23 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

Quando o ensino é prejudicial – E algumas considerações sobre a vida em asas

Uma das músicas mais ungidas que temos na igreja é “Voar como Águia”, da Alda Célia. Ela diz assim:

É tempo de quebrar cadeias, restaurar
E a Deus somente adorar
Dele vou depender
Sua face eu vi
E o mesmo nunca mais serei!
A luz brilhou, e eu posso ver
A verdade libertou todo o meu ser.
Vou voar como a águia
Vou dançar como o vento
Vou fluir como o rio
E cantar como os anjos
Escalar a montanha
E andar sobre as águas
Vou louvar como no primeiro amor
Pois eu vi a glória do Senhor!
Sacrifiquei meu tesouro,
Meu apoio natural
Não via mais meus pés, meu chão
Então Ele me deu asas pra voar!
O vento de Deus
Veio tirar toda cinza e soprou
Soprou sobre mim!

E o fogo recomeçou!

Me converti quando faltava um mês para completar 16 anos. O evangelho do Jesus-Bombril (com mil e uma utilidades) não faria sentido para mim, pois não precisava de nada – era alegre, com família boa, muitos amigos, carro à disposição, moto, cartão de crédito, e tudo mais que um jovem poderia desejar. Ao ouvir o testemunho de um missionário do navio Doulos, como andava na presença de Deus, falando de sua intimidade com ele, toda a minha visão de valores caiu por terra. A compreensão de que existe um “mundo paralelo” – a matrix -, uma realidade espiritual muito mais verdadeira do que nossa vidinha natural me fascinou de tal forma que, a partir dai, meus valores passaram a ser diferentes. Fiz novas amizades, abandonei velhos hábitos e só me dedicara a atividades que me levassem a um lugar mais perto de Deus. Com isso, me tornei um radical e tive sérios problemas em casa, com os amigos e até mesmo com a igreja que frequentava na época. Acabei sendo excluído, justamente por querer viver na presença de Deus, quando queriam que eu vivesse uma vida religiosa.

Tudo isso começou em1979. A denominação se renovou. Porém, no geral, se quisermos andar de fato na presença de Deus, não será fácil encontrar um ambiente cristão que nos estimule nesta prática. Apesar de ser um assunto bastante ensinado, se tentarmos vivê-lo, teremos problemas na igreja. Hoje somos muito racionais. O livro “Fortalezas da Mente” conta uma visão sobre a igreja, onde todos os seus membros tinham orelhas enormes. A interpretação que Deus trouxe foi que havia uma ênfase exagerada no ministério da palavra e os outros dons eram sufocados. Dallas Willard compara isso com você aprender tudo sobre a bicicleta sem jamais andar em uma.

A realidade atual do cristianismo é essa: resolvemos tudo através do ensino e sufocamos os demais dons e ministérios. Igrejas pentecostais ou carismáticas, que no passado eram rios caudalosos do mover de Deus, hoje não passam de um leito seco, rochoso, com raros sinais de que, um dia, um rio passara por ali. Algumas ainda tentam repetir humanamente as manifestações que outrora vinham da parte da Deus – sapateiam, rodopiam, mudam o tom de voz, caem no chão… mas o rio de vida eterna já deixou de fluir… Ouvi o testemunho de alguém com lágrimas nos olhos dizendo: no passado tínhamos profecias, ministério de libertação e cura interior, ministério de adoração, mas hoje só temos ensino.

Ern Baxter foi enfático ao explicar a pobreza espiritual da igreja. Em II Reis 6:24-25 vemos que na região de Samaria, após cercada por Ben-Hadade, rei da Síria, o que restava para comer eram cabeças de jumentos e esterco de pombos. Não é um quadro muito bonito, verdade? Desta forma que Deus vê quando se vai a unção. As cabeças de jumentos representam a sabedoria humana sem Deus. O esterco é o que fica quando já se foram as pombas, uma figura do Espírito Santo. O livro de Rute também mostra que em Betel (que significa a casa do pão) não tinha pão e as famílias buscavam alimento com os estrangeiros. Não podemos negar que é justamente nossa realidade atual. Há 30 anos atrás, a programação padrão que a juventude tinha nas igrejas era a comunhão nas casas, reuniões de louvor, oração, estudos bíblicos. Hoje, se reúnem em barzinhos, ao som de MPB.

Viver como a águia é um chamado para todos os cristãos. Nossa natureza é semelhante a águia real e a águia imperial, que voam nas maiores alturas, olhando em direção ao Sol. Deus nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele (Efésios 1:4). Antes de nascermos, estávamos em Cristo. Esta é nossa origem. E para onde vamos? Passar toda uma eternidade na presença de Deus.

Mas o diabo é astuto e sabe que nossas baterias precisam ser recarregadas diretamente na fonte de vida, e ele fará o impossível para impedir que isso aconteça. Tudo o que fazemos, como agimos, é determinado pelo valor que damos a nós mesmos, a nossa auto-estima. Se somos apenas um comedor de angu, ou um pecador salvo pela graça, o terceiro abaixo de ninguém, não haverá impedimento algum para uma vida cheia de pecados, pois, afinal, cremos que não somos ninguém mesmo, não temos valor. Por que nos preocupar com santidade? Parece contraditório, mas quanto mais ensino tivermos na igreja, teremos menos santidade, e seremos mais mundanos. Assim como a lei aponta para o pecado, o ensino pode aviltar a nossa fraqueza e incapacidade de praticar tudo aquilo que já sabemos, mas temos dificuldade em cumprir. Contudo, a solução não é parar com o ensino (pois é um ministério importante), mas abrirmos espaço para os demais ministérios e dons relacionados com o lado espiritual da vida cristã, a parte intuitiva, a dependência de Deus, as revelações, e não apenas o raciocínio lógico, o racional.

Muitos líderes quando falam que consultarão a Deus sobre determinado assunto, na verdade farão uma oração mecânica, sem inspiração alguma, e em seguida tomarão a decisão mais lógica. Estes entendem que os problemas na igreja são decorrentes da falta de ensinamento. Se um membro está fumando, eles explicam os malefícios que o cigarro traz. Se um casal tem um conflito, ensinam como o marido deve amar a sua esposa, que a esposa deve se submeter ao marido, blablablá, blablablá. Será que as pessoas não já sabem tudo isso? Um pastor muito amigo meu aconselhava um jovem por dois anos seguidos, sem o mínimo sucesso. Certo dia tomou uma decisão radical: quando o jovem chegou em sua sala, o pastou trancou a porta com chave dizendo que só sairiam dali quando Deus revelasse o que de fato acontecia com o rapaz. Oraram por algum tempo e, ao olhar para o jovem, a palavra “pornografia” brilhava em sua testa, como nos luminosos de Las Vegas. Depois disso, não precisaram de mais outra seção de aconselhamento.

Com exceção da Igreja Universal, todas as demais igrejas atuais se posicionam contra o aborto. E quanto aos dons e ministérios que são abortados diariamente em nosso meio, em nome da “decência e ordem”? O Espírito Santo não é um cavalo xucro que precisa ser domesticado. Ao ministrar sobre dons proféticos em uma igreja em São Paulo, um irmão me questionou achando que os cultos ficariam muito desorganizados e que perderiam totalmente o controle sobre ele. E eu lhe perguntei: mas quem te disse que você foi chamado para controlar o mover do Espírito Santo? Você é melhor do que Deus para organizar as atividades espirituais da igreja? Pensamos e agimos exatamente como este irmão. Só não temos coragem de falar.

A igreja na Etiópia tinha 4.000 membros em todo o país quando uma forte perseguição se instalou. Passaram a se reunir apenas nas casas, secretamente, com no máximo 6 pessoas por vez. Os pastores e muitos líderes foram mortos. Ao terminarem os 10 anos da ditadura, uma reunião foi marcada para retomarem os trabalhos e nada menos que 50.000 cristãos compareceram. Esta é a história do documentário “Contra todas as adversidades” e, no final do filme, quando o repórter pergunta o que fazer para que a igreja cresça tanto, os irmãos responderam: matem os pastores! Com certeza este não foi um bom conselho, mas nossos lideres atuais precisam repensar o que estão fazendo com o dom que receberam de Deus.

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Uma resposta

  1. Aumente a fome e a quantidade de comida será maior da parte de Deus. É preciso que se atice a fome espiritual do cristão através de um ministério que vai mais fundo no compromisso e na unção.

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