Por Clésio Pena
Hoje, temos enorme facilidade de encontrar livros sobre todos os assuntos e temas imagináveis: sobre a vida cristã, doutrinas, comentários bíblicos, versões bíblicas… Parece que não nos falta nada.
Sou muito favorável a essa oferta de material que tanto enriquece o povo cristão. É só compará-la com a situação em que os cristãos se encontravam há poucos séculos – ou mesmo atualmente em alguns países – o acesso às Escrituras era um luxo reservado para poucos. Ter um exemplar da Bíblia (quanto menos algum outro livro sobre a Bíblia!) nem de longe passava pela imaginação da maioria dos cristãos.
Em meio à nossa fartura, devemos refletir se essa gama de conhecimento e informação tem-nos aproximado do Senhor Jesus ou se representa apenas conhecimento como fim em si mesmo!
Não sou grande conhecedor de movimentos passados, biografias pessoais ou da história da Igreja. O que posso observar, do pouco que tenho ouvido, é que muitos cristãos de outras épocas tinham uma vida mais devota: menos prazerosa do que a nossa em todos os sentidos e muito mais intensa em buscar a presença do Senhor; uma vida de caráter e testemunho pessoal.
O que quero dizer com isso é que não podemos trocar nossa vida devocional, nosso contato pessoal com o Senhor e com os irmãos, pela satisfação egoísta de obter mais conhecimento. Às vezes, somos surpreendidos por pessoas simples, com pouca instrução ou cultura, que são tochas vivas; por onde passam, incendeiam. É claro que não sou defensor da ignorância, tampouco estou desprezando o conhecimento. Pelo contrário, precisamos usar o conhecimento que temos (e buscar conhecer aquilo que ainda não sabemos, nem sabemos que não sabemos) como ferramentas para a nossa espiritualidade.
Só ter conhecimento de várias versões e traduções da Bíblia, de linhas teológicas e escolas de pensamento e de diversas outras coisas não é suficiente para ter crescimento espiritual. Hoje, temos tantas versões, comentários e conhecimento teológico que podemos dizer que construímos uma verdadeira “torre de papel” para alcançar o céu. Existem inúmeros livros, material impresso, tanta coisa boa – mas para onde estão nos levando?
No final do sermão do Monte (Mt 7.28,29), o texto diz que as multidões ficaram maravilhadas com a doutrina de Jesus, porque ele ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Jesus tinha uma mensagem e uma vida que validava sua palavra.
Jesus era um Mestre e não um professor. Seus seguidores eram discípulos e não alunos. Aí está toda a diferença. Jesus não queria trazer apenas letra, doutrina, ciência (isso os escribas já faziam). Ele trazia, em si mesmo e pela sua palavra, uma vida. O círculo mais íntimo de Jesus era formado por pessoas simples, na maioria sem qualificação cultural ou intelectual. Caso ele estivesse interessado apenas em alunos, em transmitir conceitos, com certeza, teria escolhido currículos melhores. Entretanto, como procurava discípulos, seguidores de um estilo de vida, ele não hesitou em selecionar corações ao invés de mentes.
Devemos, sim, buscar conhecimento (tal qual nos ordena o livro de Provérbios), e isso com o propósito de crescimento, de vida, principalmente para estarmos preparados para os últimos dias!