Há quase 2 mil anos, havia uma comunidade/igreja/congregação apostólica em Jerusalém. Era a primeira congregação a ser formada. Todas as outras igrejas ou congregações vieram, em última análise, desta primeira. Temos a descrição dela no livro de Atos, especialmente no capítulo 2. Essa congregação representa o padrão “matriz” para todas as comunidades da fé e forma a base para a visão da nossa congregação [Ahavat Yeshua] em Jerusalém também.
Aquela primeira congregação foi a “linha de partida” para o Evangelho. A comunidade da fé em Jerusalém, hoje, representa a “linha de chegada”. Nós voltamos para Jerusalém para “completar a carreira” que nossos antepassados iniciaram. O evangelho saiu de Jerusalém e foi para “a Judeia, Samaria e até aos confins da Terra” (Atos 1.8). Hoje, está voltando dos confins da Terra para Samaria, Judeia e Jerusalém.
A congregação de Atos 2 cria que havia recebido o mandato para estabelecer o Reino de Deus na Terra. Aquela “grande comissão” foi passada de Yeshua (Jesus) para seus discípulos e, posteriormente, para toda a comunidade. A comunidade se dedicou a isso e ficou completamente consumida com o desejo de completar a missão. Essa paixão ardente em suas almas tornou-se uma chama viva por causa do fogo do Espírito Santo (Atos 1.8; 2.2-4). A comunidade de Atos 2 consagrou-se ao cumprimento da comissão de Atos 1.
O núcleo original daquela primeira congregação era formado por apenas 120 pessoas (Atos 1.15). Esse número era surpreendentemente pequeno. Centenas de milhares de pessoas haviam sido impactadas pelo ministério de Yeshua e “creram” nele. Entretanto, de todas essas miríades apenas um pequeno remanescente se ajuntou em cooperação ativa para cumprir suas palavras.
Os primeiros discípulos não só se dedicaram à visão de Yeshua; eles também experimentaram juntos um derramamento sobrenatural do Espírito Santo. Tiveram uma experiência em comum para acompanhar sua visão comum. Essa experiência sobrenatural, espiritual que tiveram juntos foi que deu à luz a comunidade e a comissão. O estabelecimento da igreja e o lançamento do evangelho só vieram depois dessa experiência. Não teria havido igreja nem evangelho sem ela.
Eles entendiam que sua experiência fora semelhante à unção que caiu sobre os profetas de Israel (Atos 2.16-18). Consideravam que falar em línguas era uma extensão das expressões de êxtase que os profetas da Velha Aliança tinham (Nm 11.29; 1 Sm 10.5-6) e que a pregação do evangelho era uma continuação de suas mensagens proféticas (Is 61.1-2; Ap 19.10). Viviam essa experiência diariamente por meio de oração, louvor, profecia, pregação, ensino e o falar em línguas (Atos 1.14; 2.40-47; 4.31).
Essa visão e experiência compartilhadas fizeram com que os discípulos primitivos assumissem um compromisso extraordinário uns com os outros em parceria e amor. A congregação formou profundos relacionamentos de aliança com lealdade e integridade.
- Comunhão – comiam constantemente nas casas dos irmãos (Atos 2.46);
- Generosidade – vendiam suas casas para poder doar aos necessitados (Atos 2.45; 4.34);
- Santidade – pecadores caíam mortos nas reuniões (Atos 5.5,10);
- Milagres – o temor de Deus abriu o caminho para grandes curas (Atos 2.43; 5.11-12; 9.40);
- Unidade – viviam juntos com um só coração e alma (Atos 1.14; 2.1,44,46; 4.32,34).
A congregação primitiva era baseada em três fundamentos: visão do Reino, poder spiritual e relacionamentos de aliança. Os discípulos eram dedicados a todos os três elementos.
O núcleo interior da congregação era formado por judeus de Israel que falavam hebraico (Atos 6.1; 22.2), viviam dentro de sua comunidade (Atos 2.47), seguiam tradição religiosa (Atos 10.14; 15.10; 21.20), guardavam as festas (Atos 2.1) e até participavam de orações e rituais do templo (Atos 2.46; 3.1; 24.17; 28.17).
Porém, quando esse grupo inicial começou a pregar, logo se ajuntaram a eles pessoas de diversas nações, com diferentes línguas e costumes. “Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua” (Atos 2.5-6).
Assim, aquela primeira congregação logo formou dois círculos: um círculo interior de israelenses que falavam hebraico e um círculo mais amplo de pessoas internacionais que falavam vários outros idiomas, principalmente o grego. Isso causou tensão em questões tais como a tomada de decisões, delegação de funções, distribuição do orçamento, levantamento de fundos, prioridades de ministério e missões, etc. “Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária” (Atos 6.1).
O atrito resultante se tornou, muitas vezes, desconfortável, quando não traumático. No entanto, era um componente necessário por causa do mandato duplo de restaurar o Reino a Israel (Atos 1.6) e, também, pregar o evangelho às nações (Atos 1.8). Encontramos a mesma tensão nas nossas congregações hoje.
Finalmente, houve uma questão de liderança. Imagine o problema: uma congregação com 12 apóstolos (!) – e que, além de tudo, eram judeus! A congregação em Jerusalém tinha dois propósitos: 1) ser uma congregação local em todos os sentidos; 2) ser responsável pelo planejamento estratégico e pela execução da grande comissão do Reino. Com isso, ela desenvolveu dois níveis de liderança.
Um nível era o conselho formado de “presbíteros”, responsáveis principalmente pela comunidade local; o outro era o conselho formado de “apóstolos”, responsáveis primordialmente pela comissão maior. “Os apóstolos e presbíteros…” (Atos 15.2,4). Às vezes, os dois grupos se reuniam para discutir assuntos de interesse e responsabilidade em comum. “Então se reuniram os apóstolos e presbíteros para examinar a questão” (Atos 15.6).
Por favor, ore para nossa congregação e pelas outras congregações em Jerusalém, para que tenhamos sabedoria enquanto buscamos a ordem certa de Deus para restauração e avivamento.
Por Asher Intrater
Errata:
O nome do local no Rio Jordão onde os judeus entraram em Canaã com Josué, onde Elias subiu ao céu diante dos olhos de Eliseu e onde Yeshua foi batizado por João Batista (Khasar al Yehud) significa em árabe “palácio dos judeus”, não “travessia dos judeus”, como escrevemos no artigo da semana passada.
Uma resposta
Pretendo passar uns tempos em Israel, gostaria de ter o endereço da congregação para fazer uma visita.
grato
José Ribeiro