Por Adriel Tavares de Andrade
O dia-a-dia em Israel é pacato. Os soldados romanos vigiam as ruas e a cobrança de impostos, enquanto Herodes se assenta na cadeira do governo político em Jerusalém, e tudo parece correr como de costume. As pessoas compram e vendem animais, artigos domésticos, alimentos e artigos de luxo. O artesanato é a profissão mais comum nas cidades, principalmente em Jerusalém. Há coxos e doentes em Betesda, há mendigos, cegos e surdos nas ruas, marginalizados pelo legalismo judaico.
No templo, a aparência também é de normalidade. A ordem sacerdotal prossegue metodicamente com o turno de Abias, responsável pela administração dessa época. Dentro do santuário, ao lado do altar de incenso, quem ministra ao Senhor é o sacerdote Zacarias. Sua mulher, Isabel, uma das descendentes de Arão, é estéril, mas ambos vivem irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor (Lc 1.5-7).
É nesse tempo e lugar que aparece o anjo Gabriel, aquele que assiste diretamente diante do trono de Deus. Com uma palavra reveladora e específica, ele promete a Zacarias um filho, mas não um filho qualquer. Seria um escolhido por Deus, mesmo antes da sua concepção, para ir adiante do Senhor no espírito e poder de Elias. Em outras palavras, essa criança que nasceria, quando crescesse, seria a VOZ que prepararia o caminho adiante do Messias tão aguardado por toda a nação de Israel durante tantos anos.
A IMPORTÂNCIA DOS PAIS
Séculos já se passaram desde o acontecimento narrado acima, mas podemos facilmente comparar o tempo em que vivemos com aquele. Creio que vivemos às vésperas do retorno do Messias. Malaquias diz que, antes da Segunda Vinda, Deus enviará novamente o ministério de Elias para preparar o caminho do Senhor (Ml 4.5). A geração de jovens que se levanta hoje pode ser aquela que preparará o caminho para a volta de Jesus. Essa geração pode ser, e oramos para que seja, a Geração João Batista da Segunda Vinda. Por isso temos muito que aprender com o ministério dele e com as condições que permitiram o seu surgimento.
A principal condição, à qual poucos dão atenção, era a vida de seus pais, Zacarias e Isabel. Eram um casal justo diante do Senhor. Poucas pessoas na Bíblia alcançaram esse testemunho diante de Deus, de ter caráter e comportamento que agradavam ao Senhor. Eram também irrepreensíveis aos olhos dos homens. Não tinham desafetos conjugais, apesar da esterilidade de Isabel, e eram firmes e zelosos nas suas funções, permanecendo fiéis à lei de Moisés nos seus turnos e costumes sacerdotais.
Eram mais do que pais naturais, alcançaram a paternidade espiritual. Podemos dizer que Zacarias e Isabel eram maduros. Não podemos pensar em João Batista e na grandeza de seu ministério sem devotarmos a honra devida aos seus pais. Foram para João Batista um espelho do caráter de Deus – o que é a primeira característica de quem é maduro. Esse caráter inspirará muitos outros a imitá-lo.
Gosto muito do texto de Deuteronômio 6.4-8:
“Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.”
Essa palavra vem de Deus e é dirigida aos pais. O principal assunto quando estiverem com seus filhos deve ser Deus. Vejo a geração atual de pais preocupada em orientar seus filhos quanto ao futuro nos estudos, na vida profissional, no casamento e em prover materialmente os anseios de uma geração que está aprendendo com o mundo a ser consumidora insaciável. Ouço sempre dos pais frases do tipo: “Você sabe quanto custa um filho?”. Tudo isso tem sua importância e seu lugar na vida, mas o resultado de focalizar só isso é uma geração de filhos sem senso de missão de Deus, sem propósitos e desígnios eternos, agitada pelo vento das circunstâncias da vida.
É preciso haver arrependimento dos pais pelo pecado da omissão. Fala-se muito pouco sobre a Lei de Deus, sobre o “peso” do coração do Pai. É preciso ir além de contar as histórias bíblicas (quando ao menos, isso é feito). Veja o texto de Lucas 1.67-80. Zacarias sabia o que Deus tinha para seu filho, João Batista. Zacarias tinha prazer e alegria (Lucas 1.14), profetizou sobre ele, cheio do Espírito Santo, e não tinha ciúmes e resistência. Zacarias sabia que seu filho seria maior do que ele, mas alegrou-se por isso. Via, a partir de seu filho, os planos de Deus se cumprindo na sua casa. Por isso, encheu-se de ações de graças, pois sabia que Deus o usaria. Estava convicto de seu papel como pai.
Zacarias era um sacerdote. O ministério do sacerdote caracteriza-se basicamente por servir ao coração de Deus com tempo e zelo, e ouvir o que Deus tem a dizer. Como tal, Zacarias pôde ouvir a palavra viva e específica que veio através do anjo Gabriel (Lc 1.8-13). Da mesma maneira, só quando a Igreja atentar para o chamado ao sacerdócio (Ap 5.10), é que poderá ser base para a Geração de João Batista.
Uma geração de jovens que deseja manifestar “o Ministério de João Batista” precisa de Pais Espirituais. Quem será o Moisés de Josué? Quem será o Samuel de Davi? Quem será o Mordecai de Ester? Quem será a Lóide, a Eunice e o Paulo de Timóteo? Sem Paternidade Espiritual e o referencial de homens e mulheres que andam com Deus, que não temem que seus filhos sejam mais destacados do que eles próprios, não será possível preparar o caminho para uma geração que precisa ir além.
REVOLUCIONÁRIOS, NÃO REBELDES!
E o papel dos jovens? Ninguém foi tão revolucionário nos tempos de Jesus como João Batista. O próprio Jesus testemunhou a respeito do seu ministério, dizendo que tinha sido o maior dos profetas. Mas ser revolucionário para Deus não significa ser rebelde.
“Irá adiante dele no espírito e poder de Elias para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo aperfeiçoado” (Lc 1.17).
João Batista era, antes de tudo, um filho obediente. Sua vida autenticava sua missão. Unir duas gerações, quebrar a rebeldia dos filhos que teimam em medir forças com seus pais, esse é um dos maiores desafios de um profeta. Por que isso é importante? Lembremos que a missão de João Batista era preparar o caminho para o Filho de Deus, e que uma das primeiras revelações de Deus que Jesus trouxe em seu ministério foi da sua Paternidade (Mt 6.9). Deus é Pai. É como se escutássemos Jesus dizer à nossa geração:
“Olhem para Zacarias e João Batista, olhem para mim e verão também ao meu Pai que está nos céus, para que sejam sarados. Vejam como está a sua comunhão, arrependam-se e voltem-se para a minha Paternidade”.
Antes de sermos profetas nesta geração, é preciso sermos pais e filhos conforme o coração de Deus (Jo 17.21) .
O CLAMOR PROFÉTICO
João Batista era também um mensageiro envolvido com sua mensagem. O peso que João Batista tinha por sua geração transcendia o desejo de mudanças superficiais. Ele amava sua gente e queria vê-la transformada. Ele não repetia os jargões, pois pensava fora dos paradigmas. O poder de suas palavras vinha do seu andar com Deus. O seu inconformismo era da largura dos propósitos gerados por inúmeros dias e anos com o Espírito Santo.
Precisamos de jovens que não se acostumem com a ordem natural das coisas. Gente cuja voz troveje ira contra a iniqüidade e a injustiça, mas que nunca fale sem a ternura de Deus. O clamor de João Batista é um Clamor com Lágrimas, o que o torna ainda mais forte que uma ordem: rejeitá-lo é um pecado.
“Estou cada vez mais convencido de que as lágrimas são um elemento indispensável à pregação avivalista. Irmãos pregadores, precisamos nos envergonhar de não sentir vergonha; precisamos chorar por não termos lágrimas; precisamos nos humilhar por havermos perdido a humildade do servo de Deus; gemer por não sentirmos peso pelos perdidos; irar-nos contra nós mesmos por não termos ódio do monopólio que o diabo exerce nestes dias do fim, e punir-nos pelo fato de o mundo estar-se dando tão bem conosco, que nem precisa nos perseguir.” (Leonard Ravenhill, em seu livro Por que Tarda o Pleno Avivamento?).
A conclamação do povo ao arrependimento mostra que, para Deus, um caminho preparado é um caminho de quebrantamento. Preocupa-me ver o distanciamento dessa geração em relação à Palavra e à oração. João Batista conhecia a lei, a história de seu povo, as alianças de Deus, suas promessas e implicações. Ele era obediente porque queria agradar ao Senhor com sua vida. Só a Palavra traz os fundamentos e treina o coração para ouvir de Deus, e só a oração, na direção certa, produz o fogo da paixão por Jesus. Teremos de cair de joelhos se quisermos ver o poder do Evangelho restaurado nessa geração de jovens.
VALORIZANDO O PASSADO
Um profeta também precisa abandonar o desejo humano, para não dizer carnal, de ser inédito, de fazer algo novo e diferente, independentemente do que quer que seja ou do que tenha vindo antes. Fico preocupado ao constatar isso nesta geração. Examinemos com sinceridade nossas motivações para ver se lá no fundo do coração não estamos querendo que a glória seja nossa.
Podemos ter uma impressão errada quando lemos que João Batista passou boa parte de sua vida no deserto (Lc 1.80). Pode parecer-nos que, com essa atitude, ele estava rejeitando tudo que aconteceu com Israel nas gerações passadas. Mas isso não é verdade. Pelo contrário, através dos seus atos, ele estava cumprindo as mesmas promessas recebidas pelas gerações anteriores. É preciso valorizar o passado. Deus está escrevendo a história, tem de haver continuidade.
João Batista foi para o deserto porque ousou ser separado para Deus. Isso não é ser religioso nem monástico. João Batista se viu na história; ele se apoderou da vontade de Deus, e a vontade de Deus se apoderou dele. Grande parte dos jovens cristãos de hoje (falo isso com pesar) ainda não se viu dentro do desígnio de Deus. João Batista foi semelhante a Jesus quando disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34). João Batista perseguiu a vontade de Deus porque a conheceu, e isso fez dele a Voz que precedeu a vinda do nosso Amado.
CONCLUSÃO
Para que uma geração de jovens se manifeste com autoridade profética é necessário que haja Paternidade, Deserto e a Companhia do Espírito Santo. Na Paternidade, vemo-nos dentro do plano de Deus; no Deserto, somos moídos e despojados de nós mesmos, e na Companhia do Espírito Santo, somos feitos voz dele.
Adriel Tavares de Andrade, 33 anos, é Bacharel em Teologia e Pastor da Igreja Bíblica Evangélica em Bauru-SP; é casado com Lílian e tem uma filha.
e-mail: [email protected]
Uma resposta
Que o Senhor venha abrir os olhos dessa geração, para que seja feita a perfeita vontade do Senhor e manifesto o real avivamento que esperamos, que ele venha mostrar a nós a sua plena vontade e que nós venhamos a nos preocupar com o real ministério de hoje que é clamar nos desertos assim como João fez naqueles tempos, despertai o povos e nações, gritai nas praças e anuncia nas casas que é chegado a segunda vinda e prestes está a volta do teu criador.
Muito bom estudo. Que o senhor abençoe esse ministério.