A.B. Simpson (1843 – 1919)
“Considerai motivo de grande alegria o fato de passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança; e a perseverança deve ter ação perfeita, para que sejais aperfeiçoados e completos, sem vos faltar coisa alguma (Tg. 1.2-4). “Feliz é o homem que suporta a provação…” (v. 12). A batalha de resistir e suportar a tentação faz bem ao homem. O conflito ensina, fortalece, estabiliza e é necessário para que você se fundamente, se estabeleça e, por fim, receba aprovação e recompensa.
Humildade e compaixão
Um dos melhores efeitos da tentação é que ela revela o que está em seu coração. Ela mostra quem você é. Até ser tentado, você se sente forte e autoconfiante, mas quando o afiado gume das armas do adversário perfura sua alma, você sente mais compaixão por outros e menos confiança em sua autossuficiência; você, pobre e impotente, se humilha e se quebranta aos pés do Senhor – e essa é a melhor coisa que poderia lhe acontecer. Deus quer desarmá-lo e derrubá-lo, para depois erguê-lo e salvá-lo, e lhe dar de sua força. Isso produz humildade e nos faz desconfiar de nós mesmos.
Descobrimos que não devemos recorrer à agressão, mas voar para nosso refúgio em Cristo. Ele “providenciará uma saída, para que a possais suportar” (1 Co 10.13). Como os coelhinhos que se escondem atrás das pedras e não tentam enfrentar seus inimigos, mas correm para o abrigo, você só encontrará salvaguarda em Jesus Cristo; ele é o escudo que o abriga, você estará seguro se decidir não lutar e se abrigar na Cruz e nos braços de seu Salvador.
Vitória e força
A tentação exercita nossa fé e nos ensina a orar. É como um treino militar, um gostinho de batalha para o jovem soldado. Somos colocados sob fogo e forçados a usar nossas armas e a testar seu potencial. A tentação nos mostra os recursos de Cristo e a preciosidade das promessas de Deus. Ela nos ensina sobre a realidade do Espírito Santo e nos compele a caminhar em proximidade a ele, sempre refugiados atrás de sua força e suficiência sobrenaturais. Cada vitória nos confere mais confiança em nosso vitorioso Líder, e mais coragem para enfrentar o próximo ataque do inimigo, de forma que não seremos apenas vencedores, mas mais que vencedores, dizimando a força de nossos adversários e reunindo preciosos despojos após cada nova batalha.
Resistir à tentação, portanto, fortalece o que já temos recebido e nos firma em todas as nossas qualidades e dádivas espirituais. Você descobrirá que as árvores da floresta mais expostas à violenta força das tempestades são sempre as mais robustas e cujas raízes adentram mais profundamente ao solo. O mesmo acontece no mundo espiritual, como afirmou o apóstolo Pedro: “E o Deus de toda graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido um pouco, ele mesmo vos haverá de reabilitar, confirmar, fortalecer e alicerçar” (1 Pe 5.10).
Esteja atento
Ao mesmo tempo, a tentação nos ensina tanto a vigiar quanto a orar, a fim de evitarmos o que nos leva à tentação e nos mantermos longe do terreno inimigo. Somente o cristão inexperiente brinca com o diabo. Lutero costumava dizer: “Quem toma refeições com o diabo precisa de uma colher muito comprida”. “Ore, mas fique no mesmo lado do muro em que Deus está”, dizia o bispo Hamlin. Não vá aventurar-se no jardim do diabo para depois pedir socorro a Deus; mas permaneça no lado de Deus – e vigie e ore, para não entrar em tentação.
Nosso excesso de confiança costuma nos trair. Como o homem que, ao fugir do oficial de justiça que tinha um mandado para sua prisão, conseguiu cruzar a fronteira para uma região cuja lei o protegia. O oficial então decide trocar força por astúcia. Ele ri e diz: “Você ganhou. Permita-me cumprimentá-lo e nos despedimos como amigos”. O tolo fugitivo estendeu a mão e, num piscar de olhos, o oficial de justiça o puxou para o seu lado da fronteira e imediatamente o algemou. Então, se Satanás não consegue nos derrotar de modo legal, ele tentará nos atrair para tão perto das fronteiras do perigo que seremos seduzidos por suas artimanhas.
Algumas pessoas navegam tão perto do lago de fogo que as velas de suas embarcações ficam chamuscadas, e escapar se torna algo impossível. O cristão maduro é o mais humilde e mais vigilante. Não confie em sua esperteza, mas tema e aprenda a combinar os dois benditos esconderijos de esperança e temor que Paulo combinou de forma tão sábia nessas duas passagens: “Aquele que pensa estar em pé, cuidado para que não caia” e “Deus é fiel e não deixará que sejais tentados além do que podeis resistir…” (1 Co 10.12,13). E no versículo 14 ele volta a usar um tom de advertência e prudência: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria”.
A tentação também nos ensina a ser pacientes. “E a perseverança deve ter ação perfeita, para que sejais aperfeiçoados e completos, sem vos faltar coisa alguma” (Tg 1.4). Isso sugere que a paciência é a consumação da graça na vida cristã. Assim, que não sejamos surpreendidos quando Deus nos colocar na mais quente de todas as fornalhas, isto é, naquela que tem as chamas das tentações e provações causadas pelo inimigo, antes de nos transformar em vasos para sua glória.
Uma recompensa gloriosa
Passar por tentações proporciona uma gloriosa compensação como recompensa, pois “depois de aprovado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1.12). Existe uma recompensa especial para quem se manteve firme na dificuldade, que seguiu com graça diante da injustiça e da tentação, que ficou puro entre as seduções do mundo, que resistiu no dia mau e, depois de tudo isso, permaneceu inabalável e aprovado. Irmão, quando tentado, tenha bom ânimo. Um dia você ficará maravilhado diante da glória da sua coroa.
– Extraído de Practical Christianity de A. B. Simpson. Christian Alliance Publishing Co., Brooklyn, NY.
