Por Richard Owen Roberts
Adaptado de uma mensagem dada na conferência “Heart-Cry for Revival”
(Clamor de Coração Por Avivamento), em abril de 2004, na Carolina do Norte, EUA.
Uma Conspiração de Justiça
Durante um breve período na minha vida, pastoreei uma igreja de aproximadamente 2.400 membros, poucos dos quais eram verdadeiramente convertidos. Apesar da oposição da junta de oficiais (ou conselho), manifestada logo após meu primeiro sermão, senti claramente que estava na vontade de Deus a minha permanência ali, mesmo que fosse por pouco tempo.
O desafio, porém, era muito grande. Orei bastante junto com minha esposa, Maggie, em favor do povo dessa igreja. E tivemos momentos poderosos nos cultos. Muitas vezes, a congregação parecia um mar de lenços. Nunca havíamos visto tantas lágrimas, tão regularmente, como ali. Mas não tivemos um único convertido durante um ano inteiro.
Conversávamos com as pessoas, individualmente, a respeito da cruz e da ressurreição. Nada, porém, de romper a situação, nada de verdadeiras conversões.
Maggie e eu ficamos perplexos: “Senhor”, perguntávamos, “por que nada acontece? Por que não há convertidos? Como pode haver tanta convicção de pecados e nenhuma libertação?”
Finalmente, a verdade brilhou sobre nós: havia uma conspiração maligna na igreja. As pessoas estavam aliadas umas às outras para impedirem-se mutuamente de violar o status quo, a situação vigente. Quando alguém demonstrava sinais de convicção e desejo de mudar, logo um enxame de parentes (por ser uma igreja cheia de laços de parentesco) mobilizava-se para impedir qualquer mudança ou atitude radical. Pode ter sido uma situação mais extrema do que em outros lugares, mas a maioria das igrejas tem esse tipo de fenômeno.
A igreja deveria ser uma conspiração de justiça, por meio da qual todos se aliassem para orar, lutar e dar suas vidas a fim de trazer a Cristo toda a comunidade em que estão inseridos. É nossa missão penetrar em cada camada da sociedade e em cada covil de maldade para podermos depois levantar as pessoas em oração a Deus e buscar uma revolução de justiça em suas vidas. Porém, ao invés disso, na maioria das igrejas temos um status quo e uma aliança invisível, talvez menos definida do que acabei de descrever, para impedir as pessoas de tomarem atitudes radicais em favor do reino de Deus. Creio que um dos grandes desafios que Deus está colocando diante de nós é a formação de conspirações de justiça nas nossas igrejas, através das quais as pessoas se unirão umas às outras para impactar as comunidades com o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo e para quebrar as conspirações malignas que tentam manter tudo exatamente como está.
“Segurando a Barra” Sozinho
Gênesis 18 conta uma das mais memoráveis experiências do patriarca Abraão, a sua intercessão em favor da situação em Sodoma e Gomorra. É uma história de alguém que ocupou uma posição sozinho diante de Deus. É uma coisa espantosa para se fazer. Posso dizer, com toda certeza, que as minhas experiências mais difíceis foram aquelas em que tive de tomar uma posição e “segurar a barra” sozinho. É sempre bem mais agradável – e até mais eficaz – ter outros ao seu lado, mas nem sempre podemos contar com isso em nossas vidas.
Talvez você, leitor, esteja numa situação, agora, em que está assumindo uma posição sozinho ao lado de Cristo. Se assim for, aceite, não murmure, nem procure um meio de escape. Se Deus o colocou numa posição estratégica, sozinho na brecha em favor da sua comunidade, então assuma seu posto! Entretanto, se, pela graça de Deus, houver outros para o apoiarem, atraia o maior número possível para juntos formarem uma conspiração de justiça para a glória do Senhor Jesus Cristo.
Abraão foi diante de Deus, em favor de Sodoma, sozinho. Além de estar sozinho, Abraão não compreendia totalmente a situação. Ele não tinha idéia da verdadeira profundidade de iniqüidade que havia em Sodoma e Gomorra. Veja como Deus caracterizou a atitude do povo dessas cidades:
“Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali” (Ez 16.49,50).
A Igreja Precisa se Arrepender
O grande problema da nossa sociedade ocidental hoje não vem dos homossexuais. A raiz do problema está na igreja que é arrogante. Tão arrogante que se acha no direito de rejeitar certas raças ou classes sociais de sua comunhão. Tão arrogante que não sente qualquer carga ou inquietação em favor dos pobres e necessitados. Tão arrogante que nem sente a necessidade de cair de rosto em terra em arrependimento diante de Deus. Se nossa sociedade for julgada, não será por causa dos homossexuais ou da perversão e corrupção generalizada que correm soltas por aí. Por mais que essas condutas sejam reprovadas e por mais maléfica que seja sua influência, o verdadeiro problema na nossa sociedade é uma igreja arrogante que não quer abaixar sua cabeça altiva.
Romanos 1 mostra por que Deus entrega os homens a uma mente reprovável (v. 28). Será que a situação hoje está pior do que em Sodoma? Não posso dizer. Mas posso afirmar que o problema da imoralidade é insignificante em relação à arrogância da igreja. Seria hipocrisia achar que Deus odeia a abominação do pecado enquanto tolera com indiferença a sua raiz. Qual é a raiz da homossexualidade? Se estudar todas as passagens das Escrituras que tratam desse assunto, verá que a raiz é o orgulho. A raiz de todo pecado sexual é orgulho. E tolerar o orgulho enquanto abomina o seu fruto é a mais descarada hipocrisia.
Se cada cristão fizesse uma confissão honesta de sua verdadeira condição interior, se fosse realmente sincero, teria de incluir um terrível problema com o orgulho. Normalmente, as pessoas não têm muita dificuldade em admitir isso. No entanto, embora o reconheçamos, geralmente somos muito tolerantes a esse respeito. Geralmente, o desculpamos. Como ousamos tolerar aquilo que nosso Pai celestial abomina? E como podemos fugir das claras declarações nas Escrituras de que, quando a medida da iniqüidade se completar, Deus há de julgar o mundo, a começar com a igreja?
Discernindo os Caminhos de Deus
Voltemos à experiência de Abraão, em Gênesis 18. O Senhor apareceu a ele, junto com mais dois homens. Abraão não compreendia plenamente o significado do encontro. Mas, por causa do seu temor de Deus, o segredo do Senhor lhe foi revelado. Muitos de nós somos surdos e mudos com relação ao segredo do Senhor. Não entendemos o que Deus está fazendo. Não compreendemos o significado das coisas que estão acontecendo ao nosso redor porque não tememos ao Senhor. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. E como Abraão tinha esse temor, Deus resolveu revelar-lhe o que estava para fazer. Se Deus não tivesse contado o seu segredo, Abraão não poderia ter suplicado como fez nessa ocasião.
Muitas vezes, desperdiçamos nosso tempo em oração porque não sabemos o que o Senhor está planejando fazer. Oh, que o segredo do coração de Deus possa ser revelado a nós e que em nós haja tal temor que isso possa acontecer! Foi assim que Abraão pôde tornar-se um intercessor.
Abraão aproximou-se de Deus. Ele não questionou a justiça do Senhor em destruir Sodoma. O que ele questionou foi a destruição dos justos junto com os injustos. Para isso temos base também. Abraão teve a coragem, a convicção e até a ajuda de Deus para ver que não seria coerente com a natureza divina destruir os justos com os ímpios.
Existe uma lógica na argumentação de Abraão com Deus. “Destruirás o justo com o ímpio? (…) Destruirás ainda assim, e não pouparás o lugar por amor dos cinqüenta justos que nele se encontram? Longe de ti o fazeres tal coisa, matares o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio” (Gn 18.23-25).
Você tem essa convicção? Você já disse a Deus: “Não é tua natureza fazer isso. Tu és um Deus de justiça. Se julgares nossa sociedade corrupta, o que acontecerá com aqueles que receberam a justiça imputada do nosso Senhor Jesus Cristo?”
Deus é justo e, em contraste com todo juiz terreno, ele não é influenciado por qualquer preconceito. Nosso Deus não é afetado por argumentos incendiários e tendenciosos. Nosso Deus não é inflamado por paixões pessoais nem movido por amizades pessoais. Ele não é detido por propinas. Não se confunde por causa de testemunhas mentirosas nem se comove com beleza física. Nosso Deus não é afetado por qualquer coisa que não seja a própria justiça. Se Deus trouxer juízo sobre nossa sociedade, será um ato de justiça divina. Entretanto, ainda temos base para interceder diante dele.
Existe um tom na intercessão de Abraão que, creio, é digno da nossa observação. Há uma ousadia na sua linha de argumentação, ao passar de cinqüenta a quarenta e cinco, depois a quarenta, trinta, vinte e, finalmente, dez justos que dariam uma razão para Deus não destruir a cidade. Sua ousadia deriva-se, claramente, do conhecimento de Deus que ele já possuía. Ao mesmo tempo, essa ousadia era misturada com cautela.
Você não percebe a ausência de arrogância? Ele está dizendo assim: “Já falei demais, Senhor. Se me recusares e me proibires de falar mais, vou compreender e aceitar. Mas já que estou com o teu ouvido, enquanto ainda estiveres me ouvindo, quero expor meu argumento”. Há momentos em que não temos o ouvido de Deus. Há outras ocasiões, na misericórdia de Deus, em que ele inclina o seu ouvido para nós. Quando isso acontece, não hesite em expor diante dele todos os fatos e todas as bases em que está edificando uma esperança.
Houve sucesso na intercessão de Abraão. Claramente, foi uma súplica intensa. Foi específica, foi sensível e foi persistente. Partiu de um coração humilde e atingiu o coração de Deus. O que Deus teria feito se Abraão tivesse abaixado o número mais uma vez? Não sabemos. Mas temos base para suplicar ao nosso Deus para dar mais algum tempo para a igreja, para nossa família, para nosso país e para o mundo.
Sentimos que nosso tempo está se esgotando, que a medida da iniqüidade, da arrogância, da independência do homem está enchendo o cálice da ira de Deus. A igreja está indiferente, em grande parte, e não sabe o que Deus está para fazer, muito menos está se colocando na brecha diante dele para suplicar por mais algum tempo, a fim de tirar os que gemem e suspiram, em virtude da injustiça, do meio do juízo.
Minha oração tem sido por uma solução do tamanho de Deus, o tipo de solução que Deus e somente Deus pode produzir. Você não gostaria de se ajuntar a mim nesse propósito?
Richard Owen Roberts é autor e conferencista sobre avivamento e dirige “International Awakening Ministries” em Wheaton, Illinois, EUA. (www.intl-awaken.com).
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A Oração que Abalou o Mundo
“Ó Soberano, tu fizeste os céus, a terra, o maré tudo o que neles há! Tu falaste pelo Espírito Santo por boca do teu servo, nosso pai Davi:Porque se enfurecem as nações, e os povos conspiram em vão?…
Os reis da terra se levantam, e os governantes se reúnem contra o Senhor e contra o seu Ungido:
De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com o povo de Israel nesta cidade para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse. Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus”. (At 4.24-30, NVI).
Esta foi a primeira oração coletiva da nascente igreja cristã registrada por Lucas em seu inteiro teor. Entendamos o conteúdo dessa oração.
1. Foi uma oração coletiva – o texto diz; “levantaram juntos a voz”;
2. Invocaram a Deus como Soberano, Criador dos céus e da terra, do mar e de tudo que neles há, e exaltaram os seus atributos;
3. Invocaram a própria palavra de Deus, lembrando o Salmo 2 de Davi;
4. Apresentaram a situação em que se encontravam;
5. Deixaram o problema nas mãos de Deus;
6. Pediram ousadia para pregar a palavra e sinais e prodígios para confirmá-la.
O texto termina dizendo que, tendo eles orado, o lugar em que estavam reunidos,
como que confirmando que a oração foi ouvida e que podiam esperar a realização do seu pedido.
E foi o que aconteceu.
Aqueles rudes homens do povo, simples pescadores da Galiléia, “homens comuns e sem instrução” como afirmaram as autoridades (At 4.13), começaram a pregar com a ousadia que haviam pedido ao Senhor. E que pregação!…
Anos mais tarde, quando Paulo e Silas pregavam em Tessalônica, alguns homens procuraram as autoridades e lhes disseram, gritando:
“Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17.6).
De fato, mudaram não somente o mundo conhecido de então, mas a partir daí o Cristianismo foi se espalhando e alterando esquemas, alterando a história, alterando costumes, alterando calendário e muito mais.
Pode-se dizer que a chamada “civilização ocidental” não seria o que é se não fosse o Evangelho que foi pregado por aqueles primeiros desbravadores que pediram “ousadia” numa oração simples, unida e coletiva que fez tremer o lugar onde estavam e mudou o curso do mundo!
Jesus Ourives
Respostas de 2
Sempre gostei da oração de Abraão em favor de Sodoma, já fiz algum estudo a respeito, e, me deliciei com a reflexão acima. tenho uma palavra para dar em um evento de família, e pensei em falar sobre oração.
Logo me veio à mente a oração de Abraão. Pesquisando, encontrei esse estudo que enriqueceu minha reflexão. Sou professor de EBD numa igreja Batista no Brasil, por isso me dedico ao estudo da Palavra de Deus. Gostei desse site, o qual já gravei no meu arquivo para novas pesquisas.
Gerson´Torres
Irmão Gerson… Deus o abençoe!