PARTE 2
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Certa noite enquanto lia as Escrituras, um versículo despertou a atenção de George Müller: “Abre bem a tua boca, e eu a encherei” (Sl 81.10). Ele aplicou essa instrução para o orfanato que cria ser vontade de Deus estabelecer, suplicando ao Senhor um espaço para alugar, além de mil libras e funcionários adequados para administrá-lo. Dois dias depois, ele recebeu a primeira oferta (uma moeda) para o orfanato. Algumas pessoas se voluntariaram para trabalhar nele. Alguns amigos contribuíram com utensílios de casa, móveis e tecidos para vestimentas e roupa de cama. Encontrou-se um imóvel adequado para se alugar. Novas ofertas foram recebidas. Mas não foi senão depois de dezoito meses de oração que a quantia total de mil libras foi obtida.
Uma oferta sacrificial de cem libras foi doada por uma irmã muito pobre que se achava debilitada fisicamente e obtinha seu escasso ganha-pão fazendo costura. Ela ganhara uma modesta herança e, tendo usado parte considerável dela em despesas familiares, ofertou essas cem libras para o orfanato. Quando questionada se deveria dar tanto assim, sua resposta foi: “O Senhor Jesus deu sua última gota de sangue por mim, por que eu não deveria lhe dar essas cem libras?”
Embora o sr. Müller tivesse orado minuciosamente por cada detalhe envolvido na criação do orfanato, e as necessidades fossem supridas, não lhe ocorreu orar para Deus enviar crianças! Quando chegou a hora de abrir o orfanato, não havia um candidato sequer. Ele buscou intensamente ao Senhor em oração, pedindo que enviasse crianças necessitadas e, no dia seguinte, chegou a primeira. A casa encheu-se rapidamente de órfãos com idade entre quatro e doze anos e, depois de orar, ele sentiu direção do Senhor para abrir também um lar para bebês.
Um ano e meio depois que o primeiro orfanato foi aberto, uma terceira casa foi inaugurada, desta vez para meninos de sete a doze anos. Miraculosamente, um espaço na mesma rua onde se localizavam as outras duas casas ficou disponível para esse propósito. Recaía agora sobre o sr. Müller a responsabilidade de alimentar noventa pessoas por refeição, incluindo os funcionários. Com uma “família” desse tamanho, o sr. Müller passava bastante tempo de joelhos, dedicando-se à oração. Ele acreditava que Deus queria ser “solicitado” (Ez 36.37). As únicas pessoas com quem compartilhava a sua preocupação relativa ao sustento das casas eram sua esposa e dois obreiros mais íntimos, com o único propósito de orarem juntos.
A prova da fé
Durante os primeiros anos dos orfanatos, houve várias dificuldades financeiras. Numa ocasião em que os recursos estavam muito escassos, o sr. Müller fez duas reuniões especiais de oração com todos os funcionários das seis às nove da noite. Nem nesses momentos ele chegou a mencionar a situação real das finanças, mas falou da abundância com que Deus vinha suprindo as necessidades.
Uma noite durante essa crise, George estava meditando em Hebreus 13.18: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre”. Ele escreveu: “Eu fui levado a dizer para mim mesmo: ‘Jesus em seu amor e poder até aqui me supriu com o que era necessário para os órfãos, e com o mesmo imutável amor e poder ele irá me prover com o que posso precisar no futuro’. A minha alma se inundou de alegria…” Logo depois, um envelope contendo vinte libras foi entregue a ele.
Como a provação financeira continuasse, George escreveu: “O Senhor em sua sabedoria e amor ainda não enviou o socorro. De onde virá não é da minha conta. Eu creio que, no tempo certo, Deus o providenciará. Este é o momento de maior provação que passei até agora nesta obra, em relação a fundos; mesmo assim, sei que ainda louvarei o Senhor pela sua provisão…”
Vários dias depois, George escreveu: “O Senhor misericordiosamente nos deu o suficiente para suprir as nossas necessidades diárias; contudo, sua provisão chega agora somente para a necessidade daquele dia ou quase daquela hora”. Enquanto a crise ainda continuou, o Senhor manteve George em paz apesar da severa provação, permitindo que ele se encorajasse vendo os frutos do seu trabalho. Durante esse período, ele considerou necessário reunir os funcionários para contar-lhes da grande dificuldade daquele momento. Todos concordaram em não comprar nada se não tivessem com que pagar, a fim de evitar dívidas. Alguns dos funcionários deram tudo o que tinham, outros venderam livros e outros itens para auxiliar financeiramente.
A constante fidelidade de Deus
Um certo dia, as circunstâncias os obrigaram a fazer planos de vender qualquer objeto disponível que não fosse essencial. Antes, porém, que isso fosse necessário, uma senhora de Londres apareceu com a quantia suficiente para a provisão do dia seguinte. Ela havia passado vários dias na vizinhança com a intenção de doar o dinheiro. A reação do sr. Müller a isso foi: “O fato de que esse dinheiro esteve tão próximo dos orfanatos por vários dias, sem no entanto ter sido doado, é a prova cabal de que desde o início estivera no coração de Deus nos ajudar; mas, porque ele se agrada com a oração dos seus filhos, ele permitiu que suplicássemos por mais tempo; também, para testar a nossa fé e tornar a resposta ainda mais doce. De fato, tratou-se de uma intervenção preciosa. Tive uma efusão de louvor e gratidão em voz alta assim que fiquei sozinho depois de receber o dinheiro…”
Embora as necessidades dos orfanatos fossem grandes, Müller sentiu o encargo de orar para a arrecadação de mais recursos para as viúvas carentes da comunidade, uma vez que o preço do pão havia aumentado. Um irmão foi levado a fazer uma oferta substancial com essa intenção, o que ajudou muitas viúvas até que o preço do pão abaixasse um pouco.
Uma senhora, que se sustentava com o seu próprio trabalho, retirou suas economias do banco e doou tudo o que tinha para a obra que estava sob os cuidados do sr. Müller. O seu coração tinha sido tocado pelas Escrituras: “Vendei os vossos bens e dai esmola” (Lc 12.33), e: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra” (Mt 6.19).
Há trechos nos diários de Müller que dizem: “Hoje estávamos especialmente pobres…” Certa vez ele escreveu: “Depois de o Senhor testar nossa fé, ele, no amor do seu coração, nos dá em abundância, para mostrar que não por ira, mas pela glória do seu nome e para provar a nossa fé, permitiu que experimentássemos a pobreza…”
Durante um período de grande crise nos orfanatos, a necessidade foi suprida com a oferta de um pobre missionário alemão que estava saindo para iniciar uma missão no campo e doou tudo o que tinha. Em outro momento, uma irmã que havia tomado sobre si a responsabilidade de vender alguns objetos a fim de arrecadar dinheiro para ofertar afirmou que, embora não estivesse se sentindo bem e pensasse em adiar sua viagem para levar a doação oriunda das vendas, houve uma impressão tão forte no seu coração da urgência de levar a oferta que ela não pôde deixar de ir. De fato, havia uma necessidade muito grande no momento exato em que ela entregou a oferta.
Durante outro teste severo de fé, o Senhor tocou no coração de um irmão que estava a caminho do trabalho para doar uma oferta aos órfãos. Inicialmente ele não pensou em fazê-lo de imediato, mas levar mais tarde, à noite. Contudo, o Senhor o constrangeu de tal forma, que ele mudou seu rumo e se dirigiu diretamente para os orfanatos. Não fosse por essa oferta, teria faltado leite para as crianças naquele dia.
Em alguns dias, a necessidade era tão urgente, que os funcionários ficavam muito provados. Mas Deus nunca falhou! Essas provisões de última hora faziam Müller exclamar: “Verdadeiramente vale a pena ser pobre e severamente provado na fé depois de receber a cada dia tais provas preciosas do interesse amoroso que o nosso Pai bondoso tem por tudo que nos diz respeito! E como poderia ele fazer diferente? Aquele que nos deu a maior prova possível do seu amor ao oferecer seu próprio Filho com certeza nos dará ‘graciosamente com ele todas as coisas’ (Rm 8.32)”.
Por isso, escreveu: “Nossas provações durante esses dezessete meses duraram mais e foram mais severas do que em qualquer período anterior e, no entanto, durante todo esse tempo os órfãos não tiveram falta de nada em termos de nutrição, artigos de vestimenta etc.”
Apesar das enormes provações de fé ao administrar três orfanatos, Müller sentiu direção de abrir mais um. Milagrosamente, uma casa foi aberta na mesma rua dos outros três e foi alugada para poder acomodar mais crianças.
Outra provação de partir o coração foi ver seu pai e seu irmão morrerem aparentemente sem terem experimentado a conversão. O que poderia ser mais duro que isso? Entretanto, mesmo nessa situação, ele encontrou alento na palavra de Deus: “Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). Ele voltou-se para a palavra de Deus também quando reportagens mentirosas começaram a circular, dizendo que os órfãos não recebiam comida suficiente ou eram tratados de maneira cruel.
Ele relatou: “Em momentos como esse, minha alma se apoiava em Deus; eu cria na sua palavra de promessa, que era aplicável a esses casos; derramava minha alma diante de Deus e me erguia em paz dos meus joelhos. Minha luta interior era acreditar que a oração derramada diante de Deus seria ouvida. Depois de orar e buscar apoio na Palavra, eu encontrava paz interior. Considerei necessário dizer essas coisas para o caso de alguém supor que minha dependência em Deus fosse um dom concedido particularmente a mim, e que os demais santos não teriam o direito de buscar. Não permita que Satanás o engane fazendo você pensar que não pode ter a mesma fé.”
Fortalecendo a fé
George Müller encorajava todos os cristãos a provarem a Deus e compartilhou algumas sugestões para o fortalecimento pessoal da fé.
Uma vez que a fé é um dom, devemos pedir a Deus por ela. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das Luzes…” (Tg 1.17).
A fé é fortalecida pela leitura cuidadosa da palavra de Deus e pela meditação nela. Com isso, aprenderemos que, além de ser um Deus justo e santo, ele é um Deus bondoso, amoroso, gracioso, misericordioso, poderoso, sábio e fiel. Ele não só é capaz de suprir nossas necessidades, mas tem prazer de assim fazer.
É necessário manter um coração reto e uma boa consciência.
Não devemos nos afastar das provações que servem para fortalecer nossa fé. Não tenha medo de tomar posição ao lado de Deus sozinho, de depender dele sozinho e de olhar para ele sozinho.
Em períodos de provação, não devemos buscar nossa própria libertação, mas esperar em Deus pela libertação dele.
Este relato continuará na próxima edição.
Adaptado do livro The Life of Trust (A vida de confiança), de George Müller