Por Ezequiel Netto
Em que fase estamos do plano de Deus?
São muitas pessoas falando e escrevendo sobre batalha espiritual nestes dias. É comum ouvirmos histórias de que este ou aquele demônio foi amarrado, que a potestade de tal região foi derrotada, mas, na prática, não vemos nenhum efeito concreto após estas supostas vitórias, e as coisas continuam como eram antes. Se todos os demônios que amarramos realmente ficassem impedidos de continuar atuando, as coisas estariam bem diferentes para a humanidade.
Muitas de nossas guerras espirituais são semelhantes a um jogo de Nintendo, onde matamos, prendemos, lançamos o inimigo no inferno, ganhamos vidas e armas cada vez mais poderosas, mas, ao desligarmos o videogame, tudo volta a ser como antes. Todos nós conhecemos pessoas (e devemos confessar que, muitas vezes, nós mesmos assim procedemos) que são vitoriosas e ousadas nos combates em reuniões de oração, mas, ao sair para o mundo real, retornam para uma “vidinha medíocre”, sem nenhuma glória.
Precisamos buscar em Deus uma maior compreensão sobre este tema, tendo uma noção clara sobre a quem e a quê estamos combatendo, e também sobre as armas e táticas que precisamos usar a fim de obtermos o sucesso esperado, não apenas nas reuniões, mas também em nosso mundo real. Um fato bastante claro nas Escrituras é que nossas armas são bem diferentes das armas do inimigo, e que devemos combater em um nível diferente do combate satânico. Satanás cogita das coisas dos homens e suas armas são carnais (Mt 16.23), mas as nossas armas são espirituais e poderosas em Deus (2 Co 10.4).
Não podemos combater o reino das trevas usando as mesmas armas e táticas usadas contra nós. Se tentarmos guerrear em esferas humanas, carnais, no campo da alma ou dos pensamentos, seremos despedaçados (imagine Josué tentando derrubar os muros de Jericó a marretadas!). Mas se usarmos as armas corretas, as estratégias de Deus, se estivermos em sintonia com o Príncipe do Exército do Senhor, com o nosso General (Js 5.14), o reino das trevas será aniquilado sob nossos pés.
O Exército dos Últimos Dias
O exército de Deus é a própria igreja, e esta precisa estar bem preparada. Somos compostos por unidades, regimentos, companhias, pelotões (Nm 31.14,48; 2 Cr 26.11,14; Ct 6.4; Is 8.8), e cada um desses segmentos é distinguido por sua bandeira, suas armas, seus uniformes. Não estou falando de denominações ou divisões dentro da igreja, mas de funções diferentes dentro do Corpo de Cristo. Não pode haver nenhuma mancha em nossos uniformes (Ef 4.25-27; 2 Pe 3.14; Ap 7.9,13). Precisamos estar todos vestidos com uma armadura completa, de ouro e prata, e também com escudos. O soldado vestido com esta armadura está cheio da glória de Deus, e este brilho da glória é refletido através do exército (Ef 6.11; 2 Co 3.18). Este exército é composto por homens, mulheres, pessoas idosas, jovens e crianças, todos empunhando suas armas poderosas (Sl 8.2; Jz 4.4). Há soldados e generais, postos mais elevados e mais rasos (1 Co 12.28), mas ninguém está preocupado com sua reputação ou à busca de sua própria glória (Jo 4.34; Jo 8.50), mas em desempenhar seu papel, e viver como um só corpo e família (Rm 12.10; Jó 34.19; 1 Co 12.22-25; Mt 23.12; Gl 6.3; Ef 3.15), recebendo ordens de um só comando, que é Cristo, o cabeça do corpo. Devemos ter consciência de nosso propósito, e marchar em uma só direção e não errar o alvo (Ef 4.14; Fp 3.14). A força deste exército não está em nenhum de nós, mas vem do próprio Deus (1 Sm 17.45).
A Igreja Atual e a Igreja Ideal
Temos a missão de fechar as portas do inferno na Terra (Mt 16.18) e, para isso, precisamos fechar primeiramente as portas do inferno que estão em nosso meio. Portas são passagens que podem estar abertas ou fechadas, e portas do inferno são brechas, abertas por nós, que permitem a entrada do mal e de espíritos do inferno em nosso meio. São atitudes com as quais convivemos, como rispidez, ganância, arrogância, coisas encobertas, impureza sexual, soberba, competição ou pecados mais grosseiros, por onde entram demônios que atingem todo o rebanho.
A igreja está assentada em lugares celestiais com Cristo (Ef 2.6) e a nossa luta não é contra a carne ou o sangue, mas contra os principados e potestades (Ef 6.11-12). Em contrapartida, esta não é nossa realidade atual, pois hoje somos bem “pés no chão”, estamos cogitando das coisas dos homens, lutando contra as tentações, os pecados e os desejos carnais. A igreja bíblica não ama o mundo (1 Jo 2.15). Nós, porém, estamos completamente envolvidos por ele.
Mas é muito fácil ficar criticando e falar mal da igreja. Neste contexto atual, muitos não conseguem enxergar a mínima possibilidade de mudança histórica na igreja e se acomodam, deixando que a vida os leve (Lc 18.8; Is 22.13; 1 Co 15.32). Derek Prince falou muito bem sobre a igreja atual e a ideal:
O atual e o ideal
Existem duas coisas: o atual e o ideal.
Ser maduro é ver o ideal e viver com o atual.
Fracassar é aceitar o atual e rejeitar o ideal;
Aceitar somente o ideal e recusar o atual é imaturidade.
Não critique o atual porque viu o ideal;
Não rejeite o ideal porque você vê somente o atual.
A maturidade é viver com o atual, mas sem perder de vista o ideal.
Não é Só de Batalha Que Vive o Exército
Existem três momentos na atividade de um exército que precisam ser realizados, cada um em seu tempo certo: o de acampar, o de marchar e o de lutar. Cada uma dessas fases precisa ser bem trabalhada, a fim de obtermos a vitória esperada.
Se o comando der ordem para acampamento, não devemos confrontar. O acampamento é o local onde planejamos, treinamos, desenvolvemos habilidades, preparamos nossas armas, polimos e vestimos a armadura. A igreja precisa discernir o seu momento atual e pedir que Deus nos dê pastores segundo o seu coração (Jr 3.15) para nos treinar, como também Davi treinou o seu exército. Muitas vezes, perdemos a batalha quando atacamos na hora errada (Ex 14.40-45), sem ouvir o comando do Capitão, ou quando atacamos o inimigo com pessoas despreparadas, que não foram treinadas ou que não têm as qualificações necessárias (Js 7.1-5).
No acampamento, aprendemos a andar em unidade, estando ligados ao cabeça. Enquanto os pelotões estiverem guerreando entre si, orgulhando-se por não possuírem os defeitos dos outros, não podemos sair a marchar. Nossas críticas ferem e enfraquecem nossos companheiros. O local de nosso próximo acampamento chama-se Amor Incondicional do Pai, onde existe um bálsamo com grande poder curador de feridas, e também alimento para muitos dias de caminhada e batalha (1 Rs 19.7,8). Alguns pelotões já chegaram, mas toda a igreja precisa chegar a este lugar, para seu fortalecimento.
Ver a Igreja com os Olhos de Jesus
Apesar de os profetas e também de a igreja primitiva não terem enxergado esta situação de declínio e apostasia pela qual a igreja passou, nem a maneira como seria restaurada, Jesus já havia falado sobre essa fase em suas parábolas, onde vemos o joio e o trigo, peixes bons e peixes maus, ovelhas e bodes, virgens sábias e virgens néscias, pessoas com vestes nupciais e outras sem a vestimenta correta.
Não podemos nos desencorajar ao olhar para a igreja com a aparência que tem agora, mas procurar enxergar o que realmente será. Precisamos subir ao monte para ver a Nova Jerusalém (Ap 21.10). De acordo com o ponto de vista de Jesus, mesmo neste ambiente hostil, a igreja está sendo edificada. Devemos lembrar que o exército de Deus foi formado a partir de ossos secos, espalhados no campo, que certamente sofreram ação de algo muito forte (Ez 37.1-14). O negativo cega a nossa visão, impedindo-nos também de perceber o que Deus está fazendo.
Um dos atributos de Deus é a onipotência. Isto quer dizer que Deus tem todo o poder para cumprir tudo aquilo que intentou seu coração. Quando nossa história não está caminhando para o cumprimento de seus propósitos, ele faz intervenções sobrenaturais (milagres). Este panorama atual, negativo, está funcionando como uma camuflagem, impedindo que o inimigo perceba a intensa atividade para a formação da noiva de Cristo. A igreja gloriosa está sendo estabelecida.
Apocalipse 12.14 fala que a mulher (figura da igreja) foi levada para o deserto, onde era alimentada, longe da Serpente. Satanás não tem acesso a esta igreja no deserto. Pode até lançar seu vômito como um rio, para tragá-la, mas o próprio mundo a protegerá (v. 16).
A Marcha Pelo Deserto
Pessoalmente, creio que esta camuflagem sob a qual a igreja gloriosa está sendo gerada, é um manto de humildade, simplicidade, pano de saco e cinzas. Esta vestimenta está disponível para nós em todos os locais onde o Senhor nos leva a acampar, e também no jardim chamado Amor Incondicional do Pai. Rick Joyner, em seu livro “A Batalha Final”, diz que esta camuflagem é estar vestido de toda a armadura de Deus, mas trazer sobre esta armadura uma capa de humildade.
Muitos têm caído após longos anos de caminhada, ofuscados pelo brilho da glória que tem sua armadura. Se andarmos neste caminho de humildade, a igreja estará sendo gerada em nós. Foi no ambiente de deserto que a mulher foi protegida e alimentada (Ap 12.14). Deserto é sinônimo de restrições, dificuldades, tribulações. No deserto não tem ar condicionado e nem água gelada.
Em Malaquias 3.3-4 vemos a descrição de um outro local de acampamento, onde trabalha o fundidor da prata. O Senhor se assentará, purificará os filhos de Levi, e os acrisolará como o ouro e a prata, para que possam apresentar suas ofertas conforme a justiça, oferta agradável, como nos dias antigos. E por que o Senhor precisa se assentar para nos purificar? Porque, neste processo, não basta colocar a prata no fogo e sair para fazer outras coisas. O fundidor precisa ficar prestando atenção ao ponto exato da purificação, para não estragar a prata. Este ponto acontece quando sua imagem é refletida pela prata ardente. Desta mesma forma, Deus está sentado, nos purificando, até que sua imagem seja refletida através de nós.
Muitos já não mais acreditam que a igreja vai ser uma, em amor. Se Deus ouve minhas orações e atende meus pedidos, será que não atenderá ao pedido de Jesus em João 17? O cumprimento desta passagem vai revolucionar a humanidade, com conseqüências marcantes sobre toda a terra. A unidade abre uma porta onde encontraremos armas poderosíssimas, as quais nem a igreja nem o inimigo conhecem ainda. Babilônia vai tremer diante da igreja que anda unida em amor. A simplicidade e a humildade vão gerar tanto poder na igreja que o diabo não vai estar preparado para isso. Ele está se preparando para um tipo de batalha e a igreja lutará em outras frentes. Salmo 8 diz que pela boca dos pequeninos Deus suscitará força para calar o inimigo e acusador. Precisamos descobrir esse caminho.
Ezequiel Netto mora em Monte Mor/SP, é Médico Veterinário, e professor de Dons Proféticos no Ministério Impacto.