Por: Harold Walker
Foi justamente depois que a maior manifestação de Deus através da palavra profética se encerrou (com Malaquias, por volta do ano 400 a.C.) que floresceu a maior manifestação do pensamento filosófico de toda a história (Sócrates, Platão e Aristóteles).
Em nenhum lugar do Velho Testamento Deus havia dado algum indício para o homem a respeito da sua natureza triúna. Pelo contrário, devido à universalidade (popularidade) do politeísmo, Deus teve que repetidas vezes declarar e exigir do seu povo a crença em um só Deus, Criador dos céus e da terra. O evento que trouxe a manifestação deste mistério para a humanidade foi a encarnação de Deus na pessoa de Jesus Cristo porque, de fato, sem a Trindade, a Encarnação não poderia existir. Para Jesus ser concebido no ventre de Maria, houve o envolvimento das três pessoas da Trindade: O Pai gerando, O Espírito Santo envolvendo Maria e o Filho sendo gerado em seu ventre.
É impressionante, portanto, descobrir em um dos Diálogos de Platão (Parmênides), sem nenhuma revelação profética ou inspiração divina, uma das explicações lógicas mais convincentes deste mistério. Como Platão pôde chegar a estas conclusões? Através da sua inteligência incomum e raciocínio brilhante, sem saber o que estava fazendo, ele descobriu na pura lógica da matemática esta verdade sobre a própria essência de Deus (Rm 1.20 — a essência de Deus e todos os seus atributos podem ser encontradas na criação).
Vamos, então, apresentar resumidamente o seu raciocínio:
Se num mundo hipotético existisse apenas o número 1 sem nenhum outro número, pela lógica, ele não poderia existir, pois não haveria nenhum outro para conhecê-lo ou para ser conhecido por ele. Sem se relacionar com nada, sem conhecer ou ser conhecido por nada, não pode haver existência apenas um grande buraco negro que absorve tudo, não emite nada e engloba tudo numa monstruosa não existência. Esta verdade também é expressa na geometria onde 1 representa o ponto que não pode ter largura, comprimento ou espessura e que, portanto não pode ter nenhuma existência real. Se o 2 não existe, portanto, o 1 não pode existir também. Se Deus fosse apenas 1 pessoa, tudo estaria resumido a ele e fora dele não existiria nada; portanto, pela lógica, ele não existiria.
Mas, se houvesse agora o 1 e o 2, ainda assim não poderiam existir sozinhos. Por quê? Por um lado, pelo fato de existir o 2, seria resolvido o problema de conhecer e ser conhecido, de relacionamento de mútuo conhecimento. Haveria o 1 e haveria o 2 que reconheceria o 1, que o chamaria pelo nome, que se diferenciaria dele e que se relacionaria com ele e vice-versa. Por outro lado, porém, continuaria a existir um problema básico: Como o 2 poderia conhecer o 1 ou o 1 conhecer o 2? Se o 1 é uma coisa e o 2 é outra, como duas coisas distintas podem se relacionar? O que poderia uni-los ou ligá-los? Para o 1 conhecer o 2 ou o 2 conhecer o 1 é necessário um terceiro elemento que faça a ligação entre eles, que saia de um e vá até o outro e depois volte do outro em direção ao primeiro. Na geometria, isto continua sendo verdade, pois se tivermos 2 pontos, podemos ter uma linha reta, que é um progresso em relação ao ponto, mas continua não podendo ter uma existência real por não poder ter outra dimensão além do comprimento.
Chegamos, portanto, à conclusão que precisamos do 3 para que o 1 e o 2 se relacionem, se conheçam e por extensão, existam. O 3 enche o espaço entre o 1 e o 2 e liga um ao outro. Na geometria é a mesma coisa: com um terceiro ponto obtemos uma figura de três dimensões que pode ter uma existência real.
A partir do 3 o 1 pode existir e o 2 também. Sem o 3 nada pode existir. Para haver existência tem de haver pelo menos 3 fatores. Quando se tem o 3, porém, a existência de todos os outros números é assegurada. Para haver 1 tem de haver o 2 e também o 3 mas tendo estes como base, o infinito em matéria de números torna-se possível.
Platão nem sonhava que estava falando sobre a Trindade ou sobre a natureza de Deus. Ele pensou estar apenas expressando uma propriedade inerente da lógica e da matemática. Porém, como a criação expressa Deus, estes princípios básicos dos números expressam as verdades eternas.
Sem o Filho, o Pai não pode ser Pai, e de fato, nem poderia existir. O Pai sempre foi Pai, e como tal, sempre teve o Filho. O Filho ama o Pai e o Pai ama o Filho e é neste relacionamento constante e íntimo dos dois que existe a chave de toda a existência no universo. Mas o Espírito Santo é precisamente este relacionamento em pessoa e que torna possível a ligação entre os dois. Temos assim a Trindade — 3 e ao mesmo tempo 1.
Sendo 3, é 1, e sendo 1, subentende-se a necessidade de ser 3. E como na matemática, quando se tem 3, pode-se ter todos os outros números, foi a partir da comunhão e amor da Trindade que surgiu a possibilidade de milhares outros seres da raça humana serem introduzidos neste mesmo tipo de existência.