é a discutível competência organizacional da igreja, pois não obstante estar provida de uma série de cargos, ela tem-se caracterizado por sobrecarregar alguns enquanto forma um exército de desocupados em relação às tarefas que lhe são inerentes.
Funções na Igreja
O contraponto de Organização é o Organismo, que não diz respeito a cargos, mas a funções, que estão perfeitamente adequadas a termos como corpo, vida e funcionamento, aplicados perfeitamente à igreja, na sua essência. Os membros de um corpo não têm cargos, mas sim funções. Função diz respeito ao funcionamento, e ai de nós quando um dos membros ou órgãos deixa de funcionar. Cada um deles executa diferentes funções, todas necessárias, mas alguns desempenham funções vitais, sem as quais é impossível a vida. O funcionamento de cada um se traduz no serviço por ele prestado ao corpo. Quando algum deles deixa de prestar seu serviço ou o faz com qualidade precária, todo o corpo ressente-se dessa falta.
Seguindo esse mesmo raciocínio, assim também deve ser a igreja, na qual ninguém deveria se preocupar com cargos, e sim com a função, que se traduz em servir, como disse Jesus: “Quem quiser ser o maior, seja o que sirva” (Lc 22.25-26). Em outras palavras, Jesus disse que são os governos do mundo, em todas as esferas, sejam estatais, empresariais, sindicais ou militares, que se preocupam com cargos e hierarquia. Ao contrário do cargo, o simples exercício de uma função não proporciona projeção além da sua esfera de atuação.
Num corpo sadio, a subordinação de todos os membros é absoluta ao comando da cabeça, e, ao mesmo tempo, a importância de cada um é totalmente relativa às situações com que se depara. Se o momento é de saciar a fome, os movimentos executados pelos membros são para servir a boca. Se uma determinada ocorrência exige uma atenção absoluta, todos os demais membros se aquietam, canalizando a concentração aos olhos e ouvidos. Se for necessária uma fuga imediata, todas as energias serão destinadas aos membros inferiores para liderar a ação. De acordo com a situação, os demais membros se sujeitam à liderança daquele que for especialista na questão. Essa flexibilidade é impraticável à organização, por prever uma rigidez de comando através dos diferentes níveis hierárquicos representados pelos respectivos cargos.
Podemos concluir, então, que a igreja é um organismo vivo e ativo à medida que seus membros valorizam o desempenho de funções e desprezam a obstinação por cargos.