23 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

Pode o Lazer Ser Profético?

Por: Ezequiel Netto

Introdução

Existe vida sem estresse? Em nossos dias, não conseguimos conceber uma sociedade ou pessoa que não seja impulsionada pelo estresse. Porém, ao observarmos Deuteronômio 28.65-67, fica claro que esta qualidade normal para a sociedade atual faz parte de uma lista de maldições, relacionadas com pessoas que deixaram de ouvir ao Senhor e obedecer aos seus mandamentos:

Nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso, porquanto o Senhor ali te dará coração tremente, desfalecimento de olhos, e desmaio de alma (v. 65). Já pensou o que é fazer uma viagem para Aruba, ou para uma cidadezinha do interior, e não conseguir repousar? Ter a alma intoxicada pela ansiedade e preocupação a ponto de desmaiar?

A tua vida estará suspensa como por um fio diante de ti; terás pavor de noite e de dia e não crerás na tua vida. Pela manhã dirás: Ah! Quem me dera ver a noite! E, à noitinha, dirás: Ah! Quem me dera ver a manhã! Isso pelo pavor que sentirás no coração e pelo espetáculo que terás diante dos olhos. (vv. 66-67) Está pensando que alguém me confidenciou a sua história? Seus dias também são pequenos demais? A ansiedade e o estresse têm sido seus únicos amigos íntimos, nesta corda bamba em que se resumiu sua vida?

O repouso é algo tão importante que até Deus descansou (Gn 2.2). O livro de Hebreus (4.9-10) também aponta para a nossa necessidade de repousar: Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência.

Este repouso preparado para nós é alcançado quando descobrimos que é necessário cessar todo esforço humano para alcançar e abraçar a redenção que só Jesus pode nos oferecer, pela sua graça. Como afirmação teológica, parece simples, mas para entrar neste descanso, precisamos nos esforçar.

Por que precisamos nos esforçar para descansar?

Algumas pessoas dizem que gostam tanto do seu trabalho que não precisam de folga ou lazer. Outras não conseguem parar por outros fatores, como a necessidade de cumprir metas, a concorrência que não pára, o dinheiro escasso, as contas para pagar, a necessidade de produzir algo para deixar para os filhos, o capitalismo selvagem, etc. Com estes argumentos, o descanso e o lazer vão ficando para amanhã, semana que vem ou, quem sabe, um dia…

Nossa realidade é que não repousamos pois temos dificuldade em confiar em Deus como nosso provedor, Jeová Jiré. Assim como é difícil dormir em um carro guiado por um motorista em quem não se confia, não temos coragem de entregar o volante da nossa vida para Deus. Será que ele é competente o suficiente para administrar nossos problemas?

Estou escrevendo sobre este tema, mas faço uma confissão: há 20 anos, Deus vem me pedindo para entregar-lhe o comando, ensinando-me com muita paciência que confiar nele é o melhor caminho. Após todo este tempo, com muitas coisas dando errado por má administração de minha parte (prejuízos financeiros em várias áreas, muito trabalho e pouco fruto, várias portas sendo fechadas, decepções), já estou convencido que o melhor é confiar em Deus. Não tente percorrer um caminho tão longo como este. Quando Deus lhe pedir para assumir a direção, deixe que ele seja o piloto e sente você no banco de trás.

O lazer profético

Quando você está duro, e mesmo assim tira um dia de folga, deve fazê-lo profetizando que trabalha por ser um propósito de Deus para sua vida, mas que não é deste trabalho que vem o seu sustento. Seu sustento vem do Senhor – Jeová Jiré. Deus trabalha no turno da noite e durante nossos momentos de inatividade! Este é o ponto crucial que precisamos compreender para termos um descanso efetivo. Por não viver esta verdade, muita gente até viaja ou tenta repousar, mas a mente não pára, a alma desmaia (como em Dt 28).

O segredo, então, para encontrarmos descanso está em atendermos o chamado de Jesus, em Mateus 11.28,29 – Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (ele dará o descanso sobrenatural, o dom da salvação, que nos livra de qualquer esforço humano para merecer sua bênção). Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas (esta é a parte onde a maioria de nós costuma travar, pois fala de um comportamento que devemos aprender, um esforço e uma disciplina para descansar em Deus).

Muitos podem achar um contra-senso quando, diante da crise econômica que o Brasil está passando, você pega a sua vara e vai pescar, ou vai pular amarelinha na praça com as crianças, ou simplesmente fica na horizontal assistindo o seriado do Chaves (particularmente, tenho horror, mas conheço alguns pastores que não perdem um programa). A vida já nos dá emoções fortes, e você ainda paga para andar de montanha-russa e outros brinquedos radicais? Faça tudo isto, e outras coisas que sua criatividade lembrar, testemunhando e profetizando de sua confiança em Jeová Jiré nosso Provedor.

Nenhum preguiçoso deve usar este argumento em sua defesa, mas se estamos trabalhando e temos um dia de folga, devemos aproveitá-lo e glorificar a Deus por isso. A preguiça, contudo, está relacionada com a ociosidade, e não com o descanso necessário de quem trabalha.

Alguns pastores e obreiros são verdadeiros workaholics (viciados no trabalho), e também não conseguem descansar devido aos muitos trabalhos na igreja (não usei a expressão na obra de Deus, de propósito). São muitas pessoas para aconselhar, o mundo inteiro para ouvir a pregação do evangelho, o sermão para preparar, ir ao velório de algum conhecido, centro de recuperação, reunião com jovens, aniversário de criança, doentes no hospital, trabalho, trabalho, trabalho, um verdadeiro estresse espiritual.

Estes ministros multimídias me fazem lembrar a teologia de auto-sotericismo pregada pela Nova Era. Esta heresia diz que precisamos fazer uma série de coisas (dependendo de cada seita ou religião) para salvar a nós mesmos e que nenhuma divindade virá em nosso socorro. Tudo dependerá do que fizermos (em nosso caso, horas gastas em oração, leitura da Bíblia, quantidade de almas ganhas para Jesus, ofertas, …). Diante de tanta atividade, associada à dificuldade que temos de confiar em Deus, será que não estamos vivendo esta doutrina de auto-salvação (apesar de falarmos algo totalmente diferente)?

Algumas pessoas se acham tão especiais e competentes que centralizam tudo em torno de si mesmas, jamais delegando autoridade ou contando com a colaboração de outros membros do Corpo. Falta tempo até para tomar um sorvetinho na esquina com a esposa. Não vão à praia, a parques de diversões, não contam piada, não pulam corda, nem andam de bicicleta, não dançam e nem vão ao cinema. O fim de todo este esforço auto-sotérico, a fim de conseguir estrelinhas em sua coroa, é terminar pior do que quando começou, sem valor, sem reconhecimento, na miséria espiritual. O Senhor te fará voltar ao Egito em navios, pelo caminho de que te disse: Nunca jamais o verás; sereis ali oferecidos para venda como escravos e escravas aos vossos inimigos, mas não haverá quem vos compre (Dt 28.68). Sabe o que significa andar vários anos no deserto e terminar novamente como escravos no Egito?

É neste tipo de descanso que está fundamentado o sábado (a palavra sábado significa desistir ou parar; existe toda uma conotação religiosa, mas seu significado etimológico é só este mesmo). Deus quer nos levar a uma posição de completa dependência e confiança nele mesmo, e só assim podemos realmente descansar.

Lazer em Comunidade

Devemos ser imitadores de Deus (Ef 5.1) e fazer as coisas do jeito dele. No princípio, vemos que ele criou, descansou e se relacionou (Gn 1-3). E esta comunhão com Deus e com seu povo também é essencial para um descanso e lazer efetivo.

Ao nos unirmos a Jesus, passamos a fazer parte de seu Corpo, a igreja (1 Co 6.17;12.12; Ef 5.30). Somos filhos do mesmo Pai (Jo 1.12-13; Ef 1.5) e, portanto, somos irmãos (Rm 8.29; Mt 23.8-9). Temos um mandamento para amarmos uns aos outros (Jo 13.34; 1 Jo 2.7-10;3.23), pois o amor é a única motivação legítima para a prática da vida cristã. Na igreja primitiva, por atuação do Espírito Santo, este amor fraternal gerou a comunhão, o estar juntos (At 2.42-46; 5.12; 1 Co 14.23). O estar juntos é indispensável para nos conhecermos e edificarmo-nos mutuamente. Devemos desenvolver situações para estarmos juntos, e o lazer é um ótimo motivo para estes ajuntamentos:

• Comer juntos, com alegria e singeleza de coração (At 2.46)
• Organizar passeios e férias juntos
• Retiros espirituais e acampamentos
• Jogos com jovens e adolescentes
• Visitas a outros irmãos

Estas atividades são excelentes para que o amor possa estar fluindo em nosso meio, pois passamos a conhecer melhor nossos irmãos, suas aspirações, suas lutas, sua família. Como levaremos as cargas uns dos outros (Gl 6.2), ou animaremos os desanimados (1 Ts 5.14), se nem mesmo nos conhecemos?

O lazer em comunidade também exige de nós santidade e amadurecimento espiritual (o futebol é um excelente detector de espiritualidade). A máscara da falsa espiritualidade pode ser sustentada nas reuniões, mas nunca na convivência. Além disto, podemos desenvolver uma série de virtudes, como paciência, domínio próprio, humildade, submissão, amor, confissão de pecados e perdão. É muito mais fácil viver sozinho, mas é na convivência que amadurecemos espiritualmente.

Alguns conselhos práticos:

• Devemos tomar a iniciativa de nos aproximar; amar, e não esperar ser amados;
• Devemos procurar os mais débeis, pois também precisam de nós;
• Ao estarmos juntos, evitemos conversas tolas e superficiais. Devemos, também, falar a verdade, ser sinceros;
• A comunhão é algo que cresce gradativamente; a confiança vem com o tempo;
• Algumas pessoas estão sempre de fora dos ajuntamentos (algumas viúvas, pessoas consideradas “chatas”, as que têm pouco dinheiro), e não devem ser esquecidas; lembre-se que o amor de Jesus por nós foi sacrificial e inclusivo;
• Não podemos ser egoístas e individualistas se queremos uma comunhão efetiva; vale a pena gastar nosso dinheiro em favor da comunhão com aqueles que não podem contribuir.
• Dependendo da disponibilidade que temos, podemos separar alguns minutos, algumas horas, um dia, um fim de semana ou até mesmo um mês inteiro para termos comunhão e lazer juntos.

Material consultado: Revista Impacto n° 11, Fundamentos para Fé e Obediência vol. III.

Ezequiel Netto mora em Monte Mor/SP, é Médico Veterinário, e professor de Dons Proféticos  no Ministério Impacto.

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