Por Francis Frangipane
Nossa submissão à autoridade não se origina do medo ou da intimidação. A verdadeira submissão provém da revelação e do entendimento do caráter de Jesus Cristo. Trata-se de um meio de crescer rápido e receber graça.
Jesus tinha pleno controle de sua alma; ele não reagia ao homem, mas confiava plenamente em Deus. Portanto, Jesus conseguia submeter-se aos sistemas frágeis do homem e a autoridades falhas e injustas, sabendo que o Pai julgaria, por fim, retamente e transformaria a injustiça. Onde Lúcifer reivindicou independência da autoridade de Deus, Jesus foi perfeitamente submisso à autoridade do Pai (2 Co 13.4).
Sei que algumas pessoas têm medo de adotar uma atitude submissa de coração. Preocupam-se em ter de submeter-se cegamente ao anticristo ou em ser obrigadas a toda forma de pecado, incluindo o sexual. Temos tão-somente de considerar os recentes escândalos sexuais na igreja Católica e o uso impróprio da autoridade entre líderes eclesiásticos de todas as alas do cristianismo para estremecermos de legítima preocupação.
Por isso, deixe-me reforçar esta verdade: Jesus nunca se submeteu à autoridade que o fizesse pecar nem esperava que seus discípulos pecassem se alguém munido de autoridade lhes mandasse pecar. Assim como você opta por submeter-se, você opta por não se submeter a alguém que lhe manda pecar. Se seu chefe pedir-lhe para mentir, você pode manter uma atitude submissa ao dizer: “Não posso fazer isso”. Porém, nosso motivo não é nos rebelarmos contra o homem, mas submetermo-nos ao mais alto nível que é Deus.
Outro medo é que, ao nos submetermos a outra pessoa, acabemos perdendo a própria personalidade e tornando-nos como tal pessoa. Na verdade, quando nos submetemos à unção que está sobre a pessoa, ganhamos mais do que investimos. Eliseu recebeu porção dobrada da unção de Elias, pois se submeteu intensa e fielmente à unção de seu mentor. Tenha sempre em mente que Eliseu tinha uma personalidade oposta à de Elias. Porém, ao submeter-se, ele dobrou as realizações de Elias.
Veja que já possuímos um potencial de poder espiritual, mas que é limitado. Ao nos colocarmos em submissão a outra pessoa, ganhamos uma medida da unção dessa pessoa. Eliseu não perdeu sua identidade ao submeter-se nem se tornou o “pequeno Elias”, mas ainda manteve sua própria personalidade e abordagem ao ministério com a única diferença de que, quando seu ministério começou, ele tinha o dobro de poder.
Tememos que, ao sermos submissos, alguém nos peça para darmos mais do que recebemos. Novamente, o oposto é verdadeiro. Jesus ensinou: “Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta” (Mt 10.41). A submissão é o canal para receber. Deus recompensa o profeta não apenas no mundo futuro, mas neste mundo. O “galardão do profeta” representa a única dimensão de poder que um homem ou uma mulher de Deus adquire com sacrifício e sofrimento. Ao submetermo-nos, ao “recebermos” humildemente, podemos obter sem custo uma medida do galardão do profeta.
Lembre-se de que as multidões que não sabiam que Jesus era o Filho de Deus não entendiam que “pelas suas pisaduras” haviam sido saradas (Is 53.5). Faziam apenas uma coisa: submetiam-se a Cristo para receber cura e recebiam “o galardão do profeta”. Os fariseus, por sua vez, não receberam Cristo; logo, sua atitude de insubmissão os desqualificou para receberem os benefícios do poder de Jesus.
Quando uma igreja se submete a mim, assumo uma responsabilidade adicional. Não significa que, como líder, eu controle a vida despreocupada de cada um. O oposto é verdadeiro! Uma pessoa submissa à minha autoridade é alguém por quem oro com mais freqüência e, quando está doente, visito-a. Quando chora, choro com ela e, quando é imatura, entrego-me para treiná-la e instruí-la nos mistérios da vida. A pessoa submissa se beneficia muito mais do relacionamento do que aquela que está na autoridade.
Temos visto os abusos de autoridade, o que tem feito com que muitos de nós nos tornemos desconfiados e resistentes aos verdadeiros benefícios da submissão e da concessão. Porém, aprofundemo-nos neste assunto. Você não precisa de fato ter um homem ou uma mulher de Deus em sua frente para se submeter à sua unção. Quando eu era jovem e novo em Cristo, pegava livros de Andrew Murray e Watchman Nee, ajoelhava-me aos pés da cama e lia suas palavras. Com freqüência, sentia que estava bebendo, por intermédio do Espírito Santo, a substância da unção desses homens. Veja que eu não apenas lia suas palavras, mas também me submetia a seus ensinamentos.
Por isso, pense na submissão como livre escolha de uma pessoa sábia que enxerga algo semelhante a Cristo na vida de outra pessoa e pede para recebê-lo. A submissão não nos diminui, mas nos duplica. Estende as fronteiras de nossa espiritualidade para a vida de outras pessoas que vemos ser transformadas por Cristo – e permite que o que elas receberam de Jesus seja concedido a nós também.
Este texto foi extraído do livro Divisão, A Igreja a Caminho da Destruição, Francis Frangipane, Editora Naós, São Paulo, 2003. Publicado com autorização.