Por Charles Swindoll
Teddy Stallard certamente se qualificava como “um destes mais pequeninos” a que Jesus se referia. Não se interessava pela escola. Usava roupas velhas, amarfanhadas. Nunca penteava o cabelo. Era um desses meninos, na escola, que exibem uma face desconsolada, sem expressão, um olhar enevoado, sem foco definido. Quando a professora, Miss Thompson, falava a Teddy, ele sempre respondia com monossílabos. Era um camaradinha distante, destituído de graça, sem qualquer motivação, difícil de a gente gostar. Embora a professora dissesse que amava a todos da classe por igual, bem lá dentro ela não estava sendo muito verdadeira.
Sempre que ela corrigia as provas de Teddy, sentia certo prazer perverso em rabiscar um X ao lado das respostas erradas e em lascar um zero no topo da folha. Na verdade, este sentimento não era justificado, pois a professora tinha o histórico de Teddy e sabia mais sobre ele do que gostaria de admitir. O currículo do garoto era o seguinte:
1ª série – Teddy promete muito quanto ao rendimento escolar e atitudes, porém se encontra em péssima situação doméstica.
2ª série – Teddy poderia melhorar. A mãe está muito doente. O menino recebe pouca ajuda em casa.
3ª série – Teddy é um bom aluno, mas está sério demais. Aprende devagar. É lento. A mãe morreu no ano passado.
4ª série – Teddy é lento, mas tem bom comportamento. O pai não demonstra interesse algum.
Chegou o Natal. Meninos e meninas da classe da senhorita Thompson lhe trouxeram presentes. Empilharam os pacotinhos na mesa da professora e rodearam-na, observando-a enquanto ia abrindo-os. Entre os presentes havia um, entregue por Teddy Stallard. Ela ficou surpresa que tivesse trazido, mas trouxera mesmo. O presente dele estava enrolado em papel pardo e fita durex, e havia estas palavras simples, escritas no papel: “Para Miss Thompson – do Teddy”. Ao abrir o pacote de Teddy, caiu sobre a mesa um bracelete espalhafatoso, feito de imitações de cristais, metade das quais já havia caído, e um frasco de perfume barato.
Os meninos e meninas começaram a sufocar risadas, exibindo sorrisos afetados, por causa dos presentes de Teddy. Contudo, Miss Thompson pelo menos teve bom senso suficiente para silenciá-los ao pôr no pulso, imediatamente, o bracelete e um pouco de perfume. Colocando o pulso à altura das narinas das crianças, para que cheirassem, ela perguntou: “Não é delicioso esse perfume?” As crianças, seguindo a pista deixada pela mestra, imediatamente concordaram com “uuu!” e “ôôô!”
Terminadas as aulas, após as crianças terem ido embora, Teddy ainda ficou para trás na classe. Muito lentamente, ele se aproximou da professora para dizer-lhe:
– Miss Thompson… Miss Thompson, a senhora tem o mesmo cheiro de minha mãe… e o bracelete dela ficou bonito na senhora, também. Fiquei contente porque a senhora gostou dos meus presentes.
Depois que Teddy saiu, Miss Thompson caiu de joelhos e pediu perdão a Deus.
No dia seguinte, quando as crianças voltaram à escola, foram recepcionadas por uma nova professora. Miss Thompson se tornara uma pessoa diferente. Já não era mais mera professora: tornara-se uma agente de Deus. Assumira, agora, o compromisso de amar seus alunos, e fazer por eles coisas que permanecessem, que a sobrevivessem quando ela já não estivesse mais ao seu lado. Passou a ajudar a todas as crianças, especialmente a Teddy Stallard. No final daquele ano escolar, Teddy já mostrava uma melhora dramática. Alcançara a maior parte dos alunos e chegou a ficar à frente de alguns deles.
Miss Thompson não recebeu notícias de Teddy durante longo tempo. Então, uma dia, entregaram-lhe uma carta:
Querida Miss Thompson:
Eu quis que a senhora fosse a primeira a saber. Estou-me formando em segundo lugar, em minha classe.
Com muito amor,
Teddy Stallard.
Quatro anos mais tarde, ela recebeu nova carta:
Querida Miss Thompson:
Disseram-me há pouco que me formarei em primeiro lugar na minha classe. Quis que a senhora fosse a primeira a saber. A universidade não tem sido fácil, mas eu gosto.
Com muito amor,
Teddy Stallard.
Mais quatro anos depois:
Querida Miss Thompson:
A partir de hoje, sou Theodore Stallard, doutor em medicina. Que tal? Eu quis que a senhora fosse a primeira a saber. Vou casar-me no mês que vem, para ser exato, no dia 27. Quero que a senhora venha e se sente onde minha mãe se sentaria se ela fosse viva. A senhora é a única pessoa da família que tenho, agora. Meu pai morreu no ano passado.
Com muito amor,
Teddy Stallard.
A senhorita Thompson foi àquele casamento e sentou-se no lugar onde a mãe de Teddy teria sentado. Ela merecia estar ali. Havia feito pelo Teddy algo de que ele jamais se esqueceria.
Que é que você poderia dar para alguém como presente? Em vez de simplesmente dar uma coisa, dê algo que sobreviva a você mesmo. Seja generoso. Dê-se a si mesmo a algum Teddy Stallard, a “um destes pequeninos” a quem você pode ajudar a tornar-se um dos grandes.
Dê uma hora de seu tempo a alguém que precisa de você. Envie uma nota de encorajamento a alguém que está desanimado. Dê um abraço de reconhecimento a alguém de sua família. Faça uma visita de misericórdia a alguém que está prostrado numa cama. Faça uma refeição para uma pessoa doente. Diga uma palavra de compaixão a uma pessoa obscura e esquecida. Ensinou-nos Jesus: “… quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40).
Extraído de “A Busca do Caráter”, de Charles Swindoll. Editora Vida, pp.147-150.
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É Que Você Ainda Não Chegou!
Ouvi uma história, anos atrás, sobre um casal de missionários que estava voltando da África para os Estados Unidos. Não tinham aposentadoria, sua saúde estava debilitada, sentiam-se derrotados, desanimados e apreensivos. Depois de muitos anos de serviço missionário, lá estavam eles, iniciando sua longa viagem de volta a bordo do mesmo navio em que estava o Presidente Teddy Roosevelt (presidente dos EUA de 1901-1909), retornando de uma temporada de caça na África.
No momento do embarque, havia uma multidão de gente e uma banda tocando para a despedida do presidente, mas ninguém para se despedir dos missionários. O marido disse, então, à esposa: “Não é estranho, querida? Aqui estamos nós, sacrificamos nossas vidas no serviço do Senhor, gastamos muitos anos neste lugar, perseveramos no meio de imensas adversidades, perdemos alguns dos nossos filhos e os enterramos aqui. Tudo tem sido tão difícil, mas ninguém realmente se importa com isto, não é? Veja só toda essa fanfarra quando o presidente volta de uma simples excursão de caça! Mas ninguém se importa se fizemos algo de valor para Deus ou não.”
“Querido, você não deveria pensar assim”, disse sua esposa.
“Não dá para pensar de outra forma. É tudo tão injusto.”
Durante toda a viagem, enquanto cruzavam o Atlântico, este sentimento crescia e fervia em sua mente. A amargura foi tomando conta da sua alma e ele disse à sua esposa: “Aposto que quando chegarmos em Nova Iorque vai haver outra banda para receber o presidente, e ninguém esperando por nós. Estaremos sozinhos”.
E foi assim que aconteceu. Quando o navio atracou no porto de Nova Iorque, uma banda tocava as canções preferidas de Teddy Roosevelt, e todas as autoridades da cidade estavam lá para recepcioná-lo. Enquanto isto, o casal de missionários desembarcou completamente despercebido e foi alugar um apartamento dilapidado no Setor Leste de Nova York.
Completamente arrasado, o homem disse à esposa: “Não é justo, não é justo mesmo! Aqui estamos nós, sem dinheiro, sem saber quem é que vai cuidar de nós ou para onde vamos. Deus nos prometeu grandes coisas, mas nada aconteceu. Entregamos a ele tudo que tínhamos, e o que fez por nós? Agora, veja o que acontece quando o presidente sai numa excursão de caça! Isso não é justo!”
“Querido”, a esposa respondeu, “eu sei que não é justo, mas esta não é a atitude certa. Não deve pensar assim. Por que você não vai até o quarto, conversa com o Senhor sobre tudo isso e veja o que ele tem a dizer?”.
E ele foi. Entrou no quarto e ajoelhou-se à beira da cama, sozinho. Ficou lá por um bom tempo e, quando saiu, seu rosto brilhava. Sua esposa percebeu que algo tinha acontecido. Então ela perguntou: “O que houve?”.
E ele respondeu: “Eu me ajoelhei e derramei toda essa história diante do Senhor. Contei para ele que havia achado tudo tão injusto, especialmente que, ao chegarmos em casa, o presidente ganhou aquela tremenda recepção, enquanto ninguém se importou conosco. Eu disse também que ele não estava nos tratando direito. Mas sabe o que o Senhor me disse? Foi como se tivesse se inclinado e colocado sua mão no meu ombro, para me dizer: ‘Mas você ainda não chegou em casa!’”
Do livro “TALKING TO MY FATHER” (Conversando com meu Pai), de Ray Stedman & Co. 1997.