3 de dezembro de 2024

Ler é sagrado!

A Responsabilidade do Homem e a Soberania de Deus na Escolha do Cônjuge

Por: Angelo Bazzo e Carolina Sotero

Muitos cristãos têm o costume de orar, pedindo a Deus para mostrar quem é o seu “predestinado” ou “predestinada”. Por outro lado, outros – à semelhança de não cristãos – nem ao menos conversam com Deus sobre o assunto e fazem suas escolhas baseadas apenas em seus desejos e padrões sexuais.

Essa realidade mostra que, hoje em dia, a maioria das pessoas dentro da Igreja tem sérias dúvidas e confusões na hora de escolher seu cônjuge. E, em quase todos os casos, podemos ver, além de posições exageradas, uma dificuldade de relacionar as doutrinas bíblicas com as decisões da vida.

Existem duas doutrinas que aparecem em toda a Bíblia que todos nós temos dificuldade de conciliar: a responsabilidade do homem e a soberania de Deus. Cada pessoa, geralmente, gosta mais de uma delas e acaba achando que a outra não é tão importante. Nosso maior desafio é manter a tensão dinâmica entre as duas.

No processo de desenvolvimento da nossa salvação, por exemplo, essas duas doutrinas aparecem maravilhosamente juntas. Em uma de suas cartas, Paulo estimula os filipenses dizendo: “…realizai a vossa salvação com temor e tremor; porque é Deus quem produz em vós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12,13). Esses versículos nos mostram dois atos de “realizar”: um do homem e o outro de Deus. Ou seja, eu realizo aquilo que Deus está realizando. É literalmente um trabalho de parceria.

O impressionante é que alguns conseguem entender essa doutrina em relação à salvação, mas não conseguem aplicá-la, por exemplo, na hora do casamento. E o erro acontece porque não sabem em que ordem a doutrina deve ser aplicada.

Misticismo Irresponsável

Alguns colocam, na hora de escolher o cônjuge, a soberania de Deus em primeiro lugar e agem de forma extremamente mística. A anulação da “responsabilidade do homem”, nesse caso, faz com que lancem para Deus a escolha do(a) parceiro(a), pedindo que ele exerça sua soberania ao invés de assumir a responsabilidade própria. Inconscientemente, desejamos que Deus fale quem é o escolhido para que assim possamos culpá-lo caso algo dê errado.

Não devemos pedir a Deus para falar coisas que ele nunca disse que falaria. Nunca foi o propósito de Deus nos substituir como agentes morais e tomar decisões em nosso lugar. Seu plano é que sejamos à imagem de seu Filho, o que não significa sermos robôs, mas fazermos escolhas livres e, ao mesmo tempo, escolhas que sejam aquelas que Deus sempre quis.

Podemos ter certeza de que o Espírito Santo que habita em nós sempre nos inspirará a fazer a vontade do Pai. Ao mesmo tempo, precisamos estar atentos à sua voz, o que significa que ele também pode gerar em nós um sinal verde ou vermelho na hora da decisão. O Espírito Santo nunca age como um espírito de adivinhação quanto ao futuro; sua ação é constranger-nos e sensibilizar-nos, comunicando-se, por meio de intuição, com o nosso espírito. Intuição é diferente de adivinhação.

Responsabilidade Rebelde

Outras pessoas fazem o contrário: acertam na ordem, colocando a “responsabilidade do homem” em primeiro lugar, mas infelizmente possuem um coração rebelde e insubmisso. Anulam a “soberania de Deus” em sua mente e fazem escolhas baseadas em uma vida sem relacionamento com Senhor. São o tipo de pessoa que não dialoga com Deus. Muitas vezes, com medo de que ele diga “não”, fecham-se em suas decisões e apenas pedem para ele “abençoar o que elas já estão fazendo”.

Nesse caso, devemos ter consciência de que Deus nos ama e não quer o nosso mal. Podemos conversar com o Senhor sobre nossos sonhos, desejos e vontades. Na verdade, esse é o ponto alto do desejo de Deus: que sejamos seus amigos e companheiros. O medo nunca deve estar presente na hora da escolha de um cônjuge. A melhor decisão só poderá ser tomada quando estivermos seguros nos braços do Pai, porque é só nessa posição que temos suficiente lucidez para decidir sobre qualquer coisa. E lembre: sou eu que escolho o cônjuge que Deus já escolheu para mim, mas só poderei saber quem Deus escolheu depois que eu escolher.

Antes da Escolha

Watchman Nee costumava dizer: “Abra bem os olhos antes de se casar e feche bem os olhos depois!” Isso quer dizer que, antes do casamento, devemos considerar a nossa responsabilidade de escolha, mas que, após a escolha do cônjuge – após o casamento –, devemos descansar na soberania de Deus. Na prática, porém, como essa escolha deve acontecer?

Sendo a decisão do casamento uma responsabilidade humana, nós sempre precisaremos entender os valores fundamentais do Reino e considerá-los na hora da escolha. Em 1 Tessalonicenses 5.23, lemos que o ser humano é constituído de espírito, alma e corpo. O fato de o autor definir uma ordem específica de nossa constituição nos dá uma indicativa dos três aspectos que devem ser considerados e a sua ordem de importância.

Por ser o primeiro a ser citado, o espírito deve ser o fator de maior relevância na escolha. Isso implica considerar, antes de tudo, se a pessoa é regenerada ou não. Casamento entre crente e não crente sempre resulta em muito sofrimento. Em segundo lugar, é preciso considerar a identidade espiritual e o chamado do pretendente. Os chamados sempre precisam ser complementares. A pergunta básica a ser feita é: “eu me sentiria realizado e glorificaria a Deus desenvolvendo minha vida devocional e ministerial com esta pessoa?”

Já a alma, que aparece em segundo lugar, também tem elementos de extrema importância a serem considerados. Personalidade, cultura, gostos e visão de mundo devem ser compatíveis. Embora seja impossível encontrar alguém idêntico nesse sentido, quanto mais semelhante, melhor será a convivência e mais prazerosa a vida a dois. Precisamos lembrar que casamento é para a vida toda. Escolher uma esposa ou um marido também é escolher um amigo(a) e companheiro(a) para todas as horas do resto de sua vida. A pergunta básica, nesse caso, é: “eu conseguiria passar o resto da minha conversando com esta pessoa?”

Por estar em terceiro lugar, o corpo deve ser o último a ser considerado. Mas não significa que deve ser desconsiderado. O mundo hoje impõe um padrão físico específico e chama isso de “beleza”. Mas, para nós, não deve ser assim. Devemos estar livres desse tipo de ditadura e procurar enxergar a beleza (física mesmo!). Nesse momento, a pergunta que devemos fazer é: “a beleza desta pessoa me atrai?”

Depois da escolha

Já no casamento, principalmente nos primeiros anos, é comum os casais passarem por dificuldades. A convivência torna os defeitos maiores, responsabilidades novas aparecem, e tudo isso sempre faz os casais se questionarem se não fizeram uma escolha errada.

Após o casamento, a soberania de Deus deve ocupar a mente da esposa e do marido toda vez que eles se lembram da decisão que tomaram um para o outro. É possível dizer, quando alguém está escolhendo o cônjuge, que a escolha está sendo feita de maneira errada. Mas, após o casamento, não se pode mais dizer o mesmo. Devemos lembrar que Deus sempre esteve agindo nas decisões para levar-nos ao amadurecimento.

O Senhor, de fato, tem poder suficiente para redimir os nossos erros e fracassos. Os problemas do casamento não devem nunca ser encarados como resultantes de uma má escolha, mas como meios da graça pela qual Deus soberanamente nos trata para conformar-nos à imagem de Cristo.

Ângelo Bazzo e Carolina Sotero são casados e fazem parte da equipe do CPP em Monte Mor, SP.
(www.cppmontemor.com.br)

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