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A Oração É Sobretudo União com Deus

Robert O. Bakke

Mais do que apenas comunicação ou comunhão, a oração consiste, essencialmente, em união com Deus. Ela é o ato dinâmico e mensurável que ajuda a determinar a condição espiritual do cristão.

É por meio da oração que derramamos nossa vida, nossos pensamentos e nossos anseios diante de Deus e, em decorrência disso, recebemos de Deus sua vida, seu poder, seu caráter, sua mente e sua autoridade.

Há cerca de 25 anos, E. Stanley Jones atuou como missionário na Índia. Sobre esse tema da união com Deus ele escreveu:

O primeiro objetivo [da oração] é conectar-se com Deus. Se conseguirmos nos conectar com ele, todas as demais coisas sobrevirão. Permita que Deus chegue até você, inunde-o e se aposse inteiramente de você. Se isso ocorrer, ele irá fazer com que as orações que emanaram dele mesmo fluam através de você. Como essas orações provêm do próprio Deus, sendo inspiradas por ele, também serão atendidas por ele.

A oração é como o processo de extração da resina de um pinheiro, em que fixamos junto a uma perfuração em seu tronco um vasilhame para que a resina escorra para dentro dele. Por meio da oração nós nos achegamos a Deus, recostando-nos em seu lado perfurado, por assim dizer, e permitindo que sua graça inunde nosso vasilhame. Nesse momento estamos absorvendo a vida do próprio Deus.

Jesus empregou uma analogia semelhante ao falar aos seus discípulos na noite que antecedeu a morte dele. O contexto em que aquelas palavras foram ditas indica que eram dramáticas e densas; eram as palavras de um homem que, estando prestes a morrer, decide comunicar as verdades mais importantes de todas. As últimas palavras de alguém sempre têm como característica essa pungência.

Isso me traz à memória as últimas palavras que meu pai me disse. Aos 64 anos ele estava à beira da morte, com um tumor cerebral. Eu era um jovem pastor e me recusava a crer que meu pai, o meu herói, iria morrer; que Deus não haveria de atender as minhas preces e restaurá-lo.

Todos os fins de semana, após pregar nas manhãs de domingo, eu saía de minha pequena igreja em Connecticut, EUA, e viajava até a casa de meus pais em Nova Jersey. Algumas vezes, quando a casa estava silenciosa e meu pai dormia, eu me ajoelhava ao lado de sua cama, impunha as mãos sobre sua cabeça febril e orava pedindo sua cura. Geralmente ele estava passando tão mal que esse gesto não o despertava. Na segunda-feira à noite, minha esposa e eu pegávamos a estrada de volta para casa.

Quando eu estava partindo daquela que seria a última visita, de malas na mão, despedi-me de meu pai, que agora era apenas uma sombra desvanecente do homem que eu havia conhecido e admirado, garantindo-lhe que tudo ficaria bem e que nos veríamos novamente no fim de semana seguinte. Eu falava com rapidez, preenchendo todos os momentos da despedida com muitas palavras, para não dar a ninguém a chance de fazer qualquer cogitação em outro sentido.

Enquanto eu tagarelava sem parar, esquivando-me do óbvio, meu pai se ergueu com dificuldade em sua cama e fez um gesto para que eu me aproximasse. Ainda enchendo o ambiente com o ruído de minhas palavras carregadas de falsa esperança, aproximei-me dele. Inclinei-me, e ele estendeu o único braço que ainda conseguia movimentar. Puxando-me pela nuca (até hoje consigo sentir o toque de seu braço trêmulo), ele encostou meu rosto no seu.

Enquanto eu continuava a falar, ele chorava. Suas lágrimas rolavam do seu rosto para o meu; suas lágrimas escorriam pela minha bochecha. Então ele sussurrou em meu ouvido: “Eu te amo. Adeus”.

Foi em seu estado de maior humildade e fraqueza, abraçando-me com força com seu braço, que ele me inundou com as palavras mais importantes que lhe restavam, suas últimas palavras ofegantes. Mas para além daquilo, com aquelas poucas palavras ele verteu em mim milhões de outras palavras nunca proferidas mas emanadas no decurso dos trinta e três anos em que ele afetuosamente criou seu terceiro filho. Até hoje suas palavras ecoam fortemente em mim, pois em meu estado de negação de sua morte iminente, eu me recusei a escutá-las. Como eu queria simplesmente tê-lo abraçado e chorado com ele!

“Permanecei em mim”

Na noite em que haveria de morrer, Jesus reuniu junto a si os seus amigos mais amados. Aquele era o momento de lhes dizer as verdades mais importantes. Se Jesus pudesse ter encostado seu rosto ao de cada um deles, acredito que o teria feito. Talvez ele tenha mesmo feito isso. Infelizmente, as palavras que ele disse haveriam de futuramente ficar ecoando na mente dos discípulos devido ao seu estado de negação; eles se recusavam a acreditar que seu Mestre iria morrer. Jesus lhes disse:

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que está em mim e não dá fruto, ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira; assim também vós, se não permanecerdes em mim.

“Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanece em mim é jogado fora e seca, à semelhança do ramo. Esses ramos são recolhidos, jogados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será concedido. Meu Pai é glorificado nisto: em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.1-8).

Para podermos compreender plenamente a intensidade dessas palavras, precisamos nos recordar de uma das maneiras pelas quais as línguas semíticas ressaltam a importância de uma palavra: a repetição dela. Por exemplo, quando Jesus ia dizer algo particularmente importante, costumava introduzir o tema dizendo “Amém, amém”, que certas versões bíblicas traduzem como “Em verdade, em verdade”. Isso significa “Ouçam atentamente!”

Outro exemplo: no céu, os anjos que servem diante do trono de Deus o aclamam dizendo: “Santo!” Porém Deus não é apenas santo; ele é “santo, santo”. Duas vezes, contudo, ainda não bastam, por isso o querubim se refere a Deus como “santo, santo, santo”. Em outras palavras: “Tu, ó Deus, és imensa e extraordinariamente santo, como nenhum outro”.

Pois bem, na noite em que haveria de morrer, Jesus assim falou aos seus amigos mais amados: “Permanecei em mim. (…) eu permanecerei (…) se não permanecer (…) se não permanecerdes (…) quem permanece (…) quem não permanece (…) se permanecerdes (…) e minhas palavras permanecerem (…)!” Permaneçam em mim; permitam que minhas palavras permaneçam em vocês para que deem fruto (e fruto em abundância!), demonstrando assim que são semelhantes a mim, unicamente para a glória do Pai. Porém, se não permanecerem em mim, irão murchar e morrer. Sem mim, vocês nada podem fazer.

O principal meio que nos foi dado para permanecer em Cristo e ele em nós é a oração. É assim que podemos comprovar nossa união com Deus: orando.

Dando e recebendo vida

Mais tarde, na noite anterior à sua morte, Jesus fez a oração sacerdotal (Jo 17.20-26), que expressa um tom bem semelhante. Após orar pelos doze discípulos, Jesus orou também por todos nós:

E rogo não somente por estes [doze apóstolos], mas também por aqueles que virão a crer em mim pela palavra deles, para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que me deste, para que sejam um, assim como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam levados à plena unidade, a fim de que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, assim como me amaste.

Pai, meu desejo é que aqueles que me deste estejam comigo onde eu estiver, para que vejam a minha glória, a qual me deste, pois me amaste antes da fundação do mundo.

Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço; e estes reconheceram que tu me enviaste. E fiz que conhecessem o teu nome e continuarei a fazê-lo conhecido; para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu também neles esteja.

À medida que Cristo se derramava em oração junto ao Pai, ele também recebia a vida do Pai. Jesus declarou abertamente: “Eu e o Pai somos um”. Porém foram suas orações que evidenciaram sua união com o Pai. Naqueles momentos que precederam a cruz, Jesus se ocupou com um ato verificável chamado oração, o que colocou em evidência a unidade entre o Pai e o Filho. A oração foi também o instrumento pelo qual Deus claramente derramou de si mesmo em seu Filho.

Assim, o aspecto principal da oração não é a articulação de palavras (embora as palavras sejam importantes) ou o compromisso com uma disciplina religiosa obrigatória que prometa benefícios em longo prazo (como correr ou praticar halterofilismo), mas sim a entrega de sua vida a Deus, recebendo, em contrapartida, a vida do próprio Deus.

Como observa E. M. Bounds: “A oração consiste no contato de uma alma vivente com Deus. No momento da oração, Deus se inclina para beijar o homem, abençoá-lo e auxiliá-lo em tudo aquilo que Deus possa conceber ou de que o homem possa precisar”.

Dessa forma, o próprio ato da oração se torna a nossa confissão de que nele todas as coisas são nossas: o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro… Tudo isso é nosso porque nós somos de Cristo, e Cristo, de Deus (1 Co 3.21-23), e sem ele nada podemos fazer.

 

Extraído do livro The Power of Extraordinary Prayer © 2000 (O poder da oração extraordinária), de Robert O. Bakke. Usado com permissão do autor. Todos os direitos reservados. Bob Bakker é o pastor responsável pelo ensino na Igreja Hillside, em Bloomington, Minnesota, EUA.


 

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