21 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Senhor, Livra-nos Dos Preconceitos! O Problema dos “Rótulos”

Por: Harold Walker

Quando Nem Deus Pode!

Saiu Jesus dali, e foi para a sua terra, e os seus discípulos o seguiram. Ora, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ao ouvi-lo, se maravilhavam, dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? E que sabedoria é esta que lhe é dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele. Então Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa. E não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser curar alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. E admirou-se da incredulidade deles” (Mc 6.1-6)

Um dos maiores obstáculos para a obra de Deus na terra é o preconceito. Isto porque sem fé Deus não age, e fé e preconceito são incompatíveis. Na mesma medida em que o preconceito governa nossos pensamentos e atitudes, a fé é sufocada em nossos corações. Em contrapartida, quando Deus quer usar uma pessoa, ele começa falando com ela para suscitar fé, mas antes desta fé surgir é necessário derrubar as fortalezas do preconceito.

O grande mistério do cristianismo é que Deus, que é invisível e espiritual, age neste mundo visível e material. Ele é o Todo Poderoso, mas para agir no mundo natural estabeleceu para si mesmo certos limites e condições. Por isto, há momentos quando o Todo Poderoso não pode!

O preconceito de conhecidos, amigos e parentes impediu Jesus, o próprio Deus encarnado, de fazer milagres na sua terra! Que diferença existia entre estas pessoas e as pessoas de outras cidades e vilarejos na região? Porventura as pessoas de outros lugares eram mais “espirituais”, estavam mais propensas a ter fé ou eram mais merecedoras? De forma alguma. A diferença era que os conterrâneos e parentes de Jesus tinham convivido com ele desde criança e já o haviam “rotulado”.

Para eles, a pessoa de Jesus já estava totalmente definida: profissão, parentesco, potencial, capacidade e provável futuro. Quando ele chegou na sinagoga e começou a demonstrar unção na Palavra e poder para curar, ficaram escandalizados! Por quê? Porque estas coisas não encaixavam no conceito que haviam previamente estabelecido para ele. O conteúdo não estava condizente com o rótulo! Você percebe como o preconceito amarrou o próprio Jesus e o impediu de agir?

Para entender melhor como o preconceito milita contra a fé, analisemos por um instante como é formado. À medida que observamos as características e ações de qualquer coisa, conjunto de coisas, pessoa ou conjunto de pessoas, tiramos conclusões sobre a sua natureza e potencial.

Através deste processo chegamos a uma definição geral que nos leva a pensar que conhecemos tudo que se pode conhecer (ou que vale a pena conhecer) sobre o assunto. Desta forma projetamos o futuro baseado no passado. Criamos o “rótulo”, “colamos” este rótulo naquela pessoa (ou conjunto de pessoas) ou objeto (ou conjunto de objetos), e daí em diante tomamos todas nossas decisões e formamos todas nossas atitudes baseados neste rótulo. No nível natural, na maioria dos casos, isto funciona (as pessoas ou coisas agem da forma esperada), às vezes porque realmente observamos bem, outras vezes porque o preconceito acaba se auto-realizando.

O problema é que a fé não se baseia no natural mas na invasão do natural pelo sobrenatural. O preconceito forma uma caixa fechada hermeticamente. A fé só pode surgir quando esta caixa é aberta ou explodida! O preconceito é a expectativa formada pela seqüência natural dos acontecimentos. A fé crê no impossível, no inesperado, na surpresa, na novidade.

Ver Faz Crer? Ou Crer Faz Ver?

Sempre pensamos como Tomé que se tão-somente pudermos ver creremos (Jo 20.24-29), mas isto não é verdade. Mesmo se virmos, corremos o perigo de não crer por causa do preconceito em nossos corações, que pode cegar nossos olhos assim como cegou os olhos daqueles nazarenos. Isto fica claro também na parábola do rico e de Lázaro, o mendigo. O rico, já no inferno, roga a Jesus que envie Lázaro para avisar seus irmãos sobre o perigo que correm, pois acredita que se virem alguém ressuscitado dos mortos crerão.

Mas Jesus responde dizendo que se não crêem na Palavra escrita também não crerão num milagre como este (Lc 16.27-31). É assustador mas é verdade: só enxergamos e cremos naquilo que queremos. Segundo o famoso pensador e escritor russo, Alexander Soljenítsin: “Não é porque a verdade é muito difícil de enxergar que nós erramos… Erramos porque o caminho mais fácil e cômodo para nós é procurar entender somente aquilo que está de acordo com nossas emoções – especialmente as egoístas.”

Se não nos humilharmos e reconhecermos que estamos cheios de preconceitos e que estes preconceitos estão cegando nossa compreensão da realidade, jamais sentiremos a santa insatisfação de realmente querer conhecer a verdade, e seguiremos até o fim enganando e sendo enganados. No caso de Soljenítsin, foram os duros anos passados no sistema prisional soviético que o despertaram para entender seu verdadeiro estado de engano. O que será necessário para nós?

Por Que Deus Gosta de nos Escandalizar?

Como Deus sabe que o preconceito anula a fé, seu plano de ação normalmente consiste em provocar um confronto aberto com estes conceitos escondidos. Geralmente, ele escolhe lugares, pessoas ou coisas que nós menos aceitaríamos, e os usa como os instrumentos especiais de sua ação na terra. Por que ele faz isto? Porque do contrário  nossos preconceitos ficariam tranqüilamente acomodados nos seus esconderijos e a fé seria sufocada sem sabermos por quê.

Infelizmente a vida cristã não é uma rampa que sobe suave e agradavelmente do plano terreno para o plano celestial. É mais como uma montanha russa onde cada descida violenta que nos choca até as raízes de nossas mais profundas e favoritas teorias (ao ver que estão em confronto com Deus) nos leva para uma subida vertiginosa de revelação e entendimento da sua Pessoa. No mesmo momento que conseguimos enxergar a nojeira de nossos preconceitos e como têm cegado nossos olhos e nos feito agir de forma tão desprezível, ficamos deslumbrados com a revelação fascinante de novas facetas da verdade que até então nunca havíamos visto.

A Palavra de Deus ilustra este princípio em inúmeras ocasiões. Pense sobre Naamã, poderoso general do exército sírio, cuja descida violenta na montanha russa da vida consistiu de ficar acometido da pior doença do seu tempo – a lepra. Através desta crise existencial ele teve que enfrentar seus fortíssimos preconceitos, mas quando os enfrentou e venceu, foi curado!

O primeiro preconceito foi o fato de um general sírio ter de se humilhar a ponto de atender os conselhos de uma menina israelita escrava. O segundo foi de não ser recebido pelo profeta Eliseu e receber ordens para simplesmente ir banhar-se sete vezes no rio Jordão. Ele estava tão desesperado que rapidamente enfrentou o primeiro preconceito e foi para Israel buscar a cura. Mas na sua mente já formara uma idéia de como seria a cura: o profeta sairia, se colocaria de pé, invocaria o nome do seu Deus, passaria a mão sobre o lugar leproso e o curaria (2 Rs 5.11).

Quando o profeta nem o recebeu e apenas mandou um mensageiro com as instruções para banhar-se sete vezes no Jordão, Naamã explodiu: “Não são, porventura, Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles, e ficar purificado?” (2 Rs 5.12). E se retirou com indignação.

Não fosse o conselho prudente de seus servos teria ido embora, impedido por seu preconceito de receber a cura milagrosa de que tanto necessitava. Depois que se humilhou, forçado por sua situação desesperadora a enfrentar seus preconceitos de frente, e obedeceu como criança a estas simples instruções do profeta, a cura chegou. E junto com ela veio a revelação que o levou a dizer: “Eis que agora sei que em toda a terra não há Deus senão em Israel” (2 Rs 5.15).

Dados os profundos preconceitos e rivalidades históricas que havia entre Síria e Israel, Naamã jamais poderia ter enxergado esta verdade salvadora, não fosse a crise de vida e morte que enfrentou. E para isto Deus resolveu usar não somente o país que ele menos aceitaria mas também o processo menos palatável para sua “dignidade” e “intelecto”.

Nem os profetas, grandes conhecedores da natureza divina, escaparam da influência dos preconceitos. Quando Samuel, a duras penas convencido por Deus que não havia mais esperança para Saul, foi ungir um dos filhos de Jessé como o novo escolhido de Deus para ser rei sobre Israel, por pouco não deixou que seus próprios preconceitos e os de Jessé o impedissem de achar o verdadeiro escolhido de Deus.

Jessé tinha oito filhos e não achava que o último tinha a menor chance de ser escolhido. Por isto nem o chamou para o encontro com Samuel (1 Sm 16.5,11). Samuel mandou que ele e seus filhos se santificassem e fossem para o sacrifício mas Davi nem foi chamado! Quantas vezes os piores preconceitos se encontram dentro de nossas próprias famílias! Ele nem era considerado digno de ser incluído entre os filhos de Jessé numa ocasião tão importante como esta! Mas Samuel, a princípio, mesmo com todos seus dons de revelação, não percebeu sua ausência. E quando entrou o primeiro, seu preconceito falou mais alto e ele disse: “Certamente está perante o Senhor o seu ungido”.

E daí a resposta do Senhor chega com verdades que podem nos ajudar até hoje a cortar pela raiz toda espécie de preconceito: “Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7). Mais uma vez vemos que Deus escolhe o menos indicado do ponto de vista humano para ser seu favorito.

Pense sobre todas as ocasiões semelhantes a estas, narradas na Bíblia, quando Deus estava para fazer algo significativo na história e o preconceito do homem se colocava no caminho para impedi-lo. Quando Deus queria curar Saulo de sua cegueira e iniciá-lo em sua carreira cristã, ao chamar Ananias para ser instrumento dele, qual foi a sua resposta inicial? “Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém…”

Mas o Senhor respondeu-lhe: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios…” (At 9.13-16). Não havia ninguém na face da terra menos indicado para ser um poderoso servo de Deus do que Saulo! Mas ainda bem que Ananias obedeceu! Que grande prejuízo haveria para os propósitos de Deus se ele não obedecesse mais ao Senhor do que aos seus preconceitos e conhecimentos naturais!

Em outra ocasião, Pedro jamais teria atendido o convite urgente de Cornélio, o centurião romano, para pregar-lhe as boas novas de Jesus, se Deus não tivesse primeiro tratado com seus preconceitos judaicos quanto aos gentios. Na visão, quando Deus o ordenou a matar e comer animais imundos, ele respondeu: “De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda” (At 10.14). Ao que Deus lhe respondeu com palavras que também servem para nós até hoje no combate aos preconceitos: “Não chames tu comum ao que Deus purificou” (At 10.15). Com uma repreensão tão forte como esta, Pedro não teve coragem de resistir ao Senhor e o evangelho chegou aos gentios na casa de Cornélio pela primeira vez.

Já pensou sobre o dilema de José? Quer um escândalo maior do que uma noiva virgem grávida? A Palavra diz: “E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo:

José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo” (Mt 1.19,20). Ainda bem que ele também teve coragem de obedecer à voz de Deus e acreditar neste fato inédito de sua noiva estar grávida pelo Espírito Santo em contradição a tudo que ele sabia ou acreditava ser possível anteriormente.

Apesar de Jesus ter nascido em Belém, cidade de Davi, a maioria das pessoas que o conheciam não sabiam deste fato, pensando que ele nascera em Nazaré da Galiléia, uma região desprezada pelos habitantes mais cultos e ricos da região da Judéia. Fiel ao seu estilo, ele não se preocupou em esclarecer a ninguém sobre este detalhe para tirar o tropeço que representava para os preconceitos comuns das pessoas daquela época.

Quando Natanael perguntou: “Pode haver coisa boa vinda de Nazaré?”, Filipe não respondeu dizendo: “Ele não é de Nazaré, mas de Belém!”, porque ele também não sabia disto. Qual foi sua resposta? “Vem e vê” (Jo 1.46). Esta também deve ser nossa resposta diante de todo tipo de preconceito existente em nossos dias. Não importa o que você pensa sobre determinada pessoa, igreja ou movimento. Se há notícias de que Deus está movendo, só há uma solução: Deixe seus preconceitos de lado e vá conferir!

Em outra ocasião houve calorosa discussão pró e contra Jesus ser o Cristo, e um dos argumentos mais fortes contra era: “Vem, pois, o Cristo da Galiléia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, a aldeia donde era Davi?” (Jo  7.41,42). Era uma ocasião ideal, do ponto de vista humano, para passar as coisas a limpo e esclarecer o povo sobre os fatos, mas isto não aconteceu. A única coisa evidente para todos é o que os guardas falaram: “Nunca homem algum falou assim como este homem” (Jo 7.46).

Jesus não se preocupou em remover os motivos de escândalo. Pelo contrário, tinha prazer em deixá-los de pé. E aí as pessoas tinham que decidir entre seus preconceitos e a evidente unção e incontestável presença de Deus manifestadas na sua vida.

Os Preconceitos Mais Fortes São os Que Se Originam da Própria Palavra de Deus!

É impressionante perceber o quanto Deus odeia o preconceito e o quanto ele tem prazer em desrespeitar as expectativas limitadas do homem. Alguns dos preconceitos mais fortes começaram com base nas próprias ordens de Deus! O homem se apega à uma interpretação humana da Palavra de Deus e acaba inventando tradições que contradizem a própria intenção de Deus quando deu aquela palavra!

O maior exemplo disto foi o preconceito dos judeus contra os gentios na época de Jesus e da primeira igreja. De fato, este preconceito custou caro aos primeiros cristãos. As primeiras perseguições e os primeiros martírios foram causados por ele.

Deus havia dito a Israel através de Moisés que eles seriam sua propriedade peculiar entre todas as nações, um reino sacerdotal, um povo especial (Êx 19.5,6). O propósito de Deus não era desenvolver uma elite orgulhosa e presunçosa, e sim abençoar todas as nações através do seu relacionamento especial com eles, como havia prometido a Abraão (Gn 12.3). É este o ministério de um sacerdote, e como povo sacerdotal sua função era ligar o resto do mundo a Deus. Mas, com o passar dos séculos, não prestaram atenção ao seu total fracasso em cumprir a sua parte da aliança e se apegaram unicamente a seu “status” privilegiado de ser povo escolhido de Deus.

No tempo de Jesus, devido à vergonha de serem subjugados por Roma, apegavam-se mais ferozmente ainda a isto como ponto de referência e marca de identidade nacional. Por isto, qualquer menção da possibilidade de Deus introduzir os gentios no mesmo nível de favor divino suscitava ira incontrolável por parte dos judeus. Naquela mesma ocasião na sinagoga de Nazaré citada no início deste artigo, foi só Jesus mencionar que quando Deus precisava de uma viúva para sustentar o profeta Elias, ao invés de chamar uma israelita ele chamou uma estrangeira de Sarepta de Sidom; e que quando foi curar um leproso através de Eliseu, escolheu um estrangeiro, Naamã, o sírio – e todos os fiéis na sinagoga se levantaram unânimes para o matarem (Lc 4.25-30).

Não só nesta ocasião, mas em muitas outras, Jesus não perdia a oportunidade para esfregar sal na ferida. Na parábola do bom samaritano (para os judeus este título já seria uma contradição de termos!), Jesus ressaltou as atitudes erradas de um sacerdote e de um levita e escolheu o samaritano para ser o mocinho da história (Lc 10.25-37).

O pior é que tudo isto (tanto o propósito verdadeiro de Deus em escolhê-los, quanto as conseqüências de não se qualificarem – a perda de suas prerrogativas especiais) estava escrito claramente na lei e nos profetas que liam todos os sábados, mas o preconceito não permitia que enxergassem. O próprio Moisés deixou registrado, no seu último cântico que serviria como testemunho contra Israel, as seguintes palavras: “A zelos me provocaram com aquilo que não é Deus… portanto eu os provocarei a zelos com aquele que não é povo, com uma nação insensata os despertarei à ira” (Dt 32.21). E mais tarde, Isaías confirma, dizendo: “Tornei-me acessível aos que não perguntavam por mim, fui achado daqueles que não me buscavam. A uma nação que não se chamava do meu nome eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui” (Is 65.1).

Mas não queriam ver, por isso não viam. Taparam seus ouvidos quando Estêvão pregava e se arremeteram unânimes contra ele como haviam feito com Jesus em Nazaré (At 7.57). Quando Paulo fez sua defesa pública em Jerusalém contra a falsa acusação de que havia introduzido gentios no templo, ouviram-no atenciosamente até ele contar que Deus o havia enviado aos gentios. Foi só falar isso, e ficou impossível de continuar o discurso, tal a gritaria e confusão que armaram (At 22.21-23).

Portanto, veja que absurdo! Por causa de sua suposta “fé” e “zelo” pela palavra de Deus, mataram a Palavra encarnada de Deus! Seu apego àquilo que achavam ser a palavra de Deus fez com que perseguissem os verdadeiros proclamadores da palavra de Deus. Por não entenderem e mal interpretarem os propósitos originais de Deus tornaram-se os inimigos mais ferrenhos dos propósitos atuais de Deus.

Outro grande exemplo de como o homem forma um preconceito baseado na palavra de Deus é a cruz. O próprio Deus havia dito: “Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gl 3.13). Portanto, além da repulsa e nojo naturais causados pela cruz, havia ainda o veredicto divino na lei a este respeito. Como então este desprezível objeto de tortura cruel, reservado para o castigo da escória da humanidade, pôde tornar-se instrumento da graça e redenção de Deus?

“Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem…” (1 Co 1.18). “Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos” (1 Co 1.22,23). Não é desconcertante o estilo de Deus? Ele pega um objeto que ele mesmo havia amaldiçoado para abençoar a todos os homens! Ele tem prazer em colocar uma pedra de tropeço diante de todos, tanto judeus como gregos, e forçá-los a enfrentar seus preconceitos de frente, mesmo que estes tenham aparentemente sido originados por sua própria palavra.

É claro que em Deus não há contradição ou incoerência. Se realmente tiver olhos para ver e ouvidos para ouvir, e se pesquisar profundamente o assunto, você sempre descobrirá que os propósitos atuais de Deus nunca contradizem seus propósitos antigos. Neste caso específico, Paulo explica muito bem em Gálatas 3 que como nós já éramos malditos por não cumprirmos a lei, Jesus tinha que se tornar maldito em nosso lugar, para que a bênção de Abraão nos atingisse. Mas estas explicações nunca chegam sem que primeiro fiquemos chocados até as nossas bases mais íntimas e sejamos forçados a confrontar nossos preconceitos e jogá-los fora.

Neste ponto não podemos deixar de comentar sobre um aspecto curioso dos preconceitos: Com o passar do tempo os escândalos antigos se tornam respeitáveis, perdem seu impacto, e Deus é obrigado a buscar novos escândalos para nos chocar! Na época de Jesus e da primeira igreja, quem poderia imaginar que a cruz se transformaria num objeto de adorno para ser colocado em correntes no pescoço ou nas paredes dos templos? O preconceito que havia contra a cruz naquele tempo não existe hoje. Mas o sofrimento e o desprezo que representava certamente existem, e junto com eles novos objetos que os causam e novos preconceitos.

O Preconceito a Respeito de Si Mesmo Também É Grande Inimigo da Fé!

Sempre associamos o termo “preconceito” às nossas atitudes em relação a outras pessoas. Mas se entendermos que ele nada mais é do que um “rótulo”, um conceito formado previamente, veremos que todos nós estamos amarrados com fortíssimos laços de preconceitos em relação a nós mesmos.

Um grande exemplo disto é Moisés. Após quarenta anos pastoreando ovelhas no deserto, ele havia estampado o rótulo de “Fracassado” tão fortemente na sua própria testa que conseguiu fazer o próprio Deus perder a paciência! Deus falou com ele através do fogo na sarça, deu-lhe dois sinais miraculosos, prometeu pessoalmente que o acompanharia e que seria bem-sucedido, argumentou com termos fortes que aquele que fez a boca e os ouvidos do homem poderia torná-lo eloqüente – mas mesmo assim Moisés não creu e pediu ao Senhor para mandar outro em seu lugar.

“Então se acendeu contra Moisés a ira do Senhor, e disse…” (Êx 4.1-17). Deus quase teve de obrigar Moisés a ir, tão grande era o preconceito que este tinha a respeito de si mesmo.

Outro exemplo é Gideão. Quando o anjo do Senhor apareceu a ele, disse-lhe: “O Senhor é contigo, ó homem valoroso” (Jz 6.12). Como dissemos acima, a fé é baseada no sobrenatural invadindo o natural e quebrando a seqüência normal de eventos. Portanto, a palavra do Senhor a Gideão e o seu conceito sobre ele (homem valoroso!) iam totalmente de encontro às circunstâncias naturais e ao conceito de Gideão a respeito de si mesmo.

A resposta de Gideão reflete este confronto entre o ponto de vista natural e o sobrenatural: “Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio?” (Jz 6.13). A isto o anjo respondeu, desafiando diretamente o preconceito que sabia que Gideão tinha sobre si mesmo: “Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura não te envio eu?” (Jz 6.14). Com esta provocação, o preconceito de Gideão aflorou imediatamente e ele respondeu: “Ai, senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai” (Jz 6.15). Depois de muita hesitação e de pedir muita confirmação, Gideão obedeceu às ordens do Senhor e viu o livramento de Deus.

Conclusão

Deus quer mover na terra. Ele quer invadir este reino deprimente de rotina vazia, trevas angustiantes e sofrimentos terríveis com o seu reino glorioso de esperança, luz e alegria. Para isto acontecer, porém, ele precisa de um ambiente de fé e expectativa. O maior obstáculo para este ambiente é o preconceito. Para derrubar este inimigo Deus tem prazer em desafiar nossos preconceitos agindo da forma mais escandalosa possível. Em cada geração e situação ele escolhe aqueles lugares, pessoas, movimentos ou métodos menos aceitos pelos homens. E ainda nos dá um aviso especial para os últimos dias: Todos que puderem ser enganados vão ser enganados! (2 Ts 2.7-12).

Nossa prioridade máxima agora, portanto, deve ser a procura desesperada e apaixonada pela verdade, custe o que custar, doa a quem doer! E diante da cegueira que sabemos que o preconceito nos causa, devemos buscar em primeiro lugar a verdade sobre nós mesmos. Lembre-se: Jamais conseguiremos conhecer outras verdades antes de conhecer a verdade em nosso íntimo! Todas as outras verdades ficam distorcidas se nosso “pára-brisa” está sujo e manchado! Oremos com o salmista:

“Quem pode discernir os próprios erros? Purifica-me tu dos que me são ocultos” (Sl 19.12).

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23,24).

“Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma” (Sl 51.6).

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“ENTRE ASPAS”

Como é que você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, me deixe tirar esse cisco do seu olho’, se você não repara na trave que está no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão. Lucas 6.42

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