1. O Filho Pródigo
(Thiago Bronzatto)
Em Lucas 15.11-32, lemos a parábola do filho pródigo, que apesar de tão conhecida, é pouco aplicada na vida prática da igreja. A história tem, como se sabe, três personagens (o pai, o filho mais novo e o filho mais velho), e duas partes: a trajetória do filho mais novo e a reação do filho mais velho.
O filho mais novo representa os desviados que partem para um país longínquo e fantasioso; afastam-se de sua casa (igreja), pois em seus corações há um certo descontentamento com o ambiente monótono. Resolvem então procurar coisas diferentes, onde possam estar “livres” das obrigações e dos limites anteriormente impostos. Quanto mais longe o filho errante caminha, mais rápido se esquece do pai e da sua vida anterior no lar.
Através das suas atitudes, podemos perceber que o amor deste filho para com seu pai era totalmente frio e interesseiro. Embora estivesse junto, morando sob o mesmo teto do pai, seu coração já se afastara há algum tempo. Não se preocupava com a dor ou a tristeza que causaria ao pai, somente com o que vinha sonhando e planejando para si mesmo. Via o pai todos os dias, participava de reuniões, estava presente nos louvores, mas tudo era frio e sem graça; seu coração egoísta só pensava no que poderia fazer com a antecipação da herança e com a liberdade total.
Entretanto, sua liberdade tão sonhada logo vira um pesadelo. E ele começa a sentir saudade do lugar onde tinha segurança, provisão, amor e compreensão. Lembra dos momentos felizes na igreja, do toque do Pai – mas quando pensa em voltar, surgem centenas de obstáculos: orgulho, rejeição, a imagem de pessoas excluindo-o, cobrando-lhe satisfações e justificativas do que fizera. E, principalmente, os líderes, que sem dúvida lhe submeteriam a um exaustivo interrogatório e o fariam sentir pior do que um lixo! Para ele, é mais doloroso voltar do que seguir em frente!
Finalmente, a miséria e o sofrimento apertam mais ainda e ele volta, disposto a enfrentar o que for necessário para estar novamente na casa do pai. Não vai fazer exigências, abriu mão até mesmo do status de filho. Entretanto, a recepção não foi nada do que esperava. O pai o estava esperando, subentendemos que ficava todos os dias olhando à distância, para ver se já estava chegando. Ele avistou o filho de longe, que só é possível quando se procura constantemente; e correu ao seu encontro, uma atitude inesperada da parte de um idoso, ainda mais para ir ao encontro de um filho delinqüente, de alguém que desprezou seu amor.
Hoje, quando um desviado volta, de que maneira temos representado o Pai dele e nosso? Estamos de braços abertos, prontos para dar uma recepção jubilosa, ou precisamos antes certificar se ele está realmente arrependido? Na história de Jesus, o pai sabia que o filho estava arrependido através de sua atitude em voltar. Nas histórias modernas de filhos pródigos, é mais comum afugentarmos o retorno deles com nossas atitudes de desconfiança, frieza e rejeição.
Assim, fazemos o papel do filho mais velho, aquele que nunca se afastou de casa, mas cujo coração estava talvez mais distante da verdadeira intimidade com o pai do que o do filho pródigo. Cheio de razão, pronto para defender sua fidelidade de longa data, não tinha prazer nenhum em receber seu irmão de volta. E não compartilhou da alegria e do regozijo do pai. Ao exclamar: “este teu filho”, automaticamente se distanciou tanto do irmão, como do próprio pai. Foi fiel exteriormente por anos, entretanto, tornou-se um estranho dentro de sua própria casa!
Há muitos desviados que precisam voltar à casa do Pai. Entretanto, para isto há muitos “irmãos mais velhos” que precisam deixar sua dureza, sua justiça própria e seus preconceitos, e permitir que seus corações voltem à verdadeira intimidade com o Pai. Só então poderão representá-lo fielmente e receber, no lugar do Pai, os pródigos em casa com braços abertos.
2. A Parábola das Famílias Descuidadas
(à guisa da parábola do semeador)
Jesus Costa Ourives
O anjo do Senhor estava distribuindo criancinhas pelas famílias da terra.
Uma criança nasceu numa família que se alegrou muito e fez muita festa com o nascimento do bebê. Mas os adultos daquela família estavam muito preocupados com o seu próprio crescimento e não providenciaram o alimento necessário para a nova criatura. Depois de algum tempo, a criança morreu abandonada.
Outra criança nasceu numa família que também fez muita festa no seu nascimento. Porém, como não tinham raízes profundas e eram muito superficiais, não conseguiram fixar a criança no seu meio. Dentro de pouco tempo, veio um ladrão e roubou a criança; a família nem notou que a sua criança fora levada.
Uma terceira criança foi deixada numa família rica, possuidora de muitos tesouros materiais. Houve muita festa com a chegada da criança – cânticos, homenagens, até se lembraram de agradecer a Deus por ter entregue aquela criança numa família abastada que podia cuidar dela. Mas, dentro de algum tempo, as preocupações e os cuidados com os bens ocuparam o tempo daquela família, e a criança foi abandonada à sua sorte. Não tendo forças suficientes para se manter sozinha, a criança morreu. Quando a família se deu conta da sua perda, lamentou.
Finalmente, uma quarta criança foi entregue a uma família que a recebeu de braços abertos, alimentou-a, cuidou dela de tal maneira a suprir-lhe não somente o alimento, mas principalmente o cuidado e a proteção contra as doenças. Vacinaram e fortaleceram-na, nos momentos de fraqueza, até se tornar adulto e a ponto de ter sua própria família e receber outras crianças.
É claro que esta parábola não está no Evangelho. Mas, infelizmente, a realidade que ela espelha está entre nós. Quantas e quantas pessoas são alcançadas pela Palavra, se convertem, pedem o batismo, são integradas no seio de uma igreja – e no fim se perdem. Vão engrossar a já enorme lista dos que conheceram a Palavra, mudaram de vida, pertenceram a uma igreja, mas por “n” razões que não se justificam, estão fora das congregações que as receberam.
Será que este problema não tem solução? Teremos de conviver com isto para sempre?
A própria parábola mostra que haverá perda e que nem todas as sementes dão fruto. Mas, se aplicarmos o solo da parábola ao ambiente e cuidado oferecido pela igreja, podemos nos tornar uma terra fértil, onde a semente lança da realmente cresce, amadurece e dá muitos frutos!
3. O Bom Samaritano
(Extraído do livro: “Onde Está Teu Irmão” de Sinfrônio Jardim Neto e Dária Tiyoko Jardim)
Nesta história contada por Jesus (Lc 10.30-37), encontramos alguém que seguia seu caminho até que foi interrompido, assaltado, espancado e largado semimorto. Como esse homem, existem muitos crentes que estavam seguindo pelo caminho, andando com Deus, em comunhão com o Senhor. Mas foram feridos pelo inimigo que lhes roubou as preciosidades concedidas por Deus: a fé, o caminhar no temor do Senhor, a obediência à voz do Espírito Santo, a sinceridade e muito mais. Ficaram caídos e semimortos.
A parábola prossegue dizendo: “Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho, e vendo-o, passou de largo”. O sacerdote passou de largo! Ele era um líder muito importante que tinha a missão de oferecer sacrifícios a Deus. Essencialmente, representava um mediador entre Deus e os homens. Quando alguém pecava e queria o perdão de Deus, levava um animal até o sacerdote, que ficava incumbido de sacrificá-lo para que o pecador fosse remido. Notamos que o sacerdote era alguém envolvidíssimo com a religião, a população e com seu trabalho. Havia muita gente para atender e muitos animais a serem sacrificados. Quando descia de Jerusalém para Jericó, talvez estivesse com sua agenda superlotada. Aí encontra, bem à sua frente, um homem semimorto.
Apesar de ser sacerdote, naquele momento encontrou incontáveis justificativas para prosseguir indiferente. Podemos imaginar algumas.
“Não posso perder tempo, pois muitas almas me esperam para serem salvas.”
“Não vou poder parar, pois tenho um importante compromisso.”
“Ele deveria ter mais cuidado.”
Não faltam desculpas hipócritas para passar de largo e seguir religiosamente com a cabeça erguida. Foi exatamente isso que ele fez. Continuou seu caminho apressadamente. Não levava nenhum peso na consciência, consolando-se com frases como estas:
“Muitas almas me esperam para serem abençoadas.”
“Devo correr para realizar a obra do Senhor.”
A expressão passar de largo indica que ele evitou o ferido e passou para o outro lado da estrada, caminhando distante. Evitou aproximar-se do caído e desviou seus passos para longe do necessitado. Desviou também os olhos e deu as costas friamente para uma vida que agonizava, carecendo de socorro.
Meditando a respeito da cena, ficamos encolerizados ao percebermos insensibilidade tão grande; e indignados com tamanha inversão de valores e falta de amor. Contudo, principalmente nós, pastores e cristãos comprometidos com a obra de Deus, corremos o risco de acabar repetindo essa mesma história em nossa vida. Podemos também encontrar intermináveis desculpas para justificar o nosso passar de largo. Talvez tenhamos percebido que alguns irmãos não estão mais usufruindo dos pastos verdejantes da presença de Deus. Estamos vendo-os caídos pelo caminho, perecendo de sede e fome, e ainda nos justificamos, dizendo:
“Não posso perder tempo com ele, pois tenho de realizar a obra de Deus.”
É mais fácil fazer vista grossa, deixar a ovelha desgarrada continuar perdida e partir para algo mais grandioso e emocionante. Para aliviar um pouco a consciência, podemos dizer que ela caiu porque quis, e agora, que volte sozinha. Deus não aceita tais desculpas e certamente vê o desamor de mãos dadas com a hipocrisia dentro do nosso coração, quando agimos assim. Usamos muitos argumentos na tentativa de justificar nossa indiferença:
“Vai dar muito trabalho.”
“Vou perder tempo.”
“É muito difícil.”
“Vou colher pouco resultado.”
“Vai demorar.”
“Ele não quer saber de Deus.”
“Ele vai me receber mal.”
Se pararmos de usar os argumentos do cego egoísmo e mirarmos o amoroso coração de Deus, ouviremos a doce voz do Espírito Santo respondendo-nos com uma só frase:
“Uma alma vale mais do que o mundo inteiro.”