Por Rhonda Hughey
“Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42. 1, 2).
Amém”, declara o pastor, encerrando-se assim o culto de adoração, enquanto o dirigente de louvor completava o hino final. Fora um belo culto, recheado de uma variedade de atividades interessantes: a apresentação especial de um teatro bíblico; o relatório de uma família de missionários em serviço no exterior; um hino cantado pelas crianças; e o anúncio de uma campanha de arrecadação para a construção da nova sede para os jovens.
As pessoas já estão conversando enquanto caminham para a saída. Entre elas, você nota uma irmã que parece não estar com pressa alguma para ir embora. Não é aquela jovem mãe que acabou de passar por uma separação? Você passa agora a observar mais atentamente as demais pessoas: um jovem de olhar vazio, um homem bem-vestido que está enfrentando corajosamente seu diagnóstico de câncer inoperável, uma senhora mais idosa com um olhar ao mesmo tempo bondoso e triste.
É impossível não ficar meditando a respeito das questões mais profundas e invisíveis escondidas naquelas vidas: as escravidões de hábitos, de sentimentos emocionais, o temor do futuro, a dependência de vícios, a solidão, os profundos conflitos familiares. Mas evidentemente tudo isso fica camuflado quando as pessoas entram no culto com seus fardos e, depois, saem em silêncio, levando os mesmos fardos embora. Algo começa a apertar seu coração.
“O que está errado?” pensa você com seus botões. “O culto foi uma bênção, não houve nada de anormal, a adoração foi maravilhosa, o sermão trouxe encorajamento.” E ainda houve aquele momento de oração, que lhe trouxe uma sensação de profunda paz. Paz que você espera que dure um pouco mais nesta próxima semana, que pelo menos agüente a reunião de segunda de manhã. A realidade vai-se infiltrando em sua mente, e os pensamentos já estão correndo lá na frente para os desafios da próxima semana…
Você olha novamente para as pessoas que estão saindo do santuário, mas cresce a sensação de que algo está errado, embora não consiga definir o quê. Existe um anseio no seu coração por algo mais. Parece que está faltando alguma coisa ou, quem sabe, alguém…
O Clamor Abafado por “Uma Só Coisa”
Existe hoje, por toda parte, um clamor no coração dos crentes por um encontro real e palpável com Deus. Eles querem, como Moisés, ver Deus face a face. Não se satisfazem apenas em ler sobre ele, conversar a seu respeito ou prestar-lhe homenagem nos cultos. Essa forte corrente subterrânea, que se alastra cada vez mais, manifesta-se através de uma santa insatisfação com o estado atual da igreja institucional. Muitas pessoas, que freqüentaram fielmente os cultos durante anos, estão agora vagando por aí, sem qualquer conexão válida com o Corpo de Cristo.
O pesquisador George Barna calcula que, só nos Estados Unidos, mais de 10 milhões de pessoas que se definem como nascidas de novo encontram-se atualmente sem igreja. As pessoas ficaram desiludidas e cansadas e muitas não querem voltar para a igreja local na sua condição atual.
Do quê estas pessoas têm tanto anseio? Pessoalmente, creio que é a presença de Deus no meio do seu povo, a manifestação da sua proximidade, uma consciência do seu amor que seja, ao mesmo tempo, real e significativa. Precisamos desesperadamente da presença perceptível de Jesus, tanto na igreja como nas nossas comunidades!
Como podemos avaliar a realidade da sua presença no meio de nós? Devemos meramente presumir que ele está presente? Eis uma pergunta justa. Como podemos saber? Podemos de fato saber? É lícito até mesmo fazer essa pergunta? Não estou falando da onipresença de Deus, mas de sua presença manifesta. Cremos que Jesus está presente só porque desejamos que ele esteja aqui? Ou existe algum sinal palpável de sua presença ou de sua ausência?
Deus está buscando pessoas com um coração como o de Davi, que declarou: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor, e meditar no seu templo” (Sl 27.4).
Fome Desesperada
As pessoas que buscam desesperadamente a presença de Deus não ligam para conforto nem conveniências pessoais. Elas foram tomadas por algo em seus espíritos e não conseguem se livrar disso. Jesus não é um conceito religioso – ele é realidade. Se Deus quisesse que Jesus fosse apenas um conceito religioso, não teria achado necessário enviá-lo à Terra em forma humana. O mero fato de Jesus ter vindo viver entre as pessoas é um exemplo claro de seu desejo de estar conosco em uma forma que pudéssemos compreender e também buscar.
A primeira fome espiritual surge quando recebemos o dom da salvação, mas depois que passa a lua-de-mel espiritual é necessário conscientemente cultivar nossa paixão. Ao reconhecer que podemos ter esfriado em nosso amor por Deus, nossa primeira oração deve ser para pedir-lhe que aumente nosso apetite espiritual. Jesus adverte-nos que nos últimos dias o amor de muitos esfriará. Devemos comprometer-nos a buscar por sua presença e aceitar seu convite para um relacionamento real e íntimo.
Jesus faz um convite no capítulo 3 do Apocalipse. Dirigindo-se à igreja em Laodicéia, ele confronta sua mornidão, dizendo: “… pois dizes: estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17).
Seu conselho para a igreja acomodada é “que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os teus olhos, a fim de que vejas” (Ap 3.18).
Como comprar de Jesus esse ouro? Que tipo de moeda permite-nos adquirir ouro puro em troca de nossa condição “miserável”? A resposta é fome. Fome desesperada é a moeda do céu. É a fome que nos esvazia da nossa acomodação e cria uma insatisfação santa, que nos impele a dobrar os joelhos e nos torna dependentes de Deus.
Não podemos sentir fome de Deus se estamos nos satisfazendo com outras coisas. Como estamos constantemente beliscando “porcariada” do mundo, acabamos perdendo nosso apetite de Deus! Dessa forma, mascaramos a fome e nem chegamos a sentir a dor da desnutrição; estamos definhando por falta de sua presença sem ao menos nos darmos conta disso. Se quisermos abrir espaço para ele em nossas vidas, precisamos esvaziar nossos corações e abrir mão de nossas agendas pessoais. Antes de podermos ser cheios, temos de nos esvaziar!
A melhor maneira de “esvaziar-se” é cultivar uma vida de fome espiritual e remover qualquer vestígio de auto-satisfação. Quanto maior for o vácuo dentro de nós, mais desesperada será nossa fome de Deus. Temos nos conformado com tão pouco em comparação com aquilo que ele nos quer dar de si mesmo!
Nosso relacionamento com ele não pode ser apenas uma coisa a mais nas nossas vidas, como se fosse um apêndice. Ele não é um amuleto que carregamos no bolso para nos proteger de coisas ruins ou para nos trazer boa sorte. Ele é Deus! Ele não cabe em nossas caixinhas, nem em nossas agendas egocêntricas. Deus quer nos encher abundantemente de sua própria pessoa – conformando-nos à imagem do seu Filho – para então derramar-nos a fim de matar a fome das pessoas à nossa volta. Na grande maioria das igrejas atuais somos confrontados com a realidade de Isaías 64.7: “Já ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenha”.
A falta de um desesperado anseio por Deus é que nos levou à nossa condição atual. A má qualidade de nossa vida religiosa decorre de nossa falta de desejo santo. Jesus espera ser seriamente desejado e convidado, e para isto precisamos trocar nossa complacência por abandono. Ele promete que os que têm fome e sede de justiça serão satisfeitos. Peçamos ao Senhor que “salgue nossos corações” e provoque em nós uma nova fome e uma nova sede. Ele dará de si mesmo de acordo com o tamanho do nosso desejo e do nosso pedido!
Rhonda Hughey trabalhou no ministério local e internacional do movimento de oração durante mais de uma década, despertando fé e visão para oração, reavivamento e transformação. É fundadora e presidente de Prayer by Design, Inc. Faz parte da equipe de liderança na Casa Internacional de Oração, em Kansas City,E.U.A (junto com Mike Bickle e outros). É autora do livro Desperate for His Presence (Desesperado por Sua Presença), que pode ser encontrado na Forerunner Bookstore, em www.IHOP.org.