Por: Peter Walker
Uma frase que começa a se ou vir, com cada vez mais freqüência nesses dias, é: “Precisamos de uma nova reforma”. Uns acham que já está acontecendo e que, por coincidência, é exatamente aquela “nova revelação” que acabaram de implantar em sua igreja, comunidade ou denominação (revelação esta que já vem prontinha, detalhada, e com os cinco ministérios de Efésios 4.11 estabelecidos, nomeados e funcionando).
Mas há um consenso cada vez mais crescente de que algo precisa romper de uma forma mais significativa, abrangente e revolucionária no contexto da igreja como um todo. Seria, na terminologia de alguns, “a próxima onda”. Não seria limitada a um local, a uma denominação, a uma rede de comunidades. Depois que ela passasse, a igreja como um todo nunca mais seria a mesma.
É sobre esta palavra romper que eu gostaria de discorrer neste artigo. Deixando de lado o panorama da igreja como um todo, olhemos a situação individual das pessoas.
Uma frase muito mais comum do que aquela citada acima é: “Algo precisa romper na minha vida”. Em quase todo lugar em que você vai, não importa a ênfase, doutrina, ou linha da igreja, comunidade ou denominação, há pessoas frustradas, insatisfeitas, sedentas, ansiosas e, muitas vezes, desesperadas por um romper de Deus nas suas vidas. Mas, na vasta maioria dos casos, estão passivas, acomodadas, ou aparentemente impotentes e incapazes de fazer alguma coisa para mudar a situação e trazer esse romper à luz. Embora sedentas, estão esperando que “Deus faça alguma coisa”: “Deus precisa agir”; “O Espírito precisa mover”. Outros partem em busca de algo que os satisfaça, ou que os transforme. Vão de encontro em encontro; matriculam-se em cursos e seminários (todas coisas boas – excelentes, eu diria). Mas ao voltarem para a vida rotineira, descobrem que, embora cresceram e se amadureceram, nada realmente “rompeu”.
O que seria esse romper? Como acontecerá? Será que é uma nova reforma que virá e abrirá as portas para uma nova dimensão, de forma maravilhosa e universal? Ou é o contrário? À medida que mais e mais pessoas começam a buscar este romper com todo o coração, o Espírito começará a agir e, então, começará a nova reforma?
Sem a pretensão de responder nenhuma destas perguntas de forma definitiva, gostaria apenas de apontar alguns princípios da Palavra e expor alguns dos problemas que afligem o povo de Deus de um modo geral com maior ou menor intensidade.
O Que Deu Errado na Velha Aliança?
Antes de Jesus morrer, ele bradou em alta voz, o véu se rasgou e, em seguida, expirou. Isto está registrado em três evangelhos, mas não somos informados o que ele bradou. Somente o evangelho de João nos informa que ele bradou: “Está consumado”.
Em outras palavras, a missão que Jesus viera realizar estava se completando exatamente naquele momento, com o véu se partindo (rompendo) e a entrada para o Santíssimo se tornando livre para todos que confiassem no sangue que estava sendo derramado por ele naquela cruz. Resumindo: Jesus veio para tirar a barreira que nos separava de Deus e abrir o caminho para comunhão íntima e irrestrita com nosso Senhor, SEM QUALQUER OUTRO MEDIADOR. (Estude Hebreus para entender isto melhor.)
Deus havia prometido em Jeremias um novo pacto, “não conforme aquele que vossos pais invalidaram no deserto”. Como foi que invalidaram o pacto? Através de se recusarem, em Êxodo 20, a ouvir a voz de Deus. Pediram um mediador. E, sem ouvir a voz de Deus, ninguém é capaz de cumprir a lei de Deus.
E o novo pacto? É diferente? Cumprimos a lei automaticamente ou temos que ouvir a voz de Deus, hoje também? Ele prometeu escrever a lei em nossos corações. Como isso acontece?
A desculpa que o povo deu no Monte Sinai foi de que a voz de Deus os mataria. E hoje? É diferente? Se ouvirmos a voz de Deus, morreremos?
Permita-me apresentar alguns dos problemas que, ao meu ver, estão presentes hoje no nosso sistema religioso-evangélico, e contrastá-los com o que as Escrituras dizem. Vamos aguçar a nossa fome e sede pelo cumprimento de tudo que Jesus veio fazer e ver se conseguimos pelo menos começar a responder algumas das perguntas acima.
1. Problema – Sistema religioso-evangélico totalmente baseado em mediador.
Podemos até confessar o contrário com a nossa boca, mas a vasta maioria de nós depende de alguém ou de alguma coisa para a sustentação de nossa vida cristã. Raras pessoas têm um contato íntimo, pessoal e maduro com Deus. Poucas sabem encontrar a vontade de Deus para suas vidas e andar nela.
Posição das Escrituras
Como já destacamos, o que invalidou a Primeira Aliança foi a exigência de um mediador. Por outro lado, o ato que concluiu a instituição da Nova Aliança foi rasgar o véu e abrir o caminho para comunhão face a face com Deus, SEM MEDIADOR.
Há inúmeras passagens no Novo Testamento para corroborar isto, como 1 Pedro 2.5, onde fala que somos “pedras vivas … sacerdócio santo”, e 2.9, onde reafirma o propósito de Deus em ter um reino de sacerdotes. A própria “documentação” da Nova Aliança em Jeremias 31 é clara: “E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão”.
2. Problema – O homem quer tomar suas próprias decisões.
Falamos que queremos Deus – e realmente o queremos, muitas vezes com desespero. Mas queremos que ele abençoe os nossos caminhos, nossas decisões, nossos planos. “Dá um carimbo aí, Deus. Está tudo pronto, tudo resolvido, só falta a tua aprovação.” Quantos de nós estamos dispostos a largar tudo, literalmente TUDO, e não fazer nada até Deus falar? (Está percebendo um romper aqui? Aliás, preste atenção: “romper” e “morrer” – tem alguma ligação?)
Posição das Escrituras
O assunto dos Caminhos de Deus é um tema que valeria a pena ser abordado, um dia, em mais profundidade. Mas vou fazer apenas duas ou três colocações.
Deus diz, em Jeremias 7.22-24, que holocaustos e sacrifícios nunca foram seu propósito original. “Nunca lhes pedi isso”, ele diz. “Não mencionei nada sobre isso quando os tirei do Egito. Só queria que vocês inclinassem o ouvido, ouvissem a minha voz e andassem nos meus caminhos.” (Ele estava se referindo a Êxodo 19.5,6. Olhe a condição: “Se atentamente ouvirdes a minha voz”.) Em seguida, ele diz que o povo não quis ouvir a sua voz, mas preferiu andar “nos próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante”.
Isaías 66.3 equipara todos os atos religiosos a atos repugnantes:
• matar um boi = matar um homem
• matar um cordeiro = matar um cão
• oblação = sangue de porco
Ele explica: “Porquanto eles escolheram os seus próprios caminhos, e tomam prazer nas suas abominações”. Ele chama nossos caminhos de “abominações”.
É difícil achar alguma coisa que mais irrita Deus do que o homem que toma as próprias decisões. O pecado original de Adão foi exatamente o de rejeitar a Árvore da Vida e comer do fruto do conhecimento do bem e do mal e, assim, adquirir a capacidade de tomar as próprias decisões.
Jesus, o próprio Filho de Deus, não fazia nada de si mesmo (Jo 5.19), e ele prometeu que nós, sem ele, nada poderíamos fazer (Jo 15.5). Aleluia! Ele veio aniquilar o pecado (Hb 9:26) – independência de Deus, tomar as próprias decisões – e nos santificar nessa vontade: “Eis-me aqui para fazer a tua vontade” (Hb 10.9,10). UMA VEZ PARA SEMPRE.
3. Problema – Sistema religioso-evangélico totalmente voltado para as necessidades do homem.
Não falaremos sobre esse problema, porque está patente (em maior ou menor grau) em todas as nossas igrejas hoje. Não queremos cair na cilada de criticarmos nenhuma igreja ou denominação em particular. Vamos direto para a posição das Escrituras.
Posição das Escrituras
Efésios 1.3-6: Fomos criados para o louvor de sua graça.
Efésios 1.10 – Deus faz convergir tudo em Cristo.
1 Coríntios 15.28 – O objetivo é para que Deus seja tudo em todos.
João 6.26,27 – “Trabalhai para a comida que permanece para a vida eterna.”
Mateus 6.20-34 – “Buscai primeiro … e todas essas coisas vos serão acrescentadas.”
Não precisamos buscar as coisas naturais. É do caráter de nosso Deus nos abençoar. Nenhuma pessoa, cujo coração está totalmente envolvido na obra de Deus, terá falta de alguma coisa!
4. Problema – Sistema religioso-evangélico que permite apaziguar a necessidade inerente que o homem tem por Deus, sem levá-lo à transformação.
Nossa vida cristã mais parece um rolamento. Estamos dentro de nossa “trilha”, rodando semana após semana. Culto bom no domingo (ou não tão bom), semana cheia, culto bom no domingo (ou não tão bom), semana cheia… Choramos, levantamos as mãos, cantamos, adoramos, ouvimos, ofertamos… MAS NADA MUDA NA NOSSA VIDA!
Ah, sim, alguma coisa muda. A gente, sei lá, fica um pouco mais espiritual. “Hoje sou obreiro!” “Vou liderar o grupo de casais.” “Vou entrar no Grupo de Louvor.” Mas na segunda-feira, a nossa rotina é a mesma; as nossas decisões, somos nós quem as tomamos; alternamos períodos de fervor e mornidão; altos e baixos no casamento… e por aí vai.
Posição das Escrituras
Em toda a Bíblia, uma das características mais marcantes é o fato de que nossa vida com Deus é um caminho, um processo. O próprio plano de Deus precisa ser entendido sob esse prisma (o que se compreenderia claramente através de um estudo detalhado sobre os Caminhos de Deus).
Filipenses 3.12-14 – “Vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus.”
Hebreus 3.6 – Somos a casa de Deus, se conservarmos firmes até o fim a nossa confiança.
Lucas 8.18 – “Cuidado como ouvis, porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver, até o que parece ter lhe será tirado.”
Há inúmeras outras passagens sobre esse assunto. De glória em glória… O talento escondido… Toma a tua cruz…
Não existe estagnação na vida cristã. Não existe no mundo natural e, muito menos, no mundo espiritual. Se pararmos de andar com Deus, inexoravelmente, andaremos para trás.
A carta à Igreja em Laodicéia é muito clara. Deus não tolera mornidão. Ele literalmente não consegue engolir!
ALGO PRECISA ROMPER! Pessoas estão morrendo, o mundo vai caminhando para o inferno! Então vamos evangelizar? Vamos largar tudo e salvar o mundo? Muito bom; podemos e devemos ir.
Mas o que vai salvar o mundo é um povo que vive a Nova Aliança. Um povo que entra pelo novo e vivo caminho, inaugurado por Jesus, através do véu, isto é, da sua carne. Um povo que sabe que a sua carne vai morrer (Êx 20), mas mesmo assim quer ouvir a voz de Deus no Santíssimo. Ali, contemplando a face do Senhor, SEM MEDIADOR, a casca de trigo se ROMPE, e ele escreve as suas leis em nossos corações.
Um povo que vive a Nova Aliança não tomará mais suas próprias decisões, ao contrário, fará tudo que vir o Pai fazer. É um povo que busca o reino de Deus antes de todas as coisas, porque sabe que todas as demais coisas lhe serão acrescentadas.
Eis me aqui, Senhor. Envia-me a mim! Mas, e os meus lábios? Ah, eu vi o Senhor, o seu trono enchia o templo! Ele enviou uma brasa do altar, purificou os meus lábios e disse: “Vai, dize a este povo…” (Is 6.9)
O homem tocado por Deus jamais conseguirá se calar! Um povo que entra, cada um, como pedra viva no Santíssimo, SEM MEDIADOR, será uma carta viva, um evangelho vivo, puro, sem legalismo, sem libertinagem!
Rompe nossa casca, Senhor! Atrai-nos pela tua presença para o Santíssimo. Que o nosso velho homem morra e diminua, à medida que Cristo cresce em nós, cada dia mais e mais. Dá-nos fome e sede de contemplar a tua face e ser transformado. Assim, transformaremos todos ao nosso redor.
A nova reforma virá quando cada membro do corpo de Cristo conhecer ao Senhor pessoal e intimamente. Não será mais necessário ensinar cada um a seu irmão, pois todos o conhecerão, desde o maior até o menor.
Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só: mas se morrer, dá muito fruto (Jo 12.24).
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Paternidade e o Ministério Infantil na Igreja
Geralmente, as igrejas estão enfrentando dificuldades no ministério com as crianças; há poucos obreiros e estes são consumidos tentando suprir as necessidades de filhos de famílias cristãs. (…) Existe um mundo de crianças que está à beira da morte e perdido, e essas crianças não podem ser alcançadas porque as equipes de pessoas não estão sendo usadas da maneira correta.
D. L. Moody não deixava crianças de famílias cristãs irem à Escola Dominical. Ele dizia que isso faria com que os pais parassem de discipular seus próprios filhos. E foi o que realmente aconteceu!
Não pergunte o que a igreja está fazendo pelos seus filhos, pergunte como a igreja pode preparar você melhor!
Deus está chamando cada coração paterno a levantar-se e abrir seu coração às crianças. (…) O maior desejo do coração de Deus é que exerçamos a paternidade de nossos próprios filhos e, então, que restauremos as nações. A partir daí poderemos ser pais de outros, a partir daí uma geração irá levantar-se, a qual também teve pais e que também irá assumir a paternidade sobre gerações e conquistar nações.
Abraão foi primeiro provado em seu amor e devoção a seu próprio filho; aí ele se tornou pai de nações.
Quando uma geração de pais e avós – toda uma geração precedente – assume o discipulado ou a paternidade da próxima, dá-se início a um novo destino. Eles saberão como ser pais para aqueles que vêm após eles. A nossa geração poderia começar essa paternidade entre as gerações.
Extraído de:
“Reconectando as Gerações”,
Daphne Kirk,
Ministério Igreja em Células no Brasil.
www.celulas.com.br