Por Thiago Bronzatto
“E vossos jovens terão visões…” (Joel 2.28)
Estamos vivendo em dias que antecedem o grande acontecimento que inundará a face da Terra, que é a gloriosa volta de Cristo. De acordo com este texto em Joel, logo antes do final dos tempos e da segunda vinda de Jesus, haverá um derramamento do Espírito. Se analisarmos bem essa palavra profética, veremos claramente a descrição de todas as classes e idades da igreja: “filhos (crianças), velhos (idosos, adultos, experientes) e jovens (pré-adolescentes, adolescentes…)”.
Aos jovens, Deus prometeu dar visões. É como se estivesse incumbindo-os da capacidade de ver o mundo espiritual, de ser o ministério profético que dará luz ao corpo de Cristo (veja em Lucas 11.34: “são os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso, mas se forem maus, o teu corpo ficará em trevas”).
Nós, jovens, temos um chamado especial como atalaias desse corpo que caminhará em sintonia nesses dias sobre a face da Terra.
Mas quem são os Atalaias
Antigamente os atalaias ficavam numa torre ou em um lugar elevado, onde tinham o dever de permanecer em vigia constantemente e, se o atalaia dormisse e o inimigo invadisse a cidade, o atalaia, por não avisar o povo, seria morto. Um atalaia desempenha um encargo de responsabilidade, cuja função é de vigiar e de avisar a chegada de mensageiros ou de inimigos. Podemos dizer, literalmente, que atalaia é um vigia, um guarda ou uma sentinela.
No livro de Ezequiel, descobrimos que ele foi comissionado por Deus como atalaia sobre a casa de Israel, o que significava que sua responsabilidade era de advertir as pessoas sobre o juízo divino que viria sobre aquele que não se arrependesse dos seus maus caminhos. Portanto, se Ezequiel não avisasse o povo, Deus requereria dele as vidas perdidas.
Nestes dias, em que presenciamos fatos que preparam a volta de Jesus, somos convocados a ser atalaias sobre essa geração e sobre a igreja – e, portanto, é para nós que o Senhor diz: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25.13). Se não vigiarmos, seremos pegos “dormindo”, e não só nós, mas todas as pessoas que se encontram na “cidade” que fomos escalados para alertar.
Deus encarregou a nós, jovens, de sermos a visão desse corpo, ou seja, de sermos atalaias dessa geração. Devemos ser bons olhos para iluminar todo o corpo de Cristo, especialmente porque estamos vivendo os dias da Igreja de Laodicéia, uma igreja cuja característica é de ser cega por não ter uma voz profética. Saiba, jovem, que a voz profética somente será pronunciada se primeiro houver uma visão profética!
Deus colocou os profetas como os olhos no Corpo de Cristo, porque seu dever é enxergar primeiro e discernir; advertindo, exortando e encorajando os demais membros. Como diz em Provérbios 29.18: “Sem visão (ou profecia), o povo se corrompe”.
Mas antes de darmos a visão ao Corpo de Cristo, precisamos obtê-la, nós mesmos, pois como tiraremos as traves dos olhos da igreja, sendo que as nossas ainda não foram tiradas?
Como Obteremos Visão?
Não há meios de obtê-la senão diante do Trono de Deus, porque só podemos aprender com aquele que tem a visão plena. Em Apocalipse 5, João viu Jesus como tendo 7 olhos, ou seja, a visão plena. É aquele de quem nada é encoberto.
Os quatro seres viventes, descritos por João, são um exemplo muito claro disso; a quantidade de olhos que eles possuem (isto é, em toda parte do corpo) foi o que mais chamou a sua atenção (Ap 4.6,8).
Todo aquele que se achega diante do trono de Deus (o lugar mais santo do universo, de onde partem todas as decisões, os discernimentos, os juízos e as respostas para a humanidade e para o cosmo) possui uma espiritualidade de olhos abertos! Foi assim que aconteceu com Isaías (cap. 6.1-8). Ao estar diante do trono de Deus, ele foi tomado por essa visão plena, que transcorreu em três níveis:
1. A Sublime Santidade de Deus
Isaías ao olhar para o trono de Deus, vê sua indescritível majestade. Vê aquele que possui todo o poder, toda a honra e toda a glória e maravilha-se diante daquela estupenda visão.
Nesses dias em que Deus nos convoca como jovens atalaias do seu povo, precisamos mais do que nunca ver sua majestade, pois somente assim sua glória se refletirá em nossas atitudes. Lembremos de Moisés, que viu a glória de Deus no santo monte; o seu rosto, segundo o hebraico literal, emanava chifres de luzes. Nós, jovens, por sermos tão inexperientes, devemos estar no concílio de Deus, pois ali veremos sua glória manifestar-se sobre as nossas vidas e, então, refletir sobre aqueles que estão ao nosso redor.
Não podemos ofuscá-la jamais com as nossas habilidades ou “técnicas espirituais”, pois quando olhamos para a majestade de Deus, o nosso ego morre –não tem como dividir a glória com Deus.
Estêvão, segundos antes de sua morte, olhou e viu os céus abertos e a glória de Deus resplandecendo sobre ele. Tal visão foi um ânimo para enfrentar aquelas pedradas; foi uma maneira de desviar o olhar de si mesmo, de sua carne, de suas dores e de seus sentimentos, a fim de olhar para aquele que merece a nossa vida como sacrifício diário.
2. Uma Auto-Análise do Seu Estado Pecaminoso
Isaías, após contemplar uma visão da santidade divina, vê o abismo que existe entre si mesmo e Deus; então, é levado a gritar: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!”
Isaías sabia que seus pecados o consumiriam diante da santidade de Deus; por isso, não tardou em confessá-los. O segundo nível da visão de Isaías é um grande ensinamento para as nossas vidas. É uma visão reveladora, que mostra a cada um o que realmente é. Veremos que somos pessoas imundas, pecadoras, totalmente indignas de tão grande amor. Também veremos que as nossas habilidades e dons nada são diante daquele que possui o poderio, a majestade e toda santidade!
Devemos ter a consciência de que somos apenas um patinho feio, que será acolhido e transformado (pela santificação) em um cisne lindo e formoso, lapidado pela mão do Santo dos santos!
“Com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado o teu pecado” (Is 6.7).
É interessante notar que após Isaías confessar sua situação de dependência total de Deus, uma brasa é tocada em seus lábios, ungindo-o para o ministério profético em sua geração. Da mesma forma, nós, jovens, só incendiaremos esta geração quando formos tocados pela brasa viva do altar de Deus e só seremos tocados por essas brasas vivas quando, diante do trono de Deus, confessarmos os nossos pecados.
O autor Leonard Ravenhill, no seu livro Por Que Tarda o Pleno Avivamento?, narra uma história mui profunda sobre este tema que estamos abordando. Ele conta que, certa vez, havia um criminoso de nome Charlie Peace. Não tinha respeito nem pelas leis de Deus nem pelas dos homens. Mas, afinal, um dia foi preso e condenado à morte. No dia de sua execução, foi levado ao corredor da morte na penitenciária de Armley, Leeds, na Inglaterra. À sua frente ia o capelão da prisão, lendo versículos da Bíblia em voz monótona e desinteressada. O criminoso tocou-lhe no ombro e indagou o que estava lendo.
“O conforto da religião”, replicou o sacerdote.
Charlie Peace ficou chocado de ver como ele lia aqueles textos acerca do inferno de maneira tão mecânica, tão gélida, tão inflexível. Como alguém podia ser tão frio, a ponto de conduzir outro para a forca, sem emoção alguma, lendo-lhe palavras sobre um abismo profundo no qual o condenado estava prestes a tombar? Será que aquele pregador cria, de fato, que existe o fogo eterno, que arde incessantemente e nunca consome suas vítimas, já que lia tudo sem ao menos estremecer? Seria humano um indivíduo capaz de dizer a outro friamente: “Você estará morrendo eternamente, sem nunca conhecer o alívio que a morte poderia dar-lhe”? Aquilo foi demais para Peace, e ele se pôs a pregar:
“Senhor”, disse, dirigindo-se ao Capelão, “se eu acreditasse nisso em que você e a igreja dizem crer, andaria por toda a Inglaterra, só para salvar uma alma e, se preciso fosse, iria de joelhos, mesmo que a superfície fosse recoberta de cacos de vidro, e acharia que teria valido a pena.”
Ficou impressionado com esse episódio? Pois então, jovem, nós fazemos parte dele! Enquanto nos deleitamos naquilo que é vil, almas entram no inferno; estamos agindo, então, como aquele Capelão – portadores de um cristianismo ordinário (normal, regular), medíocre (médio), frio, sem preocupação e sem amor por essa geração. Dia após dia, conduzimos almas ao abismo profundo do inferno. Pregamos nosso “sermãozinho barato”, dizendo: “Jesus te ama, jovem!” – mas, na verdade, será que demonstramos esse amor? Enquanto deveríamos viver um cristianismo radical (palavra derivada de raiz, essencial), preferimos ser jovens comuns. Preferimos ser camaleões (aqueles que disfarçam e ninguém sabe que é cristão), do que sermos ET’s (ou seja, jovens diferentes).
Você crê que um jovem cheio do Espírito Santo pode mudar sua geração? Pode mudar sua nação? Talvez você já esteja pensando: “Eu creio!” Mas, então, por que não temos mudado esta geração? Será que verdadeiramente somos cheios do Espírito Santo? A verdade é: PRECISAMOS NOS CONVERTER! E nada melhor do que passar pela experiência de Isaías, pois o jovem que está diante do trono de Deus é um jovem que a cada dia morre para si mesmo e vivifica aquele que está à sua frente!
3. A Situação Daquela Geração
“Habito no meio de um povo de impuros lábios…”
“A quem enviarei e quem há de ir por nós?”
A terceira parte da visão de Isaías ocorre quando ele contempla a situação da sua geração; no seu íntimo houve um reboliço, que o impeliu a fazer algo. Ao ver o coração dilacerado de Deus por aquela geração, Isaías comoveu-se profundamente e derramou o seu coração diante do trono de Deus em prol da salvação daquela geração. Isaías sabia que ser profeta implicava em perder a sua “reputação”; sabia que ser profeta era sinônimo de renúncia; sabia também que não seria fácil lidar com um povo duro. Mas ao olhar para sua geração, não teve como dizer: “NÃO, SENHOR! ENVIA OUTRO EM MEU LUGAR!” Mas antes, com um coração quebrantado, disse: “Eis-me aqui, envia-me a mim!”
O coração de Deus está pesaroso e partido por essa geração; é como se dilacerasse a cada instante, reagindo com um sobressalto de dor; toda a sua angústia se resume nessas palavras: “A QUEM ENVIAREI E QUEM HÁ DE IR POR NÓS?”
Olhando para esta geração
Hoje os filhos estão matando os seus pais friamente; o campo do homossexualismo e da prostituição tem se expandido; as drogas têm consumido a virtude e os valores dessa juventude – enfim, não devemos apenas olhar para esta geração, devemos fazer algo por ela! Porque se nós não fizermos, o diabo fará!
Isaías, ao olhar para aquela geração, não a viu com os olhos humanos; estando diante do trono de Deus (onde a visão é plena), viu nela o coração partido de Deus, os braços abertos do Messias, esperando por alguém, esperando pelos seus atalaias!
Francisco de Assis, durante a sua vida de pecado, tinha muito preconceito e nojo dos leprosos de sua época; poderia estar a um quilômetro de distância, logo dava meia volta e fugia deles. Porém, após ver Cristo no rosto contorcido e rejeitado de um leproso, nunca mais foi o mesmo; teve um encontro com Deus, pois viu em sua geração o clamor de Cristo: “A QUEM ENVIAREI E QUEM HÁ DE IR POR NÓS?”
Olhar para essa geração e ver Cristo nela não é esquecer-se das circunstâncias; antes, é fazer com que o muro de separação caia diante da visão profética, gerada diante do trono de Deus.
Diante de tudo isso que temos visto e ouvido, como vamos responder a DEUS? Como atalaias deste século, nós, jovens, devemos restaurar a nossa visão e atentarmos para esses fatos que antecedem o grande derramar do Espírito Santo, descrito em Joel.
Thiago Bronzatto é um estudante de 17 anos, de Mogi-Guaçu — SP