Por: David Wilkerson
A ressurreição dos mortos é a “cura definitiva.” Tentei compartilhar esta verdade gloriosa com os sofridos pais de um menino de cinco anos que tinha morrido há poucas horas de leucemia. Eles tinham suplicado a Deus uma cura para seu amado filhinho. A igreja toda orou fervorosamente. Amigos profetizaram: “Ele não vai morrer; ele vai ser curado”. Uma semana antes do falecimento do garotinho, o pai com o coração partido pegou a criança febril nos braços e andou com ela pelo quarto. “Deus, eu não desisto. Tuas promessas são verdadeiras. Minha fé jamais vacilou. Mais do que dois ou três concordaram em teu nome que ele vai ser curado. Eu confesso isso agora, e o reivindico.” Apesar de tudo, a criança morreu.
Eu estava lá quando a criança foi posta em um pequeno caixão. Choquei-me com todos os rostos tristes dos amigos cristãos que tinham se reunido em luto. Os pais estavam em estado de choque. Todo mundo estava com medo de expressar seus pensamentos. Eu sabia que o povo da igreja estava pensando isso, e até o pastor agiu como se estivesse pensando a mesma coisa. Com toda certeza, os pais o estavam pensando.
E o que era este pensamento inexprimível que tomava conta de todas as mentes? Simplesmente isso: “Deus não respondeu a oração! Alguém errou! Alguém impediu o poder de Deus para a cura! Alguém é responsável pela morte desta criança. Algum rancor, um motivo secreto, um pecado escondido. Alguém ou alguma coisa impediu a cura.”
Foi exatamente naquele lugar e naquela hora que esta gloriosa verdade irrompeu sobre mim, e levei os pais ao lado para falar do que sentia com tanta intensidade. “Não duvidem de Deus”, eu disse. “Suas orações foram todas ouvidas por ele. Deus deu ao seu filho a cura final. Aquele corpinho febril e adoentado já foi abandonado, e Ricky está agora revestido com seu corpo perfeito, que não pode mais sentir dor. Ricky foi curado! Deus fez muito além de tudo que vocês podiam imaginar ou pedir. Seu filho está vivo e muito bem — tudo que mudou foi seu corpo, e sua localização.”
Os pais me olharam zangados. Estavam amargurados e confusos, e saíram do cemitério para entrar num desolador período de cinco anos de dúvidas, perguntas, culpa e introspeção. Durante este período, eles mal falavam comigo. Mas Deus, em sua misericórdia, sempre vem ao encontro dos corações sinceros. Um dia, em oração, o Espírito Santo veio sobre aquela mãe pesarosa, lembrando-a de minha mensagem. Ela começou a louvar ao Senhor, dizendo: “Ricky foi curado. Deus respondeu nossas orações. Senhor, perdoa nossas dúvidas. Ricky neste instante está vivo e muito bem, desfrutando de sua cura.”
Foi precioso o momento em que nos reunimos, braços enlaçados, agradecendo a Deus por essa consolação. O pai de Ricky confessou: “David, ficamos tão bravos com você. Agora compreendemos. Ficamos tão centralizados em nós mesmos que não conseguíamos entender o que era o melhor para o nosso filho. Só ficamos pensando em nossa própria dor, nosso sofrimento, nossa tristeza. Mas agora o Senhor nos mostrou que Ricky não foi destruído pela morte, mas que Deus o levou para si mesmo.”
A Vida Não Está na Casca
Estes nossos corpos mortais são meras cascas, e a vida não está na casca. Esta casca não é para sempre, é apenas uma delimitação temporária que abriga uma força vital que nunca pára de crescer e amadurecer. O corpo é uma casca que age como protetor transitório da vida existente no interior; é apenas um material sintético em comparação à vida eterna encoberta por ele.
A vida eterna foi implantada em todo verdadeiro cristão. Foi colocada como semente em nossos corpos mortais que cresce e amadurece continuamente. Está dentro de nós passando por um contínuo processo de crescimento, de desenvolvimento — até finalmente romper a casca exterior e tornar-se uma nova forma de vida. Esta gloriosa vida de Deus que há em nós exerce pressão sobre a casca, e no momento exato em que a vida ressurreta está madura, a casca se rompe. As limitações artificiais são rompidas, e como um pintainho, a alma é liberta da prisão. Louvado seja o Senhor!
A morte é uma mera ruptura do frágil invólucro. No exato momento em que nosso Senhor decide que nosso invólucro cumpriu sua função, importa que os servos de Deus deixem que seus antigos e corruptos corpos voltem ao pó de onde vieram. Quem pensaria em pegar os pedacinhos da casca e forçar o pintainho recém-nascido a voltar ao estado original? E quem pensaria em pedir ao ente amado que se foi, para que deixe de lado seu novo e glorioso corpo — feito à imagem do próprio Cristo — e retorne àquela casca decadente de onde saiu para a liberdade?
O Morrer é Lucro?
Paulo disse isto! “O morrer é lucro!” (Fp 1.21). Este tipo de conversa é totalmente incompreensível em nosso vocabulário espiritual moderno. Tornamo-nos tão fanáticos pela vida, que temos muito pouco desejo de partir para ficar com o Senhor.
Paulo disse: “De um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor…” Contudo, em favor de edificar os convertidos, era-lhe melhor “ficar dentro da casca”. Ou, como disse, “permanecer na carne”.
Será que Paulo era mórbido? Será que tinha uma fixação patológica pela morte? Será que mostrava falta de respeito pela vida com a qual Deus lhe havia abençoado? Claro que não! Paulo vivia a vida ao máximo! Para ele, a vida era um dom, e ele a havia usado muito bem para combater um bom combate. Ele havia superado o medo do “aguilhão da morte” e agora podia dizer: “É melhor morrer e estar com o Senhor do que permanecer na carne”.
Os que morrem no Senhor são os vencedores; nós que permanecemos somos os perdedores. Como é trágico que o povo de Deus ainda veja os que partiram como “vítimas — pobres coitados, que perderam aquela boa parte da vida a que tinham direito”. Ah, se os nossos olhos e os nossos ouvidos espirituais fossem abertos só por uns instantes, veríamos os nossos queridos já no lado divino do universo, caminhando no rio puro e cristalino da vida eternal — tentando gritar para nós: “Consegui! Eu consegui! Finalmente estou livre! Continuem firmes, amados da terra: não há nada a temer. A morte não tem aguilhão. É real: é melhor partir e estar com o Senhor.”
Alguém que você ama já rompeu esta carapaça? Você estava lá quando aconteceu? Ou a notícia lhe chegou por telefone ou telegrama? Que terrível sensação traspassou sua mente quando lhe disseram: “Ele morreu!” ou “Ela morreu!”?
Certamente é natural se lamentar e chorar pelos que morrem. Até a morte do justo é dolorosa para os que ficam. Mas como seguidores de Cristo, que têm as chaves da morte nas mãos, não ousamos pensar na morte como um acidente perpetrado pelo diabo. Satanás não destrói sequer um único filho de Deus. Satanás, apesar de ter recebido permissão de tocar a carne de Jó e afligir o seu corpo, não podia tomar sua vida. Os filhos de Deus sempre morrem exatamente no horário dele — nem um segundo antes nem depois. Se todos os passos do justo são ordenados por Deus, é claro que ele ordena os passos finais também.
A morte não é a cura definitiva — a ressurreição é! A morte é a passagem, e às vezes esta passagem pode ser dolorosa, até excruciante. Tenho visto muitos dos escolhidos de Deus morrer com dores terríveis. Mas Paulo responde bem a isto proclamando: “…tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18). Não importa o quanto a dor e o sofrimento conseguem dilacerar o corpo — nem vale a pena compará-los com a indescritível glória que aguarda os que suportam passar por isso.
A Tração “Magnética” de Deus
Durante estes anos em que observo a morte dos santos, tenho notado algo em comum. Chamo isso de Tração Magnética. Estou convencido de que a morte chega ao cristão muito antes do último suspiro. Quando o Senhor liga a chave, uma tração magnética irreversível do Espírito de Deus começa a atrair o amado para si. De alguma maneira, Deus permite que a pessoa que está sendo tracionada saiba que isto está acontecendo. Ela recebe uma percepção íntima de que está a caminho do lar. Já vê um pouquinho da glória celestial. Enquanto os amados juntam-se ao seu redor pedindo que a ressuscite, percebe-se que ela não quer mais ficar prisioneira na carapaça. Apareceu uma fenda; ao espreitar através dela, recebe um vislumbre da Nova Jerusalém, com todas suas alegrias eternas e indescritíveis. Ela teve uma visão das glórias que a aguardam. Voltar seria um vazio.
Recentemente estive junto ao leito de uma piedosa mãe que morria de câncer. O quarto do hospital estava iluminado com a santa presença de Deus. O esposo e os filhos cantavam hinos baixinho, e mesmo fraca, ela levantou o rosto para os céus e murmurou: “Sinto Deus me puxando. É verdade — ele nos puxa para si. É como se fosse um ímã forte, e estou partindo cada vez mais rápido. Agora não quero que ninguém me impeça.” Em poucas horas, ela rompeu a casca da sua carne, e passou para o círculo íntimo de Deus. Naquela hora santa, ninguém ousou interferir com esse processo divino de transformação, em que o terrestre estava sendo tragado pelo celestial.
É tão triste ouvir cristãos condenando Deus por “levar seus entes queridos”. “Deus, simplesmente não é justo”, argumentam. Apesar de ser difícil condenar o que as pessoas dizem na hora da profunda dor, acredito que este questionamento pode ser egoísta. Só pensamos em nossa perda, e não no ganho deles. Deus só desliga deste mundo aqueles que ele não consegue mais amar à distância. O amor recíproco exige que estejam em sua presença. É aí que o amor se torna perfeito. Estar com o Senhor é experimentar o seu amor na plenitude.
Então você fica lá impotente enquanto seu ente amado entra por esta passagem chamada morte. Você sabe que é uma trajetória escura e solitária, e que só poderá segurar sua mão até um determinado ponto. Chegou a hora de deixar que seu amado se vá, e permitir que Jesus o pegue pela mão. Ele não é mais seu — ele pertence a Jesus. Você se sente atado, mas não há nada que se possa fazer senão descansar no conhecimento de que o Senhor assumiu o comando, e o seu amado está em boas mãos. E aí, num segundo você o perde de vista. Acabou a luta. Só fica um invólucro roto. A alma liberta fugiu para a santa presença de Deus.
A morte do justo é uma coisa preciosa. Davi, o salmista, escreve: “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Sl 116.15). Deus vê a morte de um filho seu como um momento precioso, de grande valor. Mas nós humanos não vemos nada ou quase nada que possamos prezar nesta experiência.
Uma jovem mãe me contou a dolorosa história do trauma que suportou após o falecimento de seus dois filhos. O primeiro morreu com 18 meses. O segundo só viveu dois meses. Ela pensava que Deus lhe houvesse dado o segundo filho para compensar pela perda do primeiro — mas agora ambos tinham morrido. Ela e o esposo cristão passaram meses se auto-analisando. Será que estavam com pecado na vida? Será que ficaram zangados com Deus duvidando de seu poder para curar? Será que de alguma maneira foram responsáveis pelas mortes dos filhos? Então, um dia, uma “boa amiga cristã” veio e lhes trouxe o que afirmou ser uma mensagem de Deus. Eles estavam, dizia ela, sendo punidos pelo Senhor devido a rancores escondidos, desonestidade no casamento. “As crianças ainda estariam vivas”, lhes disse, “se seus corações tivessem sido limpos do pecado e se sua confissão fosse real.”
Eles ficaram esmagados pelo desespero. Mas Deus, em sua misericórdia, lhes mostrou o quanto estes pensamentos eram ridículos. Este tipo de ensino é uma tolice trágica. Deus não faz roleta russa com as vidas.
Devemos parar de orar pelos que estão morrendo? Devemos desistir quando há uma doença terminal? Será que devemos simplesmente nos deitar e morrer, se isso leva à cura definitiva? Nunca! Mais do que nunca em minha vida, creio na cura divina. Devemos orar para que todos sejam curados. E as únicas pessoas que não são curadas, segundo o que eu entendo sobre a cura, são aquelas que foram escolhidas para a cura definitiva da parte de Deus. Alguns não recebem órgãos ou membros reabilitados; antes, recebem a cura perfeita: corpos gloriosos, sem dor e eternos. A nossa mente pode admitir a existência de algum milagre maior que a ressurreição dos mortos?
Somos Muito Presos à Terra
Todas as mensagens sobre morte nos incomodam. Tentamos evitar até mesmo pensar sobre isso. Achamos que os que falam nisso são mórbidos. Às vezes conversamos sobre como será o céu, mas na maior parte das vezes o assunto morte é tabu.
Como os cristãos primitivos eram diferentes! Paulo falava muito sobre a morte. Na verdade, no Novo Testamento a ressurreição dos mortos é considerada nossa Bendita Esperança. Mas hoje, a morte é considerada uma intrometida que nos arranca da boa vida com a qual estamos acostumados. Empanturramos nosso viver com tanta coisa material, que ficamos atolados na vida. Não conseguimos mais aceitar a idéia de deixar nossas belas casas, as coisas maravilhosas, nosso amado ou amada. Parece que pensamos assim: “Morrer agora seria uma perda muito grande. Amo a Deus — mas preciso de tempo para desfrutar do meu imóvel. Ainda tenho de aproveitar o que consegui. Faz pouco tempo que me casei. Preciso experimentar meus bois. Preciso de mais tempo.”
Você já percebeu que atualmente se fala muito pouco sobre o céu ou sobre partir deste mundo? Em lugar disso somos bombardeados com mensagens sobre como usar nossa fé para comprar mais coisas. “O próximo reavivamento”, disse um conhecido mestre e pregador, “será um reavivamento financeiro. Deus vai derramar bênçãos financeiras sobre todos os crentes.”
Que conceito raquítico, doentio, dos propósitos eternos de Deus! Não é de se admirar que tantos cristãos estejam com medo de pensar na morte. A verdade é que estamos longe de entender o chamamento de Cristo para largar o mundo e todos seus laços. Ele nos chama para vir e morrer.
Morrer sem construir memoriais para nós mesmos. Morrer sem nos preocupar sobre como seremos lembrados. Jesus não deixou autobiografia, nem construiu uma sede, universidade ou instituto bíblico. Ele não deixou nada para perpetuar sua memória a não ser o pão e o vinho.
Qual é a maior revelação da fé, e como deve ser exercida? Você a encontrará em Hebreus: “Todos estes morreram na fé…confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra… Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11.13-16).
Eis minha sincera oração para Deus:
“Senhor, liberta-me da escravidão das coisas. Não deixes que eu desperdice o dom da vida com meus próprios prazeres e objetivos egoístas. Ajuda-me a colocar todas minhas paixões sob o teu controle. Faze com que me lembre que sou um peregrino, não um morador permanente aqui; que não sou um torcedor teu, mas um seguidor. Acima de tudo, livra-me do cativeiro do medo da morte. Faze com que eu finalmente compreenda que morrer em Cristo é lucro. Ajuda-me a aguardar em preciosa expectativa o meu momento de Cura Definitiva.”
Leia Apocalipse 1.18; Hebreus 2.14-15; 2 Timóteo 1.10
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David Wilkerson é pastor da Times Square Church, em NY, e autor de vários livros como
“A Cruz e o Punhal”.
Outras mensagens do autor em português:
http://www.tscpulpitseries.org/portuguese.html
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Henri Nouwen, um dos mais inspirados escritores espirituais de nosso tempo, descobriu algumas verdades espirituais andando junto com um grupo de trapezistas do circo alemão Simoneit-Barum. Ele viu neste belo e audacioso ato uma simples e poderosa metáfora para a vida espiritual. Tinha a ver com soltar-se e ser apanhado. Conversando com os trapezistas, ele descobriu que o ato era realizado com dois papéis totalmente diferentes. Um era o voador, o outro era o pegador.
O voador precisava ter completa confiança no pegador. O público pode pensar que a grande estrela é o voador, mas é o contrário. O voador não faz, nem pode fazer nada. O pegador é quem deve estar lá, e com uma precisão de frações de segundos, apanhar o voador no ar. O voador apenas salta, estende os braços, e espera que o pegador esteja lá para puxá-lo com segurança para cima. A pior coisa que o voador pode fazer é tentar inverter o papel e pegar o pegador. Se ele agarrar os punhos do pegador, poderia quebrá-los, ou quebraria os próprios punhos, e isto seria o fim para os dois.
A figura se aplica a todos os momentos da vida cristã, mas especialmente ao momento da morte. Nascemos no coração de Deus e seremos seguros nos seus braços por toda eternidade. Nosso tempo aqui na terra é uma oportunidade de expressar gratidão pelo amor que nos “pegou”. A morte não é o final de história, e a ressurreição não é um conceito teológico. É a convicção de que Deus “pegou” a pessoa que morreu definitivamente.
“Morrer é confiar no pegador. Cuidar de quem está morrendo é dizer: ‘Não tenha medo. Lembre-se que você é o filho amado de Deus. Ele estará lá quando você der o seu longo salto. Não tente agarrá-lo; ele o agarrará. Apenas estenda os braços e as mãos e confie, confie, confie'”.
(Extraído do livro Nossa Maior Dádiva, de Henri Nouwen).
Respostas de 2
perfeitooooo esse texto!!!
SIMPLESMENTE MARAVILHOSO, SEM PALAVRAS PARA EXPRESSAR TÃO IMENSA COMUNHÃO COM DEUS DAVID TINHA.
GLÓRIA A DEUS.