Por: Mick Cupples
Som de címbalo que retine! Era assim que Dwight L. Moody sentia suas pregações quando estavam despojadas do poder de Deus. Conta-se que ele entrava em tal angústia e tormento que caía da sua cadeira, e rolava no chão, clamando a Deus por poder. Os céus, entretanto, permaneciam fechados diante do seu clamor.
A causa de toda esta ausência de poder não era falta de conhecimento bíblico, ou menos compromisso com a obra do Senhor. Moody era um exemplo tanto neste como naquele. A questão era sua recusa em entregar-se ao chamado de Deus para levar o evangelho para além do território de Chicago. Infelizmente, a obra naquela cidade se lhe tornara mais importante do que o chamado do Salvador de levar a palavra a outras partes do mundo.
Somente quando seu templo foi reduzido a carvão e cinzas após o trágico incêndio de Chicago é que as correntes que prendiam Moody finalmente se romperam. Assim que se entregou completamente ao chamado de Deus, um tremendo senso da presença de Deus inundou sua alma.
Incendiado por Deus
Moody imediatamente se trancou num quarto sozinho. Segundo seu próprio relato, o lugar estava aceso com a presença de Deus, e o pregador caiu no chão e ficou prostrado, inundando sua alma com o próprio Senhor.
“Deus se revelou a mim”, Moody disse, “e a experiência do seu amor foi tamanha que tive de implorar para que ele levantasse sua mão por um pouco, pois eu não conseguia suportá-la.” Algum tempo depois, refletindo sobre esta experiência, ele concluiu: “Antes disso, eu estava o tempo todo esforçando-me para carregar água. Agora estou num rio que me carrega”.
Há um número cada vez maior de cristãos hoje que anseia por esta experiência de um “rio que carrega”. Já se cansaram da religião vazia onde se tem de carregar com muito labor águas contaminadas e amargas.
Jeremias o profeta nos revela a origem das águas amargas da religião:
“Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.13).
Abandonar a Deus é virar as costas para a presença de quem habita no nosso meio, e que deseja acima de qualquer coisa ter comunhão conosco. Beber de Deus como “manancial de águas vivas” descreve a experiência onde nosso espírito se comunica com o Espírito de Deus.
Sua Gloriosa Presença
Muitas pessoas não estão realmente convencidas de que Deus habita no meio delas. Outras têm pouca convicção de que a maior prioridade de Deus para seus filhos é que tenham uma verdadeira comunhão com sua gloriosa presença. Ainda outras ficam contentes em apenas concordar intelectualmente com a presença de Deus, e zombam da possibilidade de entrar pela fé em comunhão mística com o Senhor, ou sentem medo disso.
A igreja atualmente causa muito pouco impacto sobre a sociedade porque há tão poucos cristãos que conhecem a experiência da presença viva de Deus. A “alegria do Senhor” e a “tristeza pelos perdidos” são meros clichês para muitos, pois não bebem profundamente do manancial de águas vivas.
O crente que não beber do verdadeiro manancial certamente buscará “outras” fontes. Estas águas vêm de “cisternas rotas”, e são os substitutos idólatras para a alegria da verdadeira experiência da presença de Deus. Há várias cisternas rotas que são comuns na igreja hoje.
1. Sensacionalismo
Alguns cristãos acham sua paz e alegria em experiências em que o poder de Deus é visto como energia mística fluindo da esfera das suas emoções. A tendência é de fabricar um senso da presença de Deus através de mexer com suas emoções.
Experimentar a presença de Deus certamente afeta nossas emoções, mas substituir sua presença por experiências emotivas é idolatria. Quando tais práticas ocorrem no culto de adoração, no uso de certos dons espirituais, ou na oração em particular, as emoções podem se transformar essencialmente em um ídolo ao qual nos tornamos escravos.
2. A Palavra Escrita
A segunda cisterna rota é a substituição da presença de Deus pela palavra escrita das Escrituras. Embora as Escrituras sejam fundamentais para se conhecer a Deus, seu propósito primordial é apontar-nos à realidade da sua presença. Deus nunca quis que a revelação de sua pessoa e natureza na Bíblia se tornasse um fim em si mesmo.
O crente que basear sua alegria e paz diante de Deus primordialmente na sua capacidade de memorizar, analisar e sistematizar a revelação escrita da verdade de Deus acabará colocando o papel e a tinta das Escrituras no lugar do próprio Deus. Tal idolatria nos cega da experiência da presença viva de Deus. A seriedade desta substituição pode ser vista na repreensão de Jesus aos fariseus:
“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39,40).
3. Justiça Própria
A terceira cisterna rota é muito relacionada com a segunda, onde se coloca a Bíblia como ídolo. É quando se substitui a presença de Deus pela justiça própria.
O cristão que idolatra a letra das Escrituras geralmente coloca sua obediência à Palavra como base final para se ter paz com Deus. Boas obras, sejam no ministério ou na santidade pessoal, tornam-se a base da sua confiança de que Deus o ama e aceita.
Observe a repreensão que Paulo deu aos gálatas quando substituíram a confiança que só pode vir da experiência da presença de Deus pela falsa paz de suas obras próprias.
“Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.3).
4. Possessões Materiais
Uma quarta cisterna rota que se usa no lugar das águas vivas da presença de Deus é segurança em possessões materiais.
Esta cisterna é muito comum no mundo ocidental, e entre aqueles que têm mais abundância de recursos naturais. Com todos os benefícios que fazem parte destas ricas bênçãos de Deus, muitos crentes se fizeram culpados do pecado de Efraim:
“Quando tinham pasto, eles se fartaram, e, uma vez fartos, ensoberbeceu-se-lhes o coração; por isso, se esqueceram de mim” (Os 13.6).
Possessões materiais em si mesmas não são perversas, mas quando nossa alegria e segurança se fundamentam nelas e não na preciosa presença daquele que habita em nós, com efeito nos esquecemos de Deus.
5. Prazeres Sensuais
Uma quinta cisterna rota que encontramos na igreja é o prazer. Uma sociedade dirigida por materialismo é uma sociedade obcecada com prazeres sensuais. O cristão que se prende a riquezas materiais também se obcecará pelo prazer.
Veja o que Paulo advertiu a Timóteo a respeito do estado espiritual de muitos nos últimos dias:
“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão… mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2 Tm 3.1-4).
O povo de Israel nos deu um exemplo daqueles que são amigos dos prazeres:
“Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se” (1 Co 10.7).
A grande maioria dos anúncios nos promete alegria por meio de comida, bebida e diversões. O prazer baseado primariamente em recreação e entretenimento ao invés de encontrá-lo na experiência profunda e estimulante da presença de Deus nada mais é do que idolatria.
Nenhum Substituto
Não há nenhum substituto para a experiência genuína da presença de Deus. Nem sensacionalismo, intelectualismo, materialismo, ou obras de justiça nos preencherão com as águas refrescantes da sua presença. Nossa mente, corpo, vontade e emoções serão nutridos e transformados por ele mesmo quando estivermos diante dele. Alegria indizível nos fortalecerão se permanecermos nele.
Renovação espiritual do povo de Deus não vem e nem virá enquanto estivermos satisfeitos com algo menos que as águas vivas que vêm de Deus. Que busquemos a Deus com a mesma intensidade de Moisés: “Então, lhe disse Moisés: Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar” (Êx 33.15).