Por Rosane Walker de Abreu
Enquanto caminhava pelo aeroporto internacional de Guarulhos, esperando a chegada da minha hora de embarque, um turbilhão de pensamentos invadia minha mente. Eu estaria, em breve, embarcando de volta à minha casa e à rotina do dia-a-dia. Uma mistura de saudade, cansaço e alívio me deixavam um pouco indiferente e pensativa. Quem me dera se eu pudesse viajar o tempo todo, conhecer novas pessoas e novas culturas, fotografar o mundo em diferentes continentes, viver de aeroporto em aeroporto.
Estranhamente, aeroportos são um dos meus lugares preferidos. Talvez pela diversidade de pessoas que sempre se encontram ali ou talvez pela sensação de estar em movimento com destino a algum lugar diferente. Enquanto observava as pessoas ao meu redor, eu imaginava a história de cada um. Alguns pareciam tristes, talvez por estarem deixando para trás sua família ou amores, outros, cansados por estarem viajando há muitos dias a trabalho, outros, felizes, em férias, a caminho de algum paraíso, e ainda outros, indiferentes.
Finalmente, chegou a hora do meu embarque e eu já não estava mais preocupada em observar as pessoas. Um só pensamento ocupava minha mente nesse momento: espero que eu me sente ao lado de uma pessoa legal que me deixe bem à vontade para conversar ou dormir.
Quando cheguei no meu lugar e vi minha companheira de viagem, dei graças a Deus porque parecia bastante agradável. Como sempre faço, orei para que Deus me usasse para falar ao seu coração, e que as palavras da minha boca fossem inspiradas pelo Espírito Santo. Como tenho facilidade em fazer amizades, comecei logo a puxar conversa. A viagem estava se passando rapidamente e as conversas estavam bem agradáveis. Trocamos experiências de vida, falamos sobre nossos sonhos, nossos planos. Tínhamos mais ou menos a mesma idade e os mesmos interesses.
Como a maioria das minhas histórias era sobre Deus, igreja, eventos evangélicos e coisas semelhantes, ela quis saber em que a minha “religião” acreditava. Ela me disse que era “católica não praticante”, que nunca ia à igreja, assim como milhares de pessoas que usam a palavra “católica” como religião “default” (categoria padrão). Nesse momento, eu gelei, pois sempre oramos por uma oportunidade como essa em que você não precisa impor a apresentação do evangelho à pessoa, pois ela mesma se interessa em saber mais. Mas quando a oportunidade finalmente chega, você gagueja mais que nunca, as palavras fogem da sua mente, suas mãos gelam e parece que todas as respostas do tempo de escola dominical voltam à sua mente. Ao invés de compartilhar as experiências pessoais com Deus, você balbucia algo como: Jesus… cruz… pecados… único caminho… Deus. Usamos um linguajar de crente que deve parecer outra língua para os que nunca ouviram essa mensagem.
E foi isso exatamente o que aconteceu nesse caso. Fiz uma pequena dissertação sobre o evangelho, minha companheira de viagem ficou pensativa por alguns momentos e, logo em seguida, continuamos a conversar sobre outras coisas. Nunca saberei o efeito que minhas palavras tiveram, só posso confiar na promessa de que a palavra de Deus nunca voltará vazia.
Mas minha história não termina aqui. Durante a viagem, quando eu não estava dormindo, comendo ou conversando, aproveitei para ouvir um CD de louvor que tinha acabado de ganhar de aniversário de uma querida amiga. Desde que ouvi o CD pela primeira vez, eu sabia que o CD seria um dos meus preferidos. Todas as letras das músicas pareciam traduzir exatamente os meus sentimentos pelo meu amado Jesus. Não me cansava de ouvir o CD repetidamente, e ele sempre me trazia lágrimas aos olhos, enquanto dentro de mim eu sussurrava: “Te-amo Deus, te-amo mais que tudo nessa vida”.
Um pouco antes do avião pousar no nosso destino final, um pensamento passou pela minha cabeça: “Eu devo dar esse CD para minha companheira de viagem”. Mais que depressa, outros pensamentos me bombardearam: “Mas ela não entenderia esse tipo de música, acho que nem iria gostar… E se ela achar o CD muito ruim? Esse CD foi um presente, não posso dar algo que ganhei para outra pessoa, é contra a ética de presentes (se é que existe tal coisa). Esse pensamento foi uma idéia minha, não veio de Deus. E se eu fizer papel de idiota? A capa do CD está dentro da minha bolsa, está difícil de pegar agora, como vou dar um CD sem capa?”
Antes que eu terminasse de lutar com minha razão, saímos do avião e nos despedimos. Assim que nos separamos, senti uma convicção muito forte de que todas essas razões eram desculpas para não me desfazer de algo de que gostava muito. Se esse pensamento tinha vindo de mim mesma ou se era algo que Deus tinha me pedido para fazer, pouco importava. O que eu tinha a perder? O pior que poderia acontecer era ela não ouvir o CD e, eventualmente, eu compraria outro para mim; o melhor que poderia acontecer seria ela vir a conhecer esse Deus maravilhoso de uma maneira pessoal.
Decidi dar o CD para ela se a visse na área onde recolheríamos nossa bagagem. Um pouco nervosa, procurei por ela, mas não a encontrei lá e nunca mais a vi. Nesse momento, meu coração se entristeceu porque mais uma vez percebi que não tinha dado ouvidos à voz de Deus na hora certa. Quantas vezes já havia deixado de seguir a voz dele? Quando iria aprender a agir com ousadia, sem questionamentos, até mesmo nas pequenas coisas?
Eu gostaria de ter muitas histórias de como obedeci aos impulsos do meu coração e como Deus fez milagres acontecerem através da minha obediência, mas, pelo contrário, tenho mais histórias da minha desobediência. No caso da minha nova amiga, como eu havia lhe dado meu telefone, quem sabe um dia ela ainda entrará em contato comigo, quem sabe as palavras que murmurei sobre Deus fizeram sentido e tocaram seu coração e, quem sabe, um dia terei uma nova oportunidade de lhe dar o CD. Só Deus sabe o final da história; continuo a orar por ela sempre.
Quantas vezes ouvimos a voz de Deus e escolhemos ignorá-la por medo de fazermos papel de tolos. Usamos nossa razão para analisarmos e questionarmos o que ele nos está pedindo para fazer. Convencemo-nos de que estamos escutando nossas próprias idéias e não a voz de Deus. Temos medo dos resultados e não confiamos inteiramente nele e na sua direção. Não estamos prontos para nos livrar dos nossos ídolos, nossa imagem, nosso conforto.
Espero que da próxima vez que ouvir a voz de Deus, eu tenha aprendido a minha lição, que lhe obedeça cegamente e que minha história seja diferente.
Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros. 1 Samuel 15.22.
Rosane Walker de Abreu é fotógrafa, reside na região metropolitana de Dallas, TX, e participa da igreja Harbor Point Community Church.