Por Asher Intrater
Abraão e Sara não eram pessoas perfeitas. Havia até aspectos do casamento deles que poderiam ser chamados de bastante disfuncionais (ele a entregou a outros homens, e ela lhe deu outra mulher). No entanto, eram pessoas que também se entregavam para caminhar com o Senhor em integridade da aliança, apesar de suas fraquezas.
Deus mudou o nome de Abrão para Abraão e o de Sarai, para Sara. Ambos os nomes foram alterados com a adição de uma letra hebraica (transliterada pela letra “H”). A letra H, por aparecer duas vezes em YHVH, simboliza para os falantes de hebraico o nome de Deus. Assim, suas identidades foram alteradas ao adicionar a imagem de Deus à própria autoimagem deles. Abraão significa “pai de muitas nações” e Sarah significa “princesa”.
Cada vez que pronunciavam seus novos nomes “de Deus”, proclamavam fé em seu próprio destino dado por Deus. Apesar de suas fraquezas pessoais, Abraão declarou:
“Vou retomar o planeta Terra que foi perdido por Adão” (Romanos 4.13); “Serei um pai espiritual para milhões de pessoas em cada nação” (Romanos 4.18, Gênesis 17.5); “Minha semente será de heróis poderosos na terra” (Gênesis 15.5, Salmos 112.2).
Abraão e Sara estavam sozinhos em sua fé e integridade de aliança. Eles eram únicos entre as pessoas que viviam na Terra naquela geração. Eles se tornaram o protótipo de todos os crentes nas gerações seguintes (Isaías 51.1-2, Romanos 4.11, 12, 16). O que eles tinham?
O que tornou Abraão e Sarah únicos?
Eles estavam comprometidos com “alcançar” ou “evangelizar” – eles “fizeram almas” em Harã (Gênesis 12.5). Eles também estavam comprometidos com o “discipulado” – Abraão tinha 318 discípulos treinados prontos para lutar pela aliança (Gênesis 14.14). Abraão teve uma revelação pessoal do Messias Yeshua na forma do Anjo do Senhor. Lemos que o Anjo do Senhor apareceu a Abraão pelo menos 5 vezes (Gênesis 12.7; 15.1, 17.1; 18.1; 22.14).
A tradição judaica diz que Abraão foi testado 10 vezes. Cada incidente testava sua disposição para obedecer e sacrificar. Sua maior qualidade de caráter é resumida: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (Gênesis 18.19). Essa característica foi o que o tornou o pai da fé. Ele treinou seus filhos e os membros de sua congregação nos caminhos do Senhor. Ele era um “praticante” da palavra, não um “ouvinte apenas”. Ele defendia a justiça e a integridade. Ele era um homem de aliança.
Os rabinos perguntaram por que Abraão discutiu com Deus pela salvação dos gentios em Sodoma. A resposta deles é que ele já levava a sério seu chamado como “pai de muitas nações.” Ele quis iniciar seu destino para espalhar a boa nova de que “todas as nações seriam abençoadas nele e em sua semente” (Gênesis 12.3; 18.18; 22.18). Ele os amava como se fossem seus.
Abraão e Ló
Ao longo da história de Abraão, há uma comparação com seu sobrinho Ló. Os dois homens representam dois tipos de crentes: um comprometido com a aliança; o outro, comprometido com a carnalidade. Ambos eram crentes; ambos “salvos” na linguagem da Nova Aliança.
Quando os dois anjos foram a Sodoma para resgatar Ló da destruição iminente, Ló hesitou e permaneceu (Gênesis 19.16). Os rabinos perguntaram por que houve tanta demora. O comentário de Rashi afirma que Ló ficou para reunir seu dinheiro antes de fugir. Embora isso possa não ser exatamente verdade, há um ponto importante a considerar.
Primeiramente, o que Ló estava fazendo em Sodoma? Ló era um homem justo. Ele foi atormentado em sua alma mesmo enquanto vivia em Sodoma (2 Pedro 2.7-8). Ainda assim, ele havia feito concessões. Ele era extremamente rico, com muito gado e muitos trabalhadores (Gênesis 13.6). Ele perdeu tudo. Ele deixou Sodoma no final sem dinheiro, sem gado e sem trabalhadores.
A lição da história de Ló é que Deus tem misericórdia até mesmo de um crente comprometido, mas carnal. Deus pode resgatá-lo (2 Pedro 2.9), mas ele perderá toda a herança que poderia ter tido (1 Coríntios 3.15). Ló tinha honra em Sodoma. Ele estava sentado no portão da cidade (Gênesis 19.1). Ainda assim, ele ficará para a história como tendo perdido sua honra diante de Deus.
Quando os visitantes angelicais chegaram a Abraão, Sara ajudou na hospitalidade (Gênesis 18.6). Ela era sua parceira espiritual. Quando os anjos vieram a Ló, não havia sinal de sua esposa ajudando (Gênesis 19.3). Ela não era sua parceira espiritual. Os trabalhadores de Ló, sua família e até sua esposa eram atraídos pelos prazeres mundanos de Sodoma. Parece que Ló cedeu à esposa da mesma forma que Adão cedeu a Eva no Jardim.
A esposa de Ló foi transformada em uma estátua de sal (Gênesis 19.26). Sodoma foi transformada em sal. Os trabalhadores de Ló foram transformados em sal. A esposa de Ló recebeu a mesma punição que o resto de Sodoma. Ela não foi punida apenas por um instante de curiosidade. Ela olhava para trás porque viveu sua vida nos valores mundanos de Sodoma. Deus não destrói pessoas por um momento de fraqueza, mas por uma vida inteira de mundanismo.
Você vai ser como quem?
Os anjos instruíram Ló a fugir para a montanha. Acredito que eles estavam tentando apontar na direção de Abraão. Ló conseguiu escapar da punição, mas nunca voltou para Abraão. Ele manteve sua salvação, mas não conseguiu recuperar um estilo de vida de aliança.
Existem dois tipos de crentes “salvos” no mundo. Existem crentes carnais como Ló, que são justos de coração, mas vivem sem compromisso. Eles são atormentados por suas tentações. Eles receberão a vida eterna, mas perderão sua recompensa. Temo que haja muitos cristãos e judeus messiânicos nessa categoria.
Há outros crentes, embora muito mais raros, que escolhem andar como Abraão. Eles estão comprometidos com os valores da aliança. Eles vencem pela fé e pela fidelidade. Eles herdarão todas as posses do reino de Deus. Você vai ser como quem? Sigamos os passos de Abraão, não de Ló.