Por: Christopher Walker
É comum falar sobre a necessidade de confiar no Senhor. Afinal, é um dos grandes desafios da vida cristã. Quem não gostaria de ser como o monte de Sião” que não se abala, firme para sempre”? É só confiar no Senhor, de acordo com Salmo 125.1.
Geralmente, porém, somos como Pedro, que começou confiando até mais do que os outros discípulos, mas acabou olhando para as ondas e demonstrando falta de confiança na capacidade de Jesus de mantê-lo sobre as águas (Mateus 14.25-33).
Sem dúvida, confiar em Deus, apesar de ser fácil para entender na teoria, é algo que levamos a vida inteira para aprender na prática e só se aprende em situações reais onde descobrimos como nos relacionar com nosso Pai e como ele nos socorre nas provações.
Mas existe outro lado da confiança, que possivelmente você nunca tenha pensado. Se é um desafio para nós confiar verdadeiramente em Deus em todas as circunstâncias, você já imaginou a dificuldade que Deus enfrenta para confiar em nós?
Mas por que Deus confiaria em nós? Ele não sabe que somos pó?
Sim, mas que amizade ou relacionamento verdadeiro poderá existir onde não há confiança? Ou você acha que Deus nos salvou simplesmente para proteger-nos do fogo eterno?
Não! Fomos criados em Cristo para “boas obras” (Efésios 2.10), somos “herança” de Deus, segundo seu propósito eterno (Efésios 1.11), temos um trabalho a fazer, para manifestar a profunda sabedoria de Deus a todas as potestades visíveis e invisíveis, na terra, no céu, e debaixo da terra (Efésios 3.9-11). E como Deus vai fazer isto se não tem confiança em nós?
Veja só. Logo no começo do ministério de Jesus, muitas pessoas creram nele por causa das maravilhas que operou em Jerusalém, durante a festa da páscoa. Mas o evangelho de João nos conta que Jesus não confiava neles, “porque sabia o que era a natureza humana (João 2.23-25).
Em outra ocasião, lemos também que muitas pessoas creram nele, desta vez por causa das coisas que Jesus dizia. Certamente agora estas pessoas seriam mais dignas de confiança do que aquelas que creram somente por causa dos sinais. Mas Jesus falou duro com eles: “Se permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (João 8.30,31). E na seqüência do diálogo, fica evidente que haviam entendido pouco sobre a diferença entre ser descendência natural de Abraão, e a nova criação que Jesus veio trazer.
Será que Jesus de fato confia em alguém? Podemos ser dignos de sua confiança?
Sim! Jesus confiou num grupo de pessoas tão cheias de falhas e imperfeições, que facilmente pensamos que no lugar delas teríamos feito muito melhor. Mas veja o que lhes disse em João 15.15: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.”
Nunca poderíamos ouvir palavras mais doces do que estas do nosso Mestre! E o que fizeram para estar nessa posição? Eles não eram mais inteligentes, mais santos ou mais talentosos do que as demais pessoas em quem Jesus não confiava. Houve momentos em que o próprio Jesus parecia perder a paciência com sua falta de percepção e fé (Mt 15.16; 16.8; 17.17) — o que não deixa de dar esperança para nós com nossas falhas e tropeços!
O que fez a diferença então? O que Jesus valoriza para poder confiar em alguém? Será que hoje, com tantas multidões buscando o mesmo que buscavam quando ele estava na terra (cura, pão natural, soluções imediatas), Jesus poderá encontrar alguém em quem confia? Será que ao menos estamos conscientes de que ele procura qualidades nos seus seguidores que permitam essa amizade e intimidade que tinha com seus discípulos?
Com toda certeza não conseguiremos definir quais são estas qualidades e muito menos produzi-las em nossas vidas. Acima de qualquer explicação lógica, Jesus confiava em seus discípulos porque sabia que eram do Pai, e que o próprio Pai os dera a ele (Jo 17.6).
Mas além de conscientizar-nos de que Jesus conhece todos os corações, sabe o que está no homem, e procura ansiosamente aqueles em quem possa confiar para abrir seu coração e para completar sua obra na terra, podemos ver algumas coisas que Jesus valorizava em seus discípulos, e que os separava de todas as outras pessoas.
Eles haviam deixado tudo para seguir Jesus (Mt 19.27,28). Quando muitos outros se escandalizavam e procuravam outro líder menos exigente ou mais fácil de entender para a mentalidade natural, os discípulos se agarraram mais ainda a Jesus porque só nele acharam palavras vivas (Jo 6.66-69). Podiam não entender muita coisa, podiam vacilar, podiam até decepcionar Jesus às vezes. Mas sentiam que ali estava a verdade e estavam prontos para pagar o preço e permanecer com ele.
Por isto, antes da sua hora mais difícil, Jesus desejou ardentemente estar a sós com seus amigos (Lc 22.15), porque eram as pessoas que permaneceram com ele durante todas as suas tentações (Lc 22.28).
Todos que conhecem alguma coisa da Bíblia, sabem que estamos nos aproximando de outra hora difícil. E não será difícil só para quem está aqui na terra, enfrentando todas as crises finais que virão antes da gloriosa consumação de tudo e da volta de Jesus, mas também para aquele que quer confiar em nós para honrar o seu nome no meio das crises! E ele deseja ardentemente reunir os seus amigos outra vez antes desta hora tão difícil para conversar conosco, e para nos preparar para o que virá!
Você gostaria não só de confiar nele, mas de que ele confiasse em você? Será que pode ouvir uma voz chamando, atraindo, puxando para deixar todas as outras fontes substitutas e falsas para estar somente com ele? Se pode, então com certeza é o Pai querendo escolher sua vida para ser um verdadeiro discípulo e um amigo em quem ele possa confiar. E que ele encontre muitos amigos nesta geração, e que estes não o decepcionem quando ele voltar para ser “admirado” naqueles que nele creram (2Ts1:10)!
Christopher Walker é membro do Conselho Editorial da Revista Impacto