Por: Reuven Doron
“Tendo Moisés subido, uma nuvem cobriu o monte. E a glória do Senhor pousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias; ao sétimo dia, do meio da nuvem chamou o Senhor a Moisés. O aspecto da glória do Senhor era como um fogo consumidor no cimo do monte, aos olhos dos filhos de Israel. E Moisés, entrando pelo meio da nuvem, subiu ao monte; e lá permaneceu quarenta dias e quarenta noites” (Êx 24.15-18).
A nação de Israel, há pouco liberta da fornalha egípcia, e ainda sob o efeito dos grandes e assombrosos milagres que os levaram para fora da escravidão, estava agora congregada diante do Monte Sinai. Aqui a nação inteira ouve a voz de Deus, contempla a demonstração pavorosa do seu poder, e recebe sua palavra. A resposta desses israelenses da antigüidade foi que de livre vontade serviriam a Deus e andariam com ele de acordo com sua lei.
Mas este quadro mudou rapidamente quando o ponto focal desta nova fé nacional, o homem Moisés, desapareceu dentro da nuvem de glória. A recém-descoberta fé do povo estava ancorada no homem, e não no Deus por trás do homem, e quando ele se ausentou, sentiram-se perdidos.
“Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão e lhe disse: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe terá sucedido” (Êx 32.1).
Moisés ficou ausente por tempo demais lá na sua vigília no cume do monte, de acordo com a lógica humana decaída, e o povo estava ficando nervoso. Talvez este Deus não era tão digno de confiança como aparentava ser; talvez Moisés lhes vendera um saco de noções místicas, e simplesmente inventara uma religião a fim de conquistar a submissão do povo. Em qualquer das hipóteses, diante de suas tendências místicas e religiosas, requeria-se que procurassem logo um outro deus para receber sua adoração, gratidão e sacrifícios. Afinal, um povo sem deus era inconcebível naquela época.
Assim, Arão, a ponto de se desintegrar sob a opressão das manipulações e expectativas do povo, e temendo estar perdendo controle, fez um deus para eles. “Disse-lhes Arão: Tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e trazei-mas. Então… recebendo-as das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito… No dia seguinte, madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se para comer e beber e levantouse para divertir-se” (Êx 32.2-6).
Na ausência de provas sobrenaturais contínuas, o povo perdeu entusiasmo. Não tinham fé nem confiança, apenas um primitivo e animalesco mecanismo de resposta, que simplesmente focava na fonte imediata de alívio e sustento enquanto esta lhes estivesse visível. Tal mecanismo de sobrevivência não possui a capacidade de confiar, esperar, amar, ou crer, e seu ciclo de vida é tão curto quanto um espasmo de fome.
No momento em que este “Deus” invisível escondeu seu poder de operar milagres atrás de um véu de nuvens; no momento em que seu homem chave, Moisés, demorou “demais” no cume do monte: neste momento, o mecanismo de resposta falhou. Sem nada para ver, tocar ou seguir, e sem verdadeira fé, o povo teve de criar um novo deus, prontamente acessível, e facilmente compreensível. Algo com que pudessem se relacionar. Algo parecido consigo mesmos.
Dentro de poucas semanas após os milagres assombrosos do Egito, o enorme êxodo, e a aliança nacional firmada em Sinai, estas mesmas pessoas estavam agora negando o Deus vivo e sua palavra. A própria geração que testemunhou as maravilhas mais grandiosas e épicas registradas na história bíblica até hoje, perdeu completamente seu ânimo.
Foram precisamente eles que testemunharam em primeira mão aqueles pavorosos fenômenos solares, ambientais e biológicos durante o curso das dez pragas, e da divisão do Mar Vermelho. Foram eles que andaram sob a cobertura da coluna de fogo à noite e da coluna de nuvem de dia, durante meses. Ouviram a voz trovejante de Deus, e viram o monte aceso com fogo santo. Como foi possível perderem tudo isso tão rápido?
Aqui está o mistério do VÉU; esta cobertura sobrenatural que foi gerada pelo pecado, pela escravidão, pelo abuso, pela condenação e pela disciplina divina; um envoltório espiritual de trevas que só pode ser removido pelo Espírito de Deus na conversão. Enquanto um povo ou uma pessoa estiver neste coma espiritual, adormecido em relação à realidade do Deus vivo, a verdadeira fé não pode nascer nem sobreviver nos seus corações. Pois “… a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra do Messias” (Rm 10.17).
Ao ler o relato do bezerro de ouro na nossa leitura bíblica semanal de acordo com o calendário judaico, não pudemos deixar de agonizar, vendo que Israel está repetindo o mesmo erro de olhar para outros deuses nas mais críticas encruzilhadas históricas, tão logo o verdadeiro Deus, o seu Deus, se esconda estrategicamente na nuvem.
Na curta extensão da história moderna de Israel, já vimos também alguns milagres espetaculares. Deveria estar evidente a todo honesto estudante da história que foi pelo próprio decreto soberano de Deus que iniciou-se a redenção da nação de Israel através do movimento sionista há pouco mais de cem anos. Sobrenaturalmente, e contrário a qualquer probabilidade demográfica ou social, a nação judia não só foi preservada durante dois milênios, mas foi conclamada a sair em massa do seu sepulcro de exílio entre os outros povos. Pelo próprio Espírito de Deus, seus corações foram despertados, e o povo judeu foi convocado dos quatro cantos da terra, retirado da extinção pela armadilha do Holocausto, e levado de volta para a terra de seus pais.
Entretanto, as próprias pessoas que testemunharam estes milagres sem precedentes em escala nacional, e aquelas que viram e até participaram de vitórias militares jamais vistas anteriormente, estão entre as que hoje são incapazes de reconhecer a fonte invisível destas maravilhas, ou o propósito destas ações de Deus. Pior ainda, algumas até mesmo tentam redefinir nosso milagre nacional como apenas uma fase de boa sorte, ingenuidade judaica, ou coragem israelense que provavelmente não vão se repetir.
Sem fé viva no Deus invisível de nossos pais, que revela seu braço de acordo com sua própria escolha, e esconde seu rosto quando assim determina, e sem confiança que o milagre nacional vai continuar acontecendo, estes céticos estão pisando em terreno muito duvidoso. No que se refere à causa nacional, que seria o direito de Israel de sobreviver e prosperar na sua própria terra, estão buscando desesperadamente por uma solução “lógica”.
Buscando cegamente, por ainda não conseguirem acreditar no único verdadeiro Deus vivo, estas almas desesperadas precisam inventar para si mesmos “outros deuses” para poderem ser os “responsáveis” por tirá-los do Egito, deuses criados por eles mesmos, gerados nas nossas academias, nas lideranças militares, e nas cozinhas políticas; deuses que possam ser tocados com nossas mãos, decifrados com nossas mentes, e cultuados nos nossos telejornais.
Tais tentativas vazias de achar outros “bezerros de ouro” para ocupar nossos altares nacionais, ao invés de se dedicar a uma busca sincera e profunda, com agonia de coração, pelo Deus vivo, enfraquece ainda mais nossa força de vontade, despe-nos de toda verdadeira esperança e confiança, e torna a nação ainda mais vulnerável à opressão do inimigo.
O fato é que Israel enfrenta uma situação impossível que requer uma solução milagrosa. Nenhum bezerro de ouro, feito por mãos humanas, há de nos libertar da nossa atual opressão nem poderá conduzir-nos ao abrigo divino de paz e prosperidade na Terra Prometida. Nossa nação precisa redescobrir o verdadeiro Deus outra vez; aquele que nos trouxe de volta para nossa terra; aquele que é o único que pode nos sustentar e proteger aqui.
A tragédia palestina não vai desaparecer, e não será facilmente resolvida por ginásticas políticas ou força militar. Milhões de refugiados palestinos em sofrimento na Judéia, Samaria, faixa de Gaza, e outros locais, junto com um milhão de cidadãos árabes israelenses, terão de ser pacificados de uma forma ou outra, ou nossas vidas aqui em Israel irão de mal a pior. E quando se reconhece que há duzentos milhões de violentos muçulmanos em volta do Estado de Israel que apoiam estas aspirações nacionalistas dos árabes locais, pode-se começar a avaliar como é desesperadora nossa situação.
Entretanto, não podemos deixar a terra; não voltaremos aos guetos ou campos de morte; nem a nação de Israel voltará a peregrinar no mundo gentio como um show excêntrico de judeus forasteiros. Não, apertados contra o muro no plano natural, nossa única opção é ficar em pé e crer que nossa presença aqui só foi possível por causa de Deus, e nos preparar para um outro milagre nacional.
De fato, qualquer pessoa que pensa e que examina honestamente a história, a dinâmica nacional, e as tendências espirituais do Oriente Médio, concluirá que somente uma mudança de coração, uma completa transformação espiritual, permitirá que as massas árabes coexistam pacificamente com a nação judaica. E este tipo de mudança requer um tremendo milagre que nenhum bezerro de ouro, seja este político, estratégico, ou econômico é capaz de realizar.
Enquanto a região continua a cambalear pelo difícil caminho adiante de nós, e enquanto nosso governo luta novamente com este dilema impossível, ore para que o véu seja retirado. A única solução para Israel é entrar novamente no abraço divino, e lá sob a sombra de suas asas, encontrar todas suas respostas.
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“ENTRE ASPAS”
“Encontrar a Deus nesta vida não significa construir uma casa numa terra sem tempestades; quer dizer que construímos uma casa que nenhuma tempestade destruirá. Estou construindo esta casa? E você, está? Estamos passando por nossos problemas, indo em direção ao encontro de Deus? Sabemos o que significa cavoucar o suficiente para se descobrir algo além de mais problemas – descobrir alguém além de nós mesmos? Já alcançamos a pedra?”