21 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

Fé de Pardal

Craig Hill e Earl Pitts

Dois princípios opostos

A maioria dos cristãos reconheceria que existem lado a lado, na Terra, dois domínios separados e independentes: o Reino de Deus e o domínio de Satanás. A eles, correspondem dois sistemas econômicos totalmente opostos: o espírito de Mamom, que governa o sistema do mundo e opera no princípio de compra e venda, e o Espírito de Cristo, que governa o Reino de Deus e opera no princípio de dar e receber.

A forma como um cristão se relaciona com o dinheiro é um indicador de sua compreensão da graça que permeia o Reino de Deus. Dar e receber são manifestações unilaterais da graça de Deus. Quando se dá, não se espera retorno. Comprar e vender demanda uma troca. Então, quando usamos o que foi designado pelos homens para comprar e vender (a saber, o dinheiro) e o damos livremente sem nenhuma expectativa de retorno, unimos o dinheiro à graça. Ao fazer isso, profanamos as propriedades sagradas atribuídas ao dinheiro e declaramos, para os domínios espirituais e físicos, que Mamom não é a nossa fonte.

Contudo, quando um crente dá uma oferta com expectativas de retorno, a fim de ter suas necessidades supridas, ele não está entendendo a graça de Deus. Já ouvi centenas de vezes o ensino de que, se você está passando por dificuldades financeiras, a melhor forma de resolver a situação é pela semeadura e colheita. Isso está errado, errado, errado, errado e errado! Esse pensamento anula a graça de Deus, coloca-nos de volta no sistema mundano de trocas e submete nosso coração ao governo de Mamom, enquanto pensamos que estamos servindo a Deus.

Em Mateus 6, Jesus opôs-se à ideia de semear e colher para ter suas necessidades supridas.

Olhai para as aves do céu, que nem semeiam. nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? (Mt 6.26; RC).

Jesus estava introduzindo seus discípulos à graça, quebrando a mentira de que Deus, por meio da semeadura e colheita, supriria as necessidades humanas. Ele estava dizendo que Deus supre as necessidades básicas dos pardais e dos lírios sem que eles semeiem ou colham, trabalhem ou teçam. Em outras palavras, a provisão não depende de suas obras. Pássaros e flores estão sob os cuidados de Deus simplesmente porque ele as valoriza. E nós, seres humanos, temos muito mais valor para Deus do que pássaros e flores!

Isso é o que chamo de Fé de Pardal. A verdade básica de que Deus suprirá todas as minhas necessidades porque me ama é o alicerce primordial para todas as outras operações financeiras no Reino de Deus. Se não for firmemente estabelecida, os princípios bíblicos sobre finanças serão facilmente distorcidos pelo espírito de Mamom e usados para confundir as pessoas.

Alguém pode perguntar: “Você está dizendo que o conceito de semeadura e colheita financeira com expectativas de retorno é errado?”. Não, de forma alguma! Semear e colher é um princípio bíblico correto, porém não pode ser usado para obter o suprimento das minhas necessidades. Frequentemente, a forma como esse princípio é ensinado anula a graça de Deus e faz com que os recursos para o sustento dependam de suas obras, e não do amor de Deus.

A Fé de Pardal, então, implica uma absoluta confiança e descanso total no fato de que Deus me ama e proverá para mim. Se eu trabalho 40 horas por semana no meu emprego, na verdade estou trabalhando para Deus, e não para um homem. O dinheiro que recebo do meu patrão não é um direito meu, mas um presente disponível para mim pela graça, dado por meu Pai que me ama. Dessa forma, Deus é a minha fonte, e meu patrão é simplesmente um canal usado por ele para me suprir.

Sintomas de escravidão a Mamom

Com esse entendimento, o dinheiro não controla mais a minha vida. Quando o Senhor me manda ofertar, não verei aquela importância como minha, obtida por meio do meu trabalho penoso, e cujo poder de compra eu agora renuncio com grande sacrifício. Não! Eu me verei como um gerente de uma pequena porção dos recursos de Deus sobre o qual ele me requisita como mordomo. Porque minha provisão pessoal já está segura em seu amor, não serei prejudicado quando ele me pedir para direcionar alguns dos recursos para um propósito específico em seu Reino. Não me sinto obrigado a orar ao meu talão de cheques quando surgir uma oportunidade de ofertar: “Oh, querido talãozinho, quanto você tem?”. Ao invés disso, sou livre para orar ao Deus vivo e descobrir o que ele quer fazer com os seus recursos.

Certa vez, eu estava ministrando na África entre pessoas nativas. A maioria delas se considerava muito pobre. Algumas realmente não eram tão pobres e tinham bons empregos pelo padrão econômico daquela nação. Durante a conferência, o fundador das igrejas participantes levantou uma oferta em cada reunião. No final, o total arrecadado foi equivalente a aproximadamente 42 dólares. As despesas da conferência tinham custado a ele mais de cinco vezes essa quantia. Os líderes que estavam participando da conferência aparentemente não acharam nenhuma importância em ofertar.

Contudo, eu havia levado livros e fitas para doar a esses líderes. Percebi, no entanto, que eles provavelmente não valorizariam esse material se o recebessem de graça. Por isso, estipulei um preço baixo para cada livro ou série de fitas cassetes. Todo o material foi instantaneamente comprado nas duas primeiras reuniões. Foi interessante perceber que esses “pobres” líderes cristãos não tinham dinheiro para ofertar, mas tinham o suficiente para comprar o que desejavam. Em outras palavras, não viam valor algum em ofertar, mas reconheciam o valor imediato de trocar o dinheiro por um livro ou uma série de fitas. Esse é um forte sintoma da escravidão ao espírito de Mamom. Por estar apegada ao valor material do dinheiro, a pessoa só quer trocá-lo por algo que tenha retorno pessoal e imediato.

Uma pesquisa feita por volta de 1990 sobre o uso de dinheiro entre cristãos renovados ao redor do mundo mostrou a mesma realidade. Em média, os cristãos ofertavam para o Reino menos de 16 dólares por ano. O mesmo grupo, porém, gastava quase 100 dólares por ano em livros, vídeos, fitas cassetes, presentes e conferências evangélicas. Aparentemente, os cristãos renovados ao redor do mundo valorizam mais comprar “coisas evangélicas” do que ofertar para a pregação do Evangelho.

Conheça sua fonte de provisão

Enquanto ensinava esse conceito de “Fé de Pardal” em uma conferência, um homem levantou a seguinte questão: “Você está dizendo que, se eu crer que Deus é minha fonte, ele irá automaticamente me prover apenas pela sua graça? Se é assim, então posso apenas me demitir do emprego e esperar que Deus me sustente, certo?”.

Obviamente, ele estava sendo sarcástico. Nós todos reconhecemos que existe algo errado com esse pensamento, mas o que é? O Senhor me levou a responder à pergunta desse homem olhando para a vida de Elias em 1 Reis 17. Descobri que é importante reconhecer o lugar e o canal através do qual Deus está fornecendo a provisão. No caso do homem que fez essa pergunta, esse canal era seu emprego. Creio que muitos cristãos se confundam, porque perderam o lugar e o canal de Deus. Vejamos isso na vida de Elias.

O primeiro ponto que observamos é que a palavra do Senhor veio a ele, mais de uma vez, dando instrução específica a respeito de seu lugar de provisão. Ele não era um ateu buscando o dinheiro como fonte. Ele estava ouvindo o Espírito de Deus. Esse mesmo princípio é real para nós. Precisamos estar num relacionamento dinâmico com o Deus vivo a fim de saber para onde ele nos quer. Ao longo da vida da maioria dos cristãos, Deus mudará o lugar e o canal de provisão várias vezes. É importante, nessas ocasiões, ouvir o Espírito para entender quando e como esse canal vai mudar.

A primeira direção de Deus para Elias foi enviá-lo para o Ribeiro de Querite. Durante a seca que atingiu toda a região, ele recebeu suprimento de água no ribeiro e de pão e carne pelos corvos. Elias poderia ter permanecido onde estava anteriormente, mas, fora do lugar escolhido por Deus, teria passado necessidade e, certamente, ficado zangado. Isso acontece com muitos cristãos. Eles simplesmente falham em reconhecer a mudança que Deus está fazendo, o canal seca, e o suprimento desaparece.

Quando a água do ribeiro secou, Elias provavelmente já tinha aprendido que o término da provisão daquele canal indicava que Deus o estava mudando. A maioria dos cristãos entra em pânico todas as vezes que um canal usado por Deus seca. Grande parte dos indivíduos, nesse momento, cai nas garras do espírito de Mamom; eles se tornam ateus instantaneamente e começam a esforçar-se desesperadamente para resolver seus problemas. A Fé de Pardal, por outro lado, não abandona a fonte de provisão; simplesmente reconhece a mudança do canal.

Se o homem que me fez a pergunta simplesmente se demitisse de seu emprego e esperasse que Deus o provesse no nome da “Fé de Pardal”, ele teria se colocado fora do local da provisão de Deus para sua vida.

Depois que o Ribeiro de Querite secou, Deus deu uma nova direção: ir para Sarepta, em Sidom (1 Rs 17.9). Novamente Elias precisou ter fé para obedecer à palavra do Senhor. Imagine como ele deve ter-se sentido ao pedir a uma viúva necessitada que preparasse comida e bebida para ele. Em primeiro lugar, isso seria extremamente humilhante. Em segundo lugar, ofenderia sua própria mente natural. Se eu fosse Elias, eu teria pensado: “Senhor, eu devo ter perdido sua direção. Essa viúva é carente. Eu não deveria estar pedindo ajuda para ela. Deveria tirar uma oferta entre o povo desta cidade para ela, pois é tão carente que está preparando a última refeição para comer com seu filho. Senhor, deve haver algum engano”.

Por que o Senhor fez Elias pedir a essa mulher a sua última refeição? Eu creio que o ponto-chave na vida da viúva era a Fé de Pardal. Em que ela confiava como fonte de sustento? Com certeza, estava confiando em seu estoque de farinha e óleo. Já que ele tinha acabado, agora só poderia esperar a morte. Deus queria transferir sua fé na provisão material para a fé no Deus vivo. Ele queria ser sua fonte. Como faria isso acontecer? Levando o homem de Deus a pedir que lhe desse sua última provisão material. Isso removeu sua capacidade de confiar no sustento da farinha e do óleo.

Nem Deus nem Elias buscavam a farinha e o óleo dela. Deus queria sua fé. Ele queria ser sua fonte. A mesma coisa acontece com os homens de Deus quando recebem ofertas nos dias de hoje. Algumas pessoas pensam que estão atrás do seu dinheiro. Nem todos têm a motivação correta, mas creio que a maioria dos servos de Deus não esteja buscando o dinheiro das pessoas. Eles e Deus estão buscando sua fé. Essa fé libera milagres.

Quando a viúva fez o que Elias lhe pediu, ela liberou um milagre sobrenatural de Deus. O óleo e a farinha não acabaram por muitos dias. Ela aprendeu a viver pela confiança na palavra do Senhor ao invés de confiar nas possessões materiais.

Guerra espiritual

Na história do jovem rico (Mc 10.17-22), vemos outro confronto com o falso deus Mamom. Apesar de ter guardado os mandamentos que Jesus citou, existia na vida desse jovem um conflito de amor entre Deus e Mamom. Jesus deu-lhe uma estratégia de guerra espiritual, a saber, um meio de avançar no território de Mamom. Bastaria converter tudo o que tinha em dinheiro e DAR aos pobres. Jesus queria que ele se livrasse das garras do espírito de Mamom. Ele não estava interessado no dinheiro dele; queria uma aliança com seu coração. O jovem foi embora triste e sofrendo porque tinha muitas posses. As riquezas o haviam agarrado! Ele estava cego para o amor de Jesus e para as Escrituras.

Em Provérbios 19.17, Salomão afirma que aquele que dá aos pobres empresta ao Senhor, o qual lhe devolverá depois. Eu precisaria perguntar àquele jovem rico: “Qual é o problema? Jesus só pediu para você dar aos pobres. Você simplesmente emprestará ao Senhor, e ele lhe devolverá”. Contudo, quando o espírito de Mamom controla nossa mente, vemos somente os prejuízos e uma grande perda. Jesus queria que ele profanasse Mamom, e assim quebrasse o seu controle, a escravidão em sua vida.

Tenho sido questionado por algumas pessoas: “Todos precisam fazer o que Jesus pediu ao jovem rico?”, Geralmente, respondo assim: “Não sei. Você terá de perguntar ao Senhor. Mas pode ser que, por ter feito essa pergunta, você precise!”

A questão é: “Em quem você confia? Quem é a fonte: Deus ou Mamom? Você ama e busca a Deus ou a Mamom?”

Na realidade, tudo o que temos recebemos como um presente de Deus. A maneira como usamos o dinheiro simplesmente é um teste para ver se entendemos a graça divina. Eu vejo minha provisão como um presente de Deus, ou como algo que é meu direito como o resultado de meu trabalho? Será que eu uso o dinheiro para dar e receber, para apresentar a outros esta graça, ou somente o uso no sistema deste mundo, de compra e venda para obter algo de igual valor?

Quando damos o que foi criado pelo homem para comprar e vender (dinheiro) sem expectativas de retorno, introduzimos outras pessoas na graça de Deus e profanamos as propriedades sagradas que Mamom tenta atribuir ao dinheiro. Dar é um ato de guerra espiritual no qual proclamamos que o dinheiro não tem poder em nossa vida. Minha capacidade de atingir meus objetivos não é impedida de forma alguma pela redução da quantidade de dinheiro sobre o qual tenho gerência. Já que Deus é capaz de liberar dinheiro para mim, minha capacidade não diminui quando dou. Deus é minha fonte, e minha confiança está na sua provisão pela sua graça.

Extraído e adaptado do livro Bens, Riquezas e Dinheiro, de Craig Hill e Earl Pitts, Bless Gráfica e Editora Ltda, Pompeia, SP (Universidade da Família).

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