Embora talvez pouco conhecido pela maioria dos cristãos, o Avivamento de Shantung é considerado um dos avivamentos mais significativos na China e foi, com certeza, o mais poderoso que já houve no meio dos batistas. Shantung (ou Shandong) é uma província no litoral nordeste da China. Pouco antes da invasão do país pelo Japão em 1937, no meio da turbulência política causada por atividade comunista na região, Deus enviou uma poderosa onda de avivamento que durou aproximadamente dez anos (1927-1937). A seguir, a segunda parte de uma série de relatos e testemunhos sobre essa importante visitação.
Vimos como Deus preparou duas pessoas (mulheres) como instrumentos dele no avivamento na China. Veremos a seguir como ele trabalhou também na vida de uma terceira pessoa, Charles Culpepper, já mencionado na Parte I deste relato. Na época, Culpepper era presidente do seminário batista em Shantung, na cidade de Hwanghsien.
O testemunho a seguir é do próprio Charles Culpepper.
Quatro Anos de Oração
Nos primeiros anos da década de 1920, nós, como missionários, estávamos enfrentando obstáculos e circunstâncias impossíveis [falta de finanças, distúrbios políticos na China, desânimo, falta de poder…]. Alguns até resolveram voltar para seus países de origem por não conseguirem ver qualquer esperança na obra de Deus ali.
Graças a Deus, porém, havia outros missionários mais antigos que sabiam orar. Muitos foram tocados pela situação, e decidimos buscar a Deus em oração. Enquanto orávamos, o Senhor gerava no nosso interior uma sede ainda mais intensa por ele.
Como resultado dessa oração (que continuou por quatro anos), aumentou a convicção de pecados, o que nos levou a fazer restituição, acertar as coisas um com o outro, tratar com tudo o que havia de errado. Havia coisas no coração que nem imaginávamos que pudessem estar lá, soterradas sob camadas e camadas de entulho. Foi preciso cavar no meio do entulho até encontrar aquilo que estava desagradando a Deus.
Diversas pessoas nos ajudaram muito nesse processo. Uma delas foi Marie Monsen, uma missionária luterana da Noruega. Um dia, ela me perguntou: “Você já foi batizado no Espírito Santo?”. Eu não pude responder porque não sabia de fato o que significava.
Daquele dia em diante, porém, comecei a buscar na Palavra de Deus. Grande fome pela plenitude do Espírito Santo nasceu dentro de mim. Levei quatro anos para tirar todo o entulho e acertar minha vida com o Senhor. Muitos outros missionários (estávamos em mais ou menos 50 na região) sentiram a mesma necessidade.
Para todo o grupo que estava orando, o alvo central ficou cada vez mais forte e dominante: a necessidade de encontrar-se com Deus. Às vezes, orávamos por uma hora, outras vezes, por duas – e algumas vezes durante a noite inteira.
Certa vez, quando Marie Monsen estava passando outra vez por nossa região, ela me disse: “Irmão Culpepper, um grande avivamento está para vir, e começará com a Missão do Norte da China [a missão batista do Culpepper]”.
“Como você pode ter tanta certeza disso”, perguntei-lhe.
“Porque Deus tem uma aliança na sua Palavra que nunca foi quebrada, desde os tempos de Salomão”, ela respondeu. Em seguida, ela citou 2 Crônicas 7.14.
“Vocês aqui”, ela continuou, “acima de todos que conheço na China, estão fazendo exatamente isso. Estão humilhando-se, confessando os pecados uns aos outros, acertando toda e qualquer pendência, fazendo restituição. E estão orando. Dá impressão que nunca param de orar! Estão buscando a Deus de todo o coração.”
Nosso sentimento era como o do salmista: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl 42.1,2). Deus deu-nos essa fome e, ao mesmo tempo, a certeza de que ele mesmo iria saciá-la.
Muita Confissão e Arrependimento
Quatro anos depois que começamos a realmente buscar a plenitude do Espírito em oração, Deus visitou a China com grande poder. Começou em Pingtu, uma outra cidade na província de Shantung. Nós, da cidade de Hwanghsien, onde ficavam o seminário e as escolas de ensino fundamental e médio, temíamos que o Senhor fosse nos deixar de lado.
Reunimos, então, um grupo de 40 pessoas para orar durante uma semana. Enquanto orávamos, o Senhor trouxe profunda convicção ao meu coração do pecado de não estar cheio do Espírito Santo. Depois de tratar com várias outras coisas nesses quatro anos, ele agora estava apontando isso, e foi tão forte que senti que ele praticamente me mataria se eu não resolvesse a questão de uma vez por todas.
Fiquei tão desesperado que continuei orando sozinho até meia-noite. Como não obtive paz, fui chamar minha esposa, e ela se levantou para orar junto comigo. Só consegui alívio quando disse: “Senhor, vou confessar minha negligência diante do povo”.
As pessoas me elogiavam, dizendo que era um ótimo missionário, que realizava uma obra muito boa – e eu o aceitava. Por isso, dispus-me a dizer ao povo, no dia seguinte, como o Senhor revelara minha condição de pecado, de incapacidade e desesperança, como não havia valor algum em mim mesmo.
No dia seguinte, de manhã, quando o grupo voltou para continuar a semana de oração, levantei e fiz a confissão. Foi aí que o Senhor fez algo maravilhoso. Outras pessoas começaram a confessar pecados, caíam de joelhos sob convicção do Espírito e clamavam a Deus.
Isso foi na terça-feira, de manhã. Continuamos ali durante quatro dias e quatro noites e, no fim, o grupo crescera para cerca de 200 pessoas. O lugar em que estávamos ficava lotado, às vezes, e todos que passavam pela porta caíam de joelhos, tamanha era a convicção que carregava o ambiente.
Um Culto de Louvor
Na sexta-feira, quase à meia-noite, a última pessoa naquela capela estava aliviada, depois que todos haviam passado por convicção, confissão, acerto das coisas erradas e purificação. Alguém sugeriu, então, que encerrássemos no dia seguinte, sábado, com uma reunião de louvor.
Pediram que eu dirigisse esse culto, e comecei lendo os primeiros versículos do Salmo 32. Em seguida, o dirigente de louvor pediu a congregação para ficar de pé. Aquele grupo de 200 pessoas começou a louvar a Deus em uníssono, com um só pensamento, alguns agradecendo, outros chorando, ainda outros rindo no gozo do Espírito. Isso continuou por uns 15 minutos.
Alguns dos pregadores chineses vieram à frente e me abraçaram. Achei que iam quebrar todos os meus ossos. E disseram o seguinte: “Irmão Culpepper, sempre sentíamos que você se considerava melhor do que nós. Agora sabemos que somos todos iguais. Você não é mais norte-americano, nem nós somos chineses. Somos apenas filhos de Deus!”.
Em seguida, alguém sugeriu um cântico. Cantamos o mesmo cântico durante cinco horas em seguida! Ninguém saiu de lá, ninguém queria ir para casa. Cantamos e louvamos a Deus por cinco horas. Finalmente, como se o próprio Senhor tivesse dito Amém, todo o mundo parou e se assentou. Houve um silêncio tão absoluto que podíamos ouvir a respiração um do outro. O Senhor estava dizendo: “Pronto, é só isso!”. E todos foram para casa.
Um Batismo Maravilhoso
Mas ainda não tínhamos idéia alguma do que o Senhor pretendia fazer conosco. Depois do culto, dois pregadores chineses que tinham muita amizade comigo aproximaram-se e me perguntaram: “Irmão Culpepper, você já recebeu a plenitude do Espírito Santo?”. Respondi que não sabia, mas que desejava muito saber. Eles também não sabiam, então resolvemos orar juntos naquela mesma noite.
Reunimo-nos, os três, no meu escritório em casa e começamos a orar, cada um num canto, de costas um para o outro. Às vezes, orávamos em silêncio, outras vezes em voz audível. Depois de uma hora, mais ou menos, percebi que estava com medo. Estava com medo dos excessos e extremos de que ouvira falar e contra os quais fora advertido.
Durante os quatro anos de oração, eu lera vários livros. Uns diziam uma coisa, outros, algo bem diferente. Um dizia que deveríamos soltar as rédeas e confiar em Deus. Outro, que não deveríamos jamais nos soltar, porque o diabo poderia aproveitar a brecha. Eu tinha medo que pudesse falar em línguas e ser expulso da minha denominação. Tinha medo de muitas coisas…
De repente, o Senhor trouxe à minha memória Lucas 11.9-13, texto que fala que um pai nunca daria uma pedra ao filho que pedisse pão. Era como se fosse um raio, brilhando diretamente do céu sobre mim. Senti que estava ajoelhado na presença do meu Pai celestial e que ele jamais permitiria que algo errado me tocasse. Eu já havia confessado meus pecados, tratara com tudo que o Espírito apontara no meu coração e estava com muita sede. Então levantei minhas mãos e disse: “Senhor, estou ajoelhado na presença do meu Pai celestial e quero tudo que tens para mim”.
Não sei exatamente o que aconteceu. Senti que estava caindo nos braços de Jesus. Porém, deve ter feito um ruído quando minha cabeça bateu no chão, porque os dois irmãos chineses que estavam ali viraram-se e me viram prostrado no chão. Para mim, porém, a sensação era de ter caído nos braços de Jesus, de forma tão suave e doce como se tivesse caído num colchão de penas.
A primeira coisa que aconteceu foi que minha boca se abriu, ficou tão aberta que doíam minhas mandíbulas. Parecia que todo o vento do mundo inteiro estava sendo aspirado e que estava passando em grande velocidade por minha garganta. Em seguida, pareceu que Deus me tomou, assim como um cachorro pega um coelho, e me sacudiu fortemente. Pude sentir a língua batendo contra as laterais da boca. Depois foi como se mil ímãs estivessem me puxando de todos os lados.
Comecei a repetir: “Já se foi, já se foi tudo, já se foi!”. Percebi que Deus estava tomando meu velho homem e crucificando-o, de fato, na cruz. Os dois irmãos que estavam comigo não sabiam o que isso significava e perguntaram o que eu estava dizendo. Isso me perturbou um pouco, pois me sentia tão maravilhosamente bem na presença de Deus. Porém, expliquei-lhes o que estava dizendo e, com isso, me sobreveio uma paz, tal qual nunca experimentara em toda minha vida. Depois veio alegria do fundo do coração, com intensidade tal que pensei que morreria de tanto rir. Ri durante algum tempo até que veio outro forte sentimento – de ser totalmente indigno.
Tive vontade de que a Terra me engolisse por completo por ser uma criatura tão indigna. Embora não merecesse nada além do inferno, Jesus acabara de me tomar em seus braços, de me aproximar dele e de me encher com seu Espírito.
Uma Batalha Espiritual
A sensação de ser indigno continuou por alguns instantes, até que deu lugar a uma carga, um peso espiritual, um espírito intercessório em favor da minha esposa. Quatro anos antes, ela fora curada quando Marie Monsen e um pequeno grupo de missionários oraram em favor de uma doença incurável em seus olhos. Desde então, havíamos andado juntos, orando pela plenitude do Espírito Santo. Senti um encargo de oração por ela, por meus filhos e por mais alguns amigos.
O encargo foi crescendo até que parecia que me esmagaria até a morte, de tão forte e intenso era o sentimento. Orei ali em silêncio, sem sair som algum dos lábios, sentindo o coração pulsar e latejar. Compreendi, pela primeira vez, o verdadeiro significado de Romanos 8.26-27, que fala dos gemidos inexprimíveis do Espírito ao orar segundo a vontade de Deus em nós. Percebi que o Espírito Santo havia tomado conta da minha vida e que estava orando através de mim.
Depois de um tempo, subi para o quarto para falar com minha esposa. O inimigo estava travando uma batalha intensa contra sua mente e coração, e ela exclamou: “Não quero ouvir uma palavra, não quero ouvir nada!”.
Foi como se tivesse me esfaqueado no coração. Deitei-me na cama, ao lado dela, e não disse uma palavra. Meu coração e meu corpo inteiro estavam pulsando em dor, latejando com o encargo da oração do Espírito.
No dia seguinte, ela se levantou, arrumou as crianças e as levou ao culto dominical. Continuei na cama, sem forças para me levantar, com o coração ainda palpitando. Continuei orando, em silêncio, sentindo, por vezes, que meu corpo não suportaria a palpitação e a pressão do Espírito em oração.
Falei: “Ó Deus, se quiseres me levar, tudo bem, mas eu ainda queria testemunhar por ti”. O culto na igreja era das 9h00 às 10h00. Às 9h30, o encargo me deixou, deixando-me leve como um pássaro, cheio de gozo e louvor.
Levantei-me correndo e fui de bicicleta para a igreja, tentando chegar lá antes do final do culto. Mas quando estava quase chegando, vi que o culto já terminara, e minha esposa, Ola, e os filhos estavam voltando para casa. Ola estava sorridente, percebi imediatamente que ela já estava bem.
Quando chegou perto de mim, ela cochichou: “Não sei o que aconteceu comigo, o inimigo me atacou; nunca senti nada igual em toda minha vida. Mas, agora de manhã, os dois irmãos chineses que oraram com você ontem deram testemunho, e a opressão foi embora. Quero que me perdoe e que ore por mim!”.
Nem fazíamos idéia daquilo que Deus estava preparando para nós na semana seguinte…
Respostas de 3
Amém. Creio que Deus sempre esteve no controle – é só nos entregarmos verdadeiramente para ele.
Graça e Paz.
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Boa noite.
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