Por: Harold Walker
O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra, e dormisse e se levantasse de noite e de dia, e a semente brotasse e crescesse, sem ele saber como. A terra por si mesma produz fruto, primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga. Mas assim que o fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa (Mc 4.26-29).
Nessa busca fervorosa de “ir além”, podemos cair em um de dois extremos perigosos. Por um lado, podemos contentar-nos com pequenos avanços e confiar num processo evolucionário lento e infindável. Por outro lado, podemos nutrir expectativas irreais e revolucionárias de uma intervenção manifesta de Deus.
A parábola de Jesus citada acima apresenta sua resposta e mostra-nos como ter uma expectativa realista e alinhada com o método de Deus. Depois de um processo normal de crescimento, vem um momento marcante: da foice e da ceifa. Um dia, o Reino de Deus virá e dominará toda a Terra. Não ficará sempre no nível espiritual e invisível. Haverá um momento crítico quando a História será mudada de forma irreversível. Será uma crise cósmica! A Nova Jerusalém descerá dos céus para a Terra, e Deus morará conosco para sempre.
Mas, para chegar esse dia apoteótico, tem sido necessário um processo milenar de pequenas mudanças e transformações, muitas delas invisíveis ao olho natural. Deus não trabalha de forma artificial, mecânica. Ele gosta de trabalhar dentro de um processo vivo, biológico, orgânico. À medida que cada célula desenvolve suas atividades vitais, passa a se reproduzir e a afetar outras células ao seu redor, um processo, inicialmente muito lento, começa a acelerar e a produzir resultados visíveis. Até hoje, não cesso de admirar como Deus consegue fazer um bebê perfeito no ventre de uma mãe em apenas nove meses!
Portanto, não devemos nutrir a expectativa de ter aparições de anjos e visões manifestas de Jesus em resposta à nossa busca de ir além. Não precisamos descartar essas possibilidades, mas não devemos depender disso. Precisamos, ao contrário, prestar muita atenção ao sussurro do Espírito dentro de nós e às manifestações do Espírito em nossos irmãos e irmãs. Por meio de pequenos atos de obediência e de corresponder a impulsos aparentemente insignificantes, grandes mudanças podem vir a acontecer na Igreja e no mundo de forma bem mais rápida do que imaginamos ser possível.
O mundo caminha velozmente para o fim; por isso, não temos tempo para um processo evolucionário. Por outro lado, Jesus não virá até que cheguem “os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio” (At 3.21). Deus é perfeitamente capaz de atrasar os acontecimentos mundiais o suficiente para dar tempo para a Igreja se preparar de modo adequado para a vinda do Noivo.
Nossa necessidade maior, nesses dias, é ter os olhos e ouvidos espirituais abertos. Precisamos ver, olhando em retrospectiva, como Deus tem-nos mudado até agora e como ele tem trabalhado na Igreja. Precisamos, também, refletir nas profecias bíblicas sobre a consumação do plano de Deus e permitir que isso crie em nós uma crescente insatisfação com nosso estágio atual. A partir dessas duas visões, sentindo gratidão por tudo o que Deus tem feito e um grande clamor por aquilo que ele ainda deseja fazer, devemos voltar nossa atenção ao momento atual, a fim de tirar todo peso, empecilho e tropeço que atrasa sua obra em nós agora.
Que Deus nos ajude a não prorrogar para um futuro longínquo e incerto aquilo que precisa acontecer logo. Ao mesmo tempo, que ele nos livre de depender de intervenções explícitas e sobrenaturais para nos preparar para a volta de Cristo. Essas duas atitudes erradas nos tornarão ociosos na caminhada cristã. Precisamos ser diligentes, remindo o tempo, com uma viva expectativa daquilo que o Espírito da vida, que já opera em nós, ainda trará à luz (talvez, em menos tempo do que imaginamos).
NÃO MENOSPREZEMOS O PODER DA VIDA!