21 de novembro de 2024

Ler é sagrado!

Abrindo as Portas do Céu

Por: Rick Joyner

Já foi confirmada vez após vez a afirmação de que “quem não conhece a história é fadado a repeti-la”. A história da igreja é uma das maiores provas disso. As guerras contínuas que gerações espirituais anteriores sempre travam contra seus sucessores ainda ocorrem graças a teologias que foram lançadas na igreja há séculos. É crucial que examinemos nossa história para reconhecer nossos erros. Se o fizermos em humildade, veremos como os portões do inferno que ainda pervertem nossa vida e mensagem, conseguiram acesso à igreja. É hora destes portões serem fechados, mas nunca o serão se continuarmos a considerá-los como erros de outros grupos. Podemos protestar que não cometemos tais pecados, mas certamente ainda os cometeremos se não os reconhecermos como pecados de nossos pais, e entendermos que suas raízes envolvem a todos nós.

É por isto que o Senhor disse que os pecados dos pais são visitados sobre os filhos por várias gerações. Não é para punir os filhos pelo que os pais praticaram, mas porque o pecado produz feridas. Cada vez que há pecado, produz-se uma ferida; e é um grande engano achar que as feridas saram com o tempo. Se não forem tratadas, ficam infectadas, e passam-se de geração a geração, até que alguém se levante para fechar a ferida e trazer a cura. É por isto que os líderes dos movimentos de restauração na Bíblia sempre iniciavam suas orações com: “Pai, perdoa-nos pelos pecados de nossos pais”. Somente o verdadeiro arrependimento que libera o poder da cruz pode fechar e sarar as feridas causadas pelo pecado.

Maldição e Restituição

As Escrituras mostram que alguns pecados contaminam a terra, não somente as pessoas que as praticam. A lei de Moisés tinha procedimentos para purificar a terra destes pecados. Em 2 Samuel 21, houve uma fome na terra, por causa de Saul, quando quebrou a aliança feita séculos antes com os gibeonitas. Embora não fosse culpa de Davi, ele teve de fazer restituição por este pecado para que a terra fosse purificada e livre da maldição.

Hoje, por não estarmos mais sob a lei de Moisés, a forma de restituição não é mais a mesma. Jesus fez a restituição completa por todos os pecados na sua morte na cruz, inclusive pelos pecados trágicos cometidos pela igreja. Entretanto, pecados ainda contaminam grande parte da terra, e permanecem como maldições que dão direito a que principados e potestades das trevas exerçam ali domínio. Por quê? Porque a cruz ainda não foi aplicada aos pecados que abriram os portões do inferno, assim como o perdão que Jesus comprou para o mundo inteiro não tem validade para quem não o aceita.

Nossa comissão como sacerdotes e ministros de reconciliação é levar o poder da cruz para este mundo. Precisamos aplicar, não os preceitos da lei, mas a graça de Deus. Isto não ocorre de uma forma generalizada ou teórica, mas precisa ser feito especificamente a cada ferida causada pelo pecado, inclusive a estas profundas feridas históricas e culturais. Só então o poder do evangelho será liberado.

Como se aplica a cruz de Cristo? Através da humildade e do arrependimento. Uma das definições da graça é “favor imerecido”. Não é uma definição completa, mas ajuda a entender um dos seus aspectos importantes. Assim que achamos que merecemos o favor de Deus, estamos nos desviando do caminho da vida. Como alcançamos a graça de Deus? “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6).

Provavelmente a qualidade mais fundamental da verdadeira humildade seja o conhecimento da nossa dependência de Deus. Somente a verdadeira humildade nos guardará na graça de Deus, dando-nos luz para ver as pedras de tropeço, e as armadilhas que tentam nos desviar. A humildade também abrirá nossos olhos aos pecados de nossos pais, dos quais precisamos nos arrepender a fim de trazer restauração.

Podemos tentar derrotar principados para trazer avivamento, mas às vezes há maldições sobre a terra que lhes dão direito de permanecerem lá, e nunca haverá avivamento enquanto o povo de Deus não se arrepender destes pecados. Não importa quem cometeu os pecados. É nossa responsabilidade aplicar a cruz através de humildade e arrependimento. É por isso que toda a criação geme, aguardando a manifestação dos filhos de Deus (Rm 8.19-22).

A crítica é uma das formas mais manifestas do orgulho. Quando criticamos alguém, estamos nos considerando superiores a eles, o que é orgulho. Ninguém, absolutamente, se mantém em pé em qualquer ponto da jornada por sua própria bondade, mas somente pela graça de Deus. É tão fácil, ao estudar a história da igreja, criticar os pais e antepassados, sejam eles católicos, protestantes, evangélicos ou outros. Criticamos movimentos do passado, e movimentos contemporâneos, mas isto só garante que nós também falharemos, pois tais críticas nos desqualificam para receber a graça que nos manterá no caminho da vida.

É claro que não podemos estar cegos para os problemas da igreja ou do mundo, mas é essencial ver como reagimos quando os identificamos. Quando Jesus viu os pecados do mundo, ele não o criticava; pelo contrário, entregou sua vida por ele. Aqueles que têm o seu Espírito farão o mesmo. Uma das conversões mais importantes de que todos precisamos é transformar nossas críticas em intercessão. Somente então deixaremos de contribuir para o ministério de acusação do inimigo, e passaremos ao ministério do nosso Senhor, que vive eternamente para interceder.

O mais terrível mal residente no “homem do pecado” é o pecado do homem, que está em todos nós. Todos nós desejamos nossa própria exaltação, adoração, influência, autoridade, e lugar destacado de honra. Se não tivermos estas motivações perniciosas operando em nós, é somente porque a graça de Deus nos libertou. E se acharmos que nos livramos destes maus desejos por nossa própria bondade, neste mesmo ponto estamos nos afastando da graça.

O mundo inteiro foi ferido e amaldiçoado pela queda de Adão, que foi o pai de todos nós. O Senhor Jesus, apesar de ser completamente inocente, identificou-se com todo o pecado do homem, tomando-o sobre si, para poder fazer restituição. Quanto mais devemos nós nos identificar com os pecados do mundo, humilhando-nos e arrependendo-nos pelos pecados da humanidade, intercedendo para liberar o perdão que Jesus comprou pelo mundo inteiro? O que liberamos nos céus desta forma será liberado na terra.

Doutrina Satânica

Uma das doutrinas que teve as mais devastadoras conseqüências através da história, que causou grande parte dos desvios trágicos da igreja, e que ainda é bastante popular hoje, é a ilusão de que podemos realizar os propósitos de Deus por força e poder. Deus disse claramente através do profeta: “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Não foi por acaso que ele se intitula aqui “O Senhor dos Exércitos”. Seu exército não usa força militar, nem poder político, mas algo que é infinitamente mais poderoso: o Espírito da Verdade. A verdade, falada com unção, é mais poderosa do que todas as armas e bombas que este mundo pode acumular. Por que é que nós, que recebemos a arma mais poderosa que existe, nos rebaixamos tantas vezes para usar aquelas que são tão inferiores?

Como disse o apóstolo: “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo; e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão” (2 Co 10.3-6). Quando a nossa obediência estiver completa, isto é, quando estivermos totalmente entregues e submissos ao Espírito, aprendendo a não lutar na carne, mas somente de acordo com suas armas que não são carnais, estaremos prontos a “punir toda desobediência”.

Dois Mandatos – Duas Esferas de Autoridade

Deus deu dois mandatos diferentes a duas formas completamente diferentes de governo. Ele deu um mandato aos governos civis para manter ordem nesta terra, com “armas carnais”, a espada. Paulo explica isto em Romanos 13.1-6, e devemos nos lembrar que ele escreveu que o governo civil era ministro de Deus durante o reinado do imperador romano Nero, um dos homens mais ímpios a exercer o poder na história do homem.

Toda autoridade no céu e na terra foi dada a Cristo, mas ele ainda não tomou diretamente sua autoridade sobre a terra, nem a deu para nós, porque ainda não estabeleceu seu reino manifesto sobre a terra. Porém, ele tomou indiretamente sua autoridade sobre a terra, pois não há um governante terrestre, nem principado espiritual, que pode ter domínio algum sem sua aprovação – até os mais perversos.

Alguns principados do mal governam sobre a terra, e quantidade alguma de oração ou guerra espiritual os conseguirá tirar, pois têm a permissão de Jesus de estarem lá. Às vezes estão lá para trazer julgamento; outras vezes para disciplinar o povo de Deus para que tenham maior autoridade; também podem estar lá porque a região onde estão foi amaldiçoada, e só sairão quando a maldição for retirada dentro dos princípios divinos.

A igreja também recebeu um mandato de Deus, muito superior ao mandato das autoridades civis. A autoridade civil é temporária, a da igreja é eterna; os líderes civis podem mudar leis, nós podemos mudar homens.

Depois de presenciar a transformação de homens em animais durante uma queda de energia elétrica em Nova Iorque, a ex-primeira-ministra da Inglaterra, Margaret Thatcher, observou: “O verniz da civilização é extremamente fino”. Quando não há luzes, alarmes ou presença da polícia, a verdadeira natureza dos homens se revela. Este “fino verniz” é a área da autoridade civil, enquanto que a verdadeira autoridade espiritual está na luz que ilumina os corações humanos e que compele as pessoas a fazer o que é certo, mesmo quando não há polícia ou iluminação.

O rei Davi foi um grande exemplo da verdadeira autoridade espiritual, e uma figura de Cristo, que um dia exercerá tanto a autoridade civil como a espiritual sobre a terra, junto com a igreja. Mesmo sendo perseguido injustamente pela autoridade civil, mesmo tendo sido ungido para estar no trono, ele não levantou a mão “contra o ungido do Senhor”. Quem anda em verdadeira autoridade espiritual nunca tomará uma posição com sua própria mão, mas esperará com paciência que o Espírito abra o seu caminho, mesmo que seja para uma posição na esfera de autoridade civil ou eclesiástica. Se quisermos nos sentar com Cristo no seu trono, terá de ser desta maneira.

Atualmente, o Senhor está permitindo que sua igreja passe por todas as provas que Davi experimentou, para se preparar para o trono. Jesus também foi tentado por Satanás antes de iniciar seu ministério. A estratégia de Satanás era pressionar Jesus a tomar sua autoridade sobre o mundo prematuramente, evitando assim a cruz. Esta é também a grande estratégia em relação à igreja. Ele sabe que se puder nos seduzir a tomar autoridade temporal antes da hora, sem passar pelas provas que nos prepararão para governar, acabaremos adorando a Satanás (fazendo a sua vontade) – e até agora sua estratégia tem alcançado bastante sucesso.

No passado, um bom número de cristãos já foi usado por Deus na esfera da autoridade civil para realizar grandes coisas em favor da humanidade. Como exemplo, podemos citar William Wilberforce, o primeiro-ministro da Grã Bretanha que aboliu a escravidão no Império Britânico. Embora atos como este também tenham efeito somente no “fino verniz” do exterior humano, foram passos importantes na direção certa, com forte influência, neste caso, de homens de Deus como John Wesley e George Whitefield.

Entretanto, sempre que a igreja sai da sua esfera de autoridade espiritual, e tenta impor sua vontade na esfera de autoridade civil, ela se desvia e entra em excessos trágicos e até diabólicos. A igreja foi chamada para ser a “luz do mundo”, uma força para o bem, e um representante da justiça de Deus; mas quando sai da sua esfera de autoridade divina para lutar com as armas naturais, sempre acaba caindo numa armadilha.

A igreja nunca será uma luz através de vitória nas urnas. Quando as pessoas vieram coroar Jesus como rei, ele fugiu para as montanhas. Se é o povo que o escolhe como rei, quem de fato governará? O desejo do povo de fazer Jesus rei parece muito nobre, mas na verdade é um dos atos mais presunçosos nas Escrituras. O povo achava que podia fazer Jesus rei! Que absurdo! Ele nasceu rei! A fonte da sua autoridade nunca veio do povo, mas do Pai. Da mesma forma, a autoridade da igreja vem de cima, e cada vez que procurou sua autoridade de outra fonte, as conseqüências foram desastrosas.

O Verdadeiro Poder da Igreja

A igreja tem, na realidade, um chamado para falar profeticamente aos governos, e é esta unção profética que é o fundamento do seu mandato em relação à autoridade civil. A autoridade profética não vem da nossa capacidade de arrebanhar grandes números de votos, mas da autoridade moral e do poder da verdade, claramente articulada e fundamentada numa vida santa.

Léo Tolstói, autor de Guerra e Paz, e um dos maiores escritores de ficção de todos os tempos, disse certa vez: “A profecia é como uma faísca em lenha seca. Uma vez aceso o fogo, queimará e queimará até consumir toda a madeira, feno, e palha.” Um grande exemplo disso foi a escravidão, uma instituição aceita e defendida até por cristãos, até que se começou a declarar claramente, em palavras orais e na página impressa, que era errada. Quando esta articulação foi ungida, espalhou-se como fogo em lenha seca. Em poucos anos o mundo estava inflamado com esta verdade, e aboliu-se a escravidão nas suas formas mais visíveis, em um país após outro.

Uma dessas faíscas foi o livro de Harriet Beecher Stowe, A Cabana do Pai Tomás. Este livro expôs os males da escravidão de forma tão dramática e impactante, que se tornou impossível continuar a aceitá-la passivamente no mundo civilizado. Quando o presidente Abraão Lincoln encontrou-se com a Senhora Stowe durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, ele exclamou: “Então, aí está a pequena dama que iniciou esta grande guerra!” E realmente era verdade.

Uma das maiores demonstrações de poder profético na era cristã foi através de Martinho Lutero. Lutero era um simples monge, mas quando pregou suas 95 teses na porta de uma pequenina igreja no obscuro vilarejo de Wittenburg, Alemanha, o mundo inteiro foi abalado e influenciado! Ele não só mudou o mundo da sua geração, mas colocou em movimento outras mudanças que impactariam profundamente todas as gerações subseqüentes. Nenhum imperador, rei, ou nem mesmo dinastia, influenciou tanto o mundo quanto este único monge solitário.

Martinho Lutero é uma prova tremenda de que até o homem mais humilde que se recusa a comprometer suas convicções e usa as armas da palavra de Deus é mais poderoso do que exércitos inteiros. Foi este mesmo testemunho que deram daqueles dois pobres indivíduos que iam de cidade em cidade no primeiro século, muitas vezes sendo presos e surrados ou apedrejados quase até à morte: “Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui” (At 17.6).

Infelizmente, Lutero posteriormente sucumbiu à tentação de consolidar seus avanços usando poder político, e sua queda pode ser diagnosticada como sendo a partir deste ponto. No final, Lutero cometeu alguns dos mesmos erros que apontou com tanta ousadia na igreja de Roma.

Mahatma Gandhi, segundo alguns, teve uma verdadeira experiência de conversão. Mas recusou o batismo, quando viu que o evento estava sendo usado como espetáculo para auto promover o evangelista. E nunca mais quis se identificar com o cristianismo em si. Porém, se ateve a muitos dos ensinamentos de Jesus, especialmente o de vencer o mal com o bem, e de dar a outra face quando era atacado. Usando estes princípios como seu código de conduta e única arma, Gandhi conseguiu abater o mais poderoso império da sua época, e dar à luz uma nova nação. Ele se recusou a ocupar um cargo político, embora pudesse facilmente ter sido o primeiro governante da nação. Dizia que havia encontrado um poder muito maior que aquele que teria como político. E realmente tinha.

Se Gandhi pôde mudar o seu mundo através de viver uma fração tão pequena do evangelho, que tipo de poder a igreja teria se todos começássemos a viver pelo evangelho completo! Se um pastor ou servo de Deus realmente compreendesse o poder que lhe foi confiado, nunca se rebaixaria para ser um mero presidente, senador ou congressista, a menos que lhe fosse um encargo colocado diretamente pelo Senhor!

A tentação de usar nossa influência em esferas seculares e civis foi usada por Satanás durante toda a história da igreja. É possível fazer muita coisa boa desta maneira, mas o bom é o maior inimigo do melhor. É o bem da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, que é tão prejudicial quanto o mal, e muito mais sutil.

Entendo que alguns foram chamados para servir em posições políticas, mas isto sempre terá um papel secundário na implantação do reino de Deus. Quando realmente virmos quem Jesus é, e quem nós fomos chamados a ser, teremos a constituição de Elias, que podia ficar diante do rei, e declarar: “Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou…” (1 Reis 17.1). Elias estava dizendo a Acabe: “Eu não estou aqui diante de você. Você é um mero rei, apenas um homem. Não vivo a minha vida diante de homens; vivo a minha vida diante do Deus vivo.”

Hoje há diversas batalhas que dividem o mundo como na época da escravidão. Temos a questão do racismo, do aborto, da miséria e da escravidão econômica. O aborto representa talvez o nível mais baixo da humanidade caída, um ato que nem os animais praticariam. Ao invés de sacrificar a nossa vida em favor dos nossos filhos, estamos prontos a fazer o inverso, muitas vezes por motivos banais de conveniência e egoísmo. Muitas vezes, as mesmas vozes que se erguem para lamentar as espécies de animais em extinção, se calam diante do massacre de embriões e fetos humanos, ou até o defendem. É uma tragédia de proporções enormes, mas como devemos lutar contra ela?

É possível ganhar uma batalha, como na guerra contra a escravidão, mas ganhá-la com o espírito e com as armas erradas. E isto trará as mesmas conseqüências desastrosas para o evangelho que produziu durante as Cruzadas.

A Maior e Última Porta do Céu

A igreja histórica tem ferido muitas culturas e nações. Existem barreiras entre cristãos e muçulmanos, e barreiras internas entre católicos e protestantes, e entre uma denominação e outra. Mas o cisma mais profundo de todos é a divisão entre a igreja e Israel. Os terríveis ataques dos cristãos contra os judeus foram feitos não só por católicos, mas por protestantes também. Os judeus sobreviveram a todos os ataques, mas hoje é difícil para eles separar a mensagem dos cristãos dos atos terríveis que praticaram através dos séculos.

O livro de Romanos foi a obra prima de teologia do apóstolo Paulo, e a mais clara exposição da Nova Aliança na Bíblia. A relação do judeu para com o evangelho é discutida nos capítulos 9, 10 e 11. Com este assunto, ele conduz o discurso teológico ao seu clímax, antes de terminar a carta com exortações sobre comportamento cristão. Paulo afirma nesta passagem que os corações dos judeus foram endurecidos para não aceitarem o evangelho até chegar a hora de serem enxertados de volta para a árvore que Deus plantou. Ele também declara que se cortar os judeus do tronco por um tempo resultou em bênção para os gentios, enxertá-los de volta para o tronco será a maior bênção de todas, ou seja, “vida dentre os mortos”. Isto é nada menos que a vitória de Deus sobre seu último inimigo.

Em Romanos 11.28, Paulo faz uma afirmação surpreendente: “… quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós…” Os judeus historicamente representaram o maior teste para o evangelho, mas é por nossa causa. Num certo sentido, os judeus são a “prova de fogo” da nossa mensagem. Enquanto a igreja não alcançar a estatura espiritual que provocará o judeu ao ciúme (Rm 11.11), não terá atingido o cumprimento final do seu chamamento.

Os judeus foram “endurecidos” para serem os mais difíceis de se alcançar. Desta maneira, tornaram-se o barômetro da humanidade, refletindo a condição geral do estado do homem. Quando se pregar o evangelho que enxertará os “ramos naturais” de volta para a árvore, a igreja e Israel poderão então alcançar o mundo inteiro. Foi por isto que Paulo dizia que o evangelho devia ser pregado “primeiro para o judeu”. Isto não era por causa de favoritismo, mas porque o judeu representa o maior desafio ao evangelho, e um desafio que precisamos enfrentar.

Compreender o lugar dos “ramos naturais” no plano de Deus tem sido uma das maiores pedras de tropeço para a igreja, tanto no passado como no presente. Paulo advertiu em Romanos 11.18-21 contra o orgulho dos gentios em relação aos judeus, pois isto pode nos cortar da graça de Deus. Assim, o nosso relacionamento com os judeus não deveria ser uma pedra de tropeço, mas um degrau para levar ambos para cima. Como o Senhor dá sua graça aos humildes, a humildade que é necessária para aceitar os judeus impulsionará a igreja a uma graça e unção muito mais alta. Da mesma forma, para os judeus reconhecerem o lugar da igreja no plano de Deus requererá profunda humildade, que também lhes proporcionará a graça de Deus em medidas sem precedentes.

Existem teologias que defendem a substituição de Israel pela igreja no plano de Deus, aplicando todas as promessas a Israel natural para a igreja. Há verdades óbvias nestes ensinamentos, pois Israel espiritual compreende todos que nasceram pelo Espírito. Mas Romanos 11 mostra claramente que as promessas feitas a Israel natural não podem ser revogadas sem impugnar a própria integridade de Deus. Isto seria uma manifestação de orgulho dos gentios, desprezando o propósito que Deus tem para os judeus.

Por outro lado, há ensinamentos escatológicos que colocam Israel como o instrumento de Deus para os últimos tempos, enquanto a igreja está fora da cena de ação, arrebatada para o céu. Isto também traz orgulho para Israel natural, o que separa-nos da graça de Deus da mesma forma.

Durante aproximadamente dois mil anos, de Abraão a Jesus, foi o tempo dos judeus, quando Deus agiu quase que exclusivamente entre eles, e através deles. Agora estamos chegando ao fim de um período de dois mil anos de tempo dos gentios, quando o Senhor tem agido quase que exclusivamente através de nós. A história dos gentios contém todos os ciclos de apostasia e restauração experimentados por Israel no Velho Testamento.

Agora, porém, no final desta era, estamos chegando, não a outro período dos judeus, ou a uma extensão do tempo dos gentios, mas ao tempo dos judeus e gentios juntos. Exigirá suprema humildade da parte de cada um a fim de ver o propósito de Deus para o outro, o que é exatamente o motivo por que Deus requer esta união. Nem a igreja, nem Israel, alcançará seu destino e chamamento sem o outro.

Israel está muito longe da sua posição de destino final nestes dias. Mas em muitas maneiras, a igreja está igualmente distante da sua. Se os judeus não crêem nas doutrinas de Cristo por um lado, a igreja foi enganada a pensar que acreditar nelas com a mente é o mesmo que crer nelas no coração. Isto faz com que nosso orgulho nas doutrinas nos afaste da própria graça de Deus que pregamos.

A união final de ambos em um “novo homem” não vai parecer nem com Israel antigo, nem com Israel moderno. Tampouco vai parecer com a igreja, primitiva ou moderna. O que vai surgir será completamente novo – algo que somente os mais humildes poderão perceber ou reconhecer. Esta profunda humildade vai liberar a suprema graça de Deus, resultando na cura de todas as feridas espirituais e culturais. Quando a igreja e Israel forem enxertados juntos um com o outro através de Cristo, o tempo da restauração de todas as coisas poderá começar, e o último inimigo será vencido.

Resumo

A igreja tem o supremo chamado de participar com Cristo do estabelecimento do seu reino sobre a terra, e depois de reinar com ele. Para isto, os inimigos de Deus que já foram vencidos por Cristo na cruz, precisam ser vencidos na nossa vida, e postos sob os pés de Jesus e da sua igreja, incluindo o maior e último inimigo, a própria morte. Mas antes de colocar os inimigos sob os nossos pés, seu poder sobre nossas próprias vidas precisa ser compreendido e removido. Assim como Jesus venceu sobre a morte, passando pela própria morte, a igreja precisa conhecer a cruz e o verdadeiro caminho da vitória.

Porém, durante a história, a igreja tem se desviado deste caminho, tentando trazer o reino de Deus para a terra por força e poder, sem o Espírito. Mesmo quando tentou alcançar o alvo certo, porém sem os métodos do Espírito Santo, a igreja acabou ferindo ao invés de curar, trazendo maiores divisões ao invés de reconciliação. Isto abriu portões do inferno dentro da igreja, que precisam ser fechados.

O inimigo, conhecendo o poder da igreja quando se entrega ao ministério de reconciliação, procura constantemente desviá-la desta comissão, e muitas vezes tem sido bem-sucedido. Cada novo movimento de alguma forma permite que as mesmas sementes de destruição sejam semeadas. Igrejas, denominações e movimentos ainda estão tentando conquistar por força e poder ao invés de o fazer pelo Espírito – e cada cruzada deste tipo só resulta em mais feridas.

Para a igreja cumprir seu mandato destes últimos dias, não dependerá de opinião pública, nem da força de números, recursos financeiros, ou poder político – só precisa da graça de Deus! Porque Deus concede sua graça aos humildes, precisamos aprender a aproveitar cada oportunidade para nos humilharmos. Uma das formas principais que a igreja pode fazer isto é reconhecendo seus erros históricos, pedindo perdão daqueles que perseguimos e ferimos de forma tão trágica. Existe um poder extraordinário em tal humildade para derrubar as barreiras e paredes que separam os povos e culturas e liberar o ministério da reconciliação.

Esta poderosa arma da humildade foi o que Jesus demonstrou na cruz, quando sofreu a pior humilhação que as impiedosas potestades deste mundo lhe puderam impor, em favor das próprias pessoas que o torturavam. No seu momento mais angustiado, ele não pediu retaliação – pediu o perdão para os seus atormentadores. Pelo poder liberado na sua humildade, ele venceu o mundo, e foi exaltado a uma posição acima de todos os principados e autoridades. As Escrituras falam claramente que a igreja será exaltada nos últimos dias desta era a uma posição espiritual de autoridade que nunca antes conheceu, e que precisa alcançar a fim de cumprir seu mandato final. O caminho para esta grande exaltação é a humildade. Só depois de ser devidamente humilhada é que poderá ser confiada com esta grande autoridade.

Desde os dias quando havia apenas dois irmãos, Caim e Abel, os homens não conseguem conviver uns com os outros, e o homicídio tem conquistado o coração humano decaído. Enquanto a verdadeira redenção não chegar, a guerra estará sempre conosco. Naquele terrível dia em que os cruzados conquistaram Jerusalém, Satanás viu sua melhor chance de difamar o glorioso nome de Jesus, e ele a aproveitou ao máximo. O Senhor está procurando agora uma geração que viverá por um outro espírito, o Espírito Santo, que se humilhará e orará, buscando a face do Senhor e virando-se destes caminhos perversos. Então o Senhor ouvirá dos céus, e sarará nossa terra. Quando esta cura chegar a Jerusalém, e tocar o coração do judeu com a graça e verdade que se encontram em Jesus Cristo, demonstradas com um poder que curará até as piores feridas da história, será o ponto final da grande obra da igreja nesta era. Então saberemos que a noiva se aperfeiçoou, e que as manchas foram removidas.

Rick Joyner é editor chefe da Revista Morning Star.
Este artigo foi traduzido e adaptado do Vol. 4, nº 4 desta revista.

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